segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Sursum corda



Peço desculpa por esta interrupção. O Dragão segue dentro de momentos.

A Deus o que é de Deus, ao Dragão o que é de César.

A caverna - pois, esse tugúrio!- tem deveres.

(Quanto à estima que vos devoto, ó amigos virtuais, subentendam-na. Manifestá-la aqui por palavras arruinaria de vez a péssima reputação e o mau nome que tanto me custaram a granjear.)

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

REQUIEM

Dizem que a morte ceifa, mas o tempo ensinou-me que não. Não ceifa, escava, vai escavando. Um fosso à nossa volta. Os poetas chamam-lhe solidão. Eu, que sou um bruto, chamo-lhe desolação. Desculpem lá isto não estar a sair muito literário, mas ontem ela veio escavar mais um pouco em meu redor. Um pouco, para ela, um quase nada; mas um muito para mim.
Mais que o erro, disso não tenho dúvidas, é a estupidez que é humana. Prova eloquente dessa triste condição é que só quando as perdemos, às pessoas, é que descobrimos o quanto gostamos delas.
Estou de luto. E nos próximos tempos, que me perdoem os meus amigos virtuais, mas não terei cabeça para estas nossas tertúlias. Até porque tenho que ir fortificar e cerrar fileiras com as poucas pessoas reais que me restam.


TRÊS CANÇÕES DE DESPEDIDA

I

Porque é que tudo aqui
tem que ter um Fim?
Já gastei os meus olhos
ainda mal te vi.

Porque é que tudo aqui
tem que ter um Fim?
Já lá vem a morte
ainda mal vivi.

Porque é que tudo aqui
tem que ter um Fim?
Já me fechas os olhos
ainda mal os abri.

II

Agora a montanha perdeu o sol
agora o rio desaguou no mar,
e Deus acendeu outra estrela no céu
lá longe, onde só o coração pode chegar.

Agora o dia perdeu a luz
agora a lágrima abandonou o olhar,
e tu entregas a tua cruz
Àquele que ta ensinou a carregar.

III

Requiem

Nasce-se para morrer
Começa-se para acabar;
Quanto mais a vida te der
mais, no fim, te vai tirar.

Entra-se para sair
corre-se para parar;
Quanto mais alto subir
de mais alto se vai despenhar.

Ganha-se para perder
vive-se para tentar,
Do fundo do meu Ser
está o Abismo a reclamar.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

O Vale dos Lobos ou das Lágrimas


Nos anos trinta, Joseph Goebbels, o génio do mal por detrás do III Reich inventou a receita: O cinema como a mais poderosa arma de propaganda. Posteriormente, os Estados Unidos, através duma indústria à escala global, desenvolveram e aperfeiçoaram a técnica. Agora, do lado muçulmano -na Turquia, mais exactamente-, querem mostrar que também são capazes.
O filme chama-se "Valley of the Wolves", e está a causar furor e lotações esgotadas.
A história desenrola-se a partir de um episódio factual: o aprisionamento de forças especiais turcas no Norte do Iraque pelos americanos (peripécia que até hoje foi considerada uma humilhação nacional e, pelos vistos, está longe de estar esquecida).
Ao longo da fita, rezam as crónicas, os americanos são exibidos como autênticos ogres, "que disparam à queima roupa sobre crianças e sacam órgãos aos prisioneiros Iraquianos, que enviam depois para Israel, Estados Unidos e Inglaterra", entre outras proezas meritórias.
Depois da histeria com os cartoons e da revelação do vídeo britânico, aí está mais gasolina para a fogueira.
Por regra, não gasto o meu tempo com cinema, seja ele propaganda americana, como é habitual, seja agora outra qualquer. O que isto tem de sintomático é o estado de espírito que esta América do "New American Century" tem andado a semear pelo mundo.
Ora, se num dos aliados tradicionais dos Estados Unidos na região os pensamentos são estes, não é de acreditar que os Turcos engulam histórias como as que o director geral da CIA, Porter Goss, lhes andou a tentar impingir há umas semanas atrás:
«1- Que o Irão já possuía armas nucleares e, por conseguinte, constituía uma terrível ameaça regional;
2- Que o Irão patrocinava o PKK e ALQaeda;

3- Que o Irão tencionava exportar o seu "regime" para o Turquia.»

