O leasing do Complexo WTC (World Trade Center) foi adquirido por Larry Silverstein seis meses antes do fatídico ataque de 11 de Setembro. Para o efeito, o infeliz investidor despendeu a módica quantia de 124 milhões de dólares.
Uma vez proprietário, Larry Silverstein começou por substituir de imediato a empresa prestadora dos serviços de segurança ao Complexo. Contratou então a Securacom/Stratasec, onde, por mera coincidência, Marvin Bush, irmão de W. Bush, era director e Wirt Walker III, primo de Marvin, desempenhava funções de CEO. A Securacom tratava também da segurança do Dulles International Airport e da United Airlines.
Com idêntica argúcia e prudência, Silverstein não perdeu tempo e tratou, o quanto antes, de segurar (e ressegurar) o complexo imobiliário por 3.5 biliões de dólares - não esquecendo, como muito bem recomendam estes tempos perigosos, de consignar na apólice a cobertura do risco de "ataques terroristas".
Ocorrida a tragédia, ainda a América e o Mundo digeriam o choque e já o devastado Larry corria à seguradora a fim de ser ressarcido por danos e perdas. Baseado no facto de, em seu entender, ter sofrido "dois" ataques - por conseguinte, "duas ocorrências distintas" -reclamou dupla indemnização, ou seja, 7 biliões de dólares.
As seguradoras - Swiss Re, Lloyd's Syndicate, Great Lakes Re, Houston Casualty, QBE Intl, Copenhagen Re, Federal Insurance Co, Lexington Insurance, Employers Insur/Wausau et al - pagaram-lhe 4,6 biliões.
Durante negociações posteriores, entre o titular da exploração imobiliária -Silverstein -, e o proprietário dos terrenos - a Port Autorithy -, sobre a "divisão dos respectivos papeis e responsabilidades no re-desenvolvimento do local", chegou-se a um impasse porque, à ultima da hora, segundo a Empire State Development Corporation, Silverstein «trouxe para a mesa uma proposta simultaneamente inesperada e inaceitável»: propôs que a agência contribuisse com mais 1 milhão de dólares do que o que estava previamente estabelecido.
A somar a toda estas desgraças, Silverstein, como já devem ter calculado, é judeu e tem sido vítima de conspirações, teorias e insinuações neo-nazis, anti-semitas e extraterrestres. Tudo somado, faz dele, muito provavelmente, a maior vítima da tragédia do 11 de Setembro. O Haaretz explica-nos, num longa e pungente apologia do santo homem, como, em minutos de terror e espanto, viu ruir o maior sonho da sua vida. É uma leitura que, sobretodas, se recomenda...
Silverstein chora lágrimas de sangue. Apesar de reconfortado pelos seus amigos Ariel Sharon, Bibi Netanyahu e Ehud Barak et al, Larry está destroçado. Mais destroçado que as torres gémeas. A apologia conta como ele próprio, quase por milagre, escapou por uma unha negra: «Above all, four members of his staff were killed and he himself was saved only because a meeting he had scheduled that morning with officials of the Port Authority on the 88th floor of 1 World Trade Center (the south tower) was canceled at the last minute.»
Chega a ser emocionante assistir ao defile duma vida tão abnegada e trabalhadeira. A certa altura, o panegirista, no seu compreensível afã de absterger o patrício, até enumera o seguinte episódio rocambolesco:
Colmatando que, embora tão bizarro processo não tenha sido reportado pela imprensa, constrangeu muito o pobre Larry... Causando-lhe mais maçadas e prejuízos: «Information about it reached Israel. Opponents of the free-trade zone in the Negev said that Silverstein, who was involved in illicit business in New York, should not be allowed to be part of the Israeli project.»
O processo, cumpre dizer, foi mandado arquivar como "frívolo".
Ora, não se compreende como é que isto poderá ter afectado tão dramaticamente o nosso herói, quando o Lawrence Silverstein, proprietário do imóvel onde funcionava o clube Runway 69 e alvo de processo, não era a mesma pessoa que Larry Silverstein, magnata do ramo imobiliário nova-iorquino, amigo de primeiro-ministros israelitas e senadores americanos. Pelo menos, é o que diz o New York Times: «Although news accounts of the Runway 69 imbroglio referred to Larry Silverstein, the owner is Lawrence Silverstein, of Forest Hills, who has said he was unaware of the tenant's plans until the club opened. »
Excesso de zelo do encomiasta redundou em parágrafo estapafúrdio? No seu frenesim de limpar toda e qualquer sujidade, até limpou nódoas que não existiam?...
Mas, repito: como é que um processo que não foi noticiado na imprensa e tinha outra pessoa por arguida, se bem que homónima, conseguiu causar tanta maçada a Silverstein? Até porque na altura ainda não tinha ocorrido o 11 de Setembro, pelo que o bom Larry ainda não despertara o interesse dos neo-nazis, anti-semitas, extraterrestres e islamofassistas que infestam a internet.
As Torres Gémeas já todos sabemos como caíram.; agora isto, este tremendo mistério do arrastamento de uma inocente pessoa a tamanho rol de contrariedades, isto, meus amigos, isto é que nos devia preocupar.
PS: Miller v. Silverstein, 122 F.3d 1056 (table), 1997 WL 557620 (2d Cir. Sept. 9, 1997.)
Sem comentários:
Enviar um comentário