domingo, setembro 30, 2007

Tanatofolia ou O Prazer de Ser Defunto

Por falar em cemitérios... Vosselências já ouviram falar na Servilusa, essa multinacional cangalheira que se lançou à conquista do mercado nacional dos presuntos? Pois é, parece que a globalização, finalmente, chegou aos caixões. E mais uma vez a ficção sai ridicularizada pela realidade.
Um visita à página net destes super-gatos fedorentos é de rir e chorar por mais.
Cito-vos alguns exemplos particularmente hilariantes:

1. O serviço Pague agora e morra depois. Um mimo. Um ror de vantagens financeiras com a vossa própria morte. Um investimento catita no badagaio. Com um contrato de "Prestração de Serviços Funerários em Vida". "Serviços funerários em vida" é essencial, na medida em que a vida se assemelha cada vez mais à morte. O governo e as televisões já não estão sozinhos. Sócrates, o filósofo ateniense, já falava na Vida como um treino para a morte. A Servilusa trata do ginásio. Antecipa o velório. Se é que não inventa mesmo o auto-velório. O Oráculo antigo recomendava o "conhece-te a ti mesmo"; estes Olhandilhas monopoliteiros impingem o "vela-te a ti mesmo". É só assinar o contrato e o cliente entra logo em estágio.


2. Oferecem belos serviços de "restauro" e "cosmética". O paciente é exibido sempre numa atitude calma e serena. Dir-se-ia com ganas de despertar a qualquer momento. E a tanatopraxia, essa técnica avançada do tanatopractor? Um progresso inaudito, meus amigos. Além de calmo e sereno, o ente querido adquire as mais saudáveis cores e um rosto todo ele radiante, banhado numa visível satisfação. Não dorme o sono eterno: cochila na antecâmara do paraíso. Nunca esquecendo outro detalhe supimpa: a tanatopraxia deve ser praticada em local apropriado - o tanatório -, mas também pode ser realizada ao domicílio. O tanatopractor, animem-se os mais borralheiros, também vai a casa. Acredito até que façam descontos para serial-killers.


3. Claro que foi a Servilusa (quem mais poderia?) que tratou da trasladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional; claro que tem funerais a crédito, até 24 meses, sem juros nem encargos adicionais - enterre agora e vá pagando; e claro que disponibiliza videogravação de toda a cerimónia, para mais tarde recordar ( um tão agradável e auspicioso evento não pode, de modo nenhum, ser esquecido). Não tarda muito e as embaixadas, em vez de coquetéis e recepções, organizem funerais. É mais in. Mais cosmopolita.


4. A Servilusa, como não podia deixar de ser, é amiga do ambiente. Todas as suas urnas -e não apenas o conteúdo das mesmas - são completamente biodegradáveis. De modo a não contaminarem os solos, pois claro; e, mais importante ainda, a não prejudicarem o repasto e o remanso da fauna subterrânea. A urna, tenra e apetitosa, começa por servir de aperitivo. Se é que, pela excelência do seu aroma, não constitui chamariz irresistível. E selectiva. Convocadora e filtradora apenas de vermes das melhores provenências.


5. Quanto aos Centros Funerários - ou Tanatodromos, digo eu -, que mais poderíamos desejar? - Têm «mobiliário confortável, música ambiente, cafetaria self-service, acessibilidades facilitadas, estacionamento, gabinete de apoio permanente», florista e, dentro em breve, imagino, discoteca, marisqueira, piscina, ginásio, solário, cabeleireiro, sala de congressos, casino e matraquilhos.


6. Uma palavra final para a "Missão, valores e princípios" desta nobre e eclética empresa. "Satisfação do cliente", ostentam eles, como primogénito dos seus valores. Realmente, é uma alegria. Com a Servilusa, até apetece morrer. Ou matar um ente querido qualquer. Só para experimentar um tal Jardim de Delícias.


Em suma, "Servilusa, onde cada enterro é um espectáculo!..."
Não tarda muito e farão desfiles de modas. Em cadáveres. Já o fazem com esqueletos...



sábado, setembro 29, 2007

Nem de encomenda...

Não é lá muito nobre devassar campas e ossários, pois não? A não ser que o homem se diferencie muito pouco da hiena e do chacal. E se sinta também armado de mandíbula capaz ainda de triturar os ossos, na volúpia dum qualquer tutano remoto.
Crime do ódio? Qual ódio, qual carapuça! Acto de pura, soberana e gratuita imbecilidade, isso sim. De estupidez toda poderosa. Que os fariseus do costume agradecem e comemoram. Melhor promoção não conhecem.

Mudança de moscas

Só para testemunhar a azia que grassa entre os notáveis e luminárias dessa coisa chamada PSD, até apetece dar vivas à vitória do Menezes.
Será sempre divertido ver a choldra metida a elite a snobar e a menoscabar da choldra em vias de ascensão.
Faço ideia as ventas amarrotadas e lúgubres do -já de si patibular - Comichário Político Graça Moura. Aquela peixeirada toda debalde. Ai o tacho!...

sexta-feira, setembro 28, 2007

Memórias do Avô Cantigas






Assembleia Constituinte, 16 de Julho de 1975...

«Vital Moreira (PCP) - Se os projectos do PPD e do CDS fossem aprovados e promulgados seria impossível julgar em tribunal revolucionário os responsáveis pelo 11 de Março, o que está anunciado pelo Conselho de Revolução desde 12 de Março. E o mesmo acontece, estranhamente, com o projecto do PS.


(Apupos. Aplausos)


Cabe aqui referir, entretanto, que essa posição não se limita aos projectos do PPD, do CDS e do PS. Ainda recentemente o grémio dos advogados, em reunião realizada em Coimbra, tomava a mesma posição, ao mesmo tempo que se preocupava com os réditos da profissão e com os vencimentos dos seus empregados, sem deixar de rejeitar uma moção de apoio ao Conselho da Revolução e de aprovar uma moção de apoio à intervenção do deputado António Arnault feita aqui há dias.

Retomemos o fio. Se os projectos do CDS, do PPD (e também, estranhamente, do PS) fossem aprovados e promulgados...


Vozes: - Não apoiado!

(Manifestações nas galerias)


Vital Moreira: -... Eu limito-me a pedir à Mesa que me seja descontado o tempo das interrupções.

Presidente: - O público não pode intervir, senão terei que mandar evacuar as galerias. Será descontado o tempo correspondente às interrupções.

V.M.: - Se os projectos do CDS, do PPD (e também, estranhamente, do PS) fossem aprovados e promulgados, não poderiam haver mais saneamentos, quer no aparelho de Estado, quer em instituições privadas. Se os projectos do PPD, do CDS (e também, estranhamente, do PS) fossem aprovados e promulgados...


Vozes: - Muito bem!

(Vozes discordantes)


V.M.: - ...Nas próximas eleições já teríamos a votar e a candidatar-se os ex-informadores da PIDE, os saneados, os ex-dirigentes da ANP e da UN, os ex-ministros de Salazar e Caetano.


Vozes: - Não apoiado!

Uma voz: - Desonesto!»

- in Cenas Parlamentares - Humor, agitação e ataques na Constituinte, de Vitor Silva Lopes


Eles bem viram a casaca, mas a alminha de esbirro, essa, nunca muda. O fervor de meirinho, de beleguim às ordens serve de cabide permanente à casaca variável. A quadrilheirice é vital(ícia). Ontem como hoje, o instinto canino persiste. E porfia.
Registe-se ainda que quando o Avô Cantigas, na sua fase heróica, refere, em tom depreciativo, os "ex-informadores da PIDE", significava com isso apenas os ex-informadores que não eram militantes do PCP antes do dia 25 de Abril, nem correram a alistar-se nesse mesmo partido nos dias seguintes. E foram muitos. Julgo que o que o preocupava, à época, era, tão sòmente, uma minoria residual de não-contritos.

Antevisões do Nosso Tempo. I - O Mass-mediador

quinta-feira, setembro 27, 2007

O sexo vigiado

O sexo é uma coisa natural, misteriosa como todas as coisas naturais, e que só tem piada enquanto descoberta e aventura pessoal, espontânea. Para estragar o sexo já basta a pornografia massacrante, o matrimónio de conveniência e os tarados todos da masturbamulta . De todo, não precisamos, para reforço de tal desastre, da merda do Estado, mais a caterva hiperactiva dos seus acólitos, ectopasmas e amanuenses.
Proibido e recôndito é que o fruto se torna mais apetitoso. Difícil é que a conquista devém mais desafiadora e gratificante.
Vem isto a propósito do que se segue.
Lembram-se disto? (A sugestão aos pais para massajarem os genitais dos filhos, feita pelo Governo Alemão, na Alemanha...)
Pois, por cá, vamos nisto:
«Educação Sexual deverá começar logo no 1.º ano». (Mais um tempito, e deve iniciar-se no berço...)
Um Estado que não quer saber dos cidadãos para nada, agora quer meter o bedelho no sexo dos filhos dos cidadãos. Uma sociedade sem educação nenhuma, quer bancar a educadora sexual - entretém-se agora a mexer na pilinha ou no pipi. Ainda por cima dos filhos dos outros.
Como se já não bastassem as televisões, a todas as horas, a educarem, agora ainda temos que aturar com comichões presididas por psiquiatras pardos a arderem em fornicoques instrutores.
Ele há gente que não tem família: tem metástases. E, infelizmente, são às colmeias.


PS: Em todo o caso para que toda esta verborreia sistemática e recorrente da "educação sexual" faça sentido, basta substituir o termo "educação" pelo termo real de que é mero eufemismo suavizante: "castração". Há toda uma função analgésica e lubrificante na linguagem.

O Mundo da tanga

A «Repressão em Rangum gera indignação mundial». Em contrapartida, a repressão na Palestina - onde o Exército israelita, em mais uma missão de rotina, faz nove mortos na Faixa de Gaza - gera a maior das sonolências e bocejos às catadupas. A razão é simples: a repressão só é condenável quando realizada por forças policiais; se levada a cabo com blindados e caças-bombardeiros adquire foros de missão caritativa e recebe de pronto a bênção "mundial".
Por outro lado, confrontada com a repressão da democracia americana no Iraque, a repressão da tirania militar birmanesa até alcança contornos angelicais.
Mas enfim, a solução para os títeres birmaneses é fazerem da brutalidade repressora, não um surto ocasional, mas uma normalidade sistemática, cada vez mais violenta. Uma vez aí, vão ver: já ninguém no "mundo" se indigna. Desata tudo no bocejo. As vestais delicadas são muito sensíveis à repressão, mas absolutamente indiferentes ao genocídio. Na verdade, o que verdadeiramente os incomoda são as coisas feitas em pequena escala. A sua.

quarta-feira, setembro 26, 2007

Mais cenas paralamentares, ou os Originais e os Plagiadores da Via

Em 17 de Julho de 1975, decorria, em bom ritmo, a Assembleia Constituinte. Qualquer semelhança entre aquele areópago e o Hospital Júlio de Matos, desde então, é pura coincidência...
Basta atentar no seguinte naco de palradura:

«Em nome do PPD, Fernando Amaral fazia uma declaração à Assembleia:
-"(...) partido democrático que somos e da coligação que fomos, não ignoramos a nossa quota-parte de responsabilidade. Mas também não ignoramos que nunca foi no Governo que residiu o poder real. E que raramente as nossas soluções foram aplicadas. Não ignoramos a pesada herança do regime anterior. Não ignoramos os golpes e as sabotagens praticados, dentro e fora do país, por movimentos direitistas. Mas também não ignoramos que outras forças antidemocráticas e minoritárias têm procurado a todo o custo tolher a marcha da Revolução para o socialismo humanista. Através do assalto ao Poder, o PCP e os seus satélites...

