segunda-feira, março 13, 2017

Lendas com pés de barro e nariz desmedido



A propósito de obras sobre a nossa última Guerra Ultramarina, chamou-me a atenção no livro de Simon Innes-Robbins, "Dirty Wars: A Century of Counterinsurgery", um capítulo sobre os portugueses (na verdade, o 2. The last to leave: The portuguese experience, 1961-74). Dei uma leitura rápida, mais a sondar de eventuais e recorrentes minas do que propriamente em digressão colectora e não é que, a páginas tantas, tropeço nesta pequena pérola (relativa à Guiné):
«Following the breakdown of talks and the departure in 1973 of Spinola, who left  morale at an all-time high, the counterinsurgency campaign was continued under General Bettencourt Rodrigues. However, the situation on Guinea begun to deteriorat during 1973, and it was clear that Spínola's inspiring leadership had served only to paper over serious cracks in the portuguese war effort. After his departure attitudes hardened on both sides, especially following Cabral's assassination by PAIGC dissidents in January 1973.»
Ora bem, a literatura anglo-saxónica é de um modo geral benevolente para os militares, em contraposição com um certo desdém pela inabilidade dos políticos (leia-se, do regime). Todavia, e mesmo assim, já não embarca nos mitos negros sobre a DGS como autora ubíqua de assassinatos a esmo.

Em suma, a lenda negra do assassínio de Cabral pela DGS e pelos portugueses já só resiste enquanto pinoqueira inveterada dos papagaios ideológicos do costume (como estes; ou estoutros, passe a redundância, e por desplante conveniente, recorrente e óbvio). 
Qualquer historiografia minimamente séria, juntamente com multíplos testemunhos de dentro do próprio PAIGC da época, há muito que clarificaram o embuste propagandalheiro. Cito apenas alguns desses testemunhos:
 «O ex-comandante de navio da força marinha do PAIGC, Álvaro Dantes Tavares, afirma que Amílcar Cabral foi assassinado por Inocêncio Kani, um dos principais elementos da força da marinha. Numa entrevista ao Ocean Press Álvaro Dantes Tavares considera que este facto foi desprestigiante para a marinha, a principal base do PAICV.»

O ódio dos guineenses aos cabo-verdianos é antigo. Mesmo o Marcelino da Mata, que é guineense retinto (etnia Papel), se lhe perguntarem o que é um Cabo Verdiano (ou mestiço de qualquer zona de África) ele responde, sardonicamente, com um termo pejorativo: "Fotocópia". E depois há outro conceito entranhado no PAIGC (e nas estruturas reinantes da Guiné-Bissau) que diz tudo: a promoção aos altos cargos processa-se por extinção sumária e expedita do superior.  A lista é vasta, metódica e conhecida. Principiou no próprio fundador.

domingo, março 12, 2017

Malditas Cassandras!








Chamo a atenção para a data desta entrevista: 2011. Portanto, as pessoas podem confrontar o que foi diagnosticado e prognosticado nos fenómenos históricos entretanto decorridos. Mas um trecho é sobremaneira significativo: quando ele refere o carácter praticamente marxista (por incubação neo-trotskeira, acrescento eu) da nova ideologia promotora das guerras: a "democratanóia globalhabunda". Isso, e o vaticínio, por arrasto implícito, de uma "nova-Al Caeda"...
Delírio? Três anos depois, em 2014, o Exército Islâmico fazia a sua proclamação ao mundo.

sexta-feira, março 10, 2017

O Modo Português

Para os raros que se interessam seriamente por estas questões, uma obra a ler sem mais delongas:




quinta-feira, março 09, 2017

Dia Mundial da Gaja

Ontem, escutava-se a esmo, nos mérdia, um grande rumor festivo. A propósito do dia Mundal da gaja, celebravam-se conquistas e emancipacinhas deveras crocantes. Como, por exemplo, hossana nas alturas!, o acesso a baluartes masculinos do estilo alancar no fundo das minas, ou  guiar um táxi, ou, nec plus ultra,  pegar em picareta para efeitos de jardinagem. Assim mesmo, cada qual mais formidável que a anterior. Babo-me diante de tão indiscutível progresso feminil: já se entoupeiram pelo chão abaixo, já guiam táxis e já se deleitam com uma picareta nas unhas. Esqueceram-se apenas de proclamar uma outra conquista emancipadeira ainda mais sublime, verdadeiro corolário das anteriores: também já podem alistar-se nas fileiras do Exército Islamico. Melhor e mais urgente convocação missionária não encontro para as nossas feministas de plantão. E duvido mesmo que exista.

terça-feira, março 07, 2017

Ironias do Destino

 O pigmeu, fanfarronca ele, vai fazer exigências ao gigante. Está, claramente, a confundir o Putin com o Trump. O Vlad vai responder-lhe, diplomática e caridosamente, que sim, pois claro, vai pedir aos Iranianos que se retirem com suavidade. Ao que estes responderão, com humana modéstia e cordial afecto, que sim, que o farão com todo o gosto, assim que acabem de desinfestar a zona (na companhia dos Sírios e Russos).
Entretanto, o pigmeu vai meditar sobre a sua própria estupidez caiada a esperteza saloia. Quando segregou a peregrina ideia de patrocinar a praga de antropófagos islamicoisos na área achou que era bestial e supimpa. O resultado, porém, para qualquer racional minimamente equipado de neurónios activos, era mais que previsível: os Iranianos vieram (viriam sempre) atrás dos islamicoisos, que lhes serviram de pretexto excelente (e facilitado) para confraternizarem, em modo piquenique bélico, com os seus amigos do Hezbollah. Estes, antes com imensas dificuldades para receberem armamento, puderam assim, sem grandes embaraços, encetar um upgrade catita nos seus arsenais balísticos. Agora, os israelinhos têm os iranianos à porta de casa, os chiitas libaneses devidamente  equipados e amanhecem todos os dias, os pequenotes, justamente sentados em cima dum barril de pólvora.
Mesmo quando aparentemente dorme, Deus não descansa. No mínimo, tem sempre a ironia do Destino a trabalhar por Ele.
Ou então rememoremos aquela fábula engraçada do João a gritar que vem lobo.