« Military, for the United States, is different from what the word ‘military’ meant in every other society from the beginning of time. When you say military, you think of an army fighting. You cannot conquer a country without invading it, and to invade it, you obviously need an army, you need troops. But the Americans can’t mount an army, of enough size, to occupy anybody except Grenada, or Panama, because the Vietnam War stopped the military draft. What America does have, what it calls military, is what you quite rightly linked it to: the military industrial complex. It makes arms. And weapons.
But again, these are a funny kind of weapons. Suppose you had a winery that made wine that was so good, that really wasn’t for drinking. It was for wealthy people to buy, and to trade. And as the years go by, the wine would turn to vinegar. It’s not wine for drinking. It’s wine for making a profit, a capital gain.
Well, you can say the same thing about America’s military arms, as we’re seeing in Ukraine right now — or as President Biden calls it, Iraq. The arms, basically, are there to create a huge profit for Raytheon, and the other companies in the military industrial complex. They’re for buying, and they’re for giving to the Ukrainians, to let Russia blow them up.
But they’re not for fighting. They’re not for winning a war. They’re for being used up, so you have to replace them now, with yet new buying. And so the United States State Department has asked Germany and other European countries, well, you’d promised to pay 2% of your GDP on military arms to enrich our military industrial complex.
But now that we’ve given all these tanks and missiles away – Russia just blew up 12% of all the tanks in just one week – so we only have a few weeks left to go before they’re all wiped out. Because they really don’t work on the battlefield. They’re not for fighting, they’re for being blown up. Now we want you to actually increase your spending to 4%, to replenish all of the stocks, you’ve just depleted, 10 years, maybe 20 years, of your arms stocks. And you have to now replenish them very rapidly, in order to meet the NATO targets, that we and the State Department, have set. So military today isn’t really how you control other countries. America’s found it much easier to do this by financial mechanisms.
You conquer a country financially, you conquer a country by getting it to submit to austerity programs by the International Monetary Fund, again, to impose austerity, to keep its local wages down. So you use finance as a means of imposing post-industrialization and depression, in order to prevent democracy from developing.
So any country that is seeking to promote a democracy by public spending on basic infrastructure, or banking, like China is doing, is called an autocracy. And every autocracy that has imposed a client oligarchy, to fight against labor, and to prevent these policies that would help enrich and industrialize the economy, is called a democracy, not an autocracy.
So we’re back in the Orwellian logic to describe a situation, that probably even the cynical George Orwell, would not have thought could go quite this far.»
- Michael Hudson (numa entrevista algures)
Dum modo geral, são verdades evidentes e empiricamente demonstradas no pós-capitalismo (ou financeirismo de ponta, como preferirem). Apenas me ocorre um brevíssimo reparo à seguinte frase: "So you use finance as a means of imposing post-industrialization and depression, in order to prevent democracy from developing."
Ora, eu entendo, baseado numa sólida observação empírica de meio século, com acento especial nos últimos vinte, que a "imposição de desindustrialização e depressão" não impede o desenvolvimento da democracia. Bem pelo contrário, a "imposição a martelo e por inoculação forçada" da "democracia" é que impede o desenvolvimento saudável - entenda-se natural - dos diferentes povos, culturas e nações. Por conseguinte, e sobretudo na actualidade, a imposição da desindustrialização e depressão não constitui obstáculo, mas funcionamento premeditado... Da tal Democracia de faz de conta (e por conta).
Sou então anti-democrata dos quatro costados?
Não sou nem nunca fui lá muito anti o que quer que seja. Pauto-me e recomendo, para quem aceite um conselho, pelo equilíbrio, pela justa medida. Importa pois inquirir o que significa "democracia". Como com todos os conceitos, sobretudo aqueles de conveniência e arremesso, existe a democracia enquanto abstracção; e a democracia enquanto modo concreto de administração política.
A democracia, enquanto abstracção, poreja virtudes e vantagens deslumbrantes, bem como confortos e maravilhas do outro-mundo (e apenas não diria do "melhor dos mundos" porque se trata antes, e apregoadamente, do "menos mau de todos eles", ou seja, o inferno terreal em modo e poção digesta. Fora da democracia, explicam-nos ininterruptamente, é só fel e azedume a todas as horas, sem qualquer paliativo ou edulcorante artificial). De resto, mesmo enquanto abstracção, a democracia, entre liberal e popular, aufere dessa diferença reveladora: nos populares vende-se o "paraíso terreal" em versão revista e aumentada; nos liberdadeiros bufarinha-se o "inferno terreal", em modelo garantido mas climatizado. Ambas dispensam Deus e babelizam ao desbarato.
Depois, e como contrapartida, existe a democracia em concreto, nos seus diversos casos, latitudes e ocorrências. E o que se verifica, invariavelmente, é que a bota não bate com a perdigota: a democracia na realidade contende e marimba-se para a democracia em abstracção, tripudiando, degradando e refocilando a seu bel-prazer. Na variante popular, o paraíso é só a montra do inferno; na variante liberal, o inferno é traficado como a cura e superação do paraíso. Entre os amanhãs que cantam e os amanhãs que choram, o otário vive a empenhar o presente para pagar, com juros infinitos e imarcescíveis, os eternos e fictícios erros em falsos contratos promessa do passado (vulgo letras ao portador em branco).
Poderemos - e devemos - obstar a ambas que não passam de expedientes que, sob os ouropéis da utopia peregrina, apenas procuram instalar uma forma concreta e rasteira de opressão e exploração do pagode otário. Só que preparemo-nos: a justa e legítima objecção ao concreto particularmente psicopata e obsceno terá como resposta a acusação de lesa-abstracção e o auto-de-fé, sumário e inapelável, em subsequência. Cancela-se hoje como antigamente se queimava. Duvidar do concreto é incorrer na monstruosidade dolosa perante a abstracção; criticá-lo, ou pior que isso, denunciá-lo na sua imunda parada pelo mundo equivale à nova heresia e blasfémia por atacado. É que há todo um lixo concreto e fazer-se pagar, sobretudo em termos de indemnização penal, como abstracção de ouro.
Voltando à questão, sou então antidemocrata? Bem, ninguém me convence do contrário: (a tal "democracia") deve ser evitada como qualquer doença infectocontagiosa sobremaneira virulenta, mescla de mental e venérea. Atentem, a título de exemplo comprovativo, no nosso velho e amado Portugal... No seu deplorável estado hodierno, cambaleia e balbucia entre a demência senil incontinente e o escantamento político a pedir zaragatoa. De urgência.