domingo, abril 30, 2023

A Tourada, ou Demomaquia aviada

 


Lavrov vem acusar os americórnios de "organizarem uma cruzada contra a Rússia". Ora aí está algo impossível para os americórnios: algo que envolva a Cruz (excepto, com efeito, a anti-cruz, ou seja, a cruzinha de voto). De facto, o que aquelas bestas organizaram nada tem que ver com cruzada: é mais da ordem da cornada, da investida concertada de chifraduras bramantes. Quer dizer, um rodeo, uma tourada. Onde a manada europeia faz o serviço das chocas. Ou, enfim, na essência, a demomaquia aviada.

sábado, abril 29, 2023

Panchungaria ou Regime Rasca

 Aqui há tempos, ao telefone, indagava-me o meu irmão (sim, tenho um irmão), em tom desprezativo  : "Já viste o governo que temos?"

Resposta minha: "Temos? É precisamente essa a minha dificuldade: não vejo nem me apercebo que exista, ou minimamente se exercite, governo algum!"

Mas, que diabo, já devíamos estar habituados. Pior: calejados. Mesmo ao ponto de criar corno. Eu já assisti, ao vivo, a preto e branco e a cores, a governos do Dr. Oliveira Salazar, do Marcello Caetano e aos desgovernos subsequentes, no pós-Triplo D: Debandada/Descalabro/Demorreia. A ideia que tenho desta época tão mimosa, que já beira o meio século nem sequer é de bom ou mau governo. Ser bom ou mau já pressupunha alguma coisa onde assentar a categorização. E o facto é que não há nada, substracto ou substância alguma. É apenas algo que não governa nem sai de cima. Aliás, como aqui já escrevi em tempos, «Portugal tem estado sem governo nos últimos decénios. Isto não significa nenhum atestado de excelência àquele conjunto de pessoas que governava o país antes do 25 de Abril. Significa apenas que aqueles que faziam oposição ao regime, a partir de 1974, transferiram-se para a Oposição ao país. Isto é, depois de derrubarem o regime, aproveitaram a embalagem, e trataram de derrubar o país. Era o que sabiam fazer: oposição. Foi o que continuaram a fazer, afincada e fervorosamente. Desbancado o governo que não permitia oposição, a oposição, ressacada e recalcada de mais de meio século de jejum, tratou de engendrar e instalar um regime de absoluta ausência de governo. De exclusiva e furiosa oposição. Onde as várias oposições respiram e acordam todas as manhãs para se oporem - umas às outras, por principio, e todas juntas ao país, por fim. Bem como a qualquer hipótese, ainda que remota e fantástica, de governo. No mínimo, depreende-se da dinâmica intrínseca desta gente, para compensar de cinquenta anos sem oposição, o país deverá penar cem anos sem governo».

Assim, todas estas tricas, laricas, batefundos e lambe-escândalos de efervescência, com que o pagode se entretém e refocila na própria abjecção, não passam disso mesmo: episódios sucessivos da telenovela eleiçoada. O mais recente não chafurda apenas no anedótico: convoca a galhofa desatada. Envolve um Galamba qualquer mai-lo respectivo assessor (tirava bicas e ia buscar o jornal, presumo). Os pormenores, entretanto, competem com os detalhes, e as minúcias atropelam as gigúcias. Queixa crime do ministro contra o ex-acólito já dão corda à judiciária.  Sonegou um computador do Estado ou afinal aram dois? Chegou a roupa ao pelo a duas funcionárias e à chefe de gabinete ou foi, de facto, a chefe de gabinete e uma funcionária? É bode espirratório, conspirratório ou ovelha ranhosa de conveniência? Era mesmo PS ou BE infiltrado? Enfim, estão a ver o nível da bernarda, da tauromaquia instalada...

De tal ordem, que a assembleia aos gritos - a casa da coxa, pois - já reclama a sua parte no quinhão, o seu lugar de cabeceira no simpósio. Esta espécie mal extraída de gente relambe-se e esmera-se em atirar excremento uns aos outros. E não vivem apenas disso: engordam. A idade das luzes estertora mesmo num badanal de luzidios.

Adenda: "Antigo adjunto de Galamba que provocou terramoto no governo... é treinador do Benfica"

Logo vi. 

E já percebemos, finalmente, o critério de selecção do actual Enchido Costa para o seu desgoverno absoluto: Vai ao berçário da cultura.

quinta-feira, abril 27, 2023

Nem antologia nem apologia

 






Num alarde público de benevolência exacerbada, alguns leitores sugerem que eu edite em forma de livro uma espécie de "antologia" aqui do blogue. Devo dizer que esse livro já existe. Intitula-se "À Queima-Roupa", o nº1 da Primeira edição está na minha posse, pelo que posso informar que é de 17 de Março de 2007. Quer isto dizer que existe uma "antologia" até 2007. De 2007 para cá não existe, embora eu próprio reconheça que tremeluzem  alguns textos que não me envergonham, nem aqui nem em lado nenhum. Acrescento ainda que não me lembro rigorosamente da maior parte dos textos que escrevi; e um dos raros prazeres que desfruto é redescobri-los vários anos depois. Na verdade, é como se não fossem meus. E, em bom rigor, até nem são. Pertencem à musa. Porque sem ela nada feito. Eu ainda sou daqueles que acredita imenso na inspiração, e muito pouco na transpiração. Até porque sei e experimento ao vivo e em pessoa que só quando estou realmente inspirado é que acontecem determinadas coisas. Para entendimento cabal disto, recomendo até um postal aqui no antro, da série "Palavras com Raiz": "Entusiasmo". 

De qualquer modo, o "À Queima-Roupa" foi, como devem calcular, um dos grandes acontecimentos culturais da época (pós-Revolução) e alguns predestinados (assinale-se, dum amplo espectro político e epistemológico, o que só me honra e desvanece, ainda hoje) conseguiram mesmo, após épicas refregas e disputas, um exemplar (ainda por cima, autografado). Excepto a Zazie que, merecidamente, abotoou-se com dois (um autografado por mim, outro pelo Ildefonso). Desses ilustres abençoados pela lotaria, apenas um, que eu me aperceba, continua ainda hoje visita fiel da casa: o Carlos. O mundo dá muitas voltas, cada vez mais vertiginosas, e a força centrífuga é lixada!... E o meu feitio corrosivo e implacável também não ajuda.

