sábado, dezembro 24, 2016

Em nome da Administração, um Feliz Natal a todos.

sexta-feira, dezembro 23, 2016

Teorias da Distracção

 
 
 
Esta mania bizarra dos actuais turra-turras abandonarem os documentos nos locais do crime (ou imediações próximas) pode afigurar-se, ao transeunte incauto, como tara recente ou excentricidade típica destes novos facínoras globais. Coisa de árabes doidos ou islamongos varridos, enfim. Serei o último dos seres vivos a menosprezar a maluqueira fogosa destas cavalgaduras. Mas factos são factos. E, interpretações à parte, o facto é que não apenas este peregrino chacinador de Berlim, ou aqueloutro do Charlie Hebdo deixaram os tais documentos em local menos próprio. Também uns quantos dos doidivanas alados do 11 de Setembro conseguiram, mesmo após a sua auto-pulverização épica (senão mesmo vagamente BD), materializar os seus respectivos BIs/passaportes em perfeito estado de conservação junto ao formidável e fumegante monte de entulho. Do pré-socrático Empédocles, que se atirou no Etna por vertigem gnoseológica, cuspiu o vulcão, como indigesta, a sandália. Destes Ali Babacas alcagoitados, por emulação moderna, terá escarrado o holocausto apenas a documentação pessoal.
Só que o fenómeno alastra a zonas mais antigas e insuspeitas. Pasme-se: o assassino de Martin Luther King e o atentador de John F. Kennedy, ainda nos anos sessenta, almejaram idêntica proeza. A carteira de Lee Harvey Oswald, o kit completo de canalizador de James Earl Ray, com efeito, também apareceram, providencial e amavelmente, deixados em  nota de rodapé - ou rodapum, se quisermos entrar em rigores.
Por conseguinte, não se trata de bizarria nenhuma. Nem islamossincrasia de arribação, tão pouco. Mais parece um método, mais parece sistemático. Chato à brava, no mínimo. Um tipo vai para ler`, à maneira da boa tradição policial do ocidente, sempre à espera de algum suspense ou mistério (que o arguto do Connan Doyle ou a Gata Christie, tão bem nos habituaram), e pimba, é o anti-climax, a pífia engrenagem: o assassinato sinistro cedeu passo ao exibicionismo pachola. Quais assassinos!, emplastros em série!... A esbirraria, coitada, estúpida em qualquer parte do mundo, por natureza e função, ainda tenta, em desespero, meter os pés pelas mãos e fazer de conta que não vê toda aquela prova denunciante a céu aberto, com fotografia e tudo... Atrapalha-se e alucina-se quanto pode. Lança-se avidamente sobre as mais descabeladas pistas. Mas debalde. Envelhecem no tédio, os últimos e imaculados mordomos deste ex-mundo. Actualizando bem a propósito Shakespeare, no Rei Lear, já não são apenas cegos que guiam loucos: são jornalixas que conduzem magistrópodes. Pela arreata. À manjedoura.
 
O caso vem devidamente exposto aqui, com bonequinhos.

quinta-feira, dezembro 22, 2016

Hedge Ponzi





«Founded in 2003, Platinum has racked up profits that are the envy of the hedge fund industry. But its winning strategy of lending to troubled companies carries risks that many institutional investors would just as soon not take, according to a Reuters investigation earlier this year.
The soon-to-shut Value Arbitrage fund gained nearly 8 percent in 2016 through April, according to a private HSBC Alternative Investment Group report seen by Reuters. The fund produced average annual returns of more than 17 percent since inception in 2003 with no negative years.»

Traduzinho, praticavam a velha usura rapace da raça sobre os desgraçados em apuros. Isto, pelo menos, para efeitos decorativos da contabilidade e da inerente atracção de papalvos investidores. Porque, na realidade, a culinária era outra... (Como, se formos a espremer bem a coisa, são quase todas):

«According to a federal indictment, Platinum Partners founder Mark Nordlicht and four others faked the hedge fund's books for years to allow them to siphon off one billion dollars to their personal accounts, swindling 600 investors.  The prosecutors called it the biggest finance fraud since Bernie Madoff, and described the Platinum Partners' accounting as "Ponzi-esque."»
 
E agora a parte mais suculenta:
 
«Prior to the indictment, Platinum was considered to be one of the most successful funds in history, with an unbroken string of year-on-year rises, which many investors found suspicious. Platinum drew most of its investment capital from their social acquaintances in the orthodox Jewish community
 
Ou seja, estes Penca-boys , abençoadinhos, estavam a dar a golpada essencialmente nos pencudos lá da paróquia. Crime? Acto de liminar justiça, isso sim e se querem a minha opinião. Como o grande Madoff, de saudosa memória, já os projecto daqui como merecedores de estátua e comenda.
 
Lamentavelmente, parece que nem o mínimo dos mínimos alcançaram:
 


PS: Experimentem espreitar nos armários de todos estes Hedge Funds, ou seja, a clientela que comece a pedir o dinheiro de volta e em menos de nada descobrem o belo Ponzi coiso em que estão metidos. E, quanto a mim, não merecem outra coisa.

