terça-feira, junho 30, 2009

Marabuntas, ou Dos Arrastinhos a bem da nacinha.

Transcrevo directamente dum Blogue de esquerda, para que não se ponham com as esquisitices do costume (que é inventona de neo-nazis, fassistas, xenófobos e mais não sei quê):

«Ao que parece, o novo e mastodôntico centro comercial Dolce Vita Tejo tem servido de palco a alguns coloridos assaltos, na modalidade massiva a que os brasileiros chamam "arrastão". Além de calmamente terem mudado de roupa e de sapatos (assim numa espécie de "querido, mudei o gatuno"), os participantes na última marcha terão ainda limpo a loja da Staples. Espero que isto se insira já numa campanha de regresso às aulas.»

Agora, topem só esta delícia que se segue:
(Do ACIDI, Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, IP)


COMUNICADO

Têm estado a ser divulgadas, durante o dia de hoje, por alguns órgãos de comunicação social, notícias referentes a pretensos “Arrastões” no Centro Comercial DOLCE VITA TEJO, na Amadora, protagonizados por “gangs” - grupos numerosos constituído por «jovens negros».

A Comissão Permanente da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) tomou entretanto conhecimento, junto da Direcção do Centro Comercial Dolce Vita Tejo bem como dos Serviços de Segurança Pública da não verificação dos factos acima referidos.

A Comissão Permanente da CICDR solicita, assim, a todos profissionais da Comunicação Social portuguesa a maior atenção ao tratamento a dar a estas notícias, atenta a especial responsabilidade dos órgãos de comunicação social no tratamento rigoroso da informação.

Lisboa, 19 de Junho de 2009»



Afinal, houve ou não houve arrastão? É claro que os últimos a quererem reconhecê-lo, por motivos óbvios, serão a Administração do tal Amontoado Comercial e os Serviços de Segurança Pública. Uns porque aquilo lhes afasta a clientela; outros porque aquilo lhes revela a incúria. E o regime, em peso, por trás duns e ao volante doutros, porque aquilo lhe atesta a estado de desmemória e desarranjo mental típicos da fase terminal do alzheimer. Na verdade, se já está praticamente insensível aos arrastões é por uma razão muito simples: porque a sua prostração o tornou completamente dependente da arrastadeira.

PS: Entretanto, atentem só na seita de parasitas sociais que assenta praça e tacho nestes Institutos (melhor seria chamar-lhes "prinstitutos") da treta, como este ACIDI. Quem é que paga os salários desta choldraboldra, deste súcia de doutores, assessores e secretárias aos molhos, mais os técnicos de 1ª, 2ª e 3ª inutilidade pública e cunha encartada às carradas? Se isto não é também um arrastão e dos permanentes, vou ali e já venho.

sábado, junho 27, 2009

Repórter Flash - Entrevista com o Rato Mickey (Part. 1)




- Rato Mickey, preferes que te chamem Rato Mickey ou Mickey Mouse?

- Prefiro Mickey Mouse. O que significa “rato?” tenho que ir ver ao google. Espero que lá conste, senão ainda vou ter que comprar um dicionário.

- Mickey Mouse, porque é que vai aos arames quando chamam Pateta ao Pateta?

- Bem vê: é um insulto. O Pateta chama-se Goofy. Fy-fy, prós amigos. Chamar Pateta ao Pateta é acintoso. Aliás, toda a Língua Portuguesa é acintosa. Os portugueses, dum modo geral, são acintosos, excepto quando estão calados e obedientes.

- Mickey, como é que podemos argumentar?

- É simples. Como sabe, existe uma camada superficial da atmosfera chamada noosfera. Esta noosfera está, toda ela, envolta numa fina e hipersensível película super-inflaccionada...

-Uma fina e hipersensível película super-inflaccionada?...

- Sim. O meu ego. Argumentar é dizer o que nos der na real gana, desde que não fira, belisque ou interfira negativamente com o invólucro da noosfera.

- E se, ainda que inadvertidamente, interferir?

- Faço beicinho, tenho uma birra e rebolo no teclado. Espol... Espro...esplo...

- Espoldrinha-se?

-Isso, Isso! Vê como a Língua Portuguesa é acintosa. Repare em inglês: “to wallow”. Note a delicadeza do verbo, o semi-sussurro palatal das sílabas. Poucas sílabas, como convém. Se bem que o meu caso até é mais “to tumble in the dust”. Que é quase um poema, como pode ver. Pois, eu tumblo in the dust of the teclado. Com imense gravity.

Mickey, é verdade que –nas palavras de mestre Almada – você especula e inocula os concubinos?

- Sim. Sou um intelectual histriónico que gosta de dar nas vistas e chamar as atenções. Penso em regime de concubinato geral.

- Fale-nos na sua já famosa “procura da verdade”.

- Segundas quartas e sextas, vai-se pela direita (é a via Cat); terças,quintas e sábados, vai-se pela esquerda (é a via Prot).

- E aos domingos?

- Como sabe, para atrair papalvos cat convém dizer que o Papa tem a verdade. De modo que, aos domingos, vai-se à missa com o fato de ver a Verdade.

- Mas se o Papa tem a verdade, fará algum sentido procurá-la? Se já sabemos onde ela está, o melhor não será, em vez de perder tempo com buscas, ir logo a Roma em romaria, em peregrinação, ou, para os laicos, ateus e metateus, em excursão organizada (package tours, com estadia pequeno-almoço e depilação incluída)?

- A populaça, sim. As elites, quer dizer, eu e o Pateta, digo, o Fy-fy, não. Temos uma linha directa para o Papa. Por telepatia - ou telepapatia, melhor dizendo. O Fy também possui uma mesa de pé-de-galo através da qual comunica com Darwin.

- Uma mesa de pé-de-galo!?, mas isso é científico?...

- Absolutamente. Funciona às mil maravilhas. Há até uma empresa dum judeu americano, com know-how de Passos Ferreira, que está a desenvolver um modelo portátil, desdobrável e transportável numa mochila. Não admira: o mercado está sequioso. O Fy-fy, além de sequioso, está faminto. Não vê hora de receber a sua tele-mesa, para poder conferenciar em ambiente camping.

- Significa exactamente o quê, esse “ambiente camping”?...

- Em cima das árvores. Faz todo o sentido. Assim como Newton descobriu as teorias dele observando uma árvore que deixava cair os frutos, o Darwin aperfeiçoou e refinou as suas trepando e pernoitando no carvalho que tinha no quintal. Foi assim que conseguiu recuar às origens mais remotas...

- Do Homem?

- Não, da mesa pé-de-galo!... Os nossos antepassados falavam directamente nas árvores. Ainda não tinham desenvolvido a tecnologia de carpintaria e mobiliário. Aristóteles, segundo consegui apreender na Wikipédia, explica estas coisas: chama-se o “acto” e a “potência”. A árvore era uma mesa em potência; a mesa é uma árvore em acto. Também se pode transpor para a espécie humana, conforme confidenciou o Darwin ao Pateta, digo Fy-fy: o macaco era o homem em potência; nós somos macacos em acção.