Acho que os Turcos não são assim tão parvos e não devem ter apreciado muito o insulto à sua inteligência. Tanto eles, como a generalidade dos países independentes deste mundo, se não sabem, seguramente desconfiam de quem é que possui armas nucleares (e outras) que constituem uma permanente chantagem global; de quem igualmente patrocina o PKK e a AL Qaeda; e de quem tenciona "exportar" o seu "regime" não só para a Turquia como para o mundo inteiro. Não quer dizer que o Irão não alimente projectos mirabolantes, só que não dispõe nem dum décimo dos meios, do alcance, da vontade expressa e assumida, nem, tão pouco, do know-how que só a múltipla e exaustiva experimentação permite.
A Turquia, há cada vez mais indícios disso, está a inclinar-se para o seu vizinho gigante do Norte. Junte-se-lhe a Síria, o Irão, a Índia e agora, para cúmulo, a China (e, off the record, até França e Alemanha), e perceba-se no que deu o caldo de geo-imbecilidades cozinhado pelo bando de noeconas que tem andado a brincar à geoestratégia com neoliberalismos asselvajados, revoluções coloridas e exportação de caos e bandalheira (a título de democracia) por mero frete aos interesses e caprichos de Israel... É isso mesmo: Os Russos estão de volta. Agora com o espírito Czarista enxertado no património genético da KGB.
Mesmo que os Americanos cometam a estupidez de atacar o Irão, imaginem para que preços o petróleo vai disparar, e imaginem quem vai ser um dos principais beneficiários disso. E já agora, se não for pedir muito, imaginem quem vai pagar...
PS: Também pode dar-se o caso de eu estar para aqui a delirar. Oxalá.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Provincianismo e coloniofilia

«O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela - em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz.
O sindroma provinciano compreende, pelo menos, três sindromas flagrantes: o entusiasmo e admiração pelos grande meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a inacapacidade de ironia. (...)
É na incapacidade de ironia que reside o traço mais fundo do provincianismo mental. Por ironia entende-se, não o dizer piadas, como se crê nos cafés e nas redacções, mas o dizer uma coisa para dizer o contrário. (...)
O exemplo mais flagrante do provincianismo português é Eça de Queirós. É o exemplo mais flagrante porque foi o escritor português que mais se preocupou (como todos os provincianos) em ser civilizado. As suas tentativas de ironia aterram não só pelo grau de falência, senão também pela inconsciência dela. Neste capítulo, a "relíquia", Paio Pires a falar francês, é um capítulo dolorosos. As próprias páginas sobre Pacheco, quase civilizadas, são estragadas por vários lapsos verbais, quebradores da imperturbabilidade que a ironia exige, e arruinadas por inteiro na introdução do desgraçado episódio da viúva de Pacheco. Compare-se Eça de Queirós, não direi já com Swift, mas, por exemplo, com Anatole France. Ver-se-á a diferença entre um jornalista, embora brilhante, de província, e um verdadeiro, se bem que limitado, artista.
Para o provincianismo há só uma terapêutica: é o saber que ele existe. O provincianismo vive da inconsciência; de nos supormos civilizados quando o não somos, de nos supormos civilizados precisamente pelas qualidades por que o não somos. O princípio da cura está na consciência da doença, o da verdade no conhecimento do erro. Quando um doido sabe que está doido, já não está doido.»
- Fernando Pessoa, "O provincianismo Português"

Testemunhasse Pessoa esta nossa actualidade asnopédica e constataria, com alguma amargura por certo, que não só não melhorámos da doença, como a síndrome degenerou num palindroma particularmente virulento: mais até que a província dum qualquer império, o lugar, a chicote da chusma que o infesta, regrediu a colónia duma qualquer metrópole. Vire-se do direito para o avesso, de cima para baixo, da direita para a esquerda, ou vice-versa para qualquer uma dessas modalidades, o resultado é exactamente o mesmo: uma horda de pato-bravos, em acto ou potência, em cirurgia plástica ou lista de espera, sociais e mentais, entusiasmadíssimos com a sua própria dependência, viciação e imbecilidade redentora. O único debate visível e particularmente assanhado prende-se com a escolha da trela, arreio, sela e cabresto que melhor lhes fica. Qual dos patronos confere melhores condições aos seus lacaios. Raça de sabujos cujo maior sonho, doravante, é ser novo-cafre das europas ou das américas, porque entretanto as rússias deixaram de aceitar inscrições e as chinas estão ainda a ultimar os critérios de matrícula.
É toda uma massa amorfa, caótica, adesiva, em efervescência ruidosa, a clamar por molde e olaria. Já não portugueses e sem resquício de vértebra, valor ou dignidade para americanos ou europeus, não excedem o saloio beberolas, atrelado a uma pança tirana ou levado de rojo por um umbigo despótico, vomitando o passado na sargeta para dar lugar à zurrapa -mixórdia de futuro canoro de eleição - que, em turismo alcoólico, bufarinhou num qualquer caixote do lixo das estranjas.
Desde o "orgulhosamente sós", conseguiram rastejar intrepidamente para um degrau mais abaixo: "Orgulhosamente totós". É daí que clamam, em mescla de fado vadio com SOS de Titanic a afundar-se, o seu novo slogan auto-estimulante: "Alguém que venha tomar conta de nós!"
Serem uma província de Espanha já não lhes basta, nem preenche as fantasias. Agora só mesmo uma colónia. Se possível, de férias.