(Protestos das bancadas do PCP)

...tomaram conta das câmaras municipais, das juntas de freguesia, dos sindicatos e meios de informação.

(Burburinho. Apupos do PCP)

Presidente: - Peço a atenção, peço a atenção. Não interrompam o orador.

(Apupos. Aplausos do PPD)

Vozes - Fascista!

(Prosseguem os aplausos do sector PPD)

Presidente: - Peço a atenção, srs. deputados.

(Burburinho)

Vozes - Abaixo a reacção!

Presidente insiste: - Peço a atenção...
J.M.Tengarrinha (MDP/CDE) para o orador - Tenha vergonha! Tenha vergonha de dizer isso nesta Casa! Cale-se!
F.A. prosseguindo: - Procuram apropriar-se da aliança do Povo-MFA, fazendo...

Tengarrinha - Onde estavas antes do 25 de Abril?...
F.A. : - ... reverter em seu próprio proveito esa aliança.
Presidente: - Um momento! Pede-se o favor de não interromperem o deputado. Poderão depois responder da maneira que entenderem. Faz favor de continuar.

Vozes: - Nós não permitimos que...
F.A. - Tal assalto e tal apropriação são da exclusiva responsabilidade dos que pretendem afinal espartilhar o povo português em soluções totalitárias que ele claramente não aceita, como livremente o afirmou em eleições.

(Mais burburinho)

Álvaro Monteiro (MDP/CDE): - O sr. presidente não deve permitir intervenções deste tipo! São intervenções contra-revolucionárias! Não devem ser permitidas pela Mesa!
O orador: - A delação...

(Novos apupos e aplausos)

Presidente: - Faz favor de continuar.
Uma voz: - Estas intervenções...
F.A.: - ...é servida como vigilância popular. A delação é servida como vigilância popular...

(Burburinho)

F.A.: -... como se a verdadeira delação não consistisse antes...

(Apupos e burburinho)
Presidente: - Já pedi...

(Burburinho)

- Quem é que dá som para quem não pediu a palavra?! - grita Costa Andrade.
Presidente: - Os srs. deputados poderão exprimir-se da maneira que entenderem a respeito das considerações que ouvem. Mas não devem interromper. Nos termos do nosso Regimento, isso é perfeitamente claro. O norador dispõe ainda de quatro minutos.

F.A.: - A deleção é servida como vigilância popular, como se a verdadeira vigilância não consistisse antes em trabalhar e zelar pelo exercício dos direitos fundamentais. A insegurança e a instabilidade são justificadas como "fase de transição" para o socialismo.
(Apoiados e apupos)
Tenta-se apresentar como "conquista democrática" aquilo que mais não é que a proposta rejeitada de minorias empenhadas na ruína do País para melhor tomarem conta dos centros do Poder.
(Burburinho)
As intenções da escalada são claras. O modelo a copiar é também claro. Procura-se que a originalidade da via portuguesa corresponda ponto por ponto a escaladas idênticas que estão na origem dos actuais estados totalitários ditos "socialistas", que mais não são afinal que capitalismos burocráticos de Estado.

(Apupos. Burburinho. Assobios. Vibrantes aplausos do sector PPD)

Presidente: - Peço a atenção.
F.A. prossegue: - procura-se também afastar a todo o custo partidos em que o povo depositou, pelo voto, a sua confiança, numa aplicação nada original da conhecida táctica de conquista progressiva do Poder por eliminação sucessiva dos outros partidos. O Partido Popular Democrático, que...
(Manifestações gerais)
... sempre esteve e estará aberto à colaboração leal e franca com todas as forças democráticas e progressivas e com o MFA - não pede de maneira nenhuma...
(Burburinho. Insultos)
...pactuar com métodos totalitários, com processos opressores ou com atitudes que claramente desrespeitam o povo pelo qual lutamos e que somos.
(Apupos)
A esta escalada alia-se a actuação de grupos minoritários e pouco responsáveis.
(Burburinho)
A esta esclada alia-se a a ctuação de grupos minoritários e pouco responsáveis, que com agitações demagógicas criam um clima que só agrava a crise de autoridade e dificulta a aplicação de qualquer medida.
(Burburinho)
Intelectuais afastados do povo e da vida burguesa...
(Risos. Burburinho)
...impõem ideologias próprias, autoproclamando-se "revolucionários" e "vanguarda dos trabalhadores".
Vozes: - Rua! Fora!

(Os tumultos entre o PCP e o PPD e numerosos PS prosseguem até final da intervenção)

Depois de terminar a intervenção de Fernando Amaral.

José Tengarrinha: - Eu quero apresentar formalmente um protesto pelo tom provocatório e contra-revolucionário da intervenção do deputado do PPD.

(Aplausos. Pateada. Burburinho.)

Uma voz: - Abaixo os satélites do PCP!
José Tengarrinha: - Abaixo, sim, mas da reacção.

(Aplausos)

Uma voz: - Reaccionário és tu!
Presidente: - Tem a palavra o sr. deputado Fernando Roriz.

(Mas continua o burburinho na Assembleia)

Outra voz: - Social-fascista!
Ainda outra voz: - Social-fascista, anda cá para baixo!
Presidente: - Quem quiser usar da palavra tem de inscrever-se.»

- in Cenas Parlamentares - Humor Agitação e Ataques na Constituinte, de Vitor Silva Lopes.


Apenas duas notas:
Um dos cabecilhas da bancada PCP nesta época era um tal Vital Moreira, actual Avô Cantigas da blogosfera e tutor vitalício da Constituição da República. E quando acima se fala de "intelectuais afastados do povo...que impõem ideologias próprias, autoproclamando-se «revolucionários» e «vanguarda dos trabalhadores»" , cito-vos apenas duas criaturúnculas dessas: Pacheco Pereira e José Manuel Fernandes. Mas a lista seria imensa e sintomática. Com uma constante: todos eles migraram nas ideologias e estão bem instalados no regime. Foram virando a casaca de acordo ao clima. E à moda.
O veneno mais torpe e corrosivo deste país chama-se impunidade. Filha da Amnésia e do Proxenetismo Hereditário.

terça-feira, setembro 25, 2007

Casamentos a prazo



Gabriele Pauli (a senhora acima) é a presidente da Câmara de Fuerth. Merece a nossa erecção e defende uma nova modalidade matrimonial que faz todo o sentido nestes sumptuosos dias que escorrem: Casamentos a prazo.
Já consigo até vislumbrar todo um padrão familiar vindouro: Casamentos a prazo e filhos a crédito.

segunda-feira, setembro 24, 2007

A Disfunção Pública

Fala-se muito em desembaraçar o Estado do seu número excessivo de funcionários. Ainda há dias, na entrevista à RTP, o ministro das Finanças apregoava não sei quantas centenas de funcionários em rampa de lançamento para um qualquer limbo ou aterro sanitário.
É evidente que o Estado, na medida em que se tornou refém de seitas e receitas partidárias (e não só), descambou numa espécie de cancro maior da Nação. Brada aos céus de escândalo a quantidade de mamíferos que por lá se recreia e locupleta. Mas, a bem do rigor, convém que sejamos sérios na análise destes problemas. Por isso mesmo, compete que se diga, com toda a clareza, que se há algo excessivo no Estado Português, e há, esse excesso, essa demasia não reside certamente o número de funcionários. Pelo contrário, os funcionários, tal qual o país, são poucos para tamanho Estado. Relembro até que no tempo em que ainda existia um Império para administrar, o Estado era menos de um quinto do que é actualmente. O País diminuiu, mas o Estado aumentou. Significa que o Estado vive a parasitar a Nação. Essa, de resto, é uma lei antiga e fatal em toda a parte do mundo, só que entre nós ganhou foros de regabofe épico. Porém, repito, e por estranho que pareça, não são os funcionários do Estado os responsáveis por tão descomedida voragem. Acreditem, espantem-se, arrepiem-se, façam como entenderem, mas não são. Querem a demonstração? Aí vai.

Os funcionários do Estado, efectivamente, são poucos: os disfuncionários é que são muitos. Este detalhe é sistematicamente escamoteado. E não devia. Pelo contrário, devia constituir ponto de partida para toda e qualquer diagnóstico sério da epidemia. Como é bom de ver, existe a Função Pública e existe a Disfunção Pública. O país está todo ele disfuncional porque o peso da Disfunção Pública é esmagador em relação à sua congénere. Querem exemplos?
Na educação (que é igual à Saúde, à Justiça, etc): lá estão os funcionários - os professores e os contínuos; e lá estão os disfuncionários - os administradores, os burrocratas do ministérios, a pandilha das DREs, os sindicalistas, os inspectores da pevide, etc. Os professores - isto é, os funcionários - padecem concursos, suportam nomadizações, aturam os educandos das televisões e dos futebóis (e na hora de tocar píveas aos orçamento, vão de charola para o desemprego, ou nem de lá escapam); os disfuncionários ninguém sabe como ali vão parar, mas, uma vez lá catrafilados, uma coisa é sabida: nunca mais de lá saem. A missão dos disfuncionários é impedir que os funcionários funcionem. Quanto pior os funcionários funcionem, ou seja, quanto melhor disfuncionem, mais disfuncionários são precisos para analisar, perceber e engenhar soluções para a disfunção dos funcionários. Invariavelmente, os disfuncionários, após grandes marchas e serões forçados, autênticas maratonas de fazer corar um kafka, descobrem que há funcionários a mais. A coisa não está a disfuncionar como deveria e inicialmente era previsto (por eles, naturalmente). É preciso espiolhar, avaliar e descobrir quem teima em funcionar. E pô-lo no olho da rua. A disfunção Pública só tem e cumpre um dogma inexorável: o único problema, fonte de todos os problemas, é a escassez de disfuncionários e o excesso de funcionários. Essa lei única, soberana e absoluta deriva do facto de todo o disfuncionário ter sempre um familiar, amigo ou confrade cujo contributo é imprescindível para a Disfunção Pública. Toda a Disfunção Pública será sempre pouca. Tudo isto pode parecer absurdo, mas não é: é apenas perverso.
E a perversão imbrica na mentalidade assaz cavilosa mas típica do disfuncionário: está convencido que ele é que é o funcionário e que a Função Pública é uma disfunção. Traduzindo para o concreto: o Estado não existe para servir os contribuintes; os contribuintes é que existem para servir o Estado. A escola não serve para instruir, nem educar; os tribunais não existem para ministrar a justiça; os hospitais não estão lá para zelar pela saúde dos cidadãos. Não, tudo isto existe para os disfuncionários brincarem às reformas, às experiências, às cobaias com o dinheiro e o coiro alheios -isto é: para os disfuncionários perseguirem, torturarem e sanearem os funcionários. A seguir ao 25 de Abril, faziam-no em nome da higiene política, agora fazem-no em nome da higiene económica. Não tarda muito e será em nome da higiene sexual.
Por outro lado, logo que se apanha na Disfunção Pública, o disfuncionário adquire a firme convicção que não é condignamente tratado: o dever do Estado é promovê-lo e subsidiá-lo em todos os seus caprichos e mariscadas. E ele não está ali para outra coisa. Desata pois a disfuncionar com todas as suas forças. Sabe que quanto melhor disfuncionar, tanto maiores serão as suas chances. Quando não andam a perseguir, torturar e sanear funcionários, os disfuncionários conspiram, insidiam, manobram e intentam ultrapassar-se uns aos outros. O pior, invariavelmente, vence e adquire poderes, privilégios e prorrogativas acrescidos.
De tudo isto, com é facil de calcular, resulta um panorama deveras pitoresco:
Há todo um Estadão a cavalo na Nacinha. Compõem-no um número cada vez mais reduzido de funcionários e um número sempre crescente de disfuncionários. Os disfuncionários apregoam o "estado mínimo", ou seja, um número mínimo de funcionários que sustentem laboralmente um número máximo de disfuncionários. Bem como um número máximo de contribuintes que paguem ambos, claro está. A tarefa dos funcionários é canalisar as receitas dos contribuintes para os disfuncionários e carrear as directivas e receitas destes para o país. Não há qualquer exagero em dizer que os disfuncionários são parasitas compenetrados de todo o restante dispositivo: parasitam laboralmente os funcionários e parasitam monetariamente os contribuintes. Alcançamos assim a demonstração inicialmente requerida: na verdade, o Estado não tem funcionários a mais, até tem a menos: o que tem a mais, disparatadamente, é parasitas. Consequentemente, o que qualquer governo sério precisa de reduzir, com a máxima urgência, caso pretenda impedir o fatal colapso de tamanho rilhafoles e rilha-orçamentos, é, sem sombra de dúvida, o número de parasitas, não o de funcionários.
Cito um caso emblemático e verídico: fulano X trabalha no Instituto Y. Não tem mesmo feito outra coisa na vida nos últimos 25 anos. Desunha-se todos os dias executando as tarefas de três mais a chefe e a chefe da chefe. Atura, além do som ambiente do galinheiro, os ralhetes e os humores pré-menstruais (ou pós-menopáusicos) da hierarquia. Ciclicamente, ainda contempla, a cada fim-de-mês, a passagem do cometa Z, um assessor/avençado/ou lá o que é misterioso, que só ali passa para receber a renda choruda inerente à sua condição fantástica (uma entre várias, manantes de diversos institutos, direcções e empresas). Pois bem, o Instituto Y já se desembaraçou de diversos funcionários, mas os cometas, esses, prosseguem inexpugnáveis. Cometas, plural, digo bem, porque, entretanto, de um passaram a dois. Lá vão surgindo, todo o fim-de-mês. São aos milhares, às constelações por todo esse país desgraçado. Provenientes e ioiozantes das galáxias partidárias. Dos buracos negros clientelares. Vão acabar connosco se não acabarmos com eles.
Este postal é caótico e a raiar o alucinante, mas não me culpem nem refilem comigo. Limitei-me a transcrever o mais cruamente possível a realidade duma terra lançada aos bichos.