- Então, por essa ordem de ideias, o homem é o macaco realizado, ou o perfeito macaco?

- Sim, e o macaco é o homem imperfeito ou por realizar. Pode - e deve - ser também transposto para a sociedade.

- Fascinante! E dá qualquer coisa como quê?...

- Então, é óbvio: os macacos realizados ou perfeitos macacos são as elites; os homens imperfeitos e por realizar são a chamada populaça. Na terminologia darwinista, ou como diria o Fy-Fy, macacos realizados equivale a macacos desenvolvidos e homens imperfeitos corresponde a homens inaptos.

- Portanto, no seu mundo ideal os homens imperfeitos (ou inaptos) devem ser dirigidos, apascentados e supervisionados pelos perfeitos (ou desenvolvidos) macacos ?...

- Exactamente.

- E como é que distinguem os perfeitos macacos dos homens imperfeitos?

- Objectivamente, pela conta bancária; subjectivamente, pelo meu peremptório e inapelável veredicto.

- Isso significa que o seu pensamento consegue a acrobacia rara de ir da fantasia à sentença sem passar sequer pela opinião?...

- Pois. Mas faço ainda melhor: vou da intuição à tese sem sequer beirar a hipótese, nem, tão pouco, dar cavaco à reflexão. A verdade para mim é um instinto. Um instintuto, melhor dizendo. Brota-me como uma gana. Um magma. Um géiser! Para ser franco, excito-me com um assunto, roço-me nele e entorno-me.

- Entorna-se?

- Sim, nada de metafísicas. Nenhuma dúvida ou meditação: basta pensar no nome do assunto e zás, instantaneamente, segrego uma profecia completa acerca, uma certeza sólida a toda a prova. Estou até pensar em registar a patente. Vou chamar-lhe o “Método Cartes do Mickey Mouse”.

- Método Cartes?

- Isso mesmo. Trata-se, como o próprio nome indica, do contrário do Método Descartes. É só fazer ao René como o Marx fez ao Hegel: virá-lo de cabeça para baixo. Assim, em vez da dúvida metódica, proponho e pratico a certeza sistemática. Se me ocorre ao pensamento só pode ser absolutamente verdadeiro e indubitável. E depois, em vez de partir do conceito simples para o complexo, é reduzir qualquer problema complexo ao conceito simples mais próximo – o primeiro que me ocorra.

- Que geralmente é sempre o mesmo, não é? Aquela dicotomia cat/prot, que tanto fetiche e volúpia lhe parece causar...

- Evidentemente. A verdade, ao contrário da mentira que é múltipla, é única. Os portugueses não compreendem isto porque padecem duma grande incapacidade de abstracção. Não conseguem abstrair-se. Uma desgraça de gente!

- Não conseguem abstrair-se exactamente de quê, Mickey?...

- Da realidade. Ao contrário de mim, que consigo abstrair-me de ambos, da realidade e dos portugueses, de modo a sintetizar a verdade.

- Portanto, é abstraindo-se deles que melhor os conhece, define e converte em axiomas instantâneos?

- Pois claro. Outro preceito essencial do meu método Cartes: em vez de procurar abstrair-me dos meu preconceitos, idolatro-os e danço à volta deles até entrar em transe extático. Aí, atingido esse patamar sobrenatural, alcançado o estado de completa abstracção da realidade, da cultura, da história e, nec plus ultra, de qualquer pudor intelectual, experimento finalmente a verdade na sua plenitude núcega e proteica. Banho-me, à uma, na luz do génesis e do apocalipse. Nesse momento sublime de confluência da galáxia com o meu ego, sacudido em espasmos, frémitos e relâmpagos, deslizo então, borbulhante, crepitante, ao teclado e esprol... esplo...

- Espoldrinha-se?

- Exacto. Eu tumble in the dust!...

- Mickey Mouse, já pertence ao folclore blogonáutico: semanalmente, verifica-se que nos acessos da quarta-feira contradiz estrepitosamente o que havia profetizado com fragor nos de terça-feira, nos de quinta renega os de quarta e assim sucessivamente. Daí que eu lhe pergunte: enquanto arauto peregrino de novidades de estalo, pretende ser para a “coerência” o equivalente ao que Jorge Lima Barreto foi para a “afinação”? (Relembro que, logo após o 25 de Abril, o músico e crítico musical Lima Barreto saiu-se com aquela descoberta revolucionária que embasbacou meio mundo e pasmou o restante - cito: “a afinação é um conceito pequeno-burguês!”) Concretamente, ó Mickey, para si, a “coerência também é um conceito pequeno-burguês”? Ou será antes o ópio do povo, que é como quem diz, eufemizando, da populaça?

- Além da abstração, a populaça portuguesa não entende a fina ironia, a ironia da boa, aquela que eu e o Pateta, digo o Fy-Fy, fazemos. É uma chatice. Não adianta educá-los. São duma incapacidade atroz para certos alambiques.

- Portanto, a sua incoerência vulgar, na verdade, é uma forma subtil – e superlativa - de ironia – é isso que pretende dizer?

- Repare, é apenas mais uma das facetas delicadas do método Cartes do Mickey Mouse: ao contrário do Descartes, eu não penso. Não, eu show, logo existo. Ou seja, existo, na medida em que shou.

- Esclareça-nos: quando diz “shou”, significa ser à moda de Viseu, ou, simlesmente, dar espectáculo?

- As duas coisas. Eu show e, consequentemente, dou espectáculo. Shou, logo existo, e show, logo exibo-me.

- Um Houdini da evasão lógica e do pensamento automático, portanto. Nunca o convidaram para o circo Chan?

- Não. Mas tenho esperanças. Até me imagino, nos meus cintilantes avatares artísticos... às segundas, quartas e sextas, era Pierrosa Choc, o vidente-contorcionista; nos restantes dias, era Peter Pan-pan, o tarólogo prot do trapézio voodu!...

- Desde quando é que sentiu esse impulso irresistível em se tornar nessa espécie de Professor Karago da blogosfera, com consultório on-line, onde passa a vida a garatujar receitas e a corrigir atestados de óbito e relatórios de autópsia?

- Desde o Carnaval de 2006, pelo menos. Achei que mascarar-me de mulher já não me realizava plenamente. É uma tradição nacional, eu sei, talvez a maior e mais sagrada de todas, longe de mim renegá-la, mas começara a saber-me a pouco. Não era suficientemente histriónica, espalhafatosa, ambígua!

- Foi então por insatisfação (ou tédio) com a máscara de galdéria no Carnaval que decidiu mascarar-se de intelectual católico o resto do ano?

- Bem, de católico apenas às segundas, quartas e sextas; às terças, quintas e sábados, ponho o nariz e óculos à protestante. Ou seja, nos dias pares, detenho a verdade; nos dias ímpares, ministro a justiça. Aos domingos, repouso.

- Mickey Mouse, como poderemos chamar a essa sua fórmula complexa de travestismo religioso?