Enfim, em jeito de memória comemorativa desse tempo, bem como reportagem documental do extraordinário evento, de modo a não deixar dúvidas aos mais cépticos ou incréus, aqui fica o rescaldo do lançamento, a propósito da Feira do Livro subsequente (não por acaso, datado de 10 de Junho de 2007):

Comunicado das Edições Lança-Chamas

O livro "À Queima-Roupa", de César Augusto Dragão, não esteve disponível nesse lamentável acontecimento cultural que hoje terminou, sob o enganoso título de " 77ª Feira do Livro de Lisboa". As "Edições Lança-Chamas" tudo fizeram para estar presentes, mas, infelizmente, a perversidade, o encanzinamento e a burrocracia congénita da CML, em torpe conluio com a APEL, não o permitiram. E todavia as nossas condições eram da mais elementar justiça, modéstia e simplicidade; a saber 1. Substituição daquela ridícula e gigantesca bandeira verde-rubra hasteada no topo do Parque Eduardo VII pela bandeira deste blogue, em idêntico tamanho, e apenas iluminada com holofotes; 2. Melhoramento das infra-estruturas de apoio à feira, através do acréscimo de um bordel nocturno que serviria, em simultâneo, de stand de vendas da nossa editora; e de um ringue de boxe, onde César Augusto procederia à distribuição de autógrafos, alternadamente, nos livros e nos críticos da especialidade; 3. Concessão de honras de estado, com direito a batedores avançados, majoretes e fanfarra, de cada vez que o nosso César Augusto visitasse a feira. De realçar, que a nossa boa vontade chegou ao ponto de abdicarmos do felatio simbólico a César Augusto Dragão por Margarida Rebelo Pinto, do queijo da Serra e presunto de Chaves à discrição para todos e da luta de orelhas (ou orelha-de-ferro) entre José Rodrigues dos Santos e Miguel Esteves Cardoso. É verdade; chegámos mesmo ao extremo de aceitar como opcional o Aston Martin e a suite presidencial no Ritz. Mesmo assim, nada feito. Eram mais que evidentes -eram sobrepujantes! - a má fé e o fundamentalismo saloio daqueles energúmenos. Assim, não admira que a cultura neste país não vá a lado nenhum e estagne num repugnante e pantanoso compadrio. É uma vergonha!
Aqui fica, pois, registada, para memória e indignação dos vindouros, a fidedigna denúncia de tão vil tramóia.

De caminho, e em jeito de compensação para tamanha sabotagem das artes, se é que tal é possível, passamos a transcrever uma resenha sucinta das críticas mais importantes entretanto vertidas em honra do mirabolante cartapácio.


«Um livro inesquecível. E não digo isto apenas porque, neste particular momento, tenho um sujeito extremamente mal encarado a apontar-me uma caçadeira à cabeça e um outro igualmente carrancudo de facalhão em riste. É realmente uma obra próxima do imortal. Ao contrário de mim, infelizmente. Que, ainda para mais, tenho uma pele deveras frágil ao sol - fará agora a um ferro em brasa.»
- Ernesto F. Mendes, "DN", 31.04.2008

«Entre declarar “À Queima-Roupa” a obra prima dos últimos 24 meses ou levar com uma picareta de rompante, não hesito e espero que fique bem claro: "À Queima-Roupa", de César Augusto Dragão, é a maior obra da literatura portuguesa depois que a Antártida começou a descongelar!... O próprio César Augusto, se não é a reencarnação de Swift, Cervantes, Dostoievski e vários outros grandes vultos das letras lusas, num verdadeiro muesli cultural todos-em-um, parece!...»
- Eduardo Almôndega Coelho, "Visinha", 30.02.2007

«Faltam-me as palavras para descrever o que sinto. E alguns dentes para soletrá-las coercivelmente também. Dificuldades, essas, que as beiças inchadas por via dum valente pontapé voador circular (segundo me explicou gentilmente o técnico encarregue da entrega) só amplificam. Foi, de facto, senhoras e senhores, meninos e meninas, uma tareia monumental. Que suportei estoicamente, diga-se, com cristã longanimidade, e que, finalmente, louvado seja Deus, começa a dar os seus frutos: sim, vejo agora como está escrito num estilo arrebatador. Ou melhor dizendo, espreito, na medida em que um hematoma repolhudo e um sobrolho derribado mo permitem. Sim, acho que diviso por fim com certa nitidez: realmente é um livro devastador, um lirimoto de grau 20 na escala grega, sou forçado a confessá-lo. Pronto, já podem chamar o 112?...»
- Chico Graça Moura, "Jornal de Letras", 31.06.2007

«Digo-o sem qualquer rebuço: se deram o Nobel ao Saramago, a César Augusto Dragão, no mínimo, deviam entregar a França, a Áustria, a Checoslováquia, os Paises-Baixos, a Polónia, a Ucrânia e a Escandinávia. Tenho mais amor às minhas unhas do que à verdade. Mas, entretanto, alguma alma caridosa que forneça uma xuxa a Lobo-Antunes: aquele dedo não resiste muito mais!... »
- Jean Claude Delmas, "Revue Littéraire", 61.05.2007

“À Queima-roupa”, de César Augusto Dragão, é um obra sólida, contundente, que nos deixa mergulhados numa intensa comoção. Cada parágrafo conta. Sei do que falo: acabo de levar com ela, repetidas vezes, na cabeça. Uma capa duríssima! Só me apetece chorar.»

- "Nicolau Toy do Amaral", "Expresso", 03.13.2007

«Por amor da sua saúde e, especialmente, da minha e dos meus filhos reféns em parte incerta: encomende já o livro, leia-o de fio e a pavio e reconheça: este homem não é um génio, é um deus!... Ou, no mínimo, um super-herói, um super-homem!...»
- Carlos Hipotenusa, "Derpertai", 23.23.2006

«A leitura de “À Queima-Roupa”, de César Augusto Dragão tem para a crítica literária a importância que o nascimento de Jesus Cristo teve para a História Universal: há um antes e um depois. Antes de a ler, é-se, tão somente, crítico; depois de lê-la, tornamo-nos idólatras.»
- Gertrudes Cândida Meireles, "Bordados e decorações", a publicar brevemente.

«Não li, nem preciso. É daquelas obras que fica bem em qualquer estante. A encadernação vale o dinheiro. Uma verdadeira pechincha! Combina na perfeição com qualquer reposteiro ou jogo de maples.»
- Paula Trombone, "Embalagens e etiquetas", 01.02.2001

«Tem palavras a mais e imagens a menos. Não entendi nada.»

- Engenheiro Ildefonso Caguinchas


Edições Lança-Chamas
Pela Direcção,

Assinatura irreconhecível


PS: A 1ª Edição está esgotadíssima e não há previsões, pelo menos nesta encarnação, de qualquer nova edição. Só por cima do meu cadáver. Quanto a uma nova antologia, pós 2007, vou pensar nisso.

terça-feira, abril 25, 2023

Dia das Mentiras...sagradas






 Outrora, dizia-se "em Abril, águas mil". Agora, chuva nem vê-la; e a abundância torrencial traduz-se mais numa fórmula modernizada, a saber, "em Abril, mentiras mil". E há-as para todos os gostos. Parafraseando a citação de Twain, aí na barra lateral, há mentiras simples (e até o dia respectivo logo a abrir o mês); há mentiras sagradas, (sobretudo no dia de hoje, com comemoração brejeira); e há um monte de estatísticas (como aquelas da Pordata, onde o Chico come um frango, o Zé devora dezanove e, estatisticamente, ambos comem dez.)