 
 

quarta-feira, dezembro 21, 2016

Que amável, da parte dele!...


Não vou tecer grandes comentários sobre mais este atentado aterrorizante das arábias. Apenas não posso deixar de destacar, entre sensibilizado e divertido, o detalhe comum a todos eles, aos tais atentados desatentos: a amabilidade dos terroristas para com as forças invariavelmente sonolentas, senão mesmo catatónicas, das autoridades... De facto, não apenas assinam o feito, os ogrescos meliantes, como até deixam os documentos para que se possa proceder, prontamente, ao reconhecimento da assassinatura.
 
Há muitos séculos atrás, Aristóteles, que não teve o desgosto de conhecer o jornalismo, já definia não obstante o percursor deste, a história, como inferior à literatura (no caso, a tragédia ática). Por uma razão muito simples, evidente e indiscutível: é que a literatura obedecia a critérios determinantes de verosimilhança. Podia não ser verdade (como no caso dos episódios míticos), mas, ao menos, era verosímil (cumpria uma lógica inatacável da necessidade intrínseca do enredo). Ora, a verosimilhança tem uma qualidade sobretodas estimável: confere sentido. A tragédia (ou a epopeia, ou um bom romance) é uma "história que faz sentido". O problema do jornalixismo que faz as vezes da própria História nos tempos que correm é que já nem se preocupa em fazer sentido. Faz apenas pouco do pagode. E faz de conta. A limite isto acabará por descambar em sarilhos muito grandes. Mas até lá o manicómio vai bem e recomenda-se... tirando essa minudência cabeluda de as teorias da conspiração oficiais serem apenas, e por regra, imensamente mais estúpidas e descabeladas (quer dizer, inverosímeis) que aquelas que suscitam, na tentativa sisifiana, de lhes recauchutarem algum nexo lógico causal.
 
Outro detalhe delicioso é testemunhar os papagaios do derrame da suinicultura oficial (todo ele a ressumar a mais fétida das conspiracinhas) a tentarem desclassificar  alguém que, por algum motivo, lhes contenda com o ranho on patrol,  como "teorista da conspiração". Ficamos logo elucidados acerca do gastrópode sem casca que nos calhou na rifa.

quinta-feira, dezembro 15, 2016

As não-tícias dos não-ticiários


As notícias sucedem-se em catadupa: às duas horas, os bombardeamentos russos acabam de exterminar vários bairros, com especial e encarniçada predileção por hospitais, infantários e grávidas avulsas. Duas horas depois, o exército sírio já tomou toda a Alepo, excepto uma bolsa heróica onde se acantonam várias centenas de milhar de mulheres, crianças, velhinhos e alguns rebeldes  desorientados. Em que é que ficamos? As bombas russas, afinal, exterminam ou multiplicam? A ONUla clama ao cessar-fogo imediato para que se poupem as vidas dos miraculados ressuscitados, sobretudo as grávidas reanimadas e as criancinhas traumatizadas apenas.
Mais ridículo ainda: na véspera, o dilúvio ininterrupto e criminoso de bombas soterrava populações a eito, sobretudo aquelas das bolsas de bravos resistentes (que o bafo merdiático, dos burrinhos e vaquinhas de plantão, convertia, por poção mágica, em autênticos meninos de presépio natalício). O merdiático e angélico coro carpia em luto por genocídios e hecatombes industriais. Contudo, um dia depois, eis que se avistam ainda formigueros humanos de coitados desvalidos, em lacrimosa retirada; mas antes disso, pasme-se, por pungente despedida, deitando fogo aos bens, mobílias, obras de arte e automóveis... Assim mesmo. A repolharem do entulho e da caliça, mas não apenas em pessoa: em pessoa com todos os seus adereços e haveres. Mas andam a atirar-lhes com quê, os tais russos: com adubos, fertilizantes e caramelos?
Estas bestas esguicha-notícias dão-se conta das diarreias inverosímeis e mal atamancadas que despejam, eles sim, em bombardeamento ininterrupto, sem dó nem piedade, sem talho nem feiçalho, sobre hordas de incerebrados e mentecaptizados militantes?
Sejamos nós justos e fidedignos: por estes infaustos dias, um jornalixeiro  está ao nível dum pedófilo. No mínimo era forçá-los, a todos, e a toque de caixa, a refazerem o curso de jornalismo. Mas desta vez as cadeiras, todas, lá da faculdade, era dar-lhe com elas, literalmente... pelos cornos abaixo.

sábado, dezembro 10, 2016

Fake bombing


A senhora em epígrafe, muito jeitosa por sinal, chegou a ser comentada como possível Secretária de Estado do governo Trump. O mesmo Trump que respondeu à CIA (a propósito da teoria da conspiração destes acerca dos russos a bedelharem nas eleições americórnias)  tal qual eu  -e  a generalidade do mundo não-lobotomizado - responderiamos: "Atenção, é a mesma gente que "fabricou" as Armas de Destruição Maciça no Iraque".