- Eu próprio hesito na taxonomia. Às vezes sinto-me mais catante que protestólico; outras é o inverso. Umas terceiras é ainda mais confuso: plano num limbo caleidoscópico ora crotestante, ora patólico. Picturo então myself in a boat on a river, with tangerine trees and marmelad skies, e esprol... expol…

- Espoldrinha-se?

- Pois. Isso mesmo (irra, que língua complicada!). E também me inclino mais para a Terceira hipótese.

- Por falar nisso, sabe que o César Augusto Dragão (a quem em tempos, você, Mickey, mascarado de Kalimero, taxou de galifão por chamar pateta ao Pateta), declarou recentemente, sob juramento e invocação, ao Papa Bento XVI e a toda a Curia Romana reunida, que não o considerava, a si, Mickey Mouse, nem catante nem protestólico (ou sequer crotestante ou patólico), mas, pura e simplesmente, um intelectual catastrólico?... Considera isto ofensivo?

- Nem por isso. O Dragão, como de resto já publicamente confessou, tem uma enorme inveja do Pateta, digo Fy-fy. Além disso, é o representante máximo da maledicência desabrida e reiterada, da injúria metódica e do bota-abaixo sistemático que grassam cá na paróquia.

- No entanto, vingou-se...

- Pois vinguei. Mandei-lhe o Gustavo Boca-doce em expedição punitiva!... Ninguém brinca com o Mickey Mouse!...

- O Gustavo Boca-doce é aquele brazuca que fazia annilingus ao Olavo do Carvalho e agora lhe faz rimjobs a si, o Pedro Arrota, não é?

- Esse mesmo. Língua mais suave não existe, seda pura. Mas quando quer é uma boca de destruição maciça. Então, em se tratando de ladrar, não há caravana que resista!...

- Vai daí, no auge duma campanha de alegorias fecais que já estava enfadonha, ele teve aquele brilhante desarrincanço de chamar paneleiro ao Dragão. É como chamar vegetariano ao Conde Drácula. A seguir, para zénite do método delirante, vai chamar-lhe o quê: Judeu?

- Pior que isso!

- Pior? Mas há algo pior e ainda mais inverosímil?

- Sem dúvida: Benfiquista!... Ou cinéfilo!

E, de momento, é tudo, teleleitores. Foi a primeira parte da entrevista com esse grande vulto do nosso culturismo mental, um dos últimos grandes mestres do ridículo e da patacoada. Um dia destes há mais. Agora temos que fazer uma pausa: para ele se espoldrinhar e para eu, a pontapé,lhe sacar umas explicaçõezinhas conceptuais de mera índole futebolística, que é como diria Santo Agostinho: de vera religione.

Nota publicitária: Emissão com o patrocínio



O Boca-doce é bom, é
Diz o avô e diz o bebé.

Reino da bosta

A pedido, desço a comentar o cancelamento da última turnée daquela Coisa Jackson.

Parece que a pop está sem rei. Já estava sem rock. Pelo que ,doravante, depreende-se, está sem rei nem rock. Se, por algum louvável capricho da Ceifeira, também esticasse o pernil a Coisa Madonna, seria o verdadeiro três em um: ficava a bosta levedante sem rei, nem rock, nem rainha. Melhor que isso só uma chuva de meteoritos inteligentes: uma que acertasse selectivamente nos concertos de hip-hop e metal (duas formas particularmente ruidosas de excremento). Já agora, não sei se será sonhar muito, rezar mesmo a um grande meteoro genial, todo ele a zunir inspiração: que acertasse em cheio em Hollywood!...

Julgo que, com isto, fica esgotado o assunto, tanto quanto o presunto. Nota final: ao que li por aí, as dívidas da criatura ascenderiam a qualquer coisa como 4o0 milhões (e alguns papalvos interrogavam-se acerca do paradeiro da putativa fortuna da vedeta). Donde não será de excluir a hipótese dos credores, tipos que não fazem plásticas ao nariz mas bem precisavam, terem organizado o óbito como forma de promoção das vendas. Lá terão concluído: "O tipo já não aguenta cinco minutos em palco sem que lhe caia o nariz, o melhor mesmo é matá-lo. A publicidade fica de borla e as vendas sobem à estratosfera!"

quarta-feira, junho 24, 2009

Cristianismo Ronaldo revisitado

Quem por aqui vai lendo conhece decerto, em primeira mão, uma daquelas expressões que depois fazem carreira por outras bandas: Cristianismo Ronaldo. Corresponde, ninguém duvide, à nova religião nacinhal. E em relação ao cristianismo de outrora, credo obscurantista, experimenta algumas evoluções semânticas consideráveis. Uma das mais importantes prende-se com a taxonomia dos descrentes. Antigamente, dividiam-se em duas classes principais: os infiéis e os hereges (consoante a descrença fosse endógena ou exógena). Pois bem, agora ambas as classes foram sintetizadas numa única: a dos invejosos. Quem não o idolatra é porque o inveja.

Mais esquemática da tal

«After all those losses and bailouts, rank-and-file employees of Citigroup are getting some good news: their salaries are going up.»

E não é só o Citigroup: «Bank of America and Morgan Stanley, are raising employees’ base salaries to try to shift attention away from bonuses and curb excessive risk-taking. So are banks like UBS and other European competitors.»

Aumentos de 50%!! Rejubilemos. É bom saber que os principais responsáveis pela "crise" são os primeiros a sair dela. E praticamente incólumes.

Otários de todo o mundo, esmifrai-vos!

terça-feira, junho 23, 2009

Sangue na estrada...e na maternidade.