Somos tão livres, não somos? Temos cada vez menos soberania, colectiva e individualmente; mas somos extraordinariamente livres, emancipados, desenvolvidos. Vá para fora cá dentro, dizia o slogan publicitário!... Sim, sobretudo, agora que estar cá dentro é como ir para fora: um tipo já se sente estrangeiro em toda a parte; órfão ou divorciado, em qualquer família; algoz encartado ou com a cabeça a prémio com qualquer par de testículos; sem Deus, nem Pátria, nem género, em qualquer televisão ou pasquim higiénico aqui perto.

A prática renega e contradiz a própria teoria. Não que a teoria valesse pataco, mas a prática nem porcaria consegue ser: é nada. É abaixo de zero. Como ainda há pouco mostrei naquele postal sobre Kant. Estamos - como também não me canso de dizer e como a realidade não se cansa de manifestar para quem quiser ver - no "Mundo às avessas". Estas amostras patéticas de gente, que nem o poder exercem nem saem de cima, tão pouco produzem a mentira, ou as mentiras. São mero fruto (ou rebento rasteiro) - assaz mórbido, tóxico e fétido - dela. São gente de mentira. Meras personagens fictícias num conto do vigário para entreter avestruzes.

Quanto à evocação do dia-fraude que ora decorre, de entre as várias que fui publicando ao longo dos anos, deixo aquela que me parece a mais fidedigna, crocante e panorâmica: 


ESCOLA DE BORREGOS

«Os cravos do 25 de Abril, que muitos, candidamente, tomaram por símbolo de uma Primavera, fanaram-se sobre um monte de esterco.»
- António José Saraiva



A pré-história deste contagioso movimento - o borreguismo - remonta ao Infante D.Pedro, uma ejaculação infeliz dum rei inglório. Despejo, esse, mais tarde transformado em catástrofe, mediante  a nomeação do aborto ambulante para  príncipe Regente do Brasil.  Imbuído -melhor dizendo, toldado pela vesânia da espécie, em vez de reger em nome de Portugal, como lhe competia, improvisou fazer do Brasil o seu próprio Império. Primeiro traço característico do borregante: uma desmesura narcísica típica das adolescências estagnadas e hipertofiadas. Donde borbota um ego alçado a estrela orientadora do universo. Ao mesmo tempo, ressalta o expediente motriz da tara: a borreguice transparece sempre mascarada de adesão. Em vez de defender os interesses de Portugal, o Infante adere ao espasmos do  Brasil.
Vamos reencontrar estes exactos sinais perfeitamente geminados e replicados nos  capitães do MFA, século e meio adiante. Enviados a África para combater o terrorismo mascarado de movimentos de libertação, que fazem eles? Não apenas se furtam de combatê-lo, como, em conjura torpe, se transformam, eles próprios, num "movimento de libertação" terrorista, derrubando o seu próprio governo, traindo o seu próprio povo e entregando metrópole junto com colónias ao neo-colonialismo de arribação. 
Mas tornemos à ordem cronológica.
O segundo episódio ocorre por  alturas da implantação da república - embora "transplantação" seja o termo mais indicado para definir a peripécia. Não só os defensores da Monarquia, em número superior ao desejável, borregam melancolicamente, como uma das figuras de proa dos revolucionários, o Almirante Reis, auto-acagaçado por crença súbita em ventania adversa (e também pela sua bipolaridade), dispara sobre si próprio, borregando, assim, com fragor anedótico. Ainda hoje, uma das maiores e mais emblemáticas avenidas de Lisboa homenageia esse feito de armas (só equiparável, em matéria de lucro colectivo, ao tiro como que o doente mental  do hospital de Rilhafoles, naquele mesmo dia, abateu o preclaro Dr. Miguel Bombarda, baluarte civil da golpada). Na verdade, ainda hoje, a história se interroga como é que, depois da grande maioria dos militares contratados com a conjura ter borregado, foi possível o triunfo peregrino do bananal republicoiso. Mas enquanto ela assim se entrega à reflexão, avancemos para o episódio inaugural propriamente dito.
De facto, o borreguismo fulminante  (e fulgurante) principia, de pleno direito,  com a queda da Índia Portuguesa, em 1961. Fiados na desproporção brutal de forças a seu favor, os Indianos roncam e ameaçam às portas de Goa. Salazar, como era seu péssimo hábito contra-cultural, não borrega. Mais: ordena que ninguém borregue, é preciso ganhar tempo (pobre ingénuo!). Ao mesmo tempo, tenta negociar com os chineses: reconhecimento internacional da República Popular da China e concessão de base no território português da Índia a troco de pressão da grossa sobre os indianos. Jogo arriscado mas audaz: caso os chineses aceitem, os americanos, para obstar, terão que intervir e garantir, por seu lado, veto ao atropelo iminente. Salazar envia um telegrama dramático a Vassalo da Silva onde expõe, com crueza e clareza, a necessidade imperiosa que há em ganhar tempo. Não se trata de combater até à morte, trata-se de combater o mais possível, de modo a demorar o desenlace, permitindo, em esforço contra-relógio,  o resgate diplomático. Mas ordenar que não borregue a um tipo chamado Vassalo é como pedir a um tetraplégico que corra,  ou a um impotente mental que conceba. Na hora da invasão, o borreganço, com a honrosa excepção de Damão e meia dúzia de bravos, foi quase geral. 
Mas um borrego, como qualquer outro (ani)mal, nunca vem só, Nova eclosão apoteótica acontece em 25 de Abril de 1974. Eventualmente contaminado pelo exemplo fascinante de Vassalo, Marcello borrega com todas as suas forças, arrastando consigo um regime desprevenido e vários povos avulsos.  Se em matéria de micção, um português arrasta dois ou três, em se tratando de borregar, pior um pouco: um arrasta quatro ou cinco...milhões.
Parcos meses depois, é o próprio Spínola que borrega com idêntica gulodice.  Zonzo e azucrinado por meses na presidência dum hospício a céu aberto e no descomando esquizofrénico de tropa fandanga em digressão carnavalesca, não resiste à vertigem e bate com a porta. Para logo mais adiante, de monóculo entre pernas, saltar a fronteira, indo borregar pró estrangeiro.
Entretanto, no próprio batalhão de Comandos, na Amadora, a maleita manifesta-se.  Confrontado por uma maioria momentânea de oficiais em ímpetos saneadores, também Jaime Neves  (custa-me até dizer isto...) borrega. É verdade, borrega, tacticamente. Vários graduados pouco entusiastas com a revolução são saneados. Jaime Neves, irritado, condescende; e aguarda por melhores dias. Que virão, é um facto; embora tarde de mais no que concerne ao essencial. E novamente Jaime Neves semi-borregará. Quando não levar a missão até ao fim.
Dir-se-ia que as forças revolucinhárias, após tão amplas, fortuitas e numerosas conquistas, tinham a parada ganha, mais a faca e o queijo. Seria menosprezar estultamente a vertigem borreguista que assola, desde a medula  até à raiz dos cabelos, o burgesso portugalinhóide. Fantasie-se ele em que banda ou bando for. Sobretodos impera o bandulho; e o sentimento das vísceras é, de facto, quem mais ordena.
25 de Novembro de 1975. Finalmente, tarde e a más horas, a única tropa operacional do rectângulo decide-se acordar da longa letargia. Acabou a descolonização-à-vela, pelo que há luz verde para acabar com o granel. Uma aragem murmura de feição. Todavia, a maioria das forças alista-se do lado do processo revolucinhário. Basta que o crocaudilllo vermelho, Otelo de Carvalho, faça cintilar  o seu carisma castrense (no sentido caribenho da palavra, bem entendido). Mas Otelo... aqui dou a palavra a um dos seus apaniguados mais emblemáticos, Diniz de Almeida, o Che daquela revolucinha (para que não digam que achincalho ou efabulo):