Por fim, a incontestável coerência das forças americórnias no Médio Oriente: assim como bombardeiam inadevertidamente o exército sírio, também bombardeiam inadvertidamente o exército iraquiano.  Já o ISIS ou a Al-Cagada são ficticiamente bombardeados. Podemos até improvisar um título para o fenómeno: "Fake bombing". Daí a necessidade de legislação urgente sobre a matéria. Que será liminarmente chumbada, pois claro. E bem  ao contrário do "Anti-semitism Awareness Act, imagine-se.


quarta-feira, dezembro 07, 2016

Globalização, não: globalheira!

Há dias atrás apercebi-me dum grande alarido mediático a propósito dos prejuízos que a contrafacção andava a causar à economia. Estimavam-se até milhares de postos de trabalho vitimados pelo hediondo fenómeno. Importava reforçar medidas de combate, ou seja, mais esbirros de patrulha e punição para os odiosos infractores e conspiradores recalcitrantes contra o paraíso terreal. 
Mas vejamos bem...
As grandes empresas (e, por arrasto, as grandes marcas) que deslocalizaram em massa a produção para as Chinas, coxichinas e indochinas em geral, essas queridas, não causaram desemprego, hecatombes sociais e toda a panóplia de cataclismos económicos associados? É evidente que sim. Causaram e causaram duma forma a que poderemos chamar de industrial, maciça, asselvajada. E com que intuito?. Com o intuito muito simples e prosaico de procederem à contrafacção delas mesmas. Ou seja, as grandes marcas largaram numa operação gigantesca de contrafacção industrial, legal e abençoada pelos pseudo-estados: passaram a vender porcarias feitas na China mascaradas com a marca dos outrora made in USA, made in germany, made in England, Italy, France, etc. É pura contrafacção em larga escala. Vão mais longe: criam sub-marcas, ou marcas satélites, de modo a saturarem e ocuparem todo o mercado, desde o high-end, ao médio e low. O resultado para o mercado tradicional e para os produtores e redes nacionais é devastador. No fim do dia, não foram apenas os antigos trabalhadores e serem despejados no limbo do desemprego: também os pequenos comerciantes, muitos deles em idade irrecuperável para a geringonça mercadalhoca, para lá despencam. Só que o instinto de sobrevivência e o espírito associado de desenrascanço, em muitos (e gloriosas) casos sobrepõe-se à depressão induzida: os inquilinos forçados do limbo revoltam-se e retaliam. De que modo? Duas simples palavras: mercado paralelo. Pois, se os outros podem explorar a contrafacção em larga escala porque não hão-de eles imitá-los em pequena? Olho por olho... E mais uma vez lá se reinicia a velha (e louvável) resistência do artesanato contra a indústria e, sobretudo, a impiedosa guerra da indústria contra o artesanato.
Assim, que significa genuinamente o alarido merdiático contra a pequena contrafacção? Nada mais do que o prolegómeno do subsidio estatal à contrafacção desmedida. Os contribuintes têm que ser mobilizados e persuadidos a pagarem a mais esbirros, a mais caga-leis e a mais batidas concertadas contra os tipos que teimam em espernear para fora do armário de esqueletos onde é suposto repousarem. Ad aeternum. A contrafacção industrial, aliás, tem nos mija-notícias um dos seus departamentos mais activos e frenéticos. A contrafacção das coisas vem sempre precedida da contrafacção das ideias. A Globalização nunca significou mais que simples globalheira. É por isso que, ao contrário do prodígio perpétuo a que se arrogava, não passa de cleptosquema transitório cujo flato mestre já se adivinha ao virar da esquina.

PS: Muitas vezes, as mesmas fábricas chinesas que abastecem as grandes marcas também abastecem os mercados informais. Em termos de qualidade ficamos conversados: ou é uma simples etiqueta que altera toda a essência do pacote? Depois, se os do mercado informal fogem aos impostos, os outros, através de esquemas pluridisciplinares, não apenas deles escapam a toda a velocidade: delapidam-nos por portas de subsidiação e facilitação diversa (só a protecção pública ao oligopólio custa-nos os olhos da cara).

segunda-feira, dezembro 05, 2016

Maré-moto

A maré, decididamente, está a mudar. Agora foi em Itália. Seguem-se a França e a Holanda. O centrão balofo, obeso e peganhento está a ser corrido a pontapé onde quer que se apresente a escrutínio. Afinal, parece que as notícias sobre a morte da História andavam claramente exageradas. 
Como já um certo filósofo tinha vaticinado: vale mais um mau sentido que sentido nenhum. Por isso, depois do absurdo e do nihilismo materialeiro em que toda esta Europoia descambou, tudo é preferivel  à burrocracia opressiva dos castrados manteúdos. E foi isso que os federastas e trampolineiros todos de plantão não perceberam. Que o horror ao vácuo prevalece sobre todos os outros horrores. A desconstrução europeia (que se mascarou e besuntou de United Slaves of Europe) vai bem encaminhada para o ralo da história que merece. Vêm lá dias tumultuosos? Pois, se calhar... Mas antes uma boa guerra que uma paz putrefacta.