terça-feira, julho 19, 2011

Trabalhar pró bronze

Segundo vou percebendo, parece que o nosso problema se resume a dois factores principais: temos uma economia podutiva demasiado débil para podermos competir com o Primeiro Mundo e uma moeda demasiado forte para podermos competir com o Terceiro. Restar-nos-à, então, e se tanto, peregrinar Fátima e rogar por um super-milagre. Todavia, se pensarmos que o processo de adesão à CEE consistiu essencialmente na aquisição duma moeda forte e no desmantelamento do sistema produtivo, é caso para perguntar porque é que o mesmo sujeito que se proclamou "bom aluno" durante a fase épica, agora, chegado à fase trágica, desate a reclamar pela desvalorização da moeda. O facto de ele ter desvalorizado o país dele com uma perna às costas (fruto da leviandade típica dos bimbos, toinos e pato-bravedo em geral) não implica que os outros (os alemães, entenda-se) se sintam no dever alucinado -e ao retardador - de se entregarem a equivalentes impulsos suicidas.


Os teutónicos, no fundo (e em fundos vultuosos), pagaram para que Portugal acabasse o suicídio colectivo que principiara com a debandada ultramarina. Os portugueses (enfim, aquilo que, em forma de verme, se faz passar por eles), aceitaram alegremente. Quiseram ver na vaselina bronzeador. Pois agora de que se queixam? Bezuntem-se!


Quem se vende ao suicídio não pode depois regatear sacrifícios. Quem não tem dó nem piedade de si próprio como pode sequer rogar que os outros tenham?



PS: Já agora, vale a pena transcrever a definição de vaselina, segundo a Desciclopédia:

- Vaselina é um produto lubrificante usado na medicina e na pornografia. Serve para evitar atrito entre as partes envolvidas no processo.



quinta-feira, julho 07, 2011

Sacrifícios humanos, já!




Se bem interpreto e compreendo, as agências de rating lixaram (literalmente) o não sei quê da Dívida portuguesa porque o recém-eleito governo da Dívida Portuguesa teima em não cumprir à risca os devaneios coquetes e as obsessões sexuais dos caga-postas de plantão ao Blasfémias. É isto, não é?


E enquanto não se proceder, de emergência e aflição, à privatização mágica da RTP, o torniquete não se alivia e só podemos esperar o pior.


Começo a acreditar seriamente em sacrifícios humanos... Para apaziguamento da ira de deuses tenebrosos - que é como quem diz: dos mercados - bem entendido. Mas sacrifícios humanos mesmo, à moda antiga, com facalhões e virgens alucinadas. No vertente caso, a receita até era fácil: pegava-se no João Miranda, pelas orelhas de preferência, e após esquartejamento paulatino e esfola rigorosa, procedia-se ao competente holocausto ritual. Imprescindível, o holocausto, caros compatriotas. Porque, como a própria etimologia indica, em se tratando de deuses moradores no negrume das trevas, a queima da vítima tem que ser total. Daí o "holo" (no grego, "todo") em prefixo do "kausto" (no grego, "queima"). Aliás, o que distingue os deuses tenebrosos dos outros, os luminosos, é precisamente o grau de exigência: estes, os clarinhos, contentam-se com uma parte ou percentagem do sacrifício; aqueles, os aterradores, exigem o sacrifício completo.


Entretanto, que o churrasco integral duma única virgem alucinada os satisfaça, isso já é outra questão. Estou em crer que seja coisa para os sossegar por um dia ou dois. O que já não será mau. Depois, por muito que lhes sobre e reincida o apetite, a nós, seguramente, não nos faltarão as virgens. Nem todas, é certo, acumularão a castidade sexual com a noética, mas quanto à segunda, pelo menos, é uma farturinha! Podemos ficar tranquilos.




terça-feira, julho 05, 2011

Os imarcescíveis abortos

Durante o Prec abrilino, os mais frenéticos e raivosos, mais ainda que os comunistas propriamente ditos, eram os super-comunistas, os comunistas ML, maoístas GT e outras varas suínícolas que tais. A extrema esquerda, enfim. Essa nhanha bestialmente ruidosa, pois. Guincharam, guincharam e cuincharam muito, enquanto convinha guinchar (ou seja, até Novembro de 1975) e depois debandaram sofregamente pelas manjedouras da situação, instantaneamente convertidos à lavagem e ao farelo do mercado supimpa e do capitalismo catita. Revolucionários da farinha Amparo, ei-los, por arte de geminoso dia-prá-noite, direitistas de ocasião, em patrocínio do Omo lava mais branco. O guincho suavizou-se e deveio grunhido - gorjeio cavo de quem fuça e se refastela na mixórdia. Naquela época juvenil o seu fetichismo panaceico consistia em tudo nacionalizar. Tudo se resolveria nesse passe mágico. O seu equivalente actual são estes ultra-liberais de vão-de-blogue. Acreditam, com a mesma pia retrete, que tudo só pode resolver-se com a privatização desenfreada. É só a aparência que os distingue e opõe. Na essência, são a perfeita réplica uns dos outros. Sobretudo, anima-os o mesmo desamor, a mesma aleivosia despudorada, a franca e venenosa hostilidade à terra e ao povo que, em tão amarga hora para ambos, os viram nascer.

