quarta-feira, setembro 27, 2006

O 27 de Setembril de 1968

O 25 de Abril de 1974 foi apenas o corolário lógico -e natural - do 27 de Setembro de 1968. Goste-se ou não se goste de quaisquer uns dos protagonistas de qualquer uma das datas. Aliás, o protagonista foi o mesmo; só que em 68 foi-o de uma forma activa e, em 74, foi-o de uma forma passiva. Em 68, tudo fez para conquistar o poder; em 74, nada fez para mantê-lo. A gulodice de seis anos antes transformara-se em enfado seis anos depois. Na realidade, o professor Marcelo Caetano levou seis anos a velar o Salazarismo. Por fim, no dia do enterro, depôs aqueles cravos vermelhos na campa e foi-se embora. Amuado, parece-me. E com uma certa razão.
Até hoje, continuo sem compreender porque é que o regime abrileiro nunca lhe prestou as merecidas e devidas homenagens. Será porque -ao contrário do que diz o povo - cadelas cegas párem filhos apressados... e ingratos?

Não me contaram, nem li. Vi. E vivi. Com estes dois que a terra há-de comer.

7 comentários:

josé disse...

Eu também, embora em 1968, ainda só jurasse pelo Ob la di ob la da. E por umas Levi´s que não tinha.
Mas...empolgava-me com as histórias trazidas do Ultramar. E o Salazar importava-me pouco. O meu pai não era comunista ( embora ouvisse a Rádio Moscovo que "falava verdade")e não conhecia ninguém que o fosse. Pelo contrário, apanhava injecções de anticomunismo primário que me fizeram algum bem, dotas pelo P.e Fernando Leite, jesuíta de gema e fanático da Cruzada.
Era assim.

Mendo Ramires disse...

Notável artigo.

Arrebenta disse...

Sou Europeu, Português, Cidadão de Pleno Direito do séc. XXI.

Hoje, 28 de Setembro de 2006, acordei com a obsessão de querer saber o que contém o "Envelope 9". Mais: acordei com a sensação de querer saber tudo o que está dentro de todos os envelopes, e quero saber o conteúdo de todas as escutas que foram feitas neste país, ou, pelo menos, de uma síntese dos seus temas, intervenientes e implicações.

Não me sinto representado por um bando de cavalheiros, que, sentados numa coisa chamada Assembleia da República, apenas perpetuam o sistema de conluios e mentiras que transformou o meu país numa espécie de Colômbia Lusitana.

Assumo, à Luz da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Princípio da Separação de Poderes, que os Tribunais do meu país funcionam de acordo com a Lei-do-tem-dias, e não asseguram a igualdade do cidadão perante a Lei. Consoante as luas, forjam culpados, e inocentam criminosos.

Quero ter órgãos de informação social que me digam, quando eles não sabiam que estavam a ser escutados, todos os enredos, tramóias e compadrios que se teceram nas minhas costas. Quero saber quem é de confiança, ou um puro criminoso, daquelas caras que nos governam, e que, diariamente, sou obrigado a suportar.

Quero saber para onde vai o dinheiro dos meus impostos. Exijo que, um a um, todos os indivíduos que não cumprem as leis do meu país e se acham no direito de oprimir os meus concidadãos com o cumprimento das mesmas, sejam arredados de todos os cargos políticos, representativos e de direcção que ocupam.

Quero saber que, com quem, e sobre o quê se falava nas escutas dos Envelopes 9, 10, 11, 12, 13, e por aí adiante.

Quero que haja um grupo de cidadãos que peça o mesmo, e que, se descobrir que o Poder Judicial, em Portugal, está total, ou parcialmente, minado pela Corrupção, tenha o direito e o dever de apelar para a intervenção de Tribunais Europeus, ou Mundiais, isentos.
Quero saber onde vivo, quem me governa, e para onde estou a ser levado.

Porque, parafraseando Almada, eu sei que todas as escutas que haveriam de limpar o "Sistema" já foram feitas, já só falta, agora... limpá-lo.

Muito Bom Dia.

josé disse...

Toda a razão, Arrebenta!

O Pacheco Pereira já defende hoje, na Sábado ( que prometi não mais comprar mas que faltei à promessa), que se faça uma investigação à investigação desse processo.

Que se faça, então e que falem aqueles que sabem: quem investigou; quem escutou e que digam o que ouviram, viram e leram.

No tempo de Salazar ( o postal é sobre esse tempo), havia mais decência, nestas coisas, ainda que também muita mais hipocrisia.
No caso dos ballets cor de rosa, foram efectivamente descobertos os implicados. Todos. E todos sofreram consequências, ainda que não criminais.
Agora, é o contrário: promovem-se exactamente aqueles de quem se diz que estiveram implicados, esquecendo uma regra básica da política, enunciada pelo Salazar: o que parece, é.
Aqui, querem pôr o sol a girar ao contrário...

dragão disse...

Não me esquece a profecia acerca do Paulo Pedroso, que aquela bandarra pujante que dá pelo nome de Ana Gomes produziu, não há muito tempo: "Há-de ser Primeiro-Ministro!"

Estou de camarote.

Antónimo disse...

Tem toda a razão, Sr. Dragão: foram uns malandros, esses apressados filhos duma cadela. Para mais, com os conhecimentos que tinha o Dr. Cunhal: tinha o Sr. Dr. metido uma cunha (a cunha do cunhal) ao conservador (!) em chefe de cinco estrela (cinco!) do Mausoléu de Lenine, em Moscovo, e tinha-se arranjado um lugarzinho decente para o Professor Caetano, onde, na sua humilde velhice, poderia ter passado os últimos anos a velar um salazarismo agora mumificado. Ao contrário, os tais filhos da tal cadela atiraram com ele para a ilha terrível da Madeira (que, como todos sabemos, é uma ditadura) e, depois, para o Tarrafal brasileiro, onde teve a trágica criatura de se remediar como pôde. E isto tudo sem homenagens dos tais filhos da tal cadela. Não havia o professor de amuar. Com uma certa razão.

Haja decência, como no tempo dos bailados cor-de-rosa (já agora, ofereço a tradução integral).

dragão disse...

A "cadela " é uma expressão idiomática. Não deve ser levado à letra.
Acrescido do facto do duplo sentido que a palavra pode ter: cadela, fémea de cão; e cadela, bebedeira.
Vamos com calma.