«Preocupado e com a percepção de que era agora nos bastidores que se jogava a sorte da Revolução, telefonei ao COPCON.
«O Otelo ainda não veio!", respondeu alguém.
E perante a minha estranheza, aquele desculpar-se-á:
"O que é que tu queres? Ele é assim... nós pedimos-lhe para não abandonar o COPCON mas ele insistiu que queria ir dormir, e nós não pudémos impedi-lo de ir..."
(...)
Apresentei-me no COPCON ainda de manhã e pouco depois de haver telefonado.
O ambiente de manifesta desmobilização que ali se respirava, agravou ainda mais a minha consciência de perigo evidente.
Perguntei uma vez mais por Otelo.
"Ainda não veio, está a dormir", respondeu, igualmente preocupado, alguém.
"Já telefonámos lá para casa a chamá-lo e ele mandou dizer para não o incomodarem que quer descansar", volveram..»
                     - Diniz de Almeida,  "Ascensão, Apogeu e Queda do MFA, Vol.II"


Pois, na hora H, quando o império da revolução estava em jogo, que faz então Otelo? O mesmo que Marcello, nem mais: borrega. Mansamente. As tropas, entre hirsutas e desataviadas, aguardam ordens; Diniz de Almeida exaspera. No Ralis, a soldadesca leninada quer sair a combater os "Comandos". "Agarrem-me senão desgraço-me!", pressente-se (e vocifera-se em surdina!) a cada esquina. Mas o comandante da unidade, Leal de Almeida também borrega. Como tinha borregado anos antes na antecâmara da "Operação Mar Verde". E faz como Otelo, vai dormir. Otelo que, entretanto, borrega ao ralenti. Fica o bravo Diniz, Ché abandonado, Hamlet de Sacavém: "borrego ou não borrego, eis a questinha!"...Sozinho, a aguardar ordens de Godot. Que não chegam. O que chega é a ordem de prisão emanada de Costa Gomes. E o bravo Diniz lá vai, no seu próprio carro, apresentar-se ao cárcere. Borrega em ordem. Há toda uma Goa longínqua a verberar nele. Saldo final:  Tudo bem somado, a revolução de rilhafoles sucumbe à mosca tsé-tsé.

Aqui chegados, mais que uma suspeição forte, invade-nos a percepção  clara de que o borreguismo não é apenas um movimento: é aquilo que acciona o movimento... E é também um paradoxo, já que se trata dum movimento estático, e extático. Poderíamos falar, assim, duma força motriz do carácter portugalinhóide, não fora dar-se o caso singular do carácter portugalinhóide consistir numa paralisia aguda plasmada numa catalepsia súbita de todos e quaisquer princípios, instintos ou preceitos activos em prol dum  assomo (mínimo que seja) de dignidade, destemor, ou, vá lá, honra. Mas há ainda outro sentimento que, sobretodos, congela o borreguista. RESPONSABILIDADE. Na crise, guerra, bernarda, polémica ou o que seja, o portugalinhóide  adquire a posição de estátua camaleónica para que a responsabilidade - a temida e horrenda responsabilidade a passar! - não o detecte, não o descubra, não o aponte. Agora imaginem juntas ou confluentes as suas duas fobias supremas: a "responsabilidade" e o "derramamento de sangue"!...

Falta apenas o corolário actual da saga frouxa...A destilação última do alambique...
É mentalmente que o portugalinhóide hodierno mais sente volúpia em borregar. Com retroactivos e retroversões.
Muitos anos depois de borregar no terreno,  estima de borregar no pensamento. Borrega em solidariedade. O borreganço antepassado não o enoja, não o repugna, nem, muito menos, o incomoda. Pelo contrário, inspira-o. Justifica-o. Convoca-o a alistar-se no desânimo. Compenetra-o da resignação ufana. O que outrora foi cobardia, pusilanimidade, ignávia, infâmia, agora é realismo, cálculo matemático, mandamento, finura e perspicácia.
Pior que impossível, qualquer outra alternativa: Impensável, sequer!
Mas não admira.
Para uma barata tonta, o Homem, inteiro, mais que espécie incognoscível numa galáxia longínqua, constitui uma utopia.


PS: Mas há uma boa notícia no meio deste descalabro todo: os borregos transitaram. Desenvolveram-se, de facto; transformaram-se, libertaram-se de preconceitos. Já não se identificam como borregos. Como, de resto, atesta a imagem em epígrafe.

sábado, abril 22, 2023

Serial unicornikiller

 O urso mau anda a matar unicórnios fofinhos. Agora é que a Ursula doida, os ingleses marados e o robot jarreta vão aos arames. Maior atentado aos valores oxidentais é difícil. A Analena Superbock já deve estar a vestir o camuflado.

PS: Entretanto, outra tragédia no liber-espaço: "EUA vão usar inteligência artificial na luta contra tráfico de fentanil". Não tinham alternativa; extinta a inteligência natural, tiveram que se voltar para a de imitação. Bastante rasca, por sinal.

sexta-feira, abril 21, 2023

O Parasita



A Pseudo-Ucrânia não precisa de entrar para a Nato. Porque a Nato, há muito, entrou para dentro da Pseudo-Ucrânia. Numa espécie de parasitismo seminal... num processo sinistro de incubação. Como aquele monstro alienígena na fita Alien, o Oitavo Passageiro. Assim, pretender vislumbrar naquele espaço uma nação, ou projecto sequer disso, é insistir na confusão e no erro. Trata-se apenas dum hospedeiro; consiste estritamente numa plataforma. Até aí os russos já perceberam. E trataram de agir em conformidade.