Andava hoje pelas parangonas pasquinácias: o governo a congratular-se com a relevante diminuição nas estatísticas de mortes nas estradas portuguesas. Isto, como dizem os anglofónixes, é juntar o espancamento ao insulto. Como assim?
Então, basta acompanhar as notícias, nem requer dedução ou grandes matemáticas. Nos mesmos jornais - e nalguns até na mesma página - onde o governo hoje se congratula, anuncia-se, em pequena caixa, a morte de mais dois portugueses nas estradas espanholas - ali prós lados de Toledo, se bem memorizo. Ora aí está metade da explicação: os portugueses estão a lerpar menos nas estradas portuguesas porque andam a espatifar-se, de preferência, lá fora nas rodovias espanholas, francesas, inglesas, luxamburguesas, suiças, angolanas, etc. Foi uma vitória das políticas governamentais de segurança rodoviária (estou-me até a lembrar do Armando Vara, com aquela bela empresa de cartazes...)? Sem dúvida que sim. O Governo conseguiu enxotar grande parte dos portugueses que se matavam estupidamente nas estradas portuguesas. Através da emigração, essa engenharia social já atávica, lá os despachou, na mecha, que é como eles gostam, a rebentarem-se todos, ainda mais estupidamente, nas estradas estrangeiras. Agora, as estatísticas alheias que os aturem. Suponho que a isto se poderá chamar xenobolia. Pô-los no outro lado da fronteira em perfeita sincronia: a matarem-se a trabalhar e a matarem-se na estrada.
Falta, entretanto, falar dos outros. Os que ainda não saíram disparados lá para fora e continuam apenas disparados cá dentro, em circuito fechado, à maneira dos hamsters turbo-diesel(fora o período de férias ou de pontes, em que, de pedal a fundo, abalam também lá para fora), e, destes todos, uns porque ainda não conseguiram, outros porque não precisam, os restantes porque passaram à resistência, mais até do que à simples resignação. Nesta gente diversificada reside a outra metade da explicação. Que troco já por miúdos, salvo seja. Como se segue:
Os que não conseguiram ainda estropiar-se e cagamerdar-se todos lá fora continuam a alimentar as estatísticas cá dentro (naturalmente que mirraram e deslevedaram estas porque tais roedores de asfalto - ou motolemmings, como preferirem - vêem as suas fileiras sofrer constantes hemorragias e deserções de efectivos, quer para os que passam a engordar as estatísticas estrangeiras, quer para os que passam à resistência interna). Por seu turno, os que não precisam, esses, proprietários ilustres de cartão partidário mai-las respectivas coalescências vorazes, dado que andam cada vez menos de automóvel cá dentro porque, a maior parte do tempo e velocidade de deslocação gastam-nos de avião - ora em serviço, ora em lazer, passe o pleonasmo - lá para fora, também contribuem cada vez menos para a bisonha nediez das estatísticas nacionais. Finalmente, os da resistência, salvo quando são colhidos abruptamente nalguma passadeira, pescados de ricochete num ou noutro passeio menos cauto, ou tractorados a algum precipício pelo transporte público onde os engodaram, o seu contributo é, seguramente, o mais despiciendo de todos.
Estarei a ser duma minúcia atroz? Tanta verdade junta até chateia? Pois. Será. Mas, entretanto, o governo congratula-se.
Sim, porque as próprias criancinhas também morrem menos nas estradas portuguesas. Eventualmente, porque também nascem menos. Despistam-se logo, ainda no útero. Desmaterno.

PS: A expressão "logo ainda" não estará própria e gramaticalmente correcta, mas há muita coisa que não está correcta e ninguém se queixa. Demais, nós, os estilistas, podemos incorrer em brutas calinadas e chamar-lhe estilo. No caso, posso até adiantar ao pentelhistas do costume que, na frase, o verbo é "despistar-se logo", que é diferente do "despistar-se" simples, ou do "despistar-se mais adiante" ou "despistar-se daí a um grande bocado"; o resto, chamem-lhe o que quiserem. Entretanto, notem como através da indrodução astuta da virgulazinha o prodígio acontece. Pois é, é assim que a língua portuguesa pula e avança. Agora vou só ali meditar como hei-de baptizar esta nova figura de estilo.

segunda-feira, junho 22, 2009

Desmagalhaecizem-se, carago!




«Não é de todo verdade - como deixa entender a leviandade dos defensores do multimedia - que a perda da cultura escrita é compensada pela aquisição de uma cultura audiovisual. Rei morto, não é dito que outro se ponha: pode-se também ficar sem rei. Uma moeda má não compensa a moeda boa: escorraça-a. E entre cultura escrita e cultura audiovisual existe só contraste. Como observa subtilmente Ferrarotti, " a leitura requer solidão, concentração na página, capacidade de apreciar a clareza e a distinção"; enquanto o homo sentiens (o equivalente ferrarottiano do meu Homo Videns) exibe características totalmente opostas (...)
A cultura audiovisual é "inculta", portanto, não é cultura.
Dizia eu que, para remediar, se deve sempre começar pela tomada de consciência. Os pais, embora como pais já não sejam grande coisa, devem assustar-se com aquilo que irá acontecer com os seus filhos: cada vez mais almas perdidas, sem rumo, anómicos, aborrecidos, a fazer psicanálise, em crise depressiva e, numa palavra, "doentes de vazio". E temos de reagir com a escola e na escola. A tendência é para encher as salas de aula com televisores e word processors. Pelo contrário, deveríamos proibi-los (mantendo-os apenas para o ensino técnico, por exemplo, para um curso de dactilografia). Na escola, as pobres crianças têm de ser "entretidas". Dessa forma, nem sequer se ensina a escrever, e o ler é o mais possível marginalizado. Assim, a escola reforça a videocriança, em vez de a contrariar. A tendência dos jornais é parecida: é a de imitar e de ir atrás da televisão, aligeirando-se de conteúdos sérios, insuflando e gritando acontecimentos emotivos, aumentando a "cor", ou cofeccionando notícias em pacotinhos de telejornal. No fim deste caminho, chega-se ao "USA Today", o mais vazio dos diários de informação do mundo. Pelo contrário, seria melhor que os jornais dedicassem todos os dias uma página às parvoíces, futilidades, trivialidades, erros, asneiras, ouvidos na televisão no dia anterior. O público divertir-se-ia, leria os jornais para "se vingar" da televisão, e talvez também a televisão melhorasse.
E a quem me diz que se trata de acções de retaguarda, respondo: e se, pelo contrário, fossem de vanguarda?»

- Giovanni Sartori, "Homo Videns"

Deixem que diga que não conheço o autor. Tenho para aqui o livro que nunca li, mas agora, um tanto atraído pelo título, desfolhei e dei com esta passagem extremamente interessante. Com a qual, aproveito para proclamar, concordo em larguíssima medida. Acho até que depois disto, vou ler o livro todo.
Comprei-o por 1.5€ (atesta-o ainda a etiqueta) - se bem me lembro, numa dessas liquidações de coisas que a ninguém interessam. Refugo de editoras. Provavelmente naquele primeiro andar da Praça da Ribeira, logo a seguir aos vinhos e defronte dos bailaricos para a terceira idade. A verdade, ou anda a monte; ou passou definitivamente à clandestinidade.
Sabem o que é underground hoje em dia? Sófocles.

Esquemática infrascendental

«Goldman Sachs Group could get up to $321 million if the state and city fail to meet construction and security deadlines at the World Trade Center site. Goldman Sachs is entitled to as much as $160 million if the state doesn't fulfill obligations on eight projects, including a transit hub and the memorial, by the end of the year, according to the 2005 lease.»

Qual é a percentagem do Silverstein?

domingo, junho 21, 2009

Crise, qual crise?

Dragão motorizado





Induzida em erro por mim, a minha amiga Zazie cataloga aquela parte do meu excelente gosto relativa a fitas como "cinefobia". Compete-me, em penitência, corrigir a imprecisão. Na verdade, o termo mais apropriado a esse departamento específico da minha saúde mental não é cinefobia, mas "cineclastia". Porque, de facto, as salas de cinema, bem mais que pavor ou aversão visceral, suscitam-me o ímpeto sublime de nelas entrar da única forma que julgo digna, adequada e imperiosa: ao volante dum Buldozzer!

Já agora, sempre adianto a mais recente actualização do Dicionário Shelltox do Dragão para o termo "cinefilia": s.m., espécie abjecta de merenda mental; piquenique na lixeira.