domingo, setembro 23, 2007

Da supra-essência



«Avram Grant sem qualificações».

Sem qualificações??!! Uma ova! Pois se ele congrega uma essência que, à partida, dispensa toda e qualquer qualificação na medida em que as contém implicitamente a todas: é israelita. Ora, ser israelita, nestes belos tempos, mais que habilitação, é licença universal (congénita e vitalícia). Tanto pode ir dirigir o Chelsea, como pilotar um Boeing, comandar um transatlântico ou administrar os Estados Unidos da América. Faz o que lhe apetecer, ora essa! Exerce onde lhe der na real gana, pois então. E são assim desde espermatozoidezinhos: ainda girinam nas bolsas seminais paternas, ou vadeiam pelas vísceras maternas acima e já uma panta-proficiência os credita, os corola e jubila. Já um poli-adestramento global os equipa.
Sem qualificações, a priminha! É preciso descaramento. Este anti-semitismo impenitente de certos media não tem emenda!...

sábado, setembro 22, 2007

A Cultura do Medo

A pedofilia é uma coisa asquerosa, mas com certeza não é por ser uma coisa asquerosa que os telejornais, jornais e demais media ultra-livre do nosso melhor dos mundos, pública e privada, nos últimos tempos, passam a vida a bombardear com ela a população. Uma verdadeira sulfatação em larga escala. E quem diz a pedofilia, diz toda uma série de sórdidos fenómenos associados, curiosamente, às criancinhas: o rapto, o infanticídio, a violação, a exploração laboral, o abandono, etc, etc. Liguem a televisão, em qualquer canal, à hora das sevícias, digo, notícias, e oiçam. E vejam.
A fazer fé nestes bons samaritanos da notícia, as criancinhas estão em perigo. De toda a parte, perigos e tarados espreitam, monstros afiam as garras e predadores sexuais aguçam a dentuça. E os maiores, mais infames e sinistros, acoitam-se nas próprias famílias das vítimas. Pais, avós, irmãos, a ala masculina em peso, urdem e babam-se à frente da manada demoníaca.
Por esta altura do campeonatao, as criancinhas estarão mesmo num beco sem saída: não podem já brincar na rua, porque uma horda de pedófilos, pedopatas e ogres maléficos as emboscam cá fora; nem podem, tão pouco, brincar em casa, porque uma seita de pedófilos, pedopatas e ogres maléficos as flagelam lá dentro. Além de brincar com computadores, zanzar em chats, palrar ao telemóvel com os amiguinhos e ver televisão nos intervalos das peregrinações ao McDonnald's, as criancinhas podem então o quê?
Eu diria, assim só para começar, que podem ter medo, muito medo, um cagaço dos diabos. Desde pequeninos, desde a mais tenra idade. Caso escapem ilesos do útero materno, masmorra cada vez mais inóspita e sujeita aos caprichos e fornicoques da castelã, é mais que certo que não apenas os cegam, acagaçam-nos à nascença. Isto é, não se contentam com envenenar-lhes os olhos do corpo, esmeram-se ainda em empeçonhentar-lhes os olhos da alma - em perverter-lhes a imaginação. Em estripá-los de toda e qualquer inocência.
Antigamente, os padres, de penas do inferno em riste, aterrorizavam-nos para lá da morte. Agora, os novos sacerdotes da opinião pública, os filhos da puta dos jornalistas, aterrorizam-nos para cá dela. O inferno já não nos aguarda sob determinadas condições: agora é a nossa própria vida e todo este mundo que são transformados num inferno garantido, não porque sejam de facto um inferno, mas por obra e graça do Novo-Verbo instalado. E façamos nós o que fizermos. Desde a hora da concepção até ao suspiro da Morte.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Critério engavetal





Olha, afinal, "discriminação racial" não é apenas mais grave e punível que violação de crianças: que roubo agravado, violação e sequestro de maiores também. Sobretudo quando praticado por estrangeiros. Até porque estar a encarcerá-los seria um acto de xenofobia descarada. Uma ilegalidade inadmissível!

quinta-feira, setembro 20, 2007

The Fog





É um rumor já com dois anos...

(...)
«According to OSCE, free speech on the Internet provides an unprecedented forum for purveyors of hate, i.e., those who criticize matters Jewish or homosexuality. Accordingly, B’nai B’rith has created the International Network against Cyberhate (INACH) to research and implement legal, political, and technological means to end the free speech of such “haters.” Such “haters,” of course, include the many free speech talk radio hosts who might criticize homosexuality or Israel or make use of the Internet to reach an international audience.
Of course, B’nai B’rith’s definition of hate is very different from everyone else’s. In the anti-hate bureaucracies which they are establishing throughout the world, “hate” equals “bias” against federally protected groups, especially Jews and homosexuals. Curiously, while ADL/B’nai B’rith has no problem with exercise of free speech by homosexuals and pornographers on the Internet, it has a huge problem with those who criticize homosexuality, the state of Israel, or matters Jewish.»

Para conferir se havia nisto alguma verdade, fui verificar se a tal OSCE existia...
Bem, não só existia, como na press release da home page se podia ler:

Mesmo em Portugal, este país de brandos costumes, o crime de "racismo" parece que já é mais grave que violar continuadamente crianças e acarreta penas de oito anos de prisão. Há qualquer coisa de muito turvo e nebuloso nisto.

A Trolharia ou o Cripto-feudalismo

Em 1935, a propósito dum "projecto de lei sobre Associações Secretas" apresentado por José Cabral na Assembleia Nacional, escreveu Fernando Pessoa:
«Começo por uma referência pessoal, que cuido por necessária, não dever evitar. Não sou maçon, nem pertenço a qualquer outra Ordem Semelhante ou diferente. Não sou porém anti-maçon, pois o que sei do assunto me leva a ter uma ideia absolutamente favorável da Ordem Maçónica.»

E mais adiante: "O camartelo do Duce pode destruir o edifício do comunismo italiano; não tem força para abater colunas simbólicas, vasadas dum metal que procede da Alquimia".

Ora bem, por especial deferência ao maior vulto das nossas letras, também eu principio por uma referência pessoal não menos incontornável:
Não sou maçon, nem católico, nem pertenço a qualquer ordem, religião, seita ou ideologia semelhante ou diferente. Não sou porém, anti-católico, como hoje em dia tanto está na moda, nem, tão pouco, anti-maçon, e passo a explicar porquê.
Pessoa recomenda que não se confunda Ordem com seita. E é esse quesito básico que cumpro. Não confundo uma associação de malfeitores, de ratões e nepotes sabujos - em suma, um grupo alta-recreativo e excursionista de Amigos do Erário Público - com uma Ordem Esotérica. De esotérico é que aquilo não tem nada. De espertalhão, de mafioso, de valhacouto, sim, tem tudo. Transborda. E o único segredo que cultivam é o que dá a alma não ao mistério, mas ao negócio. Refiro-me, como qualquer cidadão adulto na posse mínima das suas faculdades cognitivas já percebeu e facilmente constata dia-sim-dia-sim no sórdido presente desta terra lançada aos abutres, a essa coisa tumorosa e cancerígena que responde pelo pomposo título de Grande Oriente Lusitano. O próprio nome é sugestivo e apropriado: orientação não lhes falta. Julgo mesmo que não gastam a vida senão nisso: orientarem-se. Orientam-se pela medida grande. À grande e à francesa. Anda o país todo desorientado para que eles se orientem.
Não pensem, todavia, que é preconceito ou pura malevolência minha. Admito que existam Lojas da Maçonaria Regular por esse mundo fora que preservem uma qualquer seiva mística impoluta e perpetuem, sem verdete nem caruncho, essas "colunas simbólicas, vasadas dum metal que procede da Alquimia", conforme dizia Pessoa no seu artigo. Admito, sim senhor. Não me custa mesmo acreditar que nesses digníssimos tabernáculos se busca a compreensão, intuição, iniciação, ou o que seja, a sublimes assuntos e Obras transcendentes, já não falando no conhecimento taumatúrgico dos inefáveis projectos do Grande Arquitecto e outras subtilezas fascinantes que tais. Da Patagónia à Conchichina, não o duvido, devem abundar templos desses. Da Groenelândia ao Burkina Fasso, estimo bem que proliferem, em boa luz e harmonia. Não será mesmo por falta de filantropia tão proficiente que o mundo não pula e avança e, pelo contrário, a cada hora que passa, mais patina em bosta e chafurda em sangue.
Pois, é tal qual digo: por esse mundo fora, não hesito em reconhecer todo um vasto leque de possibilidades e prodígios, toda uma cintilante pletora de maravilhas e alambiques. Que, logo por azar, nunca penetraram em Portugal. Não penetraram nem medraram minimamente que se visse. Ou se penetraram, a semente em vez de se elevar do estrume, diluiu-se nele. Porque aqui nem vê-la, à excelsa e sublime Maçonaria. Aqui, aconteceu à Maçonaria o que aconteceu ao whisky e acontece a qualquer produto escocês: martelaram-na em caves turvas à beira Trancão. O néctar deu lugar à mixórdia. De maçonaria ficou só o invólucro, o rótulo e a rolha. Esfregue-se a lamparina e o génio que sai lá de dentro usa cascos e tresanda a bombinha fétida de Carnaval. Obra de pedreiros-livres? Será, não sei aonde. Porque, para cá da fronteira, nunca ultrapassa o esquema de trolhas e mestres-de-obras, agência e gardanho de empreiteiros à rédea solta.
Operam na penumbra? Cavilam e zombam do cidadão comum? Corroem e carcomem os alicerces da democracia? Minam a credibilidade das leis e dos tribunais? Usurpam a putativa soberania popular?
Serei o primeiro a insurgir-me contra tais fábulas. Como é possível carunchar os alicerces de algo que nasce, emerge e viceja da podridão? Como é possível minar um queijo-suíço? Como é possível usurpar uma fantasia?
Por tudo isso, acusar esta seita mascarada -esta Trolharia - de conspiração ou cabala é a anedota mais estapafúrdia que ouvir se pode.
Por uma evidência escancarada: não atentam contra o regime: exercem-no, vistoriam-no, supervisionam-no. Não conspiram, governam. Melhor dizendo: governam-se. Que nem lordes, que nem abades!...