Um dia destes a verdadeira criatura vai irromper, em toda a sua fealdade e sanha assassina. E eles estão à espera. Deus os ajude e proteja.

quinta-feira, abril 20, 2023

Viagem ao Princípio da Noite (rep)




 Só conheço uma pessoa -e neste caso, ainda por cima, uma senhora - que leu, de fio a pavio, a "Crítica da Razão Pura", e decifrou a charada. Não hesitei: Casei com ela. Há 31 anos atrás. Bonita por fora e inteligentíssima por dentro. De bónus, um feitio quase tão difícil como o meu. Ocasionalmente, supera-me... a Srª Dragão.

Vem isto a propósito do filósofo mais difícil, enquanto texto, da história da Filosofia: Kant. Provavelmente, equiparável a um outro germânico posterior: Heidegger. Há muito de Platão e de Aristóteles em Kant (afinal ele é uma nota de rodapé, embora não assim tão irrisória como tantos outros), mas também há o tempo dele, os problemas desse tempo e, sombriamente, o decurso do Iluminismo. Entenda-se, o peso e a densidade da treva. Nesse sentido, começo por repor um postal muito interessante, modéstia à parte, que aqui verti já lá vai um bom par de anos:

A exploração do filão religioso pelo leviatã global não se resume apenas a lançar cristãos contra muçulmanos. Interessa também fomentar todo o tipo de conflitos (e cismas) religiosos: católicos contra ortodoxos (Croacia, Sérvia, Ucrânia); sunitas contra xiitas (Iraque, Síria, Líbano), muçulmanos contra hindus (Paquistão, Índia),  muçulmanos contra budistas (Tailândia),  etc  

Quando digo "leviatã global" significo o aparelho de choque da plutocracia global. O seu modus operandi, derivado da revolução perpétua (num neo-trotskismo agora ultra-pasteurizado) é  a "guerra perpétua". Como, de resto, estipulava Huntington: "As guerras civilizacionais são intermitentes; os conflitos civilizacionais são intermináveis.».

Por falar em guerra perpétua, veio-me à memória Kant na sua "Paz Perpétua", de 1795. Para a qual , o filósofo de Konigsberg, considerava 6 artigos preliminares, a saber
1. «Não deve considerar-se como válido nenhum tratado de paz que se tenha feito com a reserva secreta de elementos para uma guerra futura»
2. «Nenhum Estado independente (grande ou pequeno, aqui tanto faz) poderá ser adquirido por outro mediante herança, troca, compra ou doacção.»
3. «Os exércitos permanentes (miles perpetuus) devem, com o tempo, desaparecer totalmente.»
4.«Não se devem emitir dívidas públicas em relação com os assuntos de política exterior.»
5. «Nenhum Estado deve imiscuir-se pela força na constituição e no governo de outro Estado.»
6. « Nenhum Estado em guerra com outro deve permitir tais hostilidades que tornem impossível a confiança mútua na paz futura, como, por exemplo, o emprego no outro estado de assassinos, envenenadores, a rotura da capitulação, a instigação à traição, etc.

Não vou, naturalmente, dilucidar da bondade ou perversidade deste projecto "filosófico" de Kant. Ele chama-lhe isso mesmo - "um projecto filosófico", e não um "projecto político", o que não deixa de ser, por um lado, curioso, e por outro, significativo. Também me parecem pacíficas as influências iluministas no cosmopolitanismo kantiano, mas o ponto agora é outro, embora tendo esse bem presente. Gostaria apenas de destacar o seguinte: O projecto político que impera hoje no mundo, e que, com grande pompa e circunstância, se auto-arvora herdeiro dilecto do iluminismo, guardião dos seus valores e paladino do "estado de direito", está rigorosamente nos antípodas do projecto kantiano. Para a "guerra perpétua" poderiam até servir os 6 artigos de Kant, desde que reescritos pela liminar negativa, isto é, bastava pô-los ao contrário. Não vos parece, no mínimo, estranho? Kant era um optimista (confessa-se até admirador de Rousseau enquanto estilista literário), pelo que tendia para a utopice e faltava-lhe, em larga medida, o sentido da realidade? Longe de mim estar pr'aqui a defender Kant. Mas querem ver como ele não era parvo de todo? Ora oiçam:

«Para não se confundir a constituição republicana com a democrática (como costuma acontecer) é preciso observar-se o seguinte. As formas de um Estado (civitas) podem classificar-se segundo a diferença das pessoas que possuem o supremo poder do Estado, ou segundo o modo de governar o povo, seja quem for o seu governante; a primeira chama-se efectivamente a forma da soberania (forma imperii) e só há três formas possíveis, a saber, a soberania é possuída por um só, ou por alguns que entre si se religam, ou por todos conjuntamente formando a sociedade civil (respectivamente autocracia, aristocracia e democracia; poder do príncipe, da nobreza e do povo). A segunda é a forma de governo (forma regiminis) e refere-se ao modo, baseado na constituição (no acto de vontade geral pela qual a massa se torna um povo), como o Estado faz uso da plenitude do seu poder; neste sentido, a constituição é ou republicana ou despótica. O republicanismo é o princípio político da separação do poder executivo (governo) do legislativo; o despotismo é o princípio da execução/ arbitrária pelo Estado de leis que ele a si mesmo deu, por conseguinte, a vontade pública é manejada pelo governante como sua vontade privada. - Das três formas de Estado, a democracia é, no sentido próprio da palavra, necessariamente um despotismo, porque funda um poder executivo em que todos decidem sobre e, em todo o caso, também contra um (que, por conseguinte, não dá o seu consentimento), portanto, todos, sem no entanto serem todos, decidem - o que é uma contradição da vontade geral consigo mesmo e com a liberdade.»

Questãozinha capital: O que é que nós temos tido, aqui em Portugal (mas no resto do mundo ocidental não será muito diferente), senão um despotismo a prazo, no decurso do qual tiranetes quadrienais produzem e executam as leis e as políticas que muito bem lhes dá na real gana, sem que a vontade geral (que é suposto estar, segundo os princípios iluministas, corporizada numa constituição) seja tida nem achada? Que raio de "estado de Direito" é este onde a separação entre o poder executivo e o legislativo (do judicial nem falo), pura e simplesmente, não existe? Ao primeiro-ministro, obedece o governo e obedece o Parlamento - o tipo escolhe ministros, escolhe deputados e ainda escolhe não sei quantos funcionários de nomeação, entre os quais juízes e procuradores-gerais. Na verdade, uma minoria da população elege-o a ele; depois ele elege quem muito bem entende e lhe apetece. Se tivermos em conta a qualidade dos primeiros-ministros nestes últimos quarenta anos, especialmente da última meia-dúzia, caramba, há algum espanto que o resultado seja a ruína, o descrédito, a desonra, a desagregação moral, social e nacional? E nem é preciso recorrer aos meus princípios (assaz diversos, diga-se), basta convocar os mais elementares princípios iluministas, os tais imaculados e altamente bondosos e progressistas de que toda esta corja se arvora procuradora, curadora e delegada de propaganda médica assistida!... Em bom verdade, servem-lhes de ornamento à retórica e de papel higiénico à prática.