Legenda da imagem em epígrafe: abordagem de César Augusto Dragão ao cinema; alguns cinéfilos mais ultrajados sobrevoam o acontecimento, protestando contra tão rude interrupção do bucólico - e, pelos vistos, idílico - repasto.

sexta-feira, junho 19, 2009

Com carácter de urgência e desígnio nacional





«Berlusconi suggests legal brothels».

Este Berluscoiso, ultimamente, tem subido na minha consideração. É verdade que tem muito que subir (até porque entre italianos e espanhóis nunca vi muita diferença -já entre italianas e espanholas ela é quase infinita), mas mesmo assim. De Berlusconas e Berluscoiso, pelo menos, já subiu.
Entretanto, se há duas coisas nesta vida, e neste cabrão deste país, cuja legalização considero , não só urgente, como imperiosa, elas são, por ordem de praticabilidade (o bom deve sempre preceder o óptimo): 1. Bordéis; e 2. Haréns. Os bordéis para quem tenha dinheiro (portanto, submetidos ao critério económico); e os haréns para quem tenha tesão imarcescível (por conseguinte, circunscritos ao puro mérito).
Posta esta evidência ululante, deixem que refira um fenómeno que, além de estranho (ou nem por isso), sempre achei sintomático:
Os nossos liberais (certamente haveis reparado), estão sempre a advogar a legalização das drogas como forma miraculenta de acabar com o tráfico de estupefacientes. Todavia, nunca os escutámos a defenderem a legalização de bordéis para se acabar com o tráfico humano. Porque será?
Vou primeiro dar voz às vossas teses. Só depois exporei a minha.

PS: Naturalmente, um dos sinais mais clamorosos da decadência civilizacional consistiu na repugnante e bárbara substituição dos bordéis por cinemas. É claro que na minha próxima abordagem não deixarei impune tamanha infâmia.

Outis

Não tenho tempo nem para envelhecer. E quanto à morte, quando tiver tempo, logo penso nisso.

quarta-feira, junho 17, 2009

Mais prodígios mirabolantes

Albatrozas lésbicas numa conspiração revisionista; e um Google Kosher: o Koogle. O Dragoscópio sempre em cima do acontecimento.

terça-feira, junho 16, 2009

O Império das Máquinas desejantes

Existem não sei quantos jornais diários gratuitos, que, sempre que posso e consigo deitar a unha, leio com a maior das atenções e enlevos. São dois progressos significativos nos transportes públicos: ar condicionado e pasquim à borla. Posso até citar aqui os nomes dos três que julgo principais: "Metro", "Destak" e "Global". Pois bem, há uma segunda coisa que me fascina nestas folhas de couve: apesar de, aparentemente, serem diversas, trazem sempre as mesmas notícias. Que, de resto, não diferem muito (de facto, não diferem nada) do cerne daquelas que aparecem nos outros jornais mais pingarelhofónicos, porque pagos pelo otário que os lê. Deve ser a isto que se chama "liberdade de expressão". A mesma que custou tanto a conquistar e que urge defender a todo o custo contra toda uma vasta conspiração de gambosinos particularmente activos, ubícuos e ferozes. Quer dizer, depois de ler o "Metro", ao debulhar o "Destak", descubro que, tirando o título do caderno e a arrumação e decoração das notícias, é a mesmíssima coisa. Idem aspas para o "Global" (O "Público", o "DN", o "JN", e por aí fora, telejornais e radiojornais incluídos). E isto todos os dias. Como é que eles conseguem? Eu até sei como eles conficcionam a coisa, mas convém armar ao cândido.
Porém, eles não só conseguem, como a malta chupa aquilo todos os dias e acha, creio bem, perfeitamente normal. Pelo menos, não escuto por aí queixas de relevo. Donde que o prodígio é duplo: não só eles conseguem escrever e publicar todos a mesma coisa, como aqueles que os lêem conseguem ler e escutar por todo o lado essa mesma coisa e nem pestenejar (quanto mais reclamar). Dão mais valor ao que lhes passa pelo intestino grosso do que ao que lhes passa pela fina inteligência. Finíssima, aliás. Praticamente transparente.
Dito isto, vamos aos tremoços. Era uma daquelas notícias do dia, que tive a oportunidade vibrante de ler primeiro no "Global", logo a seguir no "Destak" e, finalmente, no "Metro". Foi uma manhã em cheio, portanto. Daquelas de Bingo. E rezava assim: "Crise financeira provoca corrida aos abortos". Bem, as palavras talvez não fossem exactamente estas, talvez não dissessem "corrida", certamente que diziam "interrupção voluntária da gravidez", mas a ideia era esta. Sem tirar nem pôr. Em nada falto à fidedignidade.
Ao ler aquilo confesso que me ocorreu, instantâneo, um comentário que, a custo, lá consegui conter no cerro dos dentes e evitar que desembestasse em praga sonora e audível a toda a composição de zombis onde, por sórdido decreto e suprema ironia da mesma entidade inefável (esse filho da puta do Destino), vagava, a uma hora completamente imprópria, saliente-se. Passo agora, sucintamente, a nomear o comentário propriamente dito: "Crise financeira, o caralho!" E não, a palavra não foi "pénis", nem "órgão sexual masculino", ou "falo": foi mesmo "caralho", sem tirar nem pôr, e com exclamação (que só não foi tripla porque, repito, a cerca da dentuça funcionou).
E caralho faz todo o sentido. Porque se há um principal responsável pelo fenómeno ele é, certamente, o caralho. A crise financeira é que não. Em África, a crise financeira (e se á astronómica aquela crise) provoca nascimentos em catadupa; no Terceiro Mundo, duma forma geral, a mesma coisa; no Portugal da Antigamente, sequestrado por todos aqueles fassistas que o mantinham esquálido e famélico, à míngua de progresso, democracia e economíscaros, idêntico quadro. Portanto, a crise financeira não pode ser responsável por uma coisa e o seu contrário. Ou bem que causa excesso de filhos ou bem que provoca excesso de não-filhos, vulgo abortos.
É claro que a coisa pode ser colocada em termos económicos. É um vício corrente e recorrente nestes dias. Deve ser até a isso que chamam "liberdade de pensamento" (pensar sempre tudo sob a mesma perspectiva redutora ou liliputona ) e funciona, estou certo, em perfeito e glorioso tandem com a célebre "liberdade de expressão". Resultaria, assim, em qualquer coisa como: entre a plástica às mamas, a lipoaspiração das bordas do cu, as férias nas Caraíbas e a criancinha, a cabra emancipada, exposta às angústias do orçamento, teria que optar. Fúnebre encenação, convenhamos, onde dificilmente o feto alcançará sequer o pódio das prioridades. Nesta altura do ano, não é mesmo difícil vislumbrar o ilustre casal no pleno e cabal exercício da proverbial divisão de tarefas: ele, o lava-loiças, a correr à auto-estrada mais próxima a descartar-se do cãozinho, e ela, a estica-peles, a desarvorar para a maternidade mais próxima para desembaraçar-se do embrião inoportuno. Isto é mais frequente do que se pensa. Nestes moldes e noutros ainda mais rastejantes. Porém, continua a não ser, nem nunca foi, uma questão de crise financeira. Também não é uma crise moral, como alguns proxenetas da virtude gostam de proclamar. Vem de mais fundo que simples maquilhagens e coifaduras, tenham elas o aparato e o alarido de sumptuosas bagatelas como "governo", "política", "economia" ou até "civilização". Vem de mais de dentro. E o pior é que não germina dum tumulto, dum caos passageiro ou duma contradição ocasional: brota dum vazio, íntimo, dum nada entranhado, dum deserto, duma esterilidade absoluta de sentimentos autênticos. Não é consequência de crise financeira nenhuma: as crises financeiras não afectam verdadeiramente as pessoas, só afectam os negócios. Querem o verdadeiro nome da coisa? Crise - mais que crise, catástrofe! - afectiva.