sábado, julho 02, 2011

Entrevista com a Esfinge - III

«Porque agia dentro de uma Constituição que sempre procurei respeitar, e por convicção própria, mantive, portanto, o Estado Corporativo. Mas lancei, poucos dias depois de tomar posse do governo, a fórmula do Estado Social a fim de acentuar o conteúdo da política que me propunha seguir.

Esta fórmula é, há bastantes anos, corrente na literatura da ciência política por esse mundo publicada e foi consagrada nalgumas constituições, designadamente na da República Federal Alemã.

O sentido que lhe dei na curta alocução proferida em 10 de Outubro de 1968 ao receber os presidentes das corporações foi o de - "um poder político que insere nos seus fins essenciais o progresso moral, cultural e material da colectividade que, pela valorização dos indivíduos e pela repartição justa das riquezas, encurte distâncias e dignifique o trabalho". E meses depois, por ocasião da apoteótica visita ao Porto, em 21 de Maio de 1969, voltava, no discurso proferido da varanda dos Paços do Concelho, a proclamar um Estado Social, mas não socialista.
(...)
O que importa já não é tanto afirmar a soberania do indivíduo na sociedade, como proporcionar a cada um a base material e culturalnecessária para poder ser cidadão participante e consciente na vida pública.

Por isso, hoje, nos contactos com a massa popular, aquilo que esta solicita aos governantes não é mais liberdade - mas preços equilibrados com os salários, casas decentes, educação acessível, previdência social eficaz com boa assistência médica na doença e pensões garantidas na velhice e na invalidez.»

- Marcelo Caetano, "Depoimento"


Não é mera conversa. Marcelo Caetano, de facto, estava a promover todo um conjunto de mudanças e reformas que urdiam a conversão do Estado Corporativo num Estado Social. O país, paulatinamente, encaminhava-se para uma social democracia. Ah, mas a censura! Ah, mas a DGS!, obstar-me-ão. Pois, ó camaradas, por algum motivo a DGS não gostava de Caetano!...

Então, mas se o país seguia placidamente a caminho do modelo europeu de sociedade, porque raio se deu o 25 de Abril? Para democratizar e desenvolver o país? Mas se ele se ia suavizando politicamente a olhos vistos, e crescendo economicamente a coisa de 4 ou 5% ao ano (e isto apesar duma guerra em três frentes) - ou seja, se ele estava a enriquecer a um ritmo efectivo e inaudito nos últimos dois séculos - para que (ou a quem) servia (e serviu) a golpada?

Pois, lá está, é que Marcelo Caetano, se divergia de Salazar na Política Interna, e deu provas eloquentes disso, em contrapartida, coincidia no essencial da Política Externa. E isso é que era imperdoável para as grandes potências e respectivas marionetes domésticas. Tivesse ele mantido o chicote interno, mas abdicado da rédea ultramarina e ainda hoje, se fosse vivo, estaria em São Bento.

sexta-feira, julho 01, 2011

Entrevista com a Esfinge - II

Bona, 14 de Setembro de 1966...


«Recepção de Schroeder num hotel sobranceiro ao Reno. Está a alta-roda da política, dfa finança e da economia da Alemanha federal: Abs, Fritz Berg, von Bohlen und Harald, Sohl, Mommsen, outros ainda. (...) Ao contrário do que se poderia pensar, a atmosfera é alegre, leve, com o humor teutónico; e conversa-se francamente, sem rodeios, sendo particularmente explícitos os homens da economia e da indústria. Que síntese posso fazer do que ouvi? Notei forte sentimento antiamericano e antibritânico, muito mais do que anti-francês; há uma clara obsessão com o Mercado Comum, e com as relações deste com a EFTA, devendo ser objectivo da Alemanha realizar através da Comunidade Económica Europeia o que Hitler não pôde alcançar pela força das armas; preocupação com a Nato; e uma nítida e apurada consciência da força actual da Alemanha.»
- Franco Nogueira, "Um político confessa-se (Diário: 1960-1968)"




Mirem-se no exemplo

daqueles milhares de Atenas...