Mais, o velho Kant é ainda mais incriminador quando, num texto de 1783, define o Iluminismo como « a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. (...) A preguiça e a cobardia são as causas por que os homens em tão grande parte, após a natureza os ter há muito libertado do controlo alheio , continuem, no entanto, de boa vontade, menores durante toda a vida; e também por que a outros se torna tão fácil assumirem-se como seus tutores. É tão cómodo ser menor.»

E pronto, não é esta a relação: um primeiro-ministro tutor plenipotenciário quadrienal dum colégio de eleitores/contribuintes/cidadãos menores? Pior que menores: pequeninos, insignificantes, invisíveis, irrelevantes. É este o "iluminismo"? O que os psicopatas islâmicos ameaçam?  

«Não me é forçoso pensar, quando posso simplesmente pagar; outros empreenderão por mim essa tarefa aborrecida.» 
Adivinhem quem disse.  O mesmo que dá um quadro arrepiantemente fidedigno desta nossa relação de menores com os nossos tutores (lembrem-se das razões porque não se podem fazer referendos, das "cedências à demagogia", ao populismo, etc):
«Depois de, primeiro, terem embrutecido os seus animais domésticos e evitado cuidadosamente que estas criaturas pacíficas ousassem dar um passo para fora da carroça em que as encerraram, mostram-lhes em seguida o perigo que as ameaça, se tentarem andar sozinhas.»

Não, não é Nietzsche. No estado a que chegámos, basta Kant. E não é exactamente isso que sois para os vossos tutores: animais domésticos?...


PS: E o que serão os vossos tutores para os tutores deles?...

Num postal adiante falaremos com mais detalhe dos tais "princípios preliminares" da paz perpétua. Nestes tempos, agora sim, obscuros, da guerra perpétua.

terça-feira, abril 18, 2023

Homero, educador da Grécia

 







                                    - Werner Jaeger, "Paideia"  (daqui, free online, aproveitem)

Este postal vem a propósito duma questão dum emérito comentador desta casa. E também duma obra que lhe sugeri a propósito duma iniciação a um conhecimento mais sério da cultura grega. O trecho em epígrafe é dum alcance que ultrapassa  a própria cultura grega, na medida em que também se aplica a muitas repercussões deste paradigma original no percurso daquilo a que se chama a Civilização - a única, aliás, a autêntica, a verdadeira: aquela que germinou da poesia de Homero. E o sinal disso mesmo é que, por exemplo, eu fui educado sob os auspícios fundadores da poesia de Camões; como os russos foram na poesia de Puskine, os franceses na de Rabelais, os espanhóis na de Cervantes  ou os germânicos na  de Goethe. No fundo, são todos epifenómenos de Homero. Ou seja, cada povo molda o seu carácter e a sua gesta a partir duma poesia constituinte. E essa é que é a verdadeira Constituição. Ontologicamente falando; e não apenas como exercício de paleio abstracto. E abstruso. 

E também não deixa de ser reconfortante saber que de todos aquele que mais próximo se afigura, no tema, mas sobretudo na língua, é o nosso Luís Vaz.

PS: Uma palavrinha sobre Shakespeare. Os bárbaros não o merecem e apenas desmerecem dele. Mas, curiosamente, não descende de Homero: apenas dos Trágicos.


domingo, abril 16, 2023

Assédio ambiental (ou a abstracção traída pela natureza)

 O chuxólogo Boaventura qualquer coisa distinguia-se por um conjunto de excitações vácuas na cabeça de cima, e  concomitantes esguichos abstractivos  com que entretinha o patego puguessista de arribação. Todo aquele encefalo-meteorismo fazia-se passar por culturo-critiqueta de sabe o diabo o quê, algures entre  a aleivosia luminosa, o dislate de arremesso mediático e a macaquice emancipada. Pois bem, verifica-se agora que almejava algo mais consequente (e apesar de tudo, mais meritório), com as excitações na cabeça de  baixo. Não sabemos até que ponto esguichou ou não nos putativos alvos - naturalmente inocentes e angélicos - dessa fervura. O certo é que vão cancelá-lo com todas as letras. Portanto, ironias do destino, não é apenas a revolução que devora os seus filhos: são também os/as revolucinhários/as que  canibalizam - em requentação no micro-ondas - os pais.

 Eu escrevi "revolução"? Eh pá, desculpem a minha desactualidade: eu queria dizer aberração.

PS: Em todo o caso o grande problema universitário não é seguramente o assédio sexual (ou moral, episcopal, ou que seja) dos lentes às/aos alunas ou alunos. Ou vice-versa. No meu tempo, fartei-me de assediar as colegas e havia uma professora de letras que eu imaginava, com grande volúpia, a assediar-me o mais possível. Palavra de honra,  era mesmo uma das minhas fantasias recorrentes... A sério que já não  tenho paciência para tanto puritanismo de vão de escada e neobeatismo de esquina!  Já não me deixam assediar castelos há séculos; se não me deixam assediar mulheres, vou assediar o quê? Mas divago. A universidade, dizia eu, e o seu desarranjo principal. Sim, é assédio, e o pior de todos:  assédio asinino. Das bestas da generalidade dos professores às bestas da generalidade do alunos (e dos catedráticos aos assistentes e por aí a fora e abaixo, e ao lado, e ao fundo). Essa moléstia é que é altamente pervasiva, abusiva e infecto-contagiosa, sobremaneira na forma particularmente virulenta de escantamento mental. Com os resultados calamitosos que se reconhecem e manifestam, sobretudo, nas pantalhas e escaparates. E nesse assédio é que o tal chuxólogo era inveterado, desenfreado e delambido. E nisso é que deviam (a ele e a tantos outros) cobrar de polé e pelourinho. Capishe?

PS2: Se começo para aqui a desbobinar as minhas histórias da Universidade, então é que vai ser o bom e o bonito...

Tranq, o novo avanço na Distopia


 

De macaco a zombie, em pouco mais de cem anos. Evolucionismo de ponta. Mas, enfim, nada a apontar: é o Mercado a criar riqueza. E lá está, como novo Moloch, o mercado exige muitos sacrifícios.

sábado, abril 15, 2023

A caminho da Idade da Pedra, pois.