quarta-feira, setembro 19, 2007

Uma questão de pontuação

Algures, abrasado pela tremenda e infindável discussão, o marido decidiu pôr cobro à mesma duma forma rude, firme e peremptória: sacou da pistola e abateu a outra parte, por acaso sua esposa, com três tiros irrefutáveis.
Mais tarde, já no julgamento, o juiz, indignado, interrogou-o em tom áspero:
- Se queria pôr um ponto final na discussão, não tinha uma maneira menos selvática? Responda-me: acha que isto são modos de se colocar um ponto final numa discussão?
O réu, acabrunhado e devastado pelo remorso, mas amigo do rigor, achou por bem contestar:
- Na verdade, meritíssimo, se bem recordo a gramática, não foi um ponto final...
- Não foi um ponto final? - insurge-se o magistrado. - Abate a mulher com três tiros e acha que não é um ponto final?!..."
- Pois, bem vê, excelência... - contrapõe ele. - É como diz, foram três, nem sei o que me deu. Mas, por isso mesmo, não foi ponto final: foram reticências!..."

Aquilinadas 3

Já que o Panteão Nacional parece funcionar em regime de sucursal do Tavares Rico (pastam no Tavares e vão pernoitar ao Panteão), sugiro que reservem já a mesa, digo a urna, para o Saramago.

Sexofrenia galopante

Depois da escola, a educação sexual chega ao infantário. Como podemos ler no Vessas, na Alemanha, a pedofilia ganha toda uma nova dimensão familiar. É de ler e vomitar por mais.

Aquilinadas 2

O Aquilino, partam-no aos bocadinhos e metam-no no Panteão, no Parlamento, nos Jerónimos, na Batalha, em Sarça Ardente, metam-no onde muito bem quiserem. Até num certo sítio que eu não digo. Escusam é de insultar a Língua e a Literatura Portuguesa no processo. Acabo de ouvir o Baptista Bastos proclamar, naquele seu jeito característico, que o Aquilino é muito maior que o Camilo. É o mesmo que dizer que o anão às cavalitas de outro é maior que esse outro. Ou então, analogia ainda mais fidedigna, que a caracoleta a babejar labirintos em cima do chapéu de um cavalheiro é mais alta que o cavalheiro.
País de pigmeus, hienas e comadres!...

Aquilinadas

Da maneira que isto vai, o Panteão começa a ser exíguo: o melhor mesmo é erigirem um santuário personalizado.

terça-feira, setembro 18, 2007

Lavado seja o Doutor

Ainda há bem pouco neste mesmo blogue tive vários desfiles e outras tantas manifestações duma récua de histéricos que, diante da mera alusão a África ou a qualquer tema relacionado, desatavam automaticamente aos guinchos, aos urros e a espumar pela boca. Poderemos acusar estas criaturas de tudo, menos, seguramente, de incitamento ao racismo. Qualquer pessoa com os alqueires bem medidos, só de escutá-los, só de topar-lhes o escarcéu, desata instintivamente a simpatizar com os pretos todos do planeta, mesmo sendo os pretos do planeta tudo menos simpáticos. Eu, que sou de extremos, tratei até de ir logo mais longe: dei comigo a apreciar a inteligência e a racionalidade dos chimpanzés.
Significa isto, sem qualquer espinha, que skinheads, higiénicos raciais e outros ranchos folclóricos que tais, a serem alguma coisa de efectivo, é aliados convenientes dos promotores internacionais da mestiçagem, da amálgama, isto é, da uniformização global. Não existe maior ruína e perigo para uma causa que um mau defensor da mesma. Se é a raça branca, nos seus diversos cambientes e modalidades, que apregoam defender, não é certamente dando uma miserável amostra da mesma que o alcançam. E se pretendem afrontar uma qualquer putativa escumalha, também não é certamente comportando-se como outra que o conseguem.
Então não existe incitamento ao racismo? Existe, ah, pois existe. Existe e de que maneira!
Começo por um exemplo trivial e blogosférico:
O Pedro Arroja, convencido que habita um país onde existe liberdade de expressão, escreveu determinadas opiniões suas num blogue de referência. Um dos resultados foi este, e cito "Quero ter a certeza de que não tenho links a blogues racistas, misóginos, machistas e anti-semitas. Assim, por precaução, vou retirar o Blasfémias da minha lista de preferências, pelo menos enquanto lá escrever Pedro Arroja".
É evidente que o esquisitinho que escreve isto está no seu pleno direito. Sabemos até no que deu. Mas não é menos verdade que qualquer homem inteiro, adulto e vertebrado que leia uma mariquice destas adquire de pronto, não só um nojo insanável pelo filisteu sonso, como a vontade de ir ser racista, misógino, machista e anti-semita o mais depressa possível. Estes higienistas da política, esta choldra do políticamente correcto, do ai jesus não me toques que me desafinas, esta mediocridade mental que enloda o país constitui, de facto, um incitamento violento e premente ao racismo (já não falando no resto). Do mesmo modo que diante dos higienistas raciais, desatamos a simpatizar com os pretos, amarelos e azuis às riscas; diante deste higienistas políticos, damos connosco a apreciar, pasme-se, os skinheads, os identitários, os sultões, os barbas-azuis e até os antropófagos do Bornéu.
A blogosfera está infestada de escória desta: higienistas. Políticos, raciais, sociais, religiosos, há neurose e paranóia para todos os gostos. Catadores púbicos a esmo. Patrulheiros da última moda, da penúltima e até duma moda qualquer fora de moda. A mim fica-me apenas uma certa pena que, quando me retiram os preciosos linkes, não emitam também estas declarações solenes. Há todo um orifício obscuro no fundilho das costas deles onde, desde logo, recomendaria que os enfiassem. Aos linkes junto com as proclamações.
Mas a blogosfera é só uma pequena montra do país. E neste, os incitamentos ao racismo são ainda mais imperativos. Tanto quanto insidiosos.
A política selvagem e indecorosa de imigração que, desde o Cavaquistão, por cá se pratica é campeã nisso. Houve toda uma chusma de eleitos que fez fortuna com os Fundos da CEE. À custa de duas coisas principais: esquema político-partidário e mão-de-obra semi-escrava. Portugal tornou-se, assim, o paraíso dos trolhas. Importaram-se africanos e eslavos em catadupa. Naturalmente, quanto mais ilegais, melhor. Em seguida, para sobremesa, aterrou o conceito peregrino da Globalização. Consiste em competir com a China, a Índia e outros insectódromos catitas. Resulta numa manigância muito jeitosa: como eles têm mão-de-obra ao preço da uva mijona, a Europa, para poder competir, tem que ter mão-de-obra ainda mais baratinha. Desceu-se assim um novo degrau: da mão-de-obra semi-escrava para o trabalhador descartável. Dantes era usar o mais possível ao mais baixo custo possível; agora é usar e deitar fora. E como há excesso de oferta, porque o mercado está articialmente inflacionado com as descargas permanentes de migração e imigração (e há bichas imensas lá fora no Terceiro Mundo, à espera), usa-se o menos tempo possível. Bem vindos à idade das sucatarias humanas!... Ora, o que resulta da sucataria humana é, entre outras coisas, racismo - dos que lá moram despejados ( pretos e brancos, mulatos ou ciganos), e dos que lá moram ao pé ou com eles se cruzam, porque ainda não agenciaram carcanhol suficiente para se irem fortificar em condóminos distantes, à bela maneira dos Novos-Brasis. Assim como aos nossos higienistas raciais só faria bem uma estadia em África, aos nossos higienistas sociais e políticos ainda faria melhor uma estadia na Damaia ou no Cacém. Senão num muceque de Luanda, sala de embarque destes.
Outro incitamento metódico ao racismo é a bandalheira instituída que se vive no país em matéria de educação e segurança. Descrito sucintamente: o país já tem lúmpens em abundância, em excesso mesmo, pelo que não precisa de importá-los de África; o país, de facto, já possui um sistema (des)educativo que nos últimos anos vem transformando, industrialmente, brancos em pretos. Ora, se tem um fabrico nacional de pretos, estar a importá-los atenta contra a principal indústria da nacinha. Além disso, os pretos importados depois reproduzem-se e os filhos daí resultantes, ao engrenarem no tal sistema (des)educativo, resultam em verdadeiras aberrações - já sendo pretos à entrada, não se percebe bem no que derivam à saída. A máquina, já de si perversa, confunde-se, range nas engrenagens e entra em colapso. No geral, lá acaba por golfar uma surrapa americanizada que, em demasiados casos, merecia a devolução simples e expedita à "Mãe África", não por avião como alvitram alguns, mas por catapulta simples. Pelo menos era o que eu faria a qualquer cantadeiro de rap-hip-hop. Entretanto, de toda esta balbúrdia superlotada, como é bem de ver, resultam conflitos inevitáveis: os pretos de fabrico nacional espingardeiam com os pretos de importação; os filhos de uns e outros competem e digladiam-se pelo domínio das discotecas, danceterias, shopping-centeres, drugstores, ginásios e outros locais de culto.
No entanto, se levarmos em conta que a tutorar o sistema de (des)educação e a supervisionar o dispositivo de segurança estão as televisões, porta-vozes e mandatários da Deusa Publicidade e do (duplamente) Santo Hollywood, nada disto é espantoso. Pelo contrário, tudo parece obedecer a um caos planificado. E mesmo a justiça do tipo sumário, o receituário drástico de supetão acabaria enrodilhado num paradoxo incontornável: ainda que recambiássemos a toque de caixa a lumpenagem estrangeira, continuaria o país submerso na lumpenagem nacional, com a agravante do fabrico desta se concentrar nas incubadouras partidárias e infestar já, em regime de gangrena, as próprias estruturas da Administração Pública e do Estado.
Neste naufrágio colectivo, a aberração banaliza-se. O incrível ganha foros de rotina. E a higiene política patrocina toda a espécie de imundícies de ocasião.
Num desses episódios mais recentes, a pretexto de mais uma reforma peregrina, a esbirraria da república alivia da hospedagem forçada nos seus cárceres violadores de crianças e, para compensar, engalfinha-se selectivamente contra perigosos skinheads e outros pecadores desobedientes ao credo dominante.
Mera prepotência. Os maiores praticantes e promotores de racismo e de incitamento ao racismo neste país -o Estado e a gentalha que o ocupa -, não têm moral para acusar ninguém desse delito. Mas como a moral dispensam e a vergonha nem conhecem, toca de dar ao trampolim. E o resultado é este: a principal causa vinga-se no mero efeito de que não gosta. Quer desembaraçar-se do filho ilegítimo, acidental e infamante. Disfarça a paternidade, punindo o indesejado.
Que fossem justos, já ninguém fora da gafaria esperava. Mas, se a mínima castidade já não guardam, guardassem ao menos a verosimilhança.

segunda-feira, setembro 17, 2007

A Conversa



Acta da conversa entre o Engenheiro Ildefonso Caguinchas e Anacleto Punhetas, sócio e mecenas do primeiro, decorrida numa destas manhãs, na tasca, digo cibertasca, do Armindo Taberneiro.



