domingo, fevereiro 05, 2006

As Minhas Taras, ou Para arruinar de vez com as audiências

A propósito de mais uma daquelas estúpidas "correntes" que algumas almas ociosas vão desencantar a não sei que baús foleiros da imaginação, A Zazie e o BOS , desafiam-me a expor aos olhos de basbaques e curiosos cinco das minhas manias.
Em primeiro lugar, começo por dizer o seguinte: Quero que a corrente se foda e, se bem que vá responder por consideração estrita aos requerentes, não tenciono chatear ninguém com uma frescura destas.
Em segundo lugar, cumpre-me frisar que eu, como é universalmente consabido, possuo o mais afável, regrado e benigno dos carácteres, pelo que procurar em mim manias é o mesmo que garimpar agulha em palheiro. É verdade: nenhuma mania me atormenta. Apenas algumas taras violentíssimas. Algumas, será talvez um exagero da minha parte. Inúmeras, seria mais adequado. Pedem-me cinco, mas eu podia ficar aqui a relatar cinco mil. Cada qual mais extravagante que a anterior.
Porém, sem mais delongas, vamos às cinco:

1- Odeio –com um um ódio visceral, fervoroso e inoxidável!-, a) O major Alvega; b) o rato Mickey; c) o Bip-Bip; d) o D.Pedro I; e) os Romanos; e) várias outras porcarias de idêntico jaez e pública notoriedade. O major Alvega, aproveito para referir, constitui mesmo um caso à parte, merecedor de um postal só para si. E dos grandes. Mas não perdem pela demora. Eu morra já aqui fulminado por um raio, se não elucubrar brevemente sobre tão grandessíssimo bandalho.
2- Em contrapartida, é mais forte que eu: não consigo disfarçar uma certa e feroz empatia com todos os mega-ferrabrases da História, excepção feita aos romanos e a todos os seus derivados serôdios (leia-se os anglo-saxónicos e os comunistóides – abomino subterfúgios e hipócritas; e os mouros, nunca esquecendo, puta que os pariu!). Tento combater este minha lúgubre tara, com todas as minhas forças, acreditem. Ingiro calmantes, extenuo-me com exercício físico, até dou comigo ensarilhado em posturas de Ioga para ver se me purgo destes maus vapores, mas debalde. Não consigo deixar de me entusiasmar com as proezas dum Alexandre, dum Átila, dum Genghis Khan, dum Vlad, o Empalador (meu antepassado ilustre), dum Napoleão e até, em pequena escala, nazismo à parte, dum Adolfo Hitler (o último momento épico do ocidente ousou-o ele, quando se atirou com todas as ganas ao vespeiro Stalinista!...). Basta debruçar, nem que seja ao de leve, o espírito sobre as suculentas crónicas destes foras-de-série, e eis-me transtornado, pronto a sabe Deus que razias higiénicas e paradigmáticas. Eu não devia dizer isto, (imagino o escândalo da beataria militante e esbirraria congénere; a horda de santarrões vigilantes e escuteiros filisteus aos guinchos descabelados, enfim, toda uma peixaria apopléctica e zurrante, mas se é de taras que me interrogam, é de taras que eu falo. Nada de paninhos quentes e sonsices. Não me recomendo a ninguém, dispenso discípulos e amiguinhos, e a maior pena que eu tenho é não dispor de um exército de brutos e tomba-lobos, em tudo semelhante aos daqueles meus heróis, que havíeis de ver as habilidades de que eu era capaz! Com que exemplar e merecida diplomacia eu trataria toda uma vasta horda de filhos da puta que conspurcam o solo deste planeta e já ameaçam as estrelas. E não me venham com esquisitices, procrastinações e preciosismos. Um dragão em estando com as mãos –aliás, patas, providas de belas garras – nas massas, não deve ser distraído, interrompido e, muito menos, criticado. As massas existem para isso mesmo.
3- Desenvolvi a seguinte antropologia: Qualquer gajo que, para seu transporte, conduza qualquer outro tipo de viatura ligeira que não um Land-Rover Defender é maricas. Se não em acto, seguramente em potência. Esta é uma tese fundamental de que não abdico.
4- Desprezo solenemente toda e qualquer moda e faço questão de contrariá-la com todas as minhas forças. Execro rebanhos, manadas e matilhas. Bem como turistas. O meu antiamericanismo decorre disso mesmo e só encontra paralelo no meu anti-sovietismo de há trinta anos atrás. Os americanólatras, anticomunas encartados da hora presente, não me lembro muito bem deles naquela época, até porque grande parte ainda se fazia transportar nos tomates paternos e, estes, por aqueles conturbados tempos, primavam pela transparência (ou ausência, se quisermos ser rigorosos). Parte deles cavou heroicamente para o exílio. Devotos da mama, muito mais que da pátria.
5- Não cultivo qualquer complexo de culpa pelo facto dos meus antepassados terem oprimido - com alguma benevolência, não me canso de lamentar -, bumbos e monhés. Se tivesse sido ao contrário é que me traumatizava deveras. Antes andar, todo pimpão, a colonizar cafres e orientais, que ser colónia de ingleses ou americanos, ou, cúmulo dos horrores, quintal de espanhóis, mil caralhos os fodam! Nasci no sítio certo à hora errada. É a minha tragédia. Desconfio que a transmigração das almas existe e eu ando a penar, neste avatar desarmado, refém de estúpidos escrúpulos e polícias, as diabruras que concebi, refinei e tripudiei através de séculos e continentes. Como Empedocles, que se atirou num vulcão, também eu sonho em mergulhar de cabeça numa qualquer catástrofe. Nisso e num harém. Alternadamente.

Há perguntas que não se fazem. Mas já que as fizeram, fiquem-se com as respostas que não se dão.

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