sábado, fevereiro 11, 2006

Babilónia

«Ó Zaratustra, esta é a Grande Cidade; aqui nada tens a buscar, mas tudo a perder.
Porque virias chafurdar nesta lama? tem piedade dos teus pés. Mais vale que cuspas na porta da cidade, e sigas o teu caminho.
Aqui é o inferno para os pensamentos dos solitários; aqui os grandes pensamentos são fervidos em vida e reduzidos a caldo.
Aqui apodrecem todos os grandes sentimentos; aqui apenas se autoriza o leve tinir de sentimentos menores, inteiramente descarnados.
Não sentes, já daqui, o cheiro dos matadouros e das espeluncas do espírito? Não exala esta cidade um aroma de espírito massacrado?
Não vês as almas como trapos moles e sujos? E desses trapos ainda fazem jornais!
Não ouves que o espírito não passa aqui de um jogo verbal? Aqui, ele vomita uma repugnante zurrapa de palavras. E desse vómito ainda fazem jornais!
Perseguem-se mutuamente sem saberem para onde vão. Excitam-se uns contra os outros sem saberem porquê. Fazem tinir as suas latas, tilintar os seu oiro.
(...) Cospe sobre esta cidade das almas aviltadas e dos peitos estreitos, dos olhos penetrantes, dos dedos gordurosos - sobre esta cidade dos importunos, dos impudentes, dos escribas e dos vociferadores, dos ardentes ambiciosos - onde fermenta, numa mesma purulência, tudo o que é cariado, desacreditado, lascivo, turvo, sorvado, purulento clandestino - cospe sobre esta Grande Cidade e segue o teu caminho!»

- Nietsche, "Assim falava Zaratustra"

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

A montanha que pariu o Rato



Nem Maomé veio à montanha (e foi pena), nem a Montanha compareceu ao Maomé ( e foi azar). Limitou-se a parir um rato. Um rato, não obstante, capaz de parir montanhas. De excremento intelectual e sabujice transatlântica. E ontem lá estava, na crista da micro-manifestação, o Rato, que é Vasco e também papagaio, a exibir-se às câmaras da RTP em toda a sua magnificiência de polichinelo. Um mister, este Rato! Da estupidenza doméstica, benza-o Deus...enquanto o Diabo não o carrega.

Ritalina news



Mais curiosidades acerca da Ritalina...

Como já aqui foi exposto, a subministração de Ritalina em crianças -a partir de idades tão tenras quanto 4 anos -, encontra justificação "científica" no "Attention Deficit Hyperactivity Disorder" (ADHD) .
Existem sérias dúvidas que esta proclamada "síndrome" sequer exista. Críticos do programa, como o Dr. Fred Baughman, afirmam tratar-se duma pura invenção da American Psychiatric Association (APA).

Quer dizer, a "pseudo-doença" tornou-se uma fonte de receita orçamental para as escolas. Quantos mais casos, mais fundos federais.
Suponho que é o Mercado a funcionar. Business as usual.

Slogans para futuras manifestações islamo-libertárias . I



Para que não restem dúvidas da nossa supremania, digo supremacia, civilizadoira.

ABAIXO A BURKA! VIVA O BOTOX!!

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Feira do Relógio



Olha o ML, olha o ML! Olha a banha da cobra e o canivete suiço das ideias! À dúzia é mais barato! É comprar, é comprar! E ainda leva um cobertor, um faqueiro e um jogo completo de cama. Mais um despertador e três alguidares de plástico! E ainda: seis pares de ceroulas e um saca-rolhas!
Os Marxistas-Leninistas de ontem são os Mercantilistas-Liberais de hoje. E vice-versa.

O Perpétuo PREC (Processo regurgitador em Curso)



Cada vez mais, fica a impressão que andamos há trinta anos a regurgitar o PREC . É sempre a mesma pasta avinagrada e escumosa, só o que muda são os slogans e as palavras de ordem - os gatilhos do espasmo. Até os gargarejadores são os mesmos. Eles e a filharada, porque entretanto reproduziram-se.
Enfim, é toda uma revolução das tripas que nunca mais acaba. Nem temos tempo para pensar... Ainda estamos a salvar as baleias e já nos convocam larilas em apuros; ainda mal apoiamos as abortadeiras e já há uns pretinhos a morrer de fome em Darfur (pena não ser nas Caraíbas, que aproveitávamos e de caminho bronzeávamos o coiro). Agora, para cúmulo, são os muçulmanos, esses fassistas, que nos querem vir dar cabo das amplas liberdades.
Mas será que esta luta nunca mais acaba?...