Eng. Ildefonso Caguinchas (EIC) - Ó Punhetas, a televisão 'tá a dar cabo de ti. Cada vez te vejo mais chupadinho das carochas. Até pareces aqueles chavalos que dão no pó..."
Anacleto Punhetas (AP) (de olhos fixos no ecrã) - Ãh, é o quê, ó Engenheiro?...
EIC -" 'Tou preocupado contigo, ó Punhetas. Não largas essa droga!..."
AP (a babar-se) - "Tu já me viste bem aquela Sónia Araújo? Aquele par de mamas?! , até me apetece uivar! Espera só aí um coche que eu já venho. "
EIC (murmurando com os seus botões) - "Pronto, lá foi o sacana prá casa-de-banho!"
(...)
Três minutos depois...

AP (Regressando do WC, com ar mais aliviado) - "Dizias tu, ó Engenheiro..."
EIC - "Eh pá, dizia que a televisão 'tá a dar cabo de ti. Ainda ficas estrabeculoso. Vai daí, tens que ser internado e depois quem é que me paga o aluguer da Carla, hein, já viste bem o problema?... Andas a brincar com coisas sérias!..."
AP (novamente atracado ao ecrã, após zapar para a TVI) - "Minha nossa senhora!, e aquela chavala que trabalha com o Gouxa também não é nada má. Já me viste bem aquela boquinha? Aquilo deve fazer maravilhas! Até levanta um morto do caixão!... "
EIC - "Oh pá, larga o caixote! Presta atenção no que te digo..."
AP (novamente em êxtase) - "Só de imaginar as habilidades do que aquela língua é capaz!... Ih, e agora até lhe morquei a nalga!... 'Péra aí um bocadinho qu'eu já volto!..."
EIC (exasperado) - Olha...lá desopila de novo aquele filho da puta prá casa de banho!... Foda-se, já não é vício: é tique.
(...)
Passados cinco minutos ...
AP - Pois dizias então tu, ó Engenheiro...
EIC - Digo e não volto a repetir: isso é um suicídio! Vais-te matar a tocar punheta, raio de vertigem!..."
AP (zapando para a RTP) - Minha mãezinha... olha-me só aquela convidada da Sónia, olha-me só aquela tranca! E o pernão...ena, c'um raio, o pernão!...""
EIC (arrancando-lhe o telecomando das mãos) - Dá-me cá essa merda! (Apaga a televisão) Pronto! Agora vais ouvir concentrado duma vez por todas: tens que largar a puta da televisão, ouviste?
AP - Ouvi, porra, atão não ouvi!... 'Tás-me aí aos berros que até se ouve na Picheleira."
EIC - "Pois, ainda bem. Então vê lá se entendes: tens que comer menos puta artificial e mocar mais puta natural, percebes? Resumindo: tens que comer mais puta gaja e menos puta imagem! 'Tás-me a acompanhar?..."
AP - "'Tou-te a acompanhar, mas tenho receio."
EIC - "Tens receio de quê?"
AP - "Tenho receio de te acompanhar às putas gajas."
EIC - "Não tenhas. Elas não te comem. A ideia é que tu as comas a elas."
AP - "Não tenho medo que elas me comam, isso até nem me importo. Tenho medo é que elas se riam?"
EIC - Oh pá, g'anda anjinho: elas riem, choram, cantam, gemem, fazem o que tu quiseres. Desde que pagues..."
AP - "Não é isso, engenheiro: tenho medo que elas se me riam da pila.."
EIC - "Do quê?"
AP - "Da pila."
EIC - "Da pila?!! Que merda vem a ser essa?..."
AP (apontando) - "Aqui, do entrepernas!..."
EIC - "Ah, a piça, o marzápio, o Zé Pincel! Que tem ele? Não me digas que, de tanto pinar o ecrã, apanhaste um tele-escantamento?!..."
AP - "Não. Dá-se o caso é que tenho a pila -a piça, curta."
EIC - "Ora pá, não t'assustes. Antes a piça que a memória, como estes toca-pívias d'agora. Não tem problema. Sei do sítio ideal... A matrona, antigamente, era dona dum circo, uma calmeirona loura que se péla aqui pelo je. Nem é tarde nem é cedo: logo à noite vamos lá."
AP (apreensivo) -" Vamos?... E achas que a calmeirona não desata a rir?..."
EIC - Não, pá. Tranquiliza-te: a calmeirona fodo eu..."
AP - E eu?
EIC - "Então, tu fodes as anãs."

Mais banalidades, não.




Quando escutei o rumor de que o primeiro-ministro português tinha cometido algo de singular e emocionante na capital americana, corri a ver do que se tratava. Afinal, era o mesmo jogging de sempre. Até já enjoa. Ainda tive esperança que, desta vez, para benefício de todos nós, fosse "hara-kiri"...

Aprender com quem sabe

Ao contrário das prima-donas do futebol, os rapazes do râguebi estão ali para levar porrada sem queixume nem lamúria. É preciso tomates para enfrentar aquelas bestas da Nova Zelândia. É, sim senhor. "É preciso muita coragem e vontade de pará-los, não é fácil metermo-nos à frente deles", confirma um dos nossos valentes. Merecem o nosso orgulho, estes "Lobos".
Mas, como sempre, somos um país que se menospreza e esquece o seu património. Ao que sei, andaram eles a preparar-se para o Mundial na pista de lodo, da Escola de Fuzileiros. Mas isso é escasso, como de resto se comprova. Deveria ter servido apenas de aperitivo. Onde eles precisam mesmo de treinar é nas arenas de touros. Vão aprender com os forcados. Um povo que pára toiros a peito descoberto, pára um cabrão qualquer.

Num próximo postal, ensinarei como se atropela os gajos.

domingo, setembro 16, 2007

Coisas que Abril Pariu

Como já tive oportunidade de dizer a um deles, e confirmo a cada nova mensagem que me fazem chegar, os nacinhalistas têm um conflito maior com a Língua Portuguesa do que com a imigração estrangeira (passe a redundância). Suspeito que tem a ver com a melanofobia (a aversão ao preto) que os aflige: Tudo o que seja preto complica-lhes com o entendimento, curto-circuita-lhes a mioleira. Seja primata, seja letra. Mas a letra ainda pior que o primata. De facto, superior à sua higiene racial só mesmo a sua iliteracia. Que não entendam patavina da mancha negra que lhes ameaça os horizontes, não me surpreende; agora que não percebam népia do que eu escrevo, deixa-me triste. Meditabundo.

Isto transporta-me a um outro considerando de ordem filosófica: hoje em dia, mais alarmante que o excesso de estrangeiros em Portugal (isso, mais ou menos drasticamente, sempre se resolve) é a escassez de portugueses.
Como se já não bastasse nascerem cada vez menos, são cada vez mais os que não chegam portugueses à idade adulta. E não é só a Língua que maltratam, ignoram e alarvemente tripudiam: é, pior que isso, a História. Até apetece mandá-los (dito à brasileira) ao Abriu que os pariu.

Justa Trasladação

«Por decisão do Parlamento, os restos mortais de Aquilino Ribeiro (1885-1963) serão trasladados do cemitério dos Prazeres para o Panteão Nacional».

Há quem se insurja contra isto. Compreendo o mal-estar. Eu, porém, se acho que peca é apenas por escasso. Direi mais, se houvesse uma nesga de elementar justiça nesta terra, não era apenas os restos mortais de Aquilino que mereciam ser trasladados, já hoje, para o Panteão. Os restos de todo o Parlamento e da inteira e actual classe política, com retroactivos à segunda geração, mereciam idêntica consagração simultânea. Isso é que havia de ser cá um progresso nacional, uma apoteose, uma festa!... Vão-me dizer que não cabia lá tanta urna. Bem, na urna ia o escritor. O resto armazenava-se num cinzeiro.

sábado, setembro 15, 2007

A raiz do fantasma

Tenho um sinónimo porreiro para mestiço: urbano.
A cidade é o local por excelência da mestiçagem. A fusão viceja na confusão. Que é sempre mental antes de se tornar sexual.
A um tipo do campo, a um homem não desterritorializado, não lhe ocorrem angústias com a raça: respira-a, vive-a, aceita-a tal qual a recebeu dos pais. Não se sentindo sujo nem contaminado, ou ameaçado disso, não o perturbam neurosas obsessivas com a higiene racial. A higiene, de resto, nunca foi uma compulsão rural. Sem a cidade, sobretudo na sua dimensão moderna, nunca teria havido nem a paranóia abstergente nem a própria psicanálise.
Ora, há um local específico da cidade moderna donde brota, histórica e invariavelmente, quer o desejo de purificação, quer a vontade de contágio: o Gueto.
A judaização prolifera por onde só os entretidos e incautos menos esperam.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Monasticismo rigoroso

O voto mais nobre do monge guerreiro é a pobreza. Já o do monge guerreiro e putanheiro é a penúria. E o arrostar titânico duma dupla e ingrata tarefa: o de lutar contra monstruosos escarépios na cabeça alheia e, às vezes, na cabeça da própria pichota.

O poder da sugestão estética

Clive James, que não sei quem seja, diz de Humphrey Searle, que também não conheço de lado nenhum, que, e passo a citar, «escreve música que soa como um tema do filme "Star Wars", tocado da frente para trás por uma máquina de lavar.» E eu, não obstante, quase instantaneamente, sinto-me inclinado a acreditar. Parece-me até um risco menor do que experimentar ouvir a música de Searle.

À falta de napalm

Está na hora de acabar com o recreio.
Dizia o Almada que se o "Dantas é português, eu quero ser espanhol". Sigo a metodologia para esta bosta mal cheirosa que se auto intitula "identitária" e é simples:
Se esta coisa é anti-católica, eu quero ser católico; se é anti-tradicionalista, eu quero ser tradicionalista; se é anti-imperialista, viva o Império!; se é anti-colonialista, abençoado colonialismo!; se é anti-salazarista, eu quero ser salazarista, salazarengo, salazarão!; se é democrata, eu quero ser ultra-fascista; se é anti-globalização, então a globalização, afinal, até deve ter um monte de virtudes; se é contra o sistema, eu quero ser do sistema, o mais possível, se me deixassem até ia já candidatar-me à polícia de Choque! Se é isto ser branco, antes ser preto, é mais honesto! Se são estes os neorevolucionários do balde e da lixívia, não estou, fui às putas desforrar-me nas mães!
Em resumo, o que quer que esta bosta mal parida seja, eu quero estar nos antípodas. O mais longe possível.
Todos os insultos e injúrias oriundos de porcaria deste quilate serão para mim encómios, elogios, coroas de glória. Entre isto e o Bloco de Esquerda, não reconheço diferença rigorosamente nenhuma. A estirpe é a mesma: a estirpe dos filhos da puta!... Uns a lamber os pretos, outros a cuspi-los, mas lá no fundo todos a trabalhar pró mesmo. Todos à cata do voto ao otário. A semear discordiazinhas de cabeleireiras, cismazinhas de varinas, assuadas de matilha rafeira. Vermes de caixão, caruncho da raça, epígonos do refugo de Alcácer-Quibir! Apenas com a diferença que os Bostas de Esquerda são ligeiramente mais inteligentes. A distância que vai do protozoário à lesma.
Registem lá isto na cassete zombi que vos serve de mioleira, ó cagalhões, para que fique bem claro: eu, César Augusto Dragão, à falta de napalm, escarro-vos em cima.
Estamos conversados.

PS: Censura? Repressão? Tanta quanta possa, podeis ficar seguros. Só pela volúpia de vos ouvir chiar. Mas será sempre escasso, ficará sempre aquém do merecimento: empalamento é que vos ficava bem.