domingo, junho 14, 2009

Um glaciar revisionista




Chama-se Benito Moreno e é um fenómeno físico-químico absolutamente obscurantista, retrógrado e sem qualquer respeito pela moda epistemológica, vulgo ciência. Em resumo: Um glaciar revisionista, grande porco!...

O filme da impunidade deste tipo de tropelia é conhecido: começam a rir-se do Aquecimento global, trepam à negação do Holocausto e terminam, para cúmulo, a querer varrer Israel do mapa.

Kosher caos


«A riot erupted at a Brooklyn restaurant last week when Orthodox Jewish patrons discovered the "kosher" hot dogs on the menu were chicken franks that didn't answer to a higher authority.»


Pois é, quando descobriram que os cachorros quentes não eram kosher foi uma carga de trabalhos. O caso não era para menos: Estavam a pastar "chicken franks"(salsichas de galinha) que não respondiam a "uma autoridade superior", imagine-se (se é que imaginar se pode um horror desses). Traduzindo: estavam a enfardar galinhas que não tinham sido supervisionadas e chanceladas por um rabi. Para quem entenda bizarro este tipo de costume, convém não esquecer que o judaísmo também é, essencialmente, uma burocracia das tripas. O processo de produção fecal obedece a quesitos e requerimentos rigorosos. A pureza da Fé depende muito da pureza das fezes.

Entretanto, como todas as histórias devem guardar um final edificante, aqui deixo, em epígrafe, a fotografia do gerente do contaminado estabelecimento. Nunca é demais depor-se vénia, salmo e grinalda diante dum espécime tão emblemático da raça superior.

sábado, junho 13, 2009

Se o cadáver, ao menos, fosse indiano




Aqui há tempos, quando eu de dei ao trabalho de proferir um certo número de verdades acerca do cinema, ocorreram, em simultâneo, dois fenómenos de injustiça concorrentes: um, da parte dos leitores; outro da minha própria parte (se é que a língua portuguesa permite um abuso destes). O primeiro, vamos lá às explicações minuciosas, porque no exercício do pensamento mágico muito típico da clubite contemporânea, os leitores abespinhosos trataram de achar que eu denegria o cinema sob o intuito altamente manhoso de enaltecer a literatura, o teatro, a música, a pintura ou qualquer uma dessas artes ancestrais que foram acompanhando o homem ao longo da civilização (e, em grande parte, como forma de se refugiar dela). Como se a literatura, a música ou o teatro precisassem de rasteirar alguém, ainda por cima anão, para se evidenciarem. Quanto a isso, posso, e devo, tranquilizá-los soberanamente: se o cinema, de ordinário, é a porcaria que se assiste, a literatura, a música, o teatro e as outras artes actuais não só não andam muito longe disso, como chafurdam alarvemente no mesmo chiqueiro. O que torna o cinema apenas mais vistoso, pato-bravo e supimpão é o facto de, sendo uma amálgama industrializada das outras todas, acumular esterco e javardice a níveis verdadeiramente ciclópicos, ou melhor dizendo: enciclópicos. Isto não invalida que não possam surgir, rara e extraordinariamente, bons filmes, ou bons romances, ou boas peças. Mas essa não é, actualmente, a regra. Peças de teatro, então, é um deserto num planeta inóspito e desabitado. E, para falar com franqueza, os livros, e as músicas andam ainda mais raros que os filmes. Talvez porque um bom livro seja imensamente mais difícil de produzir que um bom filme. Aliás, um livro, em sendo autêntico, é vida, pelo que nem se produz: cria-se (e logo aí é todo um mundo de diferenças) . Imaginemos, por exemplo, o "Viagem ao Fim da Noite", ou o "Der Waldgang" (também conhecido pelo "Tratado do Rebelde" ou "O passo da floresta"), só para citar duas das poucas obras de jeito produzidas no século XX, vertidas em filme. Estão a ver o abismo? Se calhar, porque as verdadeiras artes são individuais e as pseudo-artes (na verdade, indústrias) são colectivas. Há, estou em crer, uma excepção nisto, mas não vou dizer qual é.
Finalmente, e quanto ao segundo fenómeno, a da injustiça por mim cometida... Tenho que dar a mão à palmatória. É verdade. A minha análise debruçou-se essencialmente sobre o cinema americano. Porém, é claro que se, deitado na mesa de anatomia, me aparecer - em vez do famigerado Hollywood - Bollywood e o cinema indiano, não terei outro remédio senão arrepiar caminho e rever radicalmente as minhas teses. Felizmente, no meio de tantos melindres (até por email), ninguém ainda se lembrou disso.

quinta-feira, junho 11, 2009

Chamem o Pilatos

A imagem em epígrafe está a escandalizar, a indignar e a ofender os israelentos. Tudo porque o presidente americano, que ainda por cima é preto, está a falar com o Primeiro-ministro israelento numa posição não apenas imprópria como, sobretudo, blasfema: não está prostrado em adoração, de cabeça baixa, boca fechada e olhos submissos.
O Rabino Pomerantz, esse insigne ex-capelão marine (imagine-se), não foi de modas e vocifera já a plenas guelras:
«Obama breeds climate of hate against jews»

Bem, se o tipo passava pelo novo Jesus descido à terra, tudo indica que segue para a crucificação em tempo record.

E, realmente, onde é que ele tinha a cabeça? Quando o rabi Friedman, famoso, entre outros prodígios, pelo seu pacifismo inveterado e pela salvação de Bob Dylan, já tinha passado a receita -The only way to fight a moral war is the Jewish way: Destroy their holy sites. Kill men, women and children (and cattle),” Friedman wrote in response to the question posed by Moment Magazine for its “Ask the Rabbis” feature -, e vai ele, a desariana criatura, e desata naquele discurso (nada kosher, reconheça-se) do Cairo.

A anedota do colchão

«An Israeli woman mistakenly threw out a mattress with $1 million inside, setting off a frantic search through tons of garbage at a number of landfill sites, Israeli media reported Wednesday.

The woman told Army Radio that she bought her elderly mother a new mattress as a surprise on Monday and threw out the old one, only to discover that her mother had hidden her life savings inside. She was identified only as Anat, a resident of Tel Aviv.

When she went to look for the mattress it had already been taken by garbage men, she said. Subsequent searches at three different landfill sites turned up nothing.