 

«”  The article appeared in the online version of the fairly respectable Komsomolskaya Pravda: https://www.kp.ru/daily/27490.5/4748875

We are told now that two, not one Kinzhal were employed to do the job of blowing up a bunker located more than 100 meters underground and protected by a reinforced concrete shield built in Soviet times and intended to resist a direct hit by a nuclear bomb. Each of the rockets carried 500 kg of high explosives.

The Polish, British and American officers felt so confident of their invulnerability in this shelter where they conferred daily with their Ukrainian counterparts on the conduct of the war that they carelessly parked dozens of their cars near the entrance to the bunker, a fact which did not escape the notice of Russia’s air and satellite reconnaissance.

The Kinzhals were fired by a MiG-31 fighter jet as far as 2,000 km away from the target, meaning well out of reach of Ukrainian anti-aircraft installations. Its accuracy was proven to be within one meter of the target.

The author of this article, Viktor Baranets, goes on to say that recent news releases in Ukrainian media confirm the basic story about the missile attack. He alludes to the dressing down which the American embassy gave to the Ukrainian command after the disaster and about the recovery of 40 bodies from the wreckage to date while excavation work continues to find more human remains deep underground. He believes that the loss of this vital coordination center is one major factor in the ongoing repeated delays of the onset of the vaunted Ukrainian counter-offensive. And he provides a couple of explanations of why Western media have not covered the disaster.  First, that the destruction of this seemingly impregnable bunker could happen at all is proof of the unique effectiveness of the Kinzhal in doing what it was designed to do: destroy military command centers and thereby decapitate the enemy. The air defense systems of NATO are useless against an object flying at 10 – 15 mach and its impact is greater than a nuclear bomb.  Second, if they were to reveal the numbers and tasks performed by the NATO contingent that was killed in the bunker, including U.S. generals, they would be exposing NATO to charges of direct involvement in the conduct of the war, meaning cobelligerent status, something which the Biden administration has sought to avoid at all costs.»


Para uma "estação de serviço" mascarada de país, minada por cancros e síndromes generalizados, reduzida a um exército de pás de sapadores como armamento principal, e entregue à bebedeira como ocupação permanente, não está mau, pois não?  Seguramente, mais um milagre de S. Vladimiro.

Adenda - mais uma revelação espampanante: afinal, a contra-ofensiva ucranicosa em Bakhmut não arranca, e patina na rampa de lançamento, por causa  - calculem - do clima. Chove, como nunca se tinha visto por aquelas paragens desde o início do mundo. E a culpa é - pasmem - a arma secreta de S.Vladimiro: o manipulador climatérico Z (parece que frequentou um workshop com um feiticeiro sioux). Entretanto, preparemo-nos para a próxima ofensiva propagalgueira do Combinado Oeste, em modo ovo a cavalo no proxy mal passado: Putin como culpado pelo aquecimento global e o armagedinho climático. Ou futuro Holocaldo... Imaginem só os escaparates um dia destes: Depois do Holodomor de Stalin, o Holocaldo de Putin!

quinta-feira, abril 13, 2023

O Cancro

 “Zelensky’s been buying discount diesel from the Russians,” one knowledgeable American intelligence official told me. “And who’s paying for the gas and oil? We are.


Não sei se a democracia, como dizia o bipolar bêbado, é o menos mau de todos os sistemas políticos. Mas seguramente que é o mais corrupto de todos eles. Aliás, o que define qualquer democracia consiste numa espécie de processo compenetrado de corrupção em curso. Sabe-se que a democracia está tanto mais estabelecida, consolidada e avançada quanto maior o seu tempo de acção e, implicitamente, o estado de deterioração geral do organismo onde se aloja. Pensem nas duas grandes epítomes da democracia liberal - os Estados Unidos e a Grã-bretanha. Agora constatem o estado em que se encontram. Mas ainda existem escatófagos estapafúrdios que se agarram  àquela porcaria como se de néctar e ambrósia se tratasse, dando-se, ainda por cima, ares de grande superioridade cognitiva e moral sobre os comunistas com nostalgias da União Soviética.  É fatal como o destino: deixem-na instalar-se, alastrar e reproduzir-se e é o óbito garantido. Por analogia, o mais semelhante à democracia é o cancro. Repito: olhem para os super-modelos, os baluartes, os portentos abracadabrantes...  A Ucranicoisa é apenas um anexo. Um quisto maligno de matéria pútrida e necrosante, onde as células assassinas se entregam à fagocitose.

terça-feira, abril 11, 2023

Ao microscópio

 

«EUA procuram tranquilizar aliados mais próximos a quem terão espiado»

Que falta de tino na semântica, o destes jornalixeiros de serviço!.. "Espiar"?... Eles não espiam: supervisionam; observam; enfim, vigiam carinhosamente. Quer dizer, velam. Dantes era Deus e os seus regimentos que velavam por nós. Agora, que  O despedimos e despejámos do nosso neo-paraíso em construção, são eles. Se não confiamos no arquitecto, engenheiro e mestre de obras, vamos confiar em quem?
E os aliados também  não se queixam. Bem, pelo contrário, sentem-se bafejados e protegidos - sentem-se limpos, sentem-se seguros!... Aliás, qualquer bom parque infantil que se preze requer um eficaz e permanente sistema de protecção e vigilância. E o nosso é o expoente da coisa. Podemos entreter-nos tranquilamente a brincar com a pilinha e respectivas dissecações, desde a mais tenra idade (que, em boa verdade, agora já nem enrijece e permanece tenra toda a vida), que nenhum risco ou ameaça nos alcança ou desgraça. Especialmente, algum autocrata opressor capaz sabe-se lá de quê - eventualmente até levar-nos para a rua, o céu aberto e o ar livre. 

Em suma, cada época tem o voyeur que merece. Indignos do interesse de Deus, só já suscitamos a atenção de vírus, bactérias e bacilos. Agora os próprios vermes já não nos aguardam apenas para lá da morte:  entretêm-se esquadrinhar-nos e estudar-nos em vida. Ao microscópio.

sábado, abril 08, 2023

Tranbo Times








«There is a pattern. Those urging censorship of “misinformation” are spreading it. Those who condemn “extremism” demand extreme policies. And those who denounce “hate” are filled with loathing for their political enemies.»


A democracia liberal (e mesmo essa, degenerada a oxidental) não tem as suas raízes na democracia grega da Antiguidade. Esta, que Platão e Aristóteles criticaram e desmontaram em todas os seus vícios, apesar de tudo, ainda fazia algum jus ao nome. E emanava do oposto desta anomalia travestida actual: os representantes não eram eleitos: eram sorteados. E todos, enquanto agentes políticos, ou seja, habitantes de pleno direito da Polis (não confundir com o cidadão pós revolução francesa), eram iguais perante o sorteio: qualquer um podia ser obrigado a desempenhar funções públicas (que é um termo romano e não grego, pelo que deveríamos dizer "políticas", mas para facilitar o entendimento actual, enfim...)