PS2: Em todo o caso posso ponderar publicação de arrotos, desde que iniciados por "Meu Fuhrer" e terminados com "A Bem da Nação".

Lusofobia

Em resumo, o Nacinhalismo é lusofóbico.

quinta-feira, setembro 13, 2007

A Nova matemática

«Criado sistema matemático que permite prever conflitos mundiais».

Faz imenso sentido. Até porque a aprendizagem da matemática está cada vez mais conflituosa. Tanto que, por via das novas pedagogias, a tendência até é para substituir a máquina calculadora pela pistola, pela matraca ou pelo facalhão.
A multiplicação de problemas, a adição de substâncias, a divisão de espólios e a subtracção de colegas consubstanciarão o figurino da nova tabuada.

Pontinho da situacinha (jardim)

Do que vou aprendendo nas catadupédicas prelecções:

1. A nacinha, além de todas aquelas liliputices estupendas que a compõem, usufrui também dum fenómeno esotérico a que poderíamos chamar "nacinhalismo".
2. O nacinhalismo, se bem percebo, é assim a modos que um «saco-de-gatos, num ghetto voluntário, a catar pentelhices e a reciclar Lenine.»

Não perca os próximos episódios.

Haja fé, haja esperança

Mas calma, nem tudo está perdido. Isto não é nada de sério, é apenas um blogue. Dum reles e ordinário cidadão deste país, também ele reles e ordinário, cada vez mais reles e ordinário, num planeta a virar hospício.
A última coisa que eu gostaria de causar era dúvidas, angústias ou sequer raivinhas. Ainda menos colapsos nas fantasias. Então aí é chão sagrado. Se o homem não tem direito à sua fantasia, não tem direito a nada. E a fantasia é como o sexo: há quem goste individual e há quem goste colectivo, em manada; há quem goste natural e há quem aprecie esquisito, até aberrante. Há até quem ache o aberrante perfeitamente normal. A política, de resto, está cada vez mais parecida com a perversão sexual. Suspeito que se tornou mesmo um departamento seu.
Uns fantasiam com o dinheiro e dizem que é o Mercado; outros fantasiam com a Classe e dizem que é a Revolução ; outros fantasiam com o sangue e dizem que é a Raça ou a Estirpe; outros fantasiam com a razão e dizem que é a Ciência; outros fantasiam com Deus e dizem que é a Igreja; ou dizem que é o Povo Eleito; outros fantasiam com o sexo e dizem que é o Prazer; enfim, há fantasias para todos os gostos e feitios.
Zangam-se comigo quando descobrem que eu não estou lá, a participar na fantasia, a remar com o grupo, a cantar no coro. A deslumbrar-me e a extasiar-me com a fantasia. Mas o que se passa é que, mais alto que qualquer fantasia, há esta minha fobia: a rebanhos. Seja na qualidade de ovelhinha, seja na de cão, seja feito pastor, abomino rebanhos. E o que mais vejo é gente arrebanhada. Gente a clamar pasto e curral a crédito. Isso e carneiros arvorados em alcateia. Ou em bando de salteadores nocturnos.
Não ponho, todavia, minimamente em causa a excelência da fantasia de cada qual. Não me parece que fazer dogma da Raça seja mais estúpido que erigir axioma do Mercado. Ou da Classe. Ou da Razão. Nem menos, tão pouco. Sou, e dei provas disso, o primeiro a insurgir-me contra a discriminação que se faz aos neonazis, como se fossem uns monstros únicos, como se fossem imensamente distintos de qualquer neoliberal, comunista, cientista, socialista ou democrata-novo da paróquia. Por amor à verdade e à franqueza, devo dizer que não distingo grandes diferenças essenciais entre todos esses devaneios. Toda essa gente devia congregar-se em parlamentos, esses asnódromos de eleição, a derimir e a comparar taras e baboseiras. A gritar e a barafustar contra as florestas de pentelhos que lhe envenenam os horizontes. Local mais apropriado para essas ganas e aleives não vislumbro. Os maníacos, desde que devidamente parqueados, até se tornam pitorescos.
Mas, como digo, nem tudo está perdido. Tenham fé. Hei-de regenerar-me um dia destes, hei-de corrigir-me e aderir a uma qualquer moda catita, de casino ou vão-de-escada. Até já sei como, só ainda não reuni coragem. Mas mal ela advenha , vai ser trigo limpo farinha Amparo:
Arranjo uma tômbola e coloco lá dentro várias bolas numeradas, cada número correspondendo a uma fantasia - por exemplo, 1. Mercado; 2. Classe; 3.Raça; 4.Ciência; etc. A tômbola ou um sistema de rifas. Depois é só sortear. O resultado é irrelevante: aquilo vai tudo dar ao mesmo.
Uma vez bem sorteada e rifada a fantasia, abalançar-me-ei ao segundo passo necessário: uma lobotomia. Daquelas permanentes. Confesso: é esta parte que eu ainda tenho alguma dificuldade em confrontar. Agora já há métodos psicológicos, químicos, musicais, já nem requer dissecações ou cirurgias, eu sei. Mas mesmo assim...

quarta-feira, setembro 12, 2007

Os Prolários

Ao ritmo a que os telejornais, com requintes de circo, exibem criancinhas mortas, extraviadas, torturadas e brutalizadas pelos progenitores naturais, não tardará muito que estes sejam dados como factores de elevada ameaça e risco para a sua própria prole , passando a criação e educação desta, à semelhança de certas repúblicas utópicas, para o cuidado obrigatório de profissionais do estado – (de)formadores devidamente qualificados e standardizados. Os pais, aqueles que não estejam emigrados e ainda se interessem, poderão visitar os aviários, aliás, prolários durante o fins-de-semana.
E assim se desmantela de vez o último entrave da trilogia nefasta e malfazeja: a família.

A Alarve milagre

Subestimamos muito as seitas. Menosprezamos todos esses bufarinheiros da fé, almocreves da devoção de esquina e druidas de vão de escada. Depreciamo-los, acreditem, a todos esses possessos assanhados que grunhem receitas e panaceias pelas feiras; que resolvem cancros às três pancadas e descobrem maus olhados pelos cruzamentos. Não damos, definitivamente, o devido valor às suas mézinhas e poções. Aos seus diagnósticos e unguentos. Sim, ninguém duvide, bruxos, adivinhos, pregadores e vendedores da banha da cobra, por incrível que pareça, têm os seus méritos. Donde menos se espera, o milagre desabrocha. Eclode. Sou testemunha e, mais que testemunha, prova dessa faculdade taumatúrgica absolutamente insuspeita. Mas pródiga.
Distinguido, nestes últimos dias, pela pregação frenética, babosa e gafanhotante dum desses símios peregrinos - um tal Caturro, Vidente da Brandoa -, eis que o inesperado -mais: aquilo que já toda uma cultura julgava impossível - irrompe: a minha conversão ao catolicismo. Estupefactos? Não vos estupefareis sozinhos: até o apocalipse estremece e pasma. Aquilo que hordas de padres e um Vaticano completos, santos e ascetas de dois mil anos, não haviam conseguido, ele, abençoadinho, com meia dúzia de ranhosices mal atamancadas, consegue. Consegue e realiza nas calmas, pois, mais que católico, eis-me beato instantâneo e papa-hóstias efervescente. Neste momento, descalço, de bastão e farnel, até já palmilho direito a Fátima, mirando com ar guloso os mosteiros pelo caminho. A Opus Dei, essa, quase aposto, celebra vitória e instaura feriado nacional de Espanha.
Mas não satisfeito com este fulgurante portento, o destemido e proficiente mago alcandora-se a proezas ainda mais trepidantes: eis-me também tradicionalista dos quatro costados e salazarista devoto. Bastaram umas tretas de perlim-pam-pum e um toque de varinha mágica. Nunca esquecendo a aspersão miudinha de gafanhotos da cobra, que mal nos tocam logo nos redimem e transfiguram. Cuspinha-nos e cura-nos, meus irmãos. Remédio santo! Ah, isto já não é apenas milagre: é transmutação inefável, transmigração da estirpe.
Razão têm aqueles que vaticinam: "Deus opera por misteriosos caminhos".
O milagre, porém, nem sempre é suave: às vezes, também é alarve. Javardo até.

terça-feira, setembro 11, 2007

História portuguesa X

A cena é verídica e passa-se nos arredores de Lisboa. Num daqueles subúrbios onde filhos de famílias disfuncionais, pretos e brancos, são criados em conjunto, à rédea solta.
Calhou que um grupo de amigos de infância, dois deles pretos, alcançaram a adolescência. Um belo dia, um dos brancos descobriu que era nazi, no que os outros, por espírito de bando, prontamente imitaram. Ei-los todos de suástica ao peito (passe a expressão). Os pretos, que eram irmãos, também. E com tal entusiasmo que, prontamente, foram grafitar nas paredes lá do prédio:
"Morte aos pretos! Excepto o meu irmão e eu."

PS: Non est inventus.

A Ferramentazinha

Realmente, o português dá muito trabalho. Nada como optar por uma língua mais simples. E já que a ideia é mesmo, no futuro, isto acabar tudo aos guinchos, o inglês não deixa de ser meio caminho andado. Darwin, de resto, tinha razão. Só que viu a coisa às avessas: o macaco não é o antepassado destes tipos: é a meta final.
E tem outra vantagem para os miúdos, isto do inglês: quando atingirem a idade mercantil, podem emigrar com muito maior facilidade. Já vão mais adestradinhos. Já levam com eles a ferramentazinha.
Lembra-me aquela pilhéria que se conta, a de que os capitalistas acharam por bem promover a alfabetização das massas para que estas pudessem ler os jornais e assim serem mais facilmente manipuladas e coduzidas, ou seja, enganadas. Si non é vero... Pois bem, assim ficam habilitados a ler mais jornais.

Pergunta de algibeira

Qual foi pior: andarmos a colonizar Áfricas, Brasis e Índias, ou deixarmo-nos colonizar por franceses, ingleses, soviéticos, americanos e, agora, até espanhóis?...

O caminho da servidão

«Manuais escolares caros levam políticos a sugerir empréstimos».

Quer mandar os seus filhos para a escola?
-Fácil, peça um empréstimo.
Quer ter uma habitação, que a Constituição lhe garante ser um direito?
- Fácil, peça um empréstimo.
Precisa de fazer uma operação?
- Fácil, peça um empréstimo.
Quer recorrer à Justiça?
- Fácil, peça um empréstimo.
Quer ter uma família?
- Fácil, peça um empréstimo?
Quer suicidar-se?
- Fácil, peça um empréstimo.

É a nova escravatura light, o neofeudalismo dos servos do globo: os portugueses de fracas ou medianas posses estão a ser vendidos à banca.

Inducação com Todos

«Segundo os dados do balanço do primeiro ano lectivo de funcionamento da linha "SOS Professor", criada há um ano pela Associação Nacional de Professores (ANP), há vários casos denunciados de encarregados de educação que agridem professores»...

Devagar, mas isto vai lá. Começa, finalmente, a notar-se um certo laivo de organização. Uma vontade de ordem. Qualquer coisa como uma pirâmide. Ainda que invertida, uma pirâmide é melhor que nada. Já é qualquer coisa... Os filhos batem nos pais, os pais agridem os professores e estes arreiam na ministra e naquela choldra toda de burrocratas ministeriais que gravitam em redor desta. Trilogia perfeita, como se vê. A questão que se coloca é "estão à espera de quê, ó senhores professores, para irem encher o cabaz à ministra?"

segunda-feira, setembro 10, 2007

Igualdade eficiente

Nestas sociedades democráticas modernas onde nos apascentam, falar em igualdade dos cidadãos perante a lei começa a soar a anedótico. De facto, se alguem pensa seriamente em acautelar o futuro e em consignar um mínimo de decência jurídica, então o que cumpre exigir é igualdade perante a Comunicação Social. Porque é ela quem faz a lei? Pior: porque é ela quem faz e desfaz o mundo onde essa lei se aplica.