Todos ao Rossio! A Luta continua.

Hoje, às 15 horas, uma manada de zombies saiu à rua numa manifestação em prol da Liberdade de Expressão.

Em defesa dos vossos valores



Em resumo, abaixo os muçulmanos, bombardeiem-nos urgentemente, porque ameaçam o que de mais sagrado tem o vosso mundo "ocidental": as feministas, os gays e os judeus. Mais sagrado ou mais ruidoso, o que, nestes fascinantes tempos, é a mesmíssima coisa.
Esse vosso nazismozinho ao contrário...de patas para o ar.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Os Palra-caro e os fala-baratos



Todavia, não deixa de ser curioso que entre nós –e presumo que no resto do Ocidente não variará muito -, aqueles que mais se insurgem em defesa da putativa e sagrada Liberdade de Expressão são os papagaios.
Mas, havemos de reconhecer, não se tratam, ao menos, de papagaios fala-barato. Não, são papagaios palra-caro. Nunca palram grátis... Tomam a coisa de empreitada. São profissionais devidamente sindicalizados. Os principais, bem entendido.
Porque depois há todo um exército de araras impressionáveis, tucanos irascíveis e periquitos belicosos que agem por manifesta simpatia e emulação. São os grulha-barato. A quem os palra-caro proporcionam o rastilho. Aceso este, dado o mote, ei-los que explodem prontamente, os grulha-barato, numa algazarra infernal, numa chinfrineira ensurdecedora que só visto. Já que escutado não tem graça.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Contra Ventos e Maraus

Voltarei muito brevemente a este assunto. Para já, deixo apenas um singelo mas edificante reparo:
A Liberdade de Expressão, nos mass-media ocidentais, é uma lenda, um mito urbano. Uma teoria da inspiração (liberal) e da transpiração (maquinativa). A realidade chama-se "Critérios editoriais". Ninguém escreve ou reporta o que lhe dá na real gana, muito menos uma perspectiva imparcial, mas o que lhe concedem ou encomendam. Na informação, e até nas artes, tudo tende cada vez mais para o "produto publicitário". Aliás, só um optimismo delirante poderia celebrar a "liberdade de expressão" num ambiente onde a "autonomia de pensamento" tem, cada vez mais, a cabeça a prémio. Em matéria de medo, o desemprego já supera a morte. Por aqui, dá para avaliar o nível mental a que decorrem as operações.
Quanto ao resto, tanto os mass-media ditos "ocidentais" como os "outros" são unânimes na sua vocação, objecto e finalidade: desinformar. Isto é: manipular as massas; servir de instrumento ao seu pastoreio. Os nossos apenas desinformam melhor que os outros, porque criam uma superior ilusão de informação. Daí a mistificação soberana: é tanto mais livre aquele que tanto melhor mente. E, por osmose, aquele que tanto mais acredita. Crença, acima de tudo. Porque a liberdade dos nossos dias não é matéria de reflexão, mas artigo de fé. Dogma incontestável. Não se questiona, ou tão pouco avalia: assume-se, como dádiva divina numa civilização de eleitos. E, o que é pior e raia o totalitarismo mais hirsuto, como prova de supremacia planetária e carta de livre-corso passada directamente pela Providência, a meias com a Natureza.
Acreditamos na liberdade com o mesmo hooliganismo ululante com que os outros veneram Alá e o seu profeta belicoso. Matamos, bombardeamos e massacramos pelo Mercado, em nome do nosso "modo de vida" (ou seja, das orgias da alta finança a cavalo num puré humano), com a mesma sanha e o mesmo brio com que os outros - caso tivessem uma panóplia à altura, norteados por tão sublimes e memoráveis exemplos, legitimados em tão monumentais precedentes -, bombardeariam e chacinariam em devoção militante à Fé deles. Andamos, feitos acólitos da Igreja Universal do Reino da Democracia, a covertê-los a tiro e escandalizamo-nos todos com o despautério deles ao fazerem explodir-se em nome do Islão; obrigamo-los, à força de mísseis e blindados, a ajoelhar e rezar em Shopings, e indignamo-nos, todos púdicos, quando eles nos querem vir, à bomba, obrigar a ajoelhar e rezar em mesquitas; a nossa fantasia de transformar o mundo numa disneylândia (ou barbie-world) é benigna, mas a deles, de fazerem do mundo um califado, é demoníaca; cismamos de convertê-los ao paraíso na Terra, mas não admitimos que eles nos convertam ao Paraíso no Além. Queremos, por força, a felicidade deles e não compreendemos a ingratidão com que nos mandam para a puta que nos pariu. É que nós, sem excepção, os eleitos, os ocidentais (subitamente, já não somos globais, voltamos ao útero matriz, em fila ordeira para retroceder pela ejaculação paterna acima, até às bolsas seminais), somos todos uns meninos de coro e eles, sem a menor dúvida, são "monstros do Corão". E, no entanto, ambos os fundamentalismos se equivalem e prometem locomotivar, pelo sua efervescência vanguardeira, as massas facilmente adesivas .
Olhando friamente tamanhos prodígios civilizacionais encandeia-nos mesmo um efeito de espelho. Comparando a selvajaria que agora somos com as civilizações que já fomos, tal qual a selvajaria que eles agora são com a civilização que já foram, dir-se-ia que a regressão corre geminada e a bom ritmo. A moda é retro e o espectáculo de maior sucesso é o da reposição da tribo canibal em vésperas de surtida, cada bando mais pintalgado e guinchante de volta do seu super-tótem, ou meta-tótem, para ser mais exacto, já que o mamarracho, engalanado de fiapos angélicos, eructa e gosma à transcendência. Em que é que tudo isto excede um concurso de ganadarias, um certame de bestas ou um circo de aberrações?
Em que é que os nossos mullahs são inferiores aos deles? Em que é que a histeria deles é mais estapafúrdia e orquestrada que a nossa?
Superior, num certo sentido e não sem mordaz ironia, só mesmo a "liberdade de expressão" das manadas deles: apesar de tudo, ainda se podem manifestar à pedrada, a fogo posto e a tumulto desconchavante e festivo. As nossas, coitadas, só lhes restam duas alternativas: balir -quase sempre-, ou ladrar - à voz do dono.
Mas o pior ainda não é isso. O pior é que -como sobejam indícios nos dois últimos séculos-, quem semeia ventos, afinal, não colhe tempestades: ordenha-as.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Information Operations Roadmap



