Segundo Shopenhauer, "a Dialéctica Erística é a arte de disputar, e isto de tal forma que se tenha sempre razão -por qualquer meio".
Ora, para se ter sempre razão, por qualquer meio, o grande filósofo pessimista expõe uma série de estratagemas - trinta e oito, mais precisamente. É para o "estratagema 32" que chamo a vossa especial atenção. Passo a enunciá-lo:
«Uma alegação adversa do oponente pode ser rapidamente eliminada, ou pelo menos tornada suspeita, colocando-a numa categoria execrável, ainda que tal ligação seja somente aparente, ou mesmo vaga: por exemplo, "Isso é maniqueísmo, é arianismo; isso é pelagianismo; isso é idealismo; isso é espinosismo; isso é panteísmo; isso é brownianismo; isso é naturalismo; isso é ateísmo; isso é racionalismo; isso é espiritualismo, isso é misticismo", etc. Ao fazer isso, assumimos: 1) que a alegação em causa é efectivamente idênctica a tal categoria, ou está pelo menos contida nela, e bradamos então: "Oh! Já se sabia!", e 2) que tal categoria está totalmente refutada e não pode conter um único termo verdadeiro.»
Este estratagema, escrito em 1830, é, como já devem ter reparado, muito requisitado nos nossos dias. Mais concretamente, vê-se esgrimido ad nausea, a maior parte das vezes sem qualquer pudor ou honestidade. Basta actualizar a lista de "ismos" e adicionar-lhe o "fascismo", "comunismo", "nazismo", "catolicismo", "salazarismo", "nacionalismo", "machismo", "anti-semitismo", etc, etc, e algumas "palavras terminadas em "fobia". As novas minorias iluminadas e totalitárias, à semelhança das antigas, apoderam-se do aparato da propaganda e lançam-no, ferozmente, em campanhas ininterruptas de extermínio de qualquer crítica ou, sequer, dúvida.
A ideia de que o mundo progride é ilusão das mais delirantes. O mundo não progride: chafurda. Geralmente, nos mesmos erros, vícios e filha-da-putices atávicas; e soberanas.
2 comentários:
muito bem! muito bem! e o que a mim me fode mais do que isso nem é a categorização, é que estes pseudo-qualquer-coisa-que-nem-eles-próprios-sabem-muito-bem-o-que-é adoram falar em código de cultura - sugerem as tais referências dos ismos e ianos e outras merdas que tais e até parece que estão a dizer umas grandes coisas mas esprimido aquilo nem diz nada... estes meninos da nova cultura são uns merdas, não dizem nada, apenas recortam e colam e quando lhes atiram umas ideias esforçadas à cara experimentam o mesmo método, abrem um livro poeirento, sacam uma palavra com mais de oito letras e uma data de consoantes e armam-se em sabicães...
para esta gentilhada não há amanhã que lhes interesse ou prometa alguma coisa especial, tudo o que têm é o glorioso ontem dos enterrados que já disseram tudo o que tinham a dizer e já não chateiam muito os que ainda vivem e as suas ideias de borda de penico.
"A ideia de que o mundo progride é ilusão das mais delirantes. O mundo não progride: chafurda. Geralmente, nos mesmos erros, vícios e filha-da-putices atávicas; e soberanas."
Isto diz tudo!!
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