segunda-feira, setembro 11, 2006

Contra o Relógio

«Para o homem de hoje que significado poderá ter o deixar-se guiar pelo exemplo dos vencedores da morte, pelo exemplo dos deuses, dos heróis e dos sábios? O seguinte: o significado de participar na resistência contra o tempo, e não somente contra este tempo de agora, mas todo e qualquer tempo; um tempo cujo poder se funda no medo. Todo o medo é, na sua medula, medo da morte, ainda que se apresente numa multiplicidade de formas derivadas. Se o ser humano conseguir criar aqui um domínio, essa liberdade far-se-á valer também em todos os outros campos onde o medo reina. Então derrubará os Gigantes cuja principal arma é o terror. Também isto tem sido recorrente ao longo da história.
Nestes dias, a educação encontra-se orientada na direcção de objectivos que são exactamente o contrário do que vimos dizendo, e isso é algo que não foge à natureza das coisas. Nunca existiu nenhum outro momento em que tenham predominado no ensino da história umas noções tão estranhas como as que actualmente imperam. O propósito de todos os sistemas é colocar barreiras ao fluxo metafísico, é domesticar e amestrar as gentes no sentido do colectivo. Mesmo nos locais onde Leviatã não pode dispensar a coragem, como são os campos de batalha, tratará de fazer crer ao combatente que está ameaçado por um segundo perigo, um perigo maior que o manterá no seu lugar. Em Estados como esses a confiança deposita-se na polícia.»

- Ernst Jünger, "Tratado do rebelde" (der Waldgang)

E a medonha saga persiste. Adensa-se. Como a trama numa teia. À medida que o (mau) tempo se acumula, os símbolos invertem-se: da morte já não são os vencedores quem serve de paradigma, mas, cada vez mais, os vendedores. Os traficantes. E todo o caravançarai de retalhistas e quinquilheiros do medo associados.

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