The Israeli daily Yediot Ahronot published a picture of the woman searching through garbage at a dump in southern Israel.»

Cá para mim, o colchão velho não tinha dinheiro nenhum. Isto acaba por redundar num esquema para pedir uma indemnização à empresa de recolha de lixo, por inerência, ao Estado israelita e, por último, ou inerência da inerência, ao estado Alemão. A velhinha, certamente, era uma sobrevivente do holocausto.

quarta-feira, junho 10, 2009

Camões




«Ocultos os juízos de Deus são;
As gentes vãs, que não nos entenderam,
Chamam-lhe fado mau, fortuna escura,
Sendo só providência de Deus pura.

(...)

Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho,
Não no dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.»

- Luís de Camões, "Os Lusíadas"

E parafraseando mestre Almada: Este país onde Camões morreu de fome e todos enchem a pança de Camões.

terça-feira, junho 09, 2009

Nem agradecem

O meu modesto contributo para a campanha eleiçoal ora finada resumiu-se a duas palavrinhas apenas: "Avô Cantigas".
O PSD, no mínimo, se tivesse um rudimento de decência (que, como bem sabemos, não tem) pagava-me uma cabine privada no Champagne Club, pelo menos durante um mês. E o BE, essa agremiação pindérica de bivalves palradores e neo-frades canoros, era no Passerelle. Durante o resto da minha vida.

segunda-feira, junho 08, 2009

Legitimem-se!

À falta de melhor, deviam fabricar uma lei, dessas que estão sempre a parir a toda a hora, que, por altura destas palhaçadas eleiçoeiras, limitasse o direito de voto aos candidatos, respectivas famílias e bicharada mais ou menos doméstica, relativa ou dependente. Assim, ao menos, sempre legitimavam o descalabro e disfarçavam a falsificação. E, superlativa vantagem, passavam o de facto ao de jure.

quinta-feira, junho 04, 2009

Usura de poder

«Sampaio afirma não ter tido indícios de abuso de poder»

Claro que não houve abuso de poder. Neste país da tanga quando há favoritismo, corrupção, compadrio e amiguismo nunca é abuso de poder: é simples e banal exercício do mesmo.
Mas, mais adiante, quando o ex-coiso muito se "espanta que o Ministério Público (MP) se «pronuncie, agora, inutilmente, sobre factos de há mais de 13 anos»", eu também não deixo de me assombrar. Afinal, quando a puta da câmara andou a vandalizar paredes e passeios no Largo de S. Domingos, com graffitis e calhaus de péssimo gosto e ainda mais manhosa justificação, por memória e graça, dizem, dumas confusões decorridas há mais de quatro séculos, aí, o antigo Estafa-poltrona não achou estranho nem espantoso. Pelo contrário, é mais que certo que entendeu da mais elementar justiça. E, junto com a kippa, só não levou o bode porque não cheirava apenas mal: fedia.

quarta-feira, junho 03, 2009

Prenúncios, mais que arquétipos



Retiro a descrição de Graves, por me parecer clara e sucinta:
"Salmoneu, filho ou neto de Éolo e Enarete, reinou durante algum tempo na Tessália antes de partir, à cabeça de uma colónia eólica, para os confins orientais da Élida, onde construiu a cidade de Salmone, não muito distante da nascente do rio Enipeu, afluente do Alfeu. Salmoneu era odiado por todos os seus súbditos, e levava tão longe a sua insolência e o seu orgulho real que chegou ao ponto de transferir os sacrifícios de Zeus para os seus próprios altares, anunciando a todo o povo que era Zeus. Costumava mesmo percorrer as ruas de Salmone, arrastando ruidosamente atrás do carro enormes caldeirões de bronze, presos por fortes cordões de couro, para simular o trovão de Zeus, e lançando para o ar tochas de carvalho em chamas; algumas destas, ao caírem, queimavam os infelizes súbditos, que eram forçados a tomá-las por relâmpagos. Um belo dia, Zeus puniu Salmoneu, desferindo um raio a sério, que não só o destruiu a ele, carro e tudo o mais, como também incendiou a cidade inteira."

Salmoneu, note-se, como todos os nomes míticos, não é um nome qualquer, ao acaso. Pelo contrário, possui uma significação precisa, um simbolismo exacto. Fusão de "saleyw" e "monos", pode ser traduzido como "agitado-sòmente", "pavão-sòmente" ou "sòmente-ruído/algazarra". Salmone, a cidade - a cidade fundada por Salmoneu, e forçada a venerá-lo como um Deus (por conseguinte, obrigada a tomar por verdade a mentira e a falsificação), indica a mesmíssima ideia: só agitação, só clamor/ruído, apenas pavoneio, exclusivo vácuo exorbitante.
Podemos imaginar Salmone, o reino de Salmoneu, como uma cidade mítica, perdida algures num passado remoto, por entre as brumas duma dimensão fabulosa. Mas também podemos entendê-la como um aviso, como um quadro intemporal, como algo que resultará necessariamente de algo, isto é, "se fizeres assim, é isto que acontece". Evidentemente, o ser humano tem a liberdade de fazer assim. O resultado subsequente, porém, é não se livrar das consequências que advirão fatalmente. Pensas que podes fugir às lágrimas agora, mas não te hás-de rir depois. Dir-se-ia, portanto, que a tão famosa e (ultimamente) tão celebrada liberdade do ser humano é devir escravo fatal dos efeitos dessa liberdade.
Mas que "assim" é este para o qual o mito nos admoesta? Abreviando no sermão, é a impiedade. Ora, a impiedade constitui uma das grandes - senão o maior - abismo da mitologia. A limite, coroa a hubris, significa-a no seu zénite. E o que é realmente a "impiedade"? Que significa, de facto, o ser ímpio?
Recorrendo ao vulgar dicionário, na actualidade, temos a impiedade como "falta de piedade", "acto ímpio", "blasfémia", "sacrilégio", "crueldade", etc; e ímpio como "aquele que não tem piedade ou compaixão", "desumano", "cruel". Pois bem, na mitologia grega a impiedade significa em primeiro lugar "falta de respeito pelo divino". Podendo ser, e sendo usualmente, uma falta individual, acarreta, todavia, e regra geral, sanções não apenas individuais mas colectivas. O ímpio atrai a ira dos deuses e do Cosmos (ou seja, da ordem eterna) não apenas sobre si mas também sobre a sua própria philos e polis, isto é, sobre a sua própria família e cidade. Como, de resto, podemos comprovar no mito em epígrafe: Zeus não apenas fulmina Salmoneu como arrasa toda a cidade.
O coro da Antígona reflecte sobre isso mesmo: "desde as mais remotas eras, uma lei eterna vigora: a cada excesso do homem logo sucede rapidamente a desventura". E o pior de todos os excessos reside na tolmas (a soberba)
Olhando ao nosso tempo, teremos que constatar a impiedade como algo, mais que normalizado, banalizado. Toda uma pretensa humanidade cada vez mais instruída, mecânica e iluminada ou duvida que haja qualquer espécie de divino, ou, embora proclamando-se fervorosa crente na doutrina x, y ou z, age como se não houvesse (ou lhe servisse apenas de instrumento a quaisquer ganas ou aleivosias). Não admira, pois, que neste nosso tempo, após uma evolução de séculos, impiedoso adquira contornos quase absolutos de "falta contra o humano", de crueldade ou desumanidade (tal qual aparece no dicionário). E, convenhamos, faz todo o sentido. Em nada escapa ao encadeamento previsto ancestralmente.
Como passo a explicar.
Numa frase muito simples: acham, Vossas digníssimas Excªs, meus raros e caros leitores, que um tipo que não respeita os deuses respeita os homens? Que quem não respeita o superior, vai depois, por certo miraculosamente, respeitar o igual? Pior: Que alguém que proclama "nada existe superior a mim! Eu sou o cume, o zénite, o vértice!", tem depois tendência, seguramente angélica, para ver igualdade em seu redor?
Ou será que a impiedade para com os deuses não resultará, necessariamente, na impiedade para com os homens? Ou será que a impiedade não acarreta, fatalmente, a desumanidade - que começa por ser uma falta de proporção para com o distinto e se transforma depois numa falta de proporção para com o semelhante? Que principia sendo um descaso do extraordinário e culmina num desprezo pelo comum?
Que faz Salmoneu? Imagina-se deus e, por inerência de funções, acha-se no pleno direito de flagelar os homens. Porque Salmoneu não se contenta em ser rei: cisma de ser deus. Não pretende fundar apenas uma cidade: arroga-se a fundação e a direcção de um cosmos, ou, no mínimo, dum mundo. Quer dizer, arvora-se prerrogativas sobre-humanas que se revelam, susequentemente, desumanas. Por outras palavras: a falsa sobre-humanidade é, na verdade, uma dupla desumanidade. Não sendo o homem nem o macaco de Deus nem o deus de outros homens, ao desmedir-se - quer exorbitando-se, quer nanificando os outros -, está a não ser homem duplamente. Os antigos tinham perfeita noção disto. Nós, aterrorizados com as constantes tochas que caem do céu, já não temos perfeita noção de coisa nenhuma.
Salmoneu e a sua Salmone representam-nos, projectam-nos lá das profundezas misteriosas do tempo. Prenunciam-nos. Os mitos, se calhar, são a eternidade a rir-se de nós.








