terça-feira, fevereiro 14, 2006

O Vale dos Lobos ou das Lágrimas


Nos anos trinta, Joseph Goebbels, o génio do mal por detrás do III Reich inventou a receita: O cinema como a mais poderosa arma de propaganda. Posteriormente, os Estados Unidos, através duma indústria à escala global, desenvolveram e aperfeiçoaram a técnica. Agora, do lado muçulmano -na Turquia, mais exactamente-, querem mostrar que também são capazes.
O filme chama-se "Valley of the Wolves", e está a causar furor e lotações esgotadas.
A história desenrola-se a partir de um episódio factual: o aprisionamento de forças especiais turcas no Norte do Iraque pelos americanos (peripécia que até hoje foi considerada uma humilhação nacional e, pelos vistos, está longe de estar esquecida).
Ao longo da fita, rezam as crónicas, os americanos são exibidos como autênticos ogres, "que disparam à queima roupa sobre crianças e sacam órgãos aos prisioneiros Iraquianos, que enviam depois para Israel, Estados Unidos e Inglaterra", entre outras proezas meritórias.
Depois da histeria com os cartoons e da revelação do vídeo britânico, aí está mais gasolina para a fogueira.
Por regra, não gasto o meu tempo com cinema, seja ele propaganda americana, como é habitual, seja agora outra qualquer. O que isto tem de sintomático é o estado de espírito que esta América do "New American Century" tem andado a semear pelo mundo.
Ora, se num dos aliados tradicionais dos Estados Unidos na região os pensamentos são estes, não é de acreditar que os Turcos engulam histórias como as que o director geral da CIA, Porter Goss, lhes andou a tentar impingir há umas semanas atrás:
«1- Que o Irão já possuía armas nucleares e, por conseguinte, constituía uma terrível ameaça regional;
2- Que o Irão patrocinava o PKK e ALQaeda;

3- Que o Irão tencionava exportar o seu "regime" para o Turquia.»

Acho que os Turcos não são assim tão parvos e não devem ter apreciado muito o insulto à sua inteligência. Tanto eles, como a generalidade dos países independentes deste mundo, se não sabem, seguramente desconfiam de quem é que possui armas nucleares (e outras) que constituem uma permanente chantagem global; de quem igualmente patrocina o PKK e a AL Qaeda; e de quem tenciona "exportar" o seu "regime" não só para a Turquia como para o mundo inteiro. Não quer dizer que o Irão não alimente projectos mirabolantes, só que não dispõe nem dum décimo dos meios, do alcance, da vontade expressa e assumida, nem, tão pouco, do know-how que só a múltipla e exaustiva experimentação permite.
A Turquia, há cada vez mais indícios disso, está a inclinar-se para o seu vizinho gigante do Norte. Junte-se-lhe a Síria, o Irão, a Índia e agora, para cúmulo, a China (e, off the record, até França e Alemanha), e perceba-se no que deu o caldo de geo-imbecilidades cozinhado pelo bando de noeconas que tem andado a brincar à geoestratégia com neoliberalismos asselvajados, revoluções coloridas e exportação de caos e bandalheira (a título de democracia) por mero frete aos interesses e caprichos de Israel... É isso mesmo: Os Russos estão de volta. Agora com o espírito Czarista enxertado no património genético da KGB.
Mesmo que os Americanos cometam a estupidez de atacar o Irão, imaginem para que preços o petróleo vai disparar, e imaginem quem vai ser um dos principais beneficiários disso. E já agora, se não for pedir muito, imaginem quem vai pagar...
PS: Também pode dar-se o caso de eu estar para aqui a delirar. Oxalá.

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