O Criador e as criaturas ou O Génesis recalcitrante




A propósito disto e disto, convém dizer o seguinte:

A blogosfera, só para citar o departamento da internet que maiores azias parece ciclicamente gerar, é, em Portugal, um produto e um reflexo da sociedade portuguesa actual. E, assim sendo, é natural - e fatal - que fervilhe de troca-tintas, medíocres, falsários, poltrões, sicofantas, sabujos, toinos, velhacos, tartufos, rançosos, ciumentos, manteigueiros, garganeiros, vira-casacas, mainates, badamecos, manhosos e rapa-tachos. Isto, já não falando nos nepotes, ratões, compadres, pesporrentes, minotauros, sonsos, anões talentosos, oxiúros, mimosos, funâmbulos, zombis, balões, gastrópodes, egoflatulentos e bacocos. Tudo isso, toda essa fauna tão luxuriante quão monótona, não nos deve espantar. Surpreendente, isso sim, senão mesmo bizarro, só o facto recorrente de Pacheco Pereira, cercado de tantas imitações suas, mimado de tanta réplica esforçada, em vez duma mais que justificada vaidade, estadear um inexplicável e crónico amuo. Talvez porque a blogosfera é um reflexo, mas não é - ainda e apenas - o espelho: a superfície liquefeita, tenebrosa, caótica - mas passiva -, onde ele estimaria de se debruçar demiúrgico, aspergindo universões luminosas através do gotejar apofântico do seu Verbo pirilampejante.

Resta-lhe, assim, nesta conjuntura irrequieta, reforçar a nostalgia com o vil apetite. E fechar o círculo, tornando na velhice ao exacto esplendor baboso onde se iniciara na juventude: na visão idílica e apaziguante dessa República Popular da China controleira e totalitária. Vira-se a casaca, mas fica sempre a chinela. E o pézinho fugidio. E refém.


PS: Esqueci-me de referir os mongos. A todos eles, peço desculpa pelo lapso.



Na Corrente

Antes que me esqueça, e por incumbência desta estimada senhora, cujas sugestões para mim são ordens, passo a enumerar dez livros que foram determinantes para a besta que eu hoje sou. Refiro que, para meu uso e costume, os livros verdadeiramente importantes não são os que lemos, mas os que relemos e nunca mais deixamos de reler ao longo da vida. Assim, as minhas dez "bíblias", acompanhadas da devida vénia a Vossa Senhoria, dama de elevada estirpe e superlativa nobreza:

1- Homero, "Odisseia"
2- Homero, "Ilíada"
3- Ésquilo, "Prometeu Agrilhoado"
4- Sófocles, "Rei Édipo"
5- Sófocles, "Antígona"
6- Aristóteles, "Metafísica"
7- Aristóteles, "Ética a Nicómaco"
8- Aristóteles, "Política"
9- Nietzsche, "Assim Falava Zaratustra".
10- Fernando Pessoa, "Mensagem"

Excepcionalmente, em atenção à proveniência, segue a incumbência para o José, a Zazie, o Manuel, o Kzar, o Pedro Arroja, o Paulo e o Mário. E agora façam como entenderem.

Mais arianos kosher

Em Israel, a polícia deteve um bando de cidadãos neonazis.

Agora chamem-me bruxo.

Os ashkenasi são diferentes dos sefarditas e constituem a casta dominante de Israel e do Sionismo. Os sefarditas são aqueles coitados, da penca, que apanham com a má fama toda. Quando na notícia se lê que estes jovens arianos atacavam árabes, gays, emigrantes e judeus, este "judeus", muito provavelmente, significa judeus da casta inferior, os tais sefarditas, alguns deles - muitos dos que viviam na Palestina antes da fundação do Estado de Israel - judeus ortodoxos, imagine-se, anti-sionistas. Confuso? Mas ainda há melhor: no fim da notícia lê-se: «Apesar de serem na sua maioria cristãos, quase todos os detidos chegaram a Israel quando eram crianças».
Judeus cristãos antisemitas... educados em Israel desde pequeninos.
E ainda perguntam o que é que terá falhado na educação. Um sucesso estrondoso destes e eles a procurarem falhas!...

domingo, setembro 09, 2007

O Sousa Veloso

Passou por mim o Engenheiro Ildefonso Caguinchas. Perplexo, por via destes dois que a terra há-de comer, reparei que transitava com um saco de viagem na mão esquerda e um ovino pela trela na direita - lanudo e de olhar meigo, por sinal.
Como eu tardasse em sair da estupefacção, ele, o Engenheiro (que a ovelha, essa, permanecia silente), foi adiantando serviço:
- "Vou aproveitar este fim-de-semana que não há jogo do Glorioso e vou visitar a famelga ancestral à terrinha. Ainda pra lá tenho uns primos e tios longínquos. Aproveito e farejo de partilhas e heranças. Nunca se sabe se não me toca algum. O Gaudêncio Bexigoso dá-me boleia no camião."
Lá desentupi da visão aparvalhada, e deitei-me a adivinhar:
-"Presumo então, ó caro Engenheiro, que o animal é para algum banquete... Ou para ir merendando durante a viagem..."
-"Ah, não, nada disso! -Desenganou-me ele, prontamente. - Aluguei-a na feira da Malveira. Chama-se Eloísa, segundo me confidenciou o saloio que ma alugou." Num Rente-o-Ovino, segundo dizia na tabuleta e pude ler no anúncio do Correio da Mamã, logo abaixo do Professor Katanga.
- "Mas eles agora também alugam ovelhas? - Abismei-me. - Com e sem pastor?".
- "Esta foi sem pastor. - Explicou o Engenheiro. - Se bem que o gajo tudo fizesse para me impingir o pastor, mas eu é que não precisava do pastor pra nada. Só ia atrapalhar!!..."
- "Ele há cada um!..." -
-"Era um saloio bestialmente pencudo. - Diz-me ele. -Até me tentou alugar um burra ao mês. Diz que tem muito sucesso, quase tanto quanto um lama. Com uma penca daquelas, desconfio que até a mãe era capaz de alugar. A penca, no homem, ensinou-me o Dinossauro, faz de radar para o negócio. O que é preciso é descobrir um bicho no mercado!... "
Ele queria dizer um nicho, mas nem me dei ao trabalho de corrigir. Porque, na verdade, o nicho redundara num bicho, e o bicho, esse, é que me intrigava descomunalmente.
-" Mas, porque diabo, ó Caguinchas, levas tu o bicho?!..." - Quase gritei, esquecendo até a etiqueta e o protocolo devidos ao licenciado, mestre, catedrático e jubilado.
- "Não é bicho, é a Eloísa. Vê lá como é que falas, ó Dragão, porque ela é muito sensível. - Retrucou de lá ele, visvelmente sacana e com ar de quem estava para fazer render o peixe, digo, o ovino. - Mas é óbvio que a levo porque aqueles campónios agora, desde aquele dia de que não se te pode falar sem que desates aos murros nas mesas e aos pontapés nas cadeiras, têm todos televisão. Foi logo a primeira coisa que os revolucionários fizeram: levar-lhes a televisão... 'Tás lembrado, não, daqueles magalas guedelhudos e dinamizadores pelas berças acima?..."
-" Foda-se, Engenheiro, não me fale numa merda dessas que até me passo dos carretos!... Levaram-lhes a electricidade para eles se porem na alheta para a cidade. Dantes, estavam lá as pessoas sem a electricidade; agora está lá a electricidade sem as pessoas, fora meia dúzia de almas penadas e relíquias a aguardar despacho!...Dum país com carências fizeram um deserto electrificado." - Indignei-me e vociferei, agredindo um caixote do lixo incauto que assistia à conversa.
-"Sim, mas não são só desgraças e amarguras, compadre. Também há brindes. Agora no verão, parece que aquilo se enche de Áveques, doutores fi-fis e outras aves de arribação, mai-las respectivas madames e demoiselas, todas de fogo no rabo e cona aos saltos, segundo me apercebi. Eles vêm para matar saudades, elas vêm para experimentar pau tradicional!... Aquilo é arraiais e foguetórios que nunca mais acaba!..."
-"Sim, mas o que raio tem a televisão, os Avéques, os fifis e esse folclore todo que ver com a ovelha Eloísa?..." - Impacientei-me.
Aqui, o Engenheiro ensaiou uma pausa premeditada, ministrou um tápe-tápe na cabeça do animal (que, odorando um curioso perfume entre o Chanel 5 e o bedum, semi-ronronava), e respondeu:
-"Então, pá, aquilo, 'tá-se mesmo a ver, é malta instruída, engodada, bem televisionada... Aquelas mioleirazinhas devem estar no ponto, mais nhanhificadas que marmelada no verão. Devem chupar esses novos Corin-Telados até mais não. É jet-seita na veia à força toda!... Portanto, é mais que certo que a moda não lhes escapa..."
- "A moda? Qual moda?..." - Desesperei.
- "O suingue, ó Dragão. Aposto que é suingue que nunca mais acaba. Ora, se na cidade, entro com a puta; na província, entro com a ovelha. Não é Eloísa, minha linda?"
- "Bééé!..." - Pareceu concordar, por incrível que pareça, a simpática borrega.
Entre o assombro e a maravilha, lá me despedi do bizarro casal. E enquanto, mais à frente, o camião do Gandêncio Bexigoso recolhia o Engenheiro e respectiva partenaire, não me contive de pensar para com os meus botões:
-"Entre os portugueses, audazes também os há, às vezes."*

Ao longe, da janela do Camião, o Engenheiro, levado da breca, ainda me lançou um último grito, todo ele pleno de elevada lusitanidade:
-"Ó Dragão!!, e eles PIMBA!..."
E pronto, lá foi. Armado em Sousa veloso.

* - favor conferir com um verso de Luís Vaz de Camões.


sexta-feira, setembro 07, 2007

Testemunhas de Jeovu ou a Irmandade dos Arianos Kosher




Um grupo de Testemunhas de Jeovu decidiu tirar-se dos seus cuidados e vir ministrar-me uma série de conferências e prelecções, com o intuito de me esclarecerem devidamente dum certo número de coisas. Passo a listar a nata sintética das lições:

1. O Império e o colonialismo português são muito maus;

2. Toda a história de Portugal é um completo equívoco; nunca deveríamos ter incomodado outros povos. Em vez disso, deveríamos ter ficado aqui no rincão, a reproduzirmo-nos com toda a devoção e higiene, de modo a refinar a raça e a brunir os genes;

3. O 25 de Abril de 1974 foi excelente, o mal foi o que sucedeu a seguir; em vez de massajarem a estirpe e tratarem o sangue com um soluto de lixívia e leite de burra, os luso-aborígenes mais dados à empreitada desataram a importar pretos, brasileiros e outros alienígenas quase tão maus quanto o imperialismo e colonialismo português seu produtor;

4. A única coisa boa e fundamento do universo é a estirpe. Ariana, naturalmente. A solução de todos os nossos males passa por o país inteiro entrar numa Máquina do Tempo e recuar até ao tribalismo germânico, celta, vicking, ou qulquer outro seu equivalente;

5. As Testemunhas, por amor à Verdade, levam nos cornos dos pretos na Linha de Sintra;

6. O Guru Caturro da seita come patrioteiros como eu ao pequeno almoço;

7. Só o sangue salva.

Há mais lições preclaras mas não quero massacrar o leitor, transportando-o ao bocejo ciclópico, logo colmatado e calafetado de sono profundo. Fiquemo-nos por estas sete.