«US plans to 'fight the net' revealed »
«A newly declassified document gives a fascinating glimpse into the US military's plans for "information operations" - from psychological operations, to attacks on hostile computer networks.

Bloggers beware. »


Quem tiver interesse e paciência para ler o documento original, do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, pode consultá-lo aqui. Já agora, tentem adivinhar as partes ocultadas.

« Quando descreve os planos para a guerra electrónica, ou EW, o documento adquire uma tonalidade extraordinária. Parece encarar a Internet como sendo equivalente a um sistema de armas inimigo.»

domingo, fevereiro 05, 2006

As Minhas Taras, ou Para arruinar de vez com as audiências

A propósito de mais uma daquelas estúpidas "correntes" que algumas almas ociosas vão desencantar a não sei que baús foleiros da imaginação, A Zazie e o BOS , desafiam-me a expor aos olhos de basbaques e curiosos cinco das minhas manias.
Em primeiro lugar, começo por dizer o seguinte: Quero que a corrente se foda e, se bem que vá responder por consideração estrita aos requerentes, não tenciono chatear ninguém com uma frescura destas.
Em segundo lugar, cumpre-me frisar que eu, como é universalmente consabido, possuo o mais afável, regrado e benigno dos carácteres, pelo que procurar em mim manias é o mesmo que garimpar agulha em palheiro. É verdade: nenhuma mania me atormenta. Apenas algumas taras violentíssimas. Algumas, será talvez um exagero da minha parte. Inúmeras, seria mais adequado. Pedem-me cinco, mas eu podia ficar aqui a relatar cinco mil. Cada qual mais extravagante que a anterior.
Porém, sem mais delongas, vamos às cinco:

