Voltarei muito brevemente a este assunto. Para já, deixo apenas um singelo mas edificante reparo:
A Liberdade de Expressão, nos mass-media ocidentais, é uma lenda, um mito urbano. Uma teoria da inspiração (liberal) e da transpiração (maquinativa). A realidade chama-se "Critérios editoriais". Ninguém escreve ou reporta o que lhe dá na real gana, muito menos uma perspectiva imparcial, mas o que lhe concedem ou encomendam. Na informação, e até nas artes, tudo tende cada vez mais para o "produto publicitário". Aliás, só um optimismo delirante poderia celebrar a "liberdade de expressão" num ambiente onde a "autonomia de pensamento" tem, cada vez mais, a cabeça a prémio. Em matéria de medo, o desemprego já supera a morte. Por aqui, dá para avaliar o nível mental a que decorrem as operações.
Quanto ao resto, tanto os mass-media ditos "ocidentais" como os "outros" são unânimes na sua vocação, objecto e finalidade: desinformar. Isto é: manipular as massas; servir de instrumento ao seu pastoreio. Os nossos apenas desinformam melhor que os outros, porque criam uma superior ilusão de informação. Daí a mistificação soberana: é tanto mais livre aquele que tanto melhor mente. E, por osmose, aquele que tanto mais acredita. Crença, acima de tudo. Porque a liberdade dos nossos dias não é matéria de reflexão, mas artigo de fé. Dogma incontestável. Não se questiona, ou tão pouco avalia: assume-se, como dádiva divina numa civilização de eleitos. E, o que é pior e raia o totalitarismo mais hirsuto, como prova de supremacia planetária e carta de livre-corso passada directamente pela Providência, a meias com a Natureza.
A Liberdade de Expressão, nos mass-media ocidentais, é uma lenda, um mito urbano. Uma teoria da inspiração (liberal) e da transpiração (maquinativa). A realidade chama-se "Critérios editoriais". Ninguém escreve ou reporta o que lhe dá na real gana, muito menos uma perspectiva imparcial, mas o que lhe concedem ou encomendam. Na informação, e até nas artes, tudo tende cada vez mais para o "produto publicitário". Aliás, só um optimismo delirante poderia celebrar a "liberdade de expressão" num ambiente onde a "autonomia de pensamento" tem, cada vez mais, a cabeça a prémio. Em matéria de medo, o desemprego já supera a morte. Por aqui, dá para avaliar o nível mental a que decorrem as operações.
Quanto ao resto, tanto os mass-media ditos "ocidentais" como os "outros" são unânimes na sua vocação, objecto e finalidade: desinformar. Isto é: manipular as massas; servir de instrumento ao seu pastoreio. Os nossos apenas desinformam melhor que os outros, porque criam uma superior ilusão de informação. Daí a mistificação soberana: é tanto mais livre aquele que tanto melhor mente. E, por osmose, aquele que tanto mais acredita. Crença, acima de tudo. Porque a liberdade dos nossos dias não é matéria de reflexão, mas artigo de fé. Dogma incontestável. Não se questiona, ou tão pouco avalia: assume-se, como dádiva divina numa civilização de eleitos. E, o que é pior e raia o totalitarismo mais hirsuto, como prova de supremacia planetária e carta de livre-corso passada directamente pela Providência, a meias com a Natureza.
Acreditamos na liberdade com o mesmo hooliganismo ululante com que os outros veneram Alá e o seu profeta belicoso. Matamos, bombardeamos e massacramos pelo Mercado, em nome do nosso "modo de vida" (ou seja, das orgias da alta finança a cavalo num puré humano), com a mesma sanha e o mesmo brio com que os outros - caso tivessem uma panóplia à altura, norteados por tão sublimes e memoráveis exemplos, legitimados em tão monumentais precedentes -, bombardeariam e chacinariam em devoção militante à Fé deles. Andamos, feitos acólitos da Igreja Universal do Reino da Democracia, a covertê-los a tiro e escandalizamo-nos todos com o despautério deles ao fazerem explodir-se em nome do Islão; obrigamo-los, à força de mísseis e blindados, a ajoelhar e rezar em Shopings, e indignamo-nos, todos púdicos, quando eles nos querem vir, à bomba, obrigar a ajoelhar e rezar em mesquitas; a nossa fantasia de transformar o mundo numa disneylândia (ou barbie-world) é benigna, mas a deles, de fazerem do mundo um califado, é demoníaca; cismamos de convertê-los ao paraíso na Terra, mas não admitimos que eles nos convertam ao Paraíso no Além. Queremos, por força, a felicidade deles e não compreendemos a ingratidão com que nos mandam para a puta que nos pariu. É que nós, sem excepção, os eleitos, os ocidentais (subitamente, já não somos globais, voltamos ao útero matriz, em fila ordeira para retroceder pela ejaculação paterna acima, até às bolsas seminais), somos todos uns meninos de coro e eles, sem a menor dúvida, são "monstros do Corão". E, no entanto, ambos os fundamentalismos se equivalem e prometem locomotivar, pelo sua efervescência vanguardeira, as massas facilmente adesivas .
Olhando friamente tamanhos prodígios civilizacionais encandeia-nos mesmo um efeito de espelho. Comparando a selvajaria que agora somos com as civilizações que já fomos, tal qual a selvajaria que eles agora são com a civilização que já foram, dir-se-ia que a regressão corre geminada e a bom ritmo. A moda é retro e o espectáculo de maior sucesso é o da reposição da tribo canibal em vésperas de surtida, cada bando mais pintalgado e guinchante de volta do seu super-tótem, ou meta-tótem, para ser mais exacto, já que o mamarracho, engalanado de fiapos angélicos, eructa e gosma à transcendência. Em que é que tudo isto excede um concurso de ganadarias, um certame de bestas ou um circo de aberrações?
Em que é que os nossos mullahs são inferiores aos deles? Em que é que a histeria deles é mais estapafúrdia e orquestrada que a nossa?
Superior, num certo sentido e não sem mordaz ironia, só mesmo a "liberdade de expressão" das manadas deles: apesar de tudo, ainda se podem manifestar à pedrada, a fogo posto e a tumulto desconchavante e festivo. As nossas, coitadas, só lhes restam duas alternativas: balir -quase sempre-, ou ladrar - à voz do dono.
Mas o pior ainda não é isso. O pior é que -como sobejam indícios nos dois últimos séculos-, quem semeia ventos, afinal, não colhe tempestades: ordenha-as.
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