Ora bem, quanto à lição número 1, dispensava-se totalmente. Eu já sabia. E há muito tempo. Uns outros devotos religiosos - a igreja do actual pastor Jerónimo e os crentes de São Álvaro Cunhal e da Santa Ditadura do Proletariado -, logo no dia seguinte ao 25 de Abril, tinham-mo explicado com amplos detalhes, a mim e a toda a nação boquiaberta, em vésperas de se tornar nacinha. Suspeito que esta facção - das testemunhas de Jeovu -constitui uma dissidência do rebanho do pastor Jerónimo. Alguma pentelhice que os transportou ao cisma, calculo. Mas era desnecessária a lição, repito. Todos sabemos, à exuberância, que Camões foi um vate fascista, D.João II um traidor à estirpe, o Padre António Vieira um saloio incurável e D.Afonso Henriques um proto-colonialista nojento, além de fornicador sujo.

Também a lição número 2 não representou grande novidade. Era quase implícita à anterior. Um canil à beira mar plantado seria, de facto, uma solução fascinante, uma panaceia garantida. Tirando o efeito colateral, claro está, dos portugueseses passarem a ser o único povo que mijava de pata alçada contra o parede. E quando se cruzasseam na rua, civilmente, em vez de apertarem a mão, cheiravam o rabo uns aos outros. Mas como eram todos de boa estirpe, não fazia mal. Até outras familiaridades mais ousadas não seriam descabidas. Excepto o presidente da república, nas cerimónias oficiais, agarrado à perna do seu congénere estrangeiro.

Em relação à número três, também era do domínio público, constituindo mesmo dogma nacinhal das últimas três décadas. Nem podia ser de outro modo. O dia 25 foi excelente. Faz até lembrar aquele dia resplandecente e não menos primaveril que o menino da Casa Pia passou com aquele senhor muito bem posto, que o libertou dos muros, lhe comprou roupas e sorvetes, o levou a passear e lhe mostrou o mundo, dando-lhe palmadinhas nas costas. O desagradável foi quando chegou a noite...e apareceram todos aqueles senhores igualmente finos, amigos do primeiro, numa fila que nunca mais acabava. Todos juntos, em boa camaradagem, depois de lhe abrirem os horizontes, passaram a abrir-lhe outra coisa. E pior que isso tudo foram os ciúmes, as angústias que, a partir de certa altura, o menino começou a sentir pelos outros meninos - pretinhos, brasileiros e sabe-se lá que mais - que ocasionaram o desinteresse gradual dos senhores pelo nosso menino. "É batota! - choramingou - Eles dão o rabinho por menos e ainda me batem!"

Já a quinta lição, devo confessá-lo, deslumbrou-me. Voltar ao tempo dos vickings, naqueles belos drakkares, entusiasma-me. Mas preocupa-me também. Nós, portugueses, fundados por um germano (burguinhão), somos maus por termos imperializado e colonizado por esse mundo. Em vez de ficarmos no canil a reproduzir e a mimar a estirpe, só armámos sarrafuscas e desacatos. E não só contra árabes e escuros: contra outros arianos nossos amiguinhos também. No que os Vickings não nos ficaram atrás; ou os godos que espatifaram o Império Romano; ou enfim, todos os Indo-europeus que, desde a noite dos tempos, não têm feito outra coisa senão não estar quietos a cuidar da estirpe. Pelo contrário, invadem, pilham, escravizam, interferem, colonizam, descolonizam, recolonizam, imperializam o mais possível. É gente de má catadura. É a minha gente. Porrada e fornicanço é o nosso lema. Está-nos na massa do sangue. Como é que uma vez lá, do outro lado da Máquina Milagreira, o guru Caturro vai fazer para domesticá-los e torná-los animais de parque higiénico, ovelhinhas da racialidade asséptica, não sei. Mas imagino. É que o guru Caturro é duma estirpe muito mais pura -super-alambicada! - que os burguinhões do tempo de D.Afonso, que os vickings de Eric, ou mesmo que os godos de Teodorico. E quando Clóvis se estiver a converter, o guru puxa-lhe as orelhas, ou melhor, fatiga-lhas com poderosa argumentação e balelas intermináveis sobre os perigos da falta de higiene racial. Eles que nem pensem em divertir-se. Muito menos em prosseguirem a civilização europeia. Pôr ovos e chocá-los, machos e fêmeas, como os pinguins, pela eternidade, vai ser a sua missão. Assim se há-de até evitar o Ragnarok e fazer do Walhalla um ermo às moscas. O guru é um autêntico rabino judeu da prosápia. Vai produzir arianos de sangue ultra-light, descafeínado, sem álcool, todos ecológicos e macrobióticos. E nada de marialvismos extra-conjugais. Quando não estiverem a chocar a postura, toca de lavar a loiça. E em adolescentes, nada de punhetas prá retrete. Sempre para o bidão da procriação. E se desatarem com saudosismos das épocas heróicas, nostálgicos da velha pancadaria itinerante, reeducação e catequese racial com eles!...Até as Waffen SS vão ser proibidas de ir brincar para a União Soviética. Uns pézinhos de salsa, enfim. Mas puros. Pulcros. Com as veias muito bem lavadinhas.

Em matéria da quinta lição, achei muito conveniente para os interesses da seita. Que alguns elementos sofram o martírio às mãos dos pagãos confere-lhes dignidade de religião. O Guru deve dar graças a Jeovu. A coisa promete. Exponha-se ele ao suplício, que ainda alcança a canonização general.

Já que o Guru devore patrioteiros como eu ao pequeno almoço, estou como S.Tomé: ver para crer. Mas espanta-me: um guru tão puro não devia ingurgitar porcarias. Além de que ainda quebra os níveos dentinhos nas escamas e corre sérios riscos de se engasgar perigosamente com os chifres. Envenenado, isso não digo, porque aí só se mordesse a própria língua.

Finalmente, que o sangue salve é questão que muito me intriga. Significaria que o determinante e essencial do antropóide seria a tal estirpe, o pedigree. Nesse caso, um ariano de bom pedigree, estaria sempre a salvo, imunizado contra as raças inferiores. A genética pura impedi-lo-ia de cair na lama. Ora, quando eu vejo cada vez mais arianos a imitarem pretos e arianas a trombicarem com eles, despenco no cepticismo. Quando o própri0 guru parece um judeu de imitação, todo cheio de fornicoquezinhos kosher, invade-me a frustração e o desalento. O tempora, o mores!...


Os Nazis de Carnaval

Jean Mabire, juntamente com a educação marcial e marialva do tempo do prof. Oliveira Salazar, foram os principais responsáveis pelo facto do jovem que eu fui ter ido parar às tropas de elite. Em Mabire, desafiou-me sobretodos o Tenente Kerlan dos "Comandos de Caça". O resto não são contas do vosso rosário. São do meu e só a mim me dizem respeito.
Pois bem, é de Mabire um texto bem a propósito que o Rodrigo, no seu muito recomendável blogue, postou um dia destes e que eu, com sua devida licença e o meu agradecimento, reposto aqui e agora. Serve de preâmbulo ao que depois virá...

«Os Nazis de Carnaval...


“Les Nostalgiques” (Os Nostálgicos) foi o título de um livro do romancista Saint-Loup. Descobríamos ali algumas figuras que depois de terem participado na derradeira guerra no campo dos vencidos não procuravam, bem pelo contrário, esquecer as pulsões da sua juventude.
Os que tinham 20 anos em 1943 são hoje septuagenários. Não são “neo-nazis” mas antigos combatentes sem bandeira nem medalhas que recusam esquecer os seus camaradas tombados na Pomerânia ou em Berlim. Como poderiam eles reconhecer-se nas provocações de jovens de cabeça rapada que reivindicam um mundo do qual conhecem apenas o que contam os media empenhados na caça à Besta imunda?
…O neo-nazi faz parte da paisagem audiovisual. Assemelha-se na perfeição ao que querem que seja, estúpido e mau.
Muito estúpido e muito mau. E sempre igual a si mesmo, como um clone perfeito do Diabo tornado diabrete. Antes da guerra as grandes lojas propunham para as festas de “máscaras”: os rapazes disfarçavam-se de pele-vermelha e as raparigas de enfermeiras. Este divertimento desapareceu, como os álbuns de recortes e os soldadinhos de chumbo. Hoje, a única máscara que ainda faz sucesso no mercado é a do “neo-nazi”, modelo internacional, para o qual a imprensa assegura gratuitamente a promoção.
Se damos alguma importância aos símbolos e às imagens não podemos senão ficar chocados por esses detalhes nos neo-nazis, muito pouco aceitáveis no regime de que se dizem seguidores.
Logo à partida, a inevitável cabeça rapada. Era então característica dos prisioneiros mais do que dos seus captores, cujo corte de cabelo característico era “ curto nos lados e mais longo em cima”, muito diferente do corte à moda no exército francês. A cabeça rapada evoca muito mais os Marines do que as Waffen SS…
…Há sempre gente que acredita que o hábito faz o monge e a camisa o fascista, sobretudo se realçada por alguma braçadeira. Assim nasceu o que era apenas mau folclore.
À medida que este folclore de vestuário desaparecia para sobreviver penosamente nalguns grupelhos esqueléticos, viveiros indispensáveis para os provocadores e os delatores, vimos aparecer uma nova moda. Ela não nos surgiu do outro lado do Reno, mas do outro lado da Mancha e apresenta o nome de “skinheads”, “carecas” ou, se preferimos, cabeças rapadas…
Dos skins aos neo-nazis é um pequeno passo, ou talvez um gesto, o braço estendido e o outro punho cerrado sobre a caneca de cerveja. Já que os alemães berram nos filmes, berramos também. Yeah e Heil, ou outra coisa qualquer. O essencial é escandalizar o sistema e enfrentar a polícia. Diga-se a uma criança para não tocar nas guloseimas. Ela não terá descanso enquanto não encontrar um escadote e tiver vasculhado a última prateleira do armário proibido.
A moda dos skinheads revelar-se-á rapidamente, ao contrário do que dizia Mussolini do fascismo, um artigo de exportação. Uma vez cruzado o Canal da Mancha o público dos estádios franceses é contagiado. Mas o que são algumas centenas de skinheads franceses ao pé dos milhares de alemães que iam reforçar os grandes batalhões do movimento sobre o Continente?
Ignoramos demasiadamente o fascínio que sentem os alemães pelos britânicos. Havia no III Reich uma nostalgia secreta do império vitoriano e do grande mito racista do homem branco reinando sobre os sete mares do mundo. Ao desabrochar sobre o Continente a moda skin não podia senão atrair inúmeros jovens teutónicos sem respeitabilidade.
A atracção irreprimível pelo mal absoluto
Os skinheads britânicos forneceram-lhes, mais do que imaginamos, os seus farrapos, as suas músicas, a sua brutalidade. Tudo é anglo-saxónico no background cultural dos agitadores que nos mostra a televisão. Eles não copiam os seus antepassados mas a imagem que deles deu a propaganda antifascista, não são as SA do capitão Rohm mas as SA de Rohm vistas por Visconti em “Os Deuses Malditos”, ainda mais pervertidas do que os fuzilados de 30 de Junho de 1934!…
O destaque dado pelos media aos grupelhos mais folclóricos contribui largamente para multiplicar os actos de violência que se encadeiam por mórbido contágio, na atracção irreprimível pelo mal absoluto, tanto mais atraente quanto mais incansavelmente denunciado.»

- Jean Mabire, Le Choc du Mois, juillet-août 1993, N°66


A seguir falarei dos arianos de aviário suburbano. Uma fauna não menos pitoresca.