1- Odeio –com um um ódio visceral, fervoroso e inoxidável!-, a) O major Alvega; b) o rato Mickey; c) o Bip-Bip; d) o D.Pedro I; e) os Romanos; e) várias outras porcarias de idêntico jaez e pública notoriedade. O major Alvega, aproveito para referir, constitui mesmo um caso à parte, merecedor de um postal só para si. E dos grandes. Mas não perdem pela demora. Eu morra já aqui fulminado por um raio, se não elucubrar brevemente sobre tão grandessíssimo bandalho.
2- Em contrapartida, é mais forte que eu: não consigo disfarçar uma certa e feroz empatia com todos os mega-ferrabrases da História, excepção feita aos romanos e a todos os seus derivados serôdios (leia-se os anglo-saxónicos e os comunistóides – abomino subterfúgios e hipócritas; e os mouros, nunca esquecendo, puta que os pariu!). Tento combater este minha lúgubre tara, com todas as minhas forças, acreditem. Ingiro calmantes, extenuo-me com exercício físico, até dou comigo ensarilhado em posturas de Ioga para ver se me purgo destes maus vapores, mas debalde. Não consigo deixar de me entusiasmar com as proezas dum Alexandre, dum Átila, dum Genghis Khan, dum Vlad, o Empalador (meu antepassado ilustre), dum Napoleão e até, em pequena escala, nazismo à parte, dum Adolfo Hitler (o último momento épico do ocidente ousou-o ele, quando se atirou com todas as ganas ao vespeiro Stalinista!...). Basta debruçar, nem que seja ao de leve, o espírito sobre as suculentas crónicas destes foras-de-série, e eis-me transtornado, pronto a sabe Deus que razias higiénicas e paradigmáticas. Eu não devia dizer isto, (imagino o escândalo da beataria militante e esbirraria congénere; a horda de santarrões vigilantes e escuteiros filisteus aos guinchos descabelados, enfim, toda uma peixaria apopléctica e zurrante, mas se é de taras que me interrogam, é de taras que eu falo. Nada de paninhos quentes e sonsices. Não me recomendo a ninguém, dispenso discípulos e amiguinhos, e a maior pena que eu tenho é não dispor de um exército de brutos e tomba-lobos, em tudo semelhante aos daqueles meus heróis, que havíeis de ver as habilidades de que eu era capaz! Com que exemplar e merecida diplomacia eu trataria toda uma vasta horda de filhos da puta que conspurcam o solo deste planeta e já ameaçam as estrelas. E não me venham com esquisitices, procrastinações e preciosismos. Um dragão em estando com as mãos –aliás, patas, providas de belas garras – nas massas, não deve ser distraído, interrompido e, muito menos, criticado. As massas existem para isso mesmo.
3- Desenvolvi a seguinte antropologia: Qualquer gajo que, para seu transporte, conduza qualquer outro tipo de viatura ligeira que não um Land-Rover Defender é maricas. Se não em acto, seguramente em potência. Esta é uma tese fundamental de que não abdico.
4- Desprezo solenemente toda e qualquer moda e faço questão de contrariá-la com todas as minhas forças. Execro rebanhos, manadas e matilhas. Bem como turistas. O meu antiamericanismo decorre disso mesmo e só encontra paralelo no meu anti-sovietismo de há trinta anos atrás. Os americanólatras, anticomunas encartados da hora presente, não me lembro muito bem deles naquela época, até porque grande parte ainda se fazia transportar nos tomates paternos e, estes, por aqueles conturbados tempos, primavam pela transparência (ou ausência, se quisermos ser rigorosos). Parte deles cavou heroicamente para o exílio. Devotos da mama, muito mais que da pátria.
5- Não cultivo qualquer complexo de culpa pelo facto dos meus antepassados terem oprimido - com alguma benevolência, não me canso de lamentar -, bumbos e monhés. Se tivesse sido ao contrário é que me traumatizava deveras. Antes andar, todo pimpão, a colonizar cafres e orientais, que ser colónia de ingleses ou americanos, ou, cúmulo dos horrores, quintal de espanhóis, mil caralhos os fodam! Nasci no sítio certo à hora errada. É a minha tragédia. Desconfio que a transmigração das almas existe e eu ando a penar, neste avatar desarmado, refém de estúpidos escrúpulos e polícias, as diabruras que concebi, refinei e tripudiei através de séculos e continentes. Como Empedocles, que se atirou num vulcão, também eu sonho em mergulhar de cabeça numa qualquer catástrofe. Nisso e num harém. Alternadamente.

Há perguntas que não se fazem. Mas já que as fizeram, fiquem-se com as respostas que não se dão.

sábado, fevereiro 04, 2006

Quanto mais falso, mais perigoso

«Bomba» falsa mata 88 pessoas»

Ali atrás era um nabo a ser vil e cobardemente atacado. Aqui é uma bomba falsa que limpa o sebo a uma capicua deles. Além de esquizofrénico, este é um mundo cada vez mais perigoso. As bombas falsas já são mais mortíferas que as verdadeiras. É como as Armas de Destruição Maciça. Quantos mortos é que as falsas Armas de Destruição Maciça Saddam Hussein já causaram?... E os falsos terroristas? Um dia destes são as bombas nucleares falsas do Irão que começam a desencadear uma razia. Entretanto, as bombas atómicas verdadeiras da Coreia do Norte estão lá muito sossegadas e ainda não mataram ninguém. Alguém consegue entender um manicómio destes?...

Nabos


«Nabo gigante comove o Japão»
«Um nabo gigante começou a nascer o ano passado numa rua da cidade japonesa de Aoi e rapidamente conquistou a simpatia de quem passava. O caso insólito foi sendo seguido pelos media, mas o mais recente episódio está a entristecer a sociedade: o nabo foi atacado.»