Canto coral

Confesso que quando reabri os comentários - precisamente no dia 25 de Abril (se repararem) - foi com a digna intenção de censurar brutalmente uns quantos. Era o meu modesto contributo às celebrações abriludas. Acontece porém que, além de tempo, faltou-me pachorra, e, diga-se em abono da verdade, também não abundaram comentários à altura da efeméride. O beberolas do Timshel não conta porque, embora completamente destituído de senso, não é desequipado de humor, pelo que não desataria aos pinotes, como convém, e muito gáudio sempre me suscita.
A coisa, entretanto, foi correndo, em regime de Ribeira dos Milagres e, seguramente animadas por um tal idílio regimental, uma ou duas ratazanas mais afoitas, ou apenas mais assanhadas, trataram de vir exibir as respectivas essências. E não me refiro sequer à minha amiga Tina - que lá veio debitar a sua cassete faducha de como me condena a ser um triste, um falhado e um desprezível para toda a vida, por contraponto, claro está, ao seu modelo dilecto de alegria, triunfo e glória em catadupa: o pansofo e inefável João Miranda, Deus o abençoe. A Tina tem todo o meu beneplácito, ela sabe disso. Longe de mim catalogá-la entre as ratazanas. Quando muito, é uma ratita Minie que detesta Bafos-de-Onça como eu (e também detesta o Arroja, porque o considera um pseudo-Mickey usurpador: verdadeiro rato Mickey, para ela, só há um e escuso de repetir a sua identidade à paisana).
Não, a ratazana é outra. E de modo a que não se sinta de modo nenhum acanhado nos seus guinchos, até decidi disponibilizar-lhe um up-grade nas caixas de comentários. Censurá-lo? Reprimi-lo? Nem por sombras. Gosto muito de ouvir guinchar, sobretudo de desespero. Porque, assentemos, há certo nível de guincho que já nem é injúria: é desespero. Alguém lhes pisa a cauda (e, por inerência, a extremidade da alma e o resquício de coluna), e eles guincham. Nestas alturas, devemos ser compreensivos. E em vez de esborrachá-los duma vez por todas para acabar com o chinfrim, mais pedagógico e caritativo será ensinar-lhes alguns rudimentos musicais. Canto coral, no mínimo.


terça-feira, junho 02, 2009

Usurários à força

A propósito disto, a nota censórica da Nova Inquisição Kosher é um must. Transcrevo apenas este trecho altamente supimpa:

Ora, nem mais. Mesmo quando estavam a ser usurários, estavam a ser vítimas dos cristãos. Que os obrigavam violentamente a tal infâmia, esses monstros. Devemos presumir que continuam a compeli-los tenebrosamente nos dias de hoje. Usam certamente de terríveis torturas e chantagens emocionais. Só assim se explicam aberrações como o Madoff. Ou o Ruderman. Bem, isso, ou então tornaram-se junkies desvairados da sanguessuguice por habituação forçada. Pois, e coitadinhos dos Rothchild, 0corre-me agora que sei disto, as brutalidades atrozes de que aquela santa família não foi objecto!... Afinal, a conspiração não é dos judeus: é dos cristãos contra os judeus. E o porco do Shakespeare, esse arqui-anti-semita... Para quando o devido depósito das suas hediondas obras no Novo-Index?

Antídoto

O maior agente patológico - mundial e endémico -, da disfunção eréctil, impotência e desvirilização massiva tem um nome bastante conhecido: Economia. Podemos mesmo descortinar nos economistas os novos sacerdotes globais da castração mental colectiva. À cabeceira das sociedades, zelam para que, cíclica e tóxica, a depressão não falte e, com desvelos de eunuco-torcionário e extremuras de agente da eutanásia a conta-gotas, tratam de subministrar as doses de sopeirização compulsiva intra-venal. Lenta mas porfiadamente, a xaropes de crise e supositórios de défice, o Homo-sapiens lá vai, assim, degenerando no Homo-domesticus.
Mas eis que uma que uma ténue luz de esperança rompe as trevas. Na Letónia, mais que justificadamente, as loiras já marcham contra o estado da economia. Esperemos que, por cá, loiras, morenas e ruivas lhes sigam o exemplo. A economia, mai-la sua chusma de putas, pederastas e alcaiotes, não precisa que a levantem - na verdade precisa é que a deitem bem no fundo dum aterro sanitário e se esqueçam lá dela -, mas, em contrapartida, zanza para aí uma data de prostrados, asténicos e semi-defuntos a necessitarem urgentemente de guindaste. E se vislumbres sublimes como a menina da direita, a do cãozinho, não levantam um homem, então que se conduza e despeje no cemitério tal estropício, pois mais morto e mutilado não podia estar: