sábado, março 31, 2007

A Estética ao Poder!



Acredito em reinos mágicos, em mistérios
de dragões, fadas e princesas encantadas;
em heróis que não cabem nas alvoradas
nem dormem jamais em cemitérios.

Acredito como o Quixote, pois acredito!
Faz mais sentido e tem tanto fundamento
como, da beata ciência, todo o firmamento
mas é muitíssimo mais bonito!...

Viva o rei-criança que sujeita
a morte entre sonhos e névoas místicas!
E puta que pariu toda esta seita
da Razão, mais as santas estatísticas!

(Com uma dedicatória especial a todas as leitoras e um carinho retributivo especial à Margarida e à Zazie).

sexta-feira, março 30, 2007

O Dragão contra-ataca

Para encerrar esta questão...
Confirma-se. Como diria mestre Agostinho da Silva, este blogue não é ortodoxo nem heterodoxo: é um paradoxo. Tem o pior gatafunhador da blogosfera e os melhores leitores. De longe.
Se acham que era impunemente que me tentavam fazer explodir o ego, ora tomem!

terça-feira, março 27, 2007

2º Round








No seguimento do pré-aviso de "grave" - no sentido de "objecto sujeito às leis da gravidade" -compete-me acrescentar o seguinte:

1. Tem trezentas e dezasseis páginas;
2. Estará disponível pela Páscoa, sensivelmente;
3. Estamos a falar efectivamente de um livro; não de um desses blocos de folhas mal amanhadas e pior coladas, embrulhados a cartolina estampada, que a indústria despeja -quando não bolsa - pelos escaparates. É, de facto, um livro na acepção genuína do termo: são folhas devidamente cosidas e encadernadas - encadernação a pele de réptil (sintética, naturalmente; não desejaríamos contribuir para a extinção dos meus parentes terrestres, nem, consequentemente, tornarmo-nos alvos da ira das boas gentes ecologistas). Era, aliás, importante que a excelência do veículo compensasse da humildade da carga.
4. Custa a módica (e vergonhosa! infame!) quantia de 25€ (mais os portes de envio pelo correio, aproximadamente 2€, para Portugal Continental). Aproveito para afiançar que não tenciono ficar rico. Grande parte da receita reverte para o encadernador aqui do bairro, velho artesão que bem precisa.
5. É uma edição não industrial e não destinada ao grande público, mas ao escol da humanidade que são os leitores deste famigerado blogue. Ou seja, na matéria e na forma, o artigo é produto integral de mãos humanas e destina-se a seres humanos. Os semideuses ainda vão ter que esperar.
6. Pode ser encomendado, desde o presente momento, para o email do blogue e será enviado pelo correio, à cobrança. Relembro o email : dragolabaredas@hotmail.com (encontra-se na coluna da direita, logo abaixo da carantonha). Estou aberto a outras sugestões e, caso haja interesse manifesto, poderá ser levantado numa loja do centro Comercial do Saldanha (Lisboa), que posteriormente indicarei.
7. Os interessados poderão usar o nome que bem entenderem - próprio ou pseudónimo; basta que indiquem uma morada para onde enviar o livro e, no caso daqueles que pretendem preservar legítima reserva, acompanhem o eventual "nickname" dum nome próprio. Por exemplo, "Gervásio Timshel". Como todos sabem, sou um adepto fervoroso do respeito pela privacidade de cada qual. É, quanto a mim, um valor sagrado, que importa desde já garantir e sobre o qual empenho a minha palavra de honra.
8.Todos os exemplares serão numerados e personalizados. O número 1 é o meu. Para dar sorte. Os restantes respeitarão a ordem de encomenda.
9. De brinde, o livro termina com páginas inéditas. Pois é: um mal nunca vem só.
10. Essencialmente, se me permitem a auto-crítica, é muito mais uma obra literária e filosófica do que uma obra política. Porque eu, à literatura e à filosofia, ainda consigo degradá-las. Porém, à política, seria de todo impossível.
11. E por agora é tudo. Quaisquer dúvidas, veementes protestos ou sábias sugestões, queiram, Vossas Excelências, fazer a fineza de encaminhá-las para o email supracitado. Ao contrário do que é regra férrea deste eremitério, terei o excepcional gosto de responder a todas elas.


Frase publicitária: Protejam o lince da Malcata, salvem os roazes do Sado, as baleias do oceano, mas não deixem extinguir o Dragão do Tejo.
(Ou como diz o Caguinchas: Olha, a jacto, este!...)


segunda-feira, março 26, 2007

Adivinhem...






















Desta vez, não é a brincar.

Livro já há. Resta saber se há leitores.

domingo, março 25, 2007

A propósito do meu computador

As máquinas são como as crianças, situam-se algures entre o estúpido e o ingénuo: acreditam em tudo o que lhes dizem. As pessoas modernas, as mesmas que passam a vida a mentir às máquinas e às crianças, conseguem uma bizarria ainda maior: acreditam em tudo o que as máquinas lhes contam.

Aproveito para citar a definição de Máquina no Dicionário Shelltox Concise do Dragão (a ser publicado brevemente):
Máquina, s.f., dispositivo ou instrumento capcioso, infalível e auto-mutilante que o homem encontrou para mentir a si próprio. Qualquer mentira, desde que contada por uma máquina, torna-se, instantaneamente, dogma de Fé.


Tenham um excelente resto de fim de semana.

sexta-feira, março 23, 2007

O Nome do pai

Em todo o caso, o convívio e as experimentações deste último século instauraram algumas incertezas no espírito das pessoas menos desatentas. Para os mais optimistas, o homem não evoluiu do macaco: estagnou nele. Para os pessimistas, não evoluiu nem estagnou: regrediu. Regressão, essa, que teve uma aceleração acentuada precisamente a partir do momento em que se apercebeu do parentesco e desatou a proclamá-lo como se de uma bandeira gloriosa se tratasse. De uma vitória memorável da luz sobre as trevas. Bem, triunfo mental, de facto, só se for do hirsutismo sobre o obscurantismo, isto é, uma derrota dos obscurantistas sepulcrais perante os hirsutos estrídulos. Até porque faz tanto sentido dizer que evoluiu do macaco como apregoar que evoluiu das amibas ou protozoários. Ou dos répteis.
Quanto a mim, acho que há de tudo: tipos que evoluem, regridem e estagnam. Geralmente, o processo até é o mesmo: começam por acreditar que evoluíram, estagnam fervorosamente nessa crença e desatam a regredir por conveniência argumentativa e doutrinária. No fundo, são ainda mais criacionistas do que os crentes a quem vituperam. Em rigor, são recriacionistas. Onde os outros vislumbram uma criação especial de Deus, bispam eles uma banal recriação do Macaco. E da mesma forma que aqueles rezam ao Pai no Céu, salmodiam estes, ululantemente, em defesa do Pai na Selva. Em resumo, para uns vale Deus sobretudo, para outros "vale tudo menos Deus." Até o Macaco.
Mas nada de confusões. Sublinho e garanto que não me importa nem contraria nada que chamem Pai ao Macaco. Ao Macaco ou à alimária totemística das suas preferências. Acho até muito justo. O parentesco é, de resto, mais que evidente. Os traços familiares são ostensivos. O intelecto, então, parece tirado a papel químico. Chamem-lhe Pai, chamem-lhe papá, chamem-lhe kota, é como lhes der mais jeito. Já a mim, sempre que lhes contenda com a veneta, podem chamar-me o que bem lhes der na simial gana. Tudo, claro está, menos irmão.
Para remate final, apenas declaro o seguinte: por mais que me guinchem e urrem, ministrando simbólicos murros na peitaça ou brandindo cascas de bananas e amendoins, continuo sem orçar minimamente onde raio reside o tão ufano e superlativo avanço - moral, cognitivo, o que seja - entre o servir de ovino nos rebanhos da religião e o servir de cobaia nos laboratórios da ciência. Direi mais, se me impuserem forçosamente à escolha, sempre prefiro que façam de mim parvo do que façam em mim experiências.

Mas não existem apenas estes energúmenos que evoluem, estagnam e regridem. Existem também os seres humanos. Filhos da terra, noivos da morte, peregrinos do Tempo abissal, que tudo gera e tudo devora. Pessoas como nós.

Estirpes e linhagens

O pai morreu numa troca de tiros. A mãe fugiu com outro homem. Ele, com dois anos, foi parar a casa do avô. Que lhe pôs uma corda ao pescoço e o acomodou no canil, com três cães Pitbull, ao que tudo indica, mais bem alimentados que ele.
O ser humano, frequentemente, não o é. E se muitos, cada vez mais, descendem dos macacos, outros, em números ainda menos tranquilizantes, nem isso: derivam claramente das hienas. Ou então, hipótese nada inverosímil, provêm de macacos e estão a evoluir para ratazanas. Contra-senso? Está-se bem marimbando para a lógica e para as altas costuras teóricas, a realidade.
Se isto obedece a um plano e há alguém aos comandos desta nave de loucos, então só vislumbro um sentido: a transformação prévia em ratos facilita o extermínio. Podem até chamar-lhe desinfestação.

quinta-feira, março 22, 2007

Era uma vez no manicómio

Aconteceu no Oeste. Num belo dia, José Luís de Jesús Miranda achou por bem proclamar-se a reencarnação de Cristo, fenómeno a que poderemos chamar muitas coisas menos raro. Logo uma multidão de acólitos e sequazes coalesceu em seu redor. Ninguém duvidava do prodígio nem vacilava na fé. Ninguém duvidava nem duvida, pois a igreja entretanto constituída já congrega milhares de crentes em vinte países e "movimenta milhões de dólares".
Recentemente, porém, em novo acesso fulgurante, o "Cristo reencarnado" descobriu que afinal não era Cristo. Pelo contrário, era o anti-cristo. Mudou pois de avatar como quem muda de embalagem. Em conformidade, e para que ninguém duvidasse da sua sinceridade profunda, desatou a queimar crucifixos e correu a tatuar-se com o número da Besta. Desilusão ou escândalo entre os fiéis do "Cristo reencarnado"? Repugnância? Horror estupefacto? Nem por sombras. Cúmulo da maravilha, isso sim. O ídolo tornou-se ainda mais popular. A devoção alcançou novos píncaros. O rebanho, por natureza, apenas reconhece Deus no seu pastor. Por conseguinte, largaram todos a tatuar-se e a maltratar os crucifixos que traziam ou guardavam lá em casa. Em suma, de bom grado se modernizaram e evoluíram. Tal qual daqui por uns tempos, a avaliar pela dinâmica inerente a todo este processo, quando o José Luís revelar que afinal não é a reencarnação do anti-cristo, mas sim a manifestação viva do Grande Arquitecto, correrão todos a vestir aventais; ou, na estação seguinte, quando o Grande Arquitecto José Luís se auto-promulgar Big-Bang em Pessoa, desatarão, eventualmente, a plantar explosões em todos as esquinas e buracos negros vertiginosos nos altares.
Não riam. Isto é verídico. Embora mais pareça uma alegoria sobre o Paulo Portas.

quarta-feira, março 21, 2007

Dia Mundial da poesia



Já me ocorreu dar um tiro nos miolos. Verdade.
Demanda intempestiva do Graal zero?
Zénite da amargura ou do desespero?
Não. Pura, crua e simples curiosidade.

Povo ingrato

Segundo a mais recente contabilidade daquele malfadado programa da RTP, Oliveira Salazar comanda destacadíssimo, seguido a considerável distância pelo Rei Fundador e, mais atrás, em nítida quebra, por São Álvaro Cunhal de Moscovo.
Povo ingrato -e inculto! - este, que prefere os tiranos e os arruaceiros aos santos beneméritos.

terça-feira, março 20, 2007

A bem da Nacinha

Há cada vez mais indícios de que, de todas as possíveis opções para um novo aeroporto (cuja urgência nas prioridades estratégicas do país é mais que discutível), a Ota é a pior. Não obstante, capacitemo-nos: é precisamente por ser a pior que, com inefável inexorabilidade, e após bater vários recordes de apoios, engenharias e patrocínios, acabará sendo a implementada. Paradoxal? Nem por sombras. Convém não esquecer a latitude e longitude da região onde todo este folhetim decorre. E ter sempre bem presente o lema soberano da nacinha - entenda-se, da nação diminuta ... Que é, como todos -excepto os catalépticos, comatosos e alienados profundos - bem sabemos e já começamos até a ficar cansados de saber: "quanto pior, melhor".
A Ota é péssima? Sem dúvida. Mas, por isso mesmo, é excelente.

Canções - Caos do Sodré



De armas e munições
de mentiras e políticas,
De saldos e leilões
de ideias paralíticas;
De luxos e mordomias
de bailes e carnavais,
De circos e acrobacias
de drogas comerciais;
De mofas e judiarias
de feiras e confusões,
De esquemas, maquinarias
de mercados e prisões
De comezainas, festivais
de juízes e advogados
De tudo isto e muito mais
nunca estaremos cansados!

Gafarias par'o espírito
Valas par'o pensamento,
Cangas par'o arbítrio
Abismos par'o talento;
Coliseus par'a cultura
calvários par'a sabedoria,
Tronos par'a impostura
ratoeiras par'a alegria;
Paraísos par'a hipocrisia
limbos par'a verdade,
Catedrais par'a cobardia
lixeiras par'a amizade...
Patuscadas, bacanais,
Promessas e eldorados,
De tudo isso e muito mais
nunca estaremos cansados!...

Judas e as peixeiras

Entretanto, a saga do CDS -(MR)PP prossegue a bom ritmo. Graças ao sempre sonso e mimoso filho da Helena que o pôs, mai-los seus bivalves de assalto, o PP conquista o pleno direito a uma nova embalagem: Partido das Peixeiradas. Ou da Política Pimba. Eles pimba. Eles pumba. E ele pomba. Pomba pia, pomba santa, pomba parda.
À beira do abismo, os militantes vão ter que optar: ou o Táxi ou a Creche. O viveiro do querido líder.

PS: O deputado Afro-beirão que brutalizou a senhora presidente da Mesa é apenas mais um exemplar que glorifica portentosamente o nível da nossa "democracia".

PS2: Mas não concordo, de todo, com a expressão "Cães de fila". Aquilo é mais "caniches de bicha". Bicha solitária. E submersa.

domingo, março 18, 2007

O Modo de andar

Agora, uns psicólogos norte-americanos -sempre dinâmicos e peregrinos, estes norte-americanos! - após mais um estudo daqueles, desceram do Sinai e vieram revelar ao mundo que, afinal, o "segredo da atracção sexual" reside mais no modo de andar" do que propriamente na perfeição esteto-anatómica.
Bem, não sei como será nos Estados Unidos, mas decerto não andará muito longe do que se passa por cá - até porque o que se passa por cá, geralmente, não excede o arremedo mais ou menos saloio - quase sempre mais - daquilo que se pratica lá fora e sobremaneira nos States. Ora, nessa medida, os tais psicólogos - vá-se lá adivinhar porquê - estão a omitir o mais importante. Ou a deixar implícito, de tal modo é vulgar, óbvio e evidente. Quer dizer, qualquer pessoa constata que, realmente, o segredo da atracção sexual está no "modo de andar" - sim, no modo de andar...de automóvel. Ou de iate, ou de jet personalizado. Enfim, em qualquer um desses grandes afrodisíacos.

Jovens vanguardistas

«Adolescentes matam jovem à facada».
E dêmos graças a Deus, por só o matarem. Um dia destes, à velocidade modernizante a que isto vai, caçam-no, esquartejam-no e comem-no. Assim o feiticeiro da tribo, digo gang, se lembre disso.

sexta-feira, março 16, 2007

A Ota aos otários, já!...

«Portugal precisa dum novo aeroporto», proclama o primeiro-Ministro.
Sem dúvida, precisa, sim senhor - precisa como de pão para a boca! Em pleno século XXI, não se admite que os portugueses emigrem de autocarro, de comboio ou até a penates, como no tempo do fassismo. Não, senhor! Agora, graças à democracia, é fundamental que cavem em boa velocidade, para o mais longe possível, e o mínimo exigível -enquanto não chega o vaivém espacial -, é que vão de avião (ou, vá lá, em último caso, de TGV)!
Vão e não voltem. Modernização oblige.

quarta-feira, março 14, 2007

Embirrações

Foi encerrado um lar de idosos. Porque funcionava sem alvará nem condições e, ainda por cima, mantinha anciãos amarrados às camas.
Pergunto-me se não estaremos perante um esquisitice burocrática, num país em que milhares de pessoas vivem amarrados a bancos. E onde as elites -que ainda são uma turba considerável! - cismam de se amarrar a cadeiras, cadeirões, poltronas, bancadas, painéis, em suma: tudo o que possa ser transformado - e artilhado - em pequeno trono.
Está bem, eu sei, chamar "lar" àqueloutra espelunca -como a todos esses vazadouros da 3ª Idade, mais ou menos assépticos -, é claramente um exagero, uma incongruência de mau gosto. De facto, um exgero e uma incongruência quase tão grandes como chamar "país" a isto.

Taumaturgia à Zé do Pipo


Não tenho um visão idílica do regime salazarista. O meu cepticismo vai até ao ponto de desconfiar que, ao contrário do Doutor Álvaro Cunhal, Salazar não era um santo, nem ocultava sob as entretelas posteriores do casaco um par de pulcras, níveas e felpudas asas.
Agora do que tenho a certeza é do poder miraculoso das revoluções, mesmo quando não passam de meras golpadas. O 25 de Abril de 74, por exemplo: a quantidade de bufos da Pide que, dum dia para o outro, apareceram metamorfoseados em antifascistas patrulheiros aos molhos...que farturinha! Autênticos enxames hagiofónicos! Senhores, que redenção perfeita, fulgurante, maravilhosa! E instantânea!...
Milagre de São Álvaro, por certo. Circe não faria melhor.
A Farinha Amparo tinha destas coisas.

Sabedoria impopular

Começa-se a lutar pela pátria e acaba-se a lutar pela sobrevivência. Honrar os antepassados é colocar em perigo os descendentes.

terça-feira, março 13, 2007

Qualificações

“O maior dos problemas do País é a qualificação dos portugueses”, diz o Primeiro-Ministro. Sim, senhor doutor-engenheiro, com efeito, o "maior problema de Portugal é a qualificação dos portugueses, especialmente daqueles que o (des)governam.

segunda-feira, março 12, 2007

Irreflexão condicionada

Para minha descomunal irritação e gáudio geminado da restante família, existe uma televisão cá em casa. Tal porcaria só transmite com nítidez mínima, de som e imagem, um único canal : a RTP1 . Mas é o suficiente. É mais que suficiente. Ninguém consegue ver aquela merda, seja qual for a hora, seja qual for o dia, seja qual for o programa, mais de cinco minutos seguidos. Isso, porém, é irrelevante. E é irrelevante porque ninguém está propriamente interessado em ver ou ouvir as mixórdias que aquele caixote de lixo eléctrico debita. Na verdade, todos estão interessadíssimos, isso sim, é no lançamento pirotécnico de impropérios e palavrões cabeludos, que invariavelmente acontece sempre que eu, César Augusto Dragão, pai, marido e português convicto, me cruzo com tal aparelho em estado de aceso.
E não é só cá em casa, acreditem, que se divertem mais comigo que com a televisão. Até na tasca, aliás ciber-tasca, é só aquele Toucinho-do-Chão amaneirado, aquele ajudante de talho promovido a entertainer, em suma, aquele Malato seboso aflorar o trombil balofo ao ecrã e logo o Caguinchas, todo sacana, armado em atiçador de borrascas, desata aos brados:
-"Anda ver depressa, ó Dragão!... É o teu amigo, o badocha fifi, o filho do Pacheco Pereira!..."
Fatalmente, expludo. Aquilo é mais forte do que eu. Acciona automaticamente o blitzcrivo. Em conformidade, deflagro num chorrilho torrencial de apocalipses e carroceirices, de cujo teor absolutamente indecoroso e altamente censurável apenas ouso referir que, uma vez denunciada a identidade do putativo pai, engreno sempre, se é que não fico mesmo a patinar às vezes, na pronúncia ribombante da profissão da veteraníssima mãe.
Macadamizado era o mínimo!

Códigos e trelas

«As galinhas e cães soltos nas ruas, um cenário comum nas aldeias, também não terão vida fácil. A multa por animal sem trela ou sem estar conduzido pelo dono é de cinco euros no caso dos galináceos e de 10 quando se trata de canídeos.»

É o chamado Código de Posturas Municipais de Chaves. Trepar às árvores, ou tomar banho em lavadouros públicos, também passa a ser penalizado. Pois é, podem abortar até às dez semanas, podem injectar-se em perfeita harmonia, mas ai deles se os apanham empoleirados no arvoredo, quiçá a fumar algum cigarrito às escondidas!...
Por um lado, começo a achar que o Oliveira Salazar não era um liberal: era um libertário. Por outro, isto só se compreende, mais uma vez, como despejo das urbanomanias ultrapasteurizantes da capital sobre os costados da província. Ou seja, à medida que Lisboa se quer transformar na capital doutro país qualquer, os autarcas psicopatos-bravos da província querem transformar os respectivos burgos em Lisboa. E assim, se tivermos bem presente como aqui, à beira Tejo, abundam - sobretudo ao nível de redacções e programações jornalísticas ou televisivas, em regime verdadeiramente infestante, em cloaca regurgitante e sempreviçosa - galináceos e canídeos devidamente atrelados e conduzidos na transumância quotidiana pelos respectivos donos e pastores, não nos será difícil perceber como será certamente essa boa ordem e higiene pública que se pretende agora estender às berças. É urgente que se civilizem, pois claro. Que se civilizem, modernizem, normalizem e coiso e tal. (Mas faz algum sentido, neste tempo da "Aldeia global", que ainda persistam aldeias locais?!...) Melhor dizendo, na gíria queiroziana, é imperioso que a paisagem imite o país. Que faça como este faz, que adopte a receita que nele se gasta, onde não há galináceo nem canídeo que não circule devidamente arreado de trela, coleira e guarda-freio. Circule, desfile, escreva, comente, opine ou, pura e simplesmente, mame. E com trela, verdade se diga, dupla: aquela que os donos lhes cobram e aquela que os papalvos e basbaques, para cúmulo, lhes dão.

sábado, março 10, 2007

Unanimismo e Saco-gatismo (rep.)

I. O Unanimismo


Não me venham com fascismos, comunismos, socialismos, social-democracias, liberalismos, nem quejandos estados febris da nação.
Este país nunca foi, em momento algum, ou por desnorte momentâneo que fosse, fascista, nem comunista, nem socialista, nem social-democrata, nem liberal. Desenganem-se. Acabem lá com as peixeiradas inócuas. Poupem-nos às basófias bacocas do costume, aos alardes de circunstância. Este país anda a ser, faz daqui a nada um século, única e exclusivamente unanimista. Se querem um nome para a simples doutrina política que por aqui medra e floresce, aí a têm.
Duvidam? Espreitem lá bem detrás da fachada: o PS é o quê? Socialista, social-democrático, social-liberal? Ora, é o que o secretário geral que ganhar eleições for - quer dizer, é soarista ou guterrista, por exemplo. E o PSD? A mesmíssima coisa: é sá-carneirista, cavaquista, barrosista, consoante a preia-mar.
De facto, mal lhes cheira a poder, os partidos transfiguram-se. Transformam-se em verdadeiras Coreias do Norte ou Albânias heróicas e sitiadas... Da noite para o dia, emergem, quais asteróides deslumbrantes e irresistíveis, os Grandes Líderes, os Guias Imortais, os Super-Homens do momento. Galvanizadas, histéricas, as massas prostram-se em adoração. Os confrades devêm acólitos, os companheiros, sequazes. A dúvida, a consciência, o amor próprio, a individualidade, desaparecem. São banidos. O formigueiro encontra a sua rainha; a colmeia a sua abelha-mestra. Os caprichos desta tornam-se leis da física; o seu olhar suplanta a luz do sol; os seus amigos e parentes próximos, por osmose e reflexo, sobem a luminárias omniscientes.
Invariavelmente, é este tipo de unanimismo que ascende ao poder e ao leme da nação. Dum casulo tecido com mil fios de sabujice, lisonja e hipocrisia invertebrada, irrompe, num belo dia, uma impante crisálida ditatorial: Um nano-Kim Jong Il, um quasi-Fidel, ou, para sermos patriotas nesta matéria, um micro-Salazar. A partir daí, é todo um ciclo que se reinicia...
Por uma temporada, de quatro a oito anos, o país sente-se revisitado. Mas apenas por uma sombra, um espectro, um simulacro do pujante autocrata de outrora. O país também não se queixa: ele próprio já não passa, frouxamente, duma sombra, dum espectro, dum simulacro de país. Em suma: o fantasma mirrado e diminuto de Salazar vagueia, feito alma penada, pelo simulacro de país. Como num estado zombie. Como em transe de governação vudu.
Assim, tudo somado, a nova e apregoada "democracia representativa", não transcende muito o multiplicar de pequenas autocraciazinhas sufragadas. Como se o vício arreigado, a mania empedernida, se rissem, em possessão ambulatória, de todo e qualquer arremedo de cura ou reeducação. Inexpugnável, o unanimismo, é, ainda e sempre, o mesmo. Apenas as suas figuras de proa são cada vez mais minúsculas, insignificantes, efémeras. Na verdade, a diferença que vai do xarope despótico vitalício ao iogurte político de validade cada vez mais limitada. Do Salazarismo ao micro-salazarismo.
Não admira, pois, a crise. São tempos de precariedade, estes: até os títeres são contratados a prazo. Recebem à tarefa. Ao frete.


II. O Saco-gatismo

Em contrapartida, mal se afastam do vórtice do poder, os partidos caem em si. Como que acordam dum pesadelo, dum sonambulismo demoníaco. Apeados da onda vitoriosa, ei-los que recobram a moral e a religião, a humildade e os princípios. Ei-los que correm ao exame de consciência e à desintoxicação.
Ao mesmo tempo, todos ralham com todos, todos desconfiam de todos. Contam-se espingardas a cada esquina, afiam-se facas nos passeios pela noite fora. Sobretodos execrado, torna-se o, até aí, ídolo sublime, deus ungido. Rebentado o casco contra os recifes, naufragada a expedição, todos vêm cuspir e viperinar contra o timoneiro. Despenhado da glória, compete-lhe, doravante, carregar com a culpa. Toda a culpa.Os outros, livres por uns tempos da condição de insectos rastejantes, entregam-se à sua ocupação predilecta na oposição: fazer oposição. Não, propriamente, ao governo em exercício (quanto a isso, há que respeitar o unanimismo soberano, atávico), mas uns aos outros. A privação do tacho, acarreta a irascibilidade, a quezília, o resmoneio. Irrompe a sintomatologia típica da descompensação.
Uma vez no poder, o partido (a experiência histórica atesta-o) conduz o país à balbúrdia. Uma vez deposto, cai também nela. Retorna à origem, à matriz. Ao caos primordial e propedêutico.
A ressaca do unanimismo governativo é o saco de gatos, ou Saco-Gatismo partidário. Para que serve? Como a tragédia para os antigos gregos, segundo Aristóteles, tem por finalidade a catarse, a purificação das almas, o exorcismo dos demónios. Para que, chegada a hora, mal a preia-mar regresse, o espírito do mamífero, limpo e disponível de novo, esteja mais uma vez pronto para ver-a-Deus e para abraçar, em fervor babado, todo o unanimismo deste Mundo. A metamorfose, neste caso -e ao contrário do romance de Kafka-, é voluntária. E almejada com a maior das ansiedades e expectativas.

O Império da estupidez

De todas as opressões, só há uma absolutamente despótica, viciosa e inesgotável: a estupidez. E o mais aberrante é que, regra geral, são aqueles que arquejam, convictos, sob o seu império quem mais se arroga presunções de liberdade. E mais se jacta fardado de porteiro canino -e rigoroso - da mesma.

sexta-feira, março 09, 2007

Gurgitte vasto

«Se os filósofos governassem, as massas estariam perdidas. Mas se estas massas governarem, a situação dos filósofos será raro in gurgitte vasto».

- Nietzsche, in "Carta ao barão de Gersdorff, 07 de Abril de 1866"

Traduzindo raro in gurgitte vasto (variante do mais usual rari nantes in gurgitte vasto):
Poucos nadam no vasto vórtice.
Frase retirada da Eneida, primeiro livro, onde se descrevem os poucos sobreviventes do navio dos lícios, afundado pela tempestade que destruíu completamente a frota de Enéias.
Para ajustar na perfeição ao nosso tempo, e sem ferir muito o rigor semântico, basta substituir "vasto vórtice" por "imenso vómito". Eu, pelo menos, traduziria assim.

quinta-feira, março 08, 2007

Liquidação geral

Como é que se distingue um "português moderno" dum "português obsoleto"?
- O moderno é aquele que traz um letreiro pendurado ao pescoço a dizer "Vende-se".

Como é que se distingue um "português moderno da elite" dum "português moderno vulgar"?
- O das elites é o que traz o mesmo letreiro "vende-se", mas escrito em várias línguas.

Estupidez artificial

Dizem-nos que a «Coreia do Sul está a preparar uma Carta de Ética dos Robôs para 2007 ».
Não me parece uma boa ideia. Uma vez imbuídos de ética, os robôs adquirem uma consciência e, seguramente, fazem uma descoberta elementar, bem como assaz inconveniente: a de que os seus criadores não têm ética nenhuma. Daí à tentação, senão mesmo ao imperativo categórico, de exterminá-los será com certeza um pequenino passo. E quem poderá criticá-los?...
Por outro lado, não estou a vislumbrar bem como é que seres que não conhecem, praticam ou sequer desejam qualquer tipo genuíno de ética poderão ensiná-la a robôs. O mais provável será adestrarem-nos numa qualquer anti-ética em tudo semelhante à sua, o que resultará em robôs psicopatas mais ou menos tresloucados prontos para darem cabo de todo e qualquer ser humano obsoleto. Que é como quem diz, não convertido em pura máquina consumidora, obediente, fornicadora e merdificante.

Maiêutica com todos

Ser ou não ser engenheiro, eis a questão.
Mas mesmo que não seja, de facto, não vejo onde reside o problema. Afinal, a licenciatura é apenas requerida para determinados cargos mais elevados na Função Pública - Técnico superior, por exemplo. Todos sabemos que o cargo de Primeiro-Ministro não é desses. Ou seja, não requer grande elevação, nem, tão pouco, se circunscreve propriamente no domínio público. Em primeiro lugar, porque é um cargo aberto, por lei, a qualquer cidadão com desembaraço suficiente para amarinhar na máquina partidária, diplomado ou não. Em segundo, porque pertence mais à Função Privada que à Função Pública, dado que, regra geral, os dignitários cuidam e curam mais do interesse pessoal - deles, dos amigos, compadres, familiares e patronos - que do interesse público. E em terceiro, porque atentando no nível da última meia dúzia que por lá passou, isso da licenciatura equivale a quê - mais coisa menos coisa, à terceira classe do antigamente?...

quarta-feira, março 07, 2007

Os 4 magníficos

Segundo uma sondagem "global" da BBC. O que as pessoas pensam da influência (positiva ou negativa) dos países nos assuntos mundiais. Conforme a tabela que se segue:


Há países que me fazem lembrar o Mickael Jackson: escuros a tentarem disfarçar-se de claros. Bem se lavam e branqueiam, bem se cremam e besuntam, mas parece que não está a resultar.

O Bordel e o púlpito

O Departamento de Estado norte-americano, numa daquelas manifestações de zelo humanitário mundialmente famosas, elaborou um daqueles relatórios angélicos em que "aponta críticas a Portugal, nomeadamente abusos das forças de segurança, más condições das cadeias, recurso excessivo da prisão preventiva e tráfico de mão-de-obra estrangeira e de mulheres".
Convenhamos, tem a sua graça. Tem até muita graça, se é que não é para rir a bandeiras despregadas.
Não que, eventualmente, alguns desses fenómenos não sucedam por estas bandas. Penso mesmo que ocorrem à escala mundial e vão de vento em popa. Só que a maior parte do tempo, assomos folclóricos como estes à parte, dão-lhe outro nome (bem mais pomposo e benigno, por sinal): "globalização". Ou "luta contra o terrorismo". Não, o que é mesmo pândego é ver os americanos armados em guardiões da moral e dos bons costumes nestas matérias. Nestas, de resto, como em todas. Há que dizê-lo com frontalidade: é como assistir à rameira-mor arvorada em paladina austera da casta virtude. Como se trocando, por breves instantes, o cinto de ligas pelo de castidade lhe devolvesse, intacto e impoluto, o esfarrapadíssimo hímen. E o trono do bordel virasse púlpito.


PS: Vá lá, para variar, o governo português teve uma resposta minimamente vertebrada. Louve-se. Nestes tempos de escassez extrema, até uma espinhazinha sabe a gloriosa coluna.

terça-feira, março 06, 2007

Enriquecimento ilícito

Acho muito bem. Desde que, claro está, seja uma lei com retroactivos aos últimos tinta anos. Caso contrário, a iniciativa é, à partida, absolutamente inócua: não adianta criminalizar à posteriori, depois do saque principal consumado - qualquer jurista aprendiz explica isso.
Ao mesmo tempo, devia ser criminalizado o empobrecimento lícito da maioria da população, por acção concertada de bancos, televisões e políticos. E quando, neste caso, digo empobrecimento subentendo a dupla acepção que a palavra pode ter: empobrecimento económico e mental. No segundo caso, julgo mesmo que é difícil empobrecer mais. Alcançou-se o patamar da mais completa indigência. Uma verdadeira miséria franciscana.

segunda-feira, março 05, 2007

Esclarecimento

Pergunta-me o ilustre Erecteu, ali atrás:
«Qual é o nível etário para credivelmente se participar na política?»

Bem, partindo do princípio que estamos a falar da política real (e, por conseguinte, actual) e não da ideal (dum qualquer passado ilustre ou amanhã canoro), a resposta é simples:
O nível etário é, por regra, o inversamente proporcional ao nível otário, ou seja, o mais baixo possível.
Mais alguma dúvida?

Da imbecilidade ruidosa (rep)


Quando uma pessoa é inteligente a posição política é acessória. Vista-se de esquerda ou direita, é a inteligência que prevalece, que decide. Ao contrário dos imbecis. No vácuo mental destes, o traje devém suporte, alicerce fundamental. O imbecil limita-se a servir-lhe de atrelado. Vai a reboque. Fatalmente, constitui seita, horda, matilha, com o mesma mística profunda que qualquer labrego constitui família. Nele, é o acessório que constitui essência. “Sou de esquerda, ou sou de direita”, proclama ele. E está tudo dito. Ei-lo na sua apoteose substantiva: Ser de esquerda ou de direita esgota-o, é signo essencial e, mais que afirmação de qualquer coisa, é negação do contrário. O imbecil, como a pata do cão a regar a parede, não se põe: contrapõe-se. Precisa duma parede, dum poste, dum muro, dum candeeiro, duma roda de automóvel, enfim: algo a que alçar a pata, onde deixar a sua marca, o seu cheiro, onde vincar a sua posição. O cão mija; o imbecil vocifera. O resultado, esse, é o mesmo.

CDS-MRPP

Acho que o dito CDS-PP resvalou para um nível só ao alcance de certas seitas imberbes e gastrópodes - como o Bloco de Esquerda, por exemplo. Pelo que tudo indica, vai mesmo conseguir descer ainda mais baixo. Em coerência com todo esse amanhã cantante que se adivinha, sugiro que doravante passe a arvorar uma nova sigla: CDS-MRPP. MRPP significa, naturalmente, "Movimento Reorganizativo do Partido do Portas". Ou "Movimento Rastejante dos Putos do Portas". É como preferirem.
Ah, e deixem de armar em partido. Assumam logo, duma vez por todas, que são uma creche. Uma coutada do querido líder.

sexta-feira, março 02, 2007

Fito-sanitarices

Um governo que desistiu de impedir, ou sequer desencorajar, as pessoas de se injectarem, quer agora proibi-las de fumar. A seguir também vai proibi-las de darem traques?

quinta-feira, março 01, 2007

À Falsa fé

Se é certo que no passado grandes infâmias foram cometidas em "Nome de Deus", no presente já não há esse problema: cometem-nas em nome da Liberdade.