Sinceramente, este planeta já me ultrapassa. Ele há com cada filho da puta!... Como é que houve um cabrão facínora capaz de fazer mal a uma indefesa e viçosa hortaliça daquelas?!...
Todavia, não julguem os Nipões que são recordistas: Nós também temos um Nabo de proporções descomunais. O Nabo deles chama-se Dokonjo Daikon; é manso e amistoso. O nosso chama-se Murteira. E, ao contrário do deles, é hostil e feroz.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

O Regime democraticida

A democracia, em tese, não deixa de ter os seus atractivos. Chega até a ser fascinante, credora de entusiasmos. Ao contrário da sua aplicação prática, que, regra geral, redunda na mais extremosa das bandalheiras e fomenta a mais autofágica das mediocridades.
Por seu turno, a ditadura, autoritária e musculada, em tese, é absolutamente medonha, senão mesmo repugnante. Já definir-lhe, com justiça, as realizações torna-se mais problemático. É que depois duns anitos a aturar as “práticas democráticas”, mais os beatos e filisteus todos da confraria, até um santo começa a vislumbrar na prática ditatorial uma série de virtudes beneméritas e um ror de méritos até aí insuspeitos, mas doravante não apenas óbvios, como, pasme-se, urgentes.
Não há grande moral a extrair desta fábula. Infelizmente, e falando com franqueza, a democracia, de todos os inimigos, só tem um que a arruína, de tão descomunal, sempreviçoso e inflexível: os “democratas”. Principalmente, quando resumem a política a um requinte intrincado de proxenetismo. Ou seja: quase sempre.

Biópsia ao Ralenti dum conto de Fadas

Para lá das aparências –quer dizer, dos contornos tenebrosos da alegoria -, o legado de Sade não é muito complicado de entender: O poder e o dinheiro corrompem. Invariavelmente. Os excessos e desregramentos que permitem nem sequer conduzem à felicidade, mas apenas à exasperação (à descoberta que “não há felicidade”). Até porque o corpo é ele próprio masmorra, sujeição: tanto dos outros como de si próprio. O Libertino, turista dos abismos, protagoniza tudo isso.
Estamos, por conseguinte, nos antípodas dos nossos multiliberais peregrinos: para eles o poder e, sobretudo, o dinheiro, não corrompem. Pelo contrário, santificam. Redimem de todas as pretéritas humilhações, decepções e infâmias.
Que a História Universal corrobore Sade à exaustão, para essa boa gente, é despiciendo. São pesadelos que apenas assombram espíritos pouco hábeis, sujeitos rígidos e empastelados. Não eles. Eles, por concessão vitalícia duma fada madrinha leviana, dispõem dum filtro mágico, uma ferramenta prodigiosa que lhes outorga uma clarividência superlativa e, sem a mínima falha, lhes faculta a mais providencial e soberana das noções: a de que a corrupção, afinal, existe em duas formas distintas (à semelhança dos cancros, aliás): Dum lado, uma corrupção benigna, sublime, caridosa –a nossa; do outro, uma corrupção maligna, execrável, destrutiva – a dos outros. A “nossa”, entenda-se, a “deles e dos seus amigos”, eleitos exclusivos e dilectos dos favores das fadas.
A nós, aos deserdados desses seres diáfanos e fabulosos, resta-nos, para amarga compensação, o espanto e, por arrastamento, como Sócrates em tempos reservou aos cônjuges das megeras, a filosofia. O que nos transporta, sem mais atalhos, àquela interrogação óbvia que, ciclicamente, nos flagela: “como distinguir, assim, à vista desarmada, a corrupção boa da corrupção má?” – Por incrível que pareça, até é estupidamente simples: A benigna fala inglês.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Oligarquia, Plutocracia e Monarquia

«Na política há a democracia, que é a política de captação, e a ditadura, que é a política de subjugação. É democrático todo o sistema que vive de agradar e de captar -seja a captação oligárquica ou plutocrática da democracia moderna, que, no fundo, não capta senão certas minorias, que incluem ou excluem a maioria autêntica; seja a captação mística e representativa da monarquia medieval, único sistema portanto verdadeiramente democrático, pois só a monarquia, pelo seu carácter essencialmente místico, pode captar as maiorias e os conjuntos, organicamente místicos na sua profunda vida mental.»

- Álvaro de Campos, in "Apontamentos para uma Estética Não-Aristotélica"

Nada de sovinices!