A democracia liberal (outro oximoro de estalo - dado que por um lado não excede a oclocracia induzida e telecomandada e, por outro, investe no desprezo reiterado da maioria), nasce num episódio documentado num livro muito conhecido, que passo a transcrever:

«Pilatos perguntou ao povo que se encontrava reunido: "Qual quereis que vos solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo? Ele sabia que o tinham entregado por inveja. (...)   Mas os sumos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a pedir Barrabás e exigir a morte de Jesus. Tomando a palavra  o governador inquiriu: "Qual dos dois quereis que vos solte? Eles responderam: Barrabás! Que hei-se fazer, então, de Jesus chamado Cristo? Todos responderam: Seja crucificado! Pilatos insistiu: Que mal fez Ele?  Mas eles cada vez gritavam mais: Seja crucificado!»

Há Palavras que ficam para a Eternidade. Quer dizer, são sempre actuais.  Quem tiver ouvidos, que ouça.

PS: Existe uma certa lógica diabólica na transmania da presente hora: depois de terem invertido, pervertido e macaqueado todas as coisas, valores e memórias do Homem, doravante é o próprio Homem que tratam de transformar e converter à sua negação mais completa. Ainda e sempre, a vertigem barrabásica. Que qualquer barrabotas mental, devidamente instigado e telecomandado pelos sumo sacerdotes e jarretas da hora a ferver se devota a cuspir-nos na cara, com a desfaçatez inerente aos desalmados. 

sexta-feira, abril 07, 2023

SPCA, Síndrome de Pré-catástrofe Anunciada

 Ramstein não é apenas o nome duma banda alemã bastante esquisita para o meu gosto. Tenho uma certa dificuldade em acompanhar estes novos tempos (e Weimar 3.0 vem-me sempre à ideia). Pois, mas Ramstein é também a principal base/centro de ocupação americórnia da Alemanha (donde irradia e assombra para a Europa oxidental em geral, em forma de carcinoma geoestratégico, vulgarmente conhecido como NATO).

No vídeo que se segue, um congressista americano interroga os dois homens de palha da "Defesa Americórnia" (é um oxímoro, eu sei). O assunto tem a ver com os tais (hard)Core Values de exportação, agora que o tótem da democracia já está mais que carunchoso e carcomido. Um dos incidentes deveras hilariantes (embora trágicos, bem no fundo) consiste em "Drag Queen hour" nas bases militares (Ramstein, nomeadamente)... Calculem o resto. Mas, notem, isto não é um sketch dos Monty Python: aconteceu mesmo na realidade (ou  melhor, na irrealidade que puseram a funcionar em seu lugar).


Um tipo assiste a excrementos destes, contempla a Ursula Louca a alucinar em plena China, repara em Paris quase a ferro e fogo, os Israelinhos com ímpetos de hara-kiri e a NRP Mondego sem gasolina, enquanto os F16 pretogueses ainda funcionais patrulham os céus caleidoscópicos  da Estónia e não pode deixar de suspeitar que isto - este manicómio a céu aberto - não vai apenas acabar bem, como promete, jura mesmo a pés juntos, ir acabar o pior possível. 

Aliás, pelas leis eternas de retribuição e reequilíbrio cósmicos, no mínimo, vai-nos cair o céu em cima um dia destes. É o que acontece a quem decide viver com os pés desligados da terra. Vives pelo vento, morres pelo vento. Ventosidade estrepitante, digo. Ou peido mestre, como cunhou o povo.

PS: E se a Blackstone rebentar na insolvência, aí, dou uma festa!

quinta-feira, abril 06, 2023

Napoleões de hospício, a verdadeira pandemia da actualidade

 




«IDF CHIEF: "ISRAEL IS READY TO ATTACK IRAN AND DOES NOT NEED U.S. HELP"»

Mas, pelo sim pelo não, é melhor esperarem um pouco. Coisa de meia dúzia de mesitos. Enfim, até que os Kievitas furiosos conquistem a Rússia e, a seguir, a China.  Nada demorado, portanto; escusam até de ficar nervosos ou agitadiços.  E assim, com os persas devidamente isolados (e desamparados) será como roubar rebuçados a uma criancinha.






terça-feira, abril 04, 2023

Churrascaria Bakhmut

 


Vai abrir brevemente, aqui no bairro. Um primo da Svetlana, feito chef, meteu mãos ao empreendimento. Já dei uma vista de olhos ao menu e é de comer e chorar por mais! Vamos todos à inauguração (o Armindo taberneiro também, embora a contragosto e resmungando). O repórter Flash, sempre atento e perfunctório, tratará da ciber-reportagem que a ocasião merece. Ingredientes secretos e acepipes formidáveis, como o molho Surovikin ou as espetadas wagner de porco georgiano, não escaparão ao seu escalpelo apurado. Tudo será posto em pratos limpos. Carne na brasa e no carvão. Para entendidos e gourmets

Brevemente, num blogue perto de si!...





segunda-feira, abril 03, 2023

Plandemias e epicracias

 «Pfizer will be profiting by treating people injured by the company’s own COVID shot. Pfizer recently purchased rival Arena Pharmaceuticals for $6.7 billion and as a result will now control drug products that treat immuno-inflammatory diseases. Various immuno-inflammatory diseases are associated with vaccine injury. »

Uma com piada que li por aí, algures: Pandemia, também conhecida por Plandemia.
E o saque lá prossegue, de vento em popa... e de acordo ao plano. Plano, esse, que, claro está, se encontra em perpétua evolução. Ajustamentos... Às novas realidades? Não, às novas fantasias.

Como se estivéssemos sempre na iminência de atravessar uma passagem de nível, perante um sinal de aviso: "Pare, escute, olhe... um esquema pode sempre esconder outro!"   Esse é o plano.




domingo, abril 02, 2023

Translibans

 Estão a ficar particularmente agressivos, os tais esquisitos... Uns autênticos Translibans!...


As pessoas naturais deviam começar a pensar em deixar de ser tão passivas e bovinas. Este género de manifestações aberrantes e psicopatas deviam ser tratadas em conformidade. Estou a falar em violência? Sim. Mas nem de esquerda nem de direita: Muita!

sábado, abril 01, 2023

Dia do Oxidente




 Hoje é o dia Mundial do Oxidente. Da Democracia e dos "core values". Com o requinte superlativo de doravante, a oxidente, ser 1 de Abril todos os dias. E, de bónus, ainda outro portento e zénite do puguesso: a mentira já não apenas a forjam e inventam obsessivamente: regurgitam-na.