Breve sinopse para leitores não anglófonos: Num total de 286.5 biliões de dólares para o fundo de auto-estradas e transportes federais americanos, 24 biliões foram para suborno, neste caso uma espécie de "endo-suborno ou auto-indulgência" de membros do Congresso.
Quem o afirma é Michael Reagan, filho mais velho do antigo presidente Ronald Reagan:

«In July 2005 Congress passed a massive $286.5 billion transportation bill to fund our nation's highways and federal transportation needs for the next six years. The bill included more than $24 billion in special earmark projects for members of Congress. On of the most influential figures in Washington spelled it out for me recently. And what he described in talking about the passage of that bill loaded with billions upon billions of taxpayer's dollars bordered on the criminal. When the transportation bill was being marked up, the bill's supporters in the leadership promised to every member of Congress that they would each be allotted $14 million in free earmarks if they would vote for the legislation. Members of the leadership were promised something in the neighborhood of $40 million. Added to projects already in the bill, and even with some members not taking the deal, the bill came to a total of 6,300 earmarked projects costing the taxpayers $24 billion. This is a clear case of bribery. The people being bribed were members of Congress.
The people making the bribes were members of Congress.

A grandeza dum país mede-se também pela capacidade dos seus representantes eleitos pilharem, em grande estilo, o otário.
Aliás, quem parte e reparte e não fica com uma boa parte, ou é burro ou não tem arte.
Nada de pelintrices, como as dos nossos burocratas e autarcas, esses saloios. Se um tipo é eleito, tem que comportar-se como tal. Checks and balances. Mas, sobretudo, cheques.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Prognósticos made in Davos

«(...)A queda da Casa de Saud parece ser o mais remoto dos seis cenários, e seria o único que faria disparar o preço do petróleo para os $262/barril.
Mais realista - e, por conseguinte, mais assustador – será o cenário em que o Irão declara um embargo de petróleo semelhante ao da OPEC, em 1973; isto, segundo Browder, poderá fazer aumentar o preço do petróleo para o dobro, à volta dos $131/barril. Outros cenários hipotéticos incluem um embargo declarado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chavez ($111/barril); guerra civil na Nigéria ($98/barril); agitação e violência na Argélia ($79/barril); e importantes ataques às infraestruturas no Iraque, pelos insurrectos ($88/barril).»

Um artigo interessante. De futurologia. Quanto mais não seja, para a estimada elite que se passeia pelos blogues exercitar um pouco as meninges, meditando, por exemplo, nos efeitos para a pujante economia portuguesa duma hipotética subida dos combustíveis para o dobro do preço.
Realmente, é uma pena que os motores dos sagrados automóveis não se novam a força de ideologia, retórica e estupidez. Ainda mais, porque deste terceiro produto já dispomos de refinarias de ponta e gaseodutos omnipresentes, bem como poços e reservas inextinguíveis. Só falta mesmo um professor Pardal, uma alma industriosa e benemérita que, num rasgo de engenho, ou puro desenrascanço tão típico do indígena, invente um adaptador, queimador ou carburador para tão abundante cristal.
Ficávamos todos ricos. Isso sim, isso é que era um choque tecnológico!

Torpezas inadmissíveis



Quem me manda a mim ter esta grande penca fumegante que cismo de meter onde não sou chamado?!...
A verdade é que, desinquietado por este lixo que o maradona apregoava lá no court dele, fui dar ao aterro sanitário dum tal Macguffa , onde, para mal dos meus pecados, cintilava esta pérola do Pulido Valente.
Do Pulido Valente, diz o tal MacGuffa, que eu não acredito. Isso é Luís Delgado, caro senhor. Cuspido e escarrado. Aliás, mais escarrado até que cuspido. E bem verdinho e pastoso, por sinal. O seu a seu dono.
Se eu fosse ao Dr. Vasco, Pulido e também Valente, processava este tal MacGuffa por difamação. Há coisas que não se fazem.

E tu, Zazie, andas a dormir? Deixas passar em claro uma aleivosia destas?... Tenho que ser eu, um tratante reconhecido e famigerado, a ter que sair em defesa do bom nome do professor?!...

Dragão, Odisseia no Espaço

O raio da senhora Dragão, com aquela lucidez que Deus lhe deu, acha que eu estou a perder o contacto com a realidade. Presumo que devo estar a descolar, a elevar-me nos ares, à conquista da galáxia. Convocam-me mistérios e constelações ignotas. Aqui há dias, os cientistas, com aquela arte mágica que se lhes reconhece, descobriram um planeta igual à Terra num recanto qualquer do Universo - a milhões de anos luz daqui, imagine-se (fascina-me como eles medem estas distâncias descomunais ao pintelhimetro). Pois bem, já decidi: pelo sim, pelo não, vou na direcção contrária.
Já sei, já sei: no regresso, passo pelo “Pingo Doce” e trago o pão.