quinta-feira, abril 30, 2009

Razões de saúde pública

«The Massachusetts Senate has unanimously passed a pandemic flu preparation bill that has languished in the Legislature before the recent swine flu outbreak.

(...)

The new Senate version would allow the public health commissioner — in a public health emergency — to close or evacuate buildings, enter private property for investigations, and quarantine individuals

Nesta nova versão revista, aumentada e recauchutada, quase aposto que em vez de "comissários políticos" vamos ter "comissários de saúde". Uma vez reduzidos à condição de gado, contentamo-nos com "brigadas fito-sanitárias".

quarta-feira, abril 29, 2009

O travírus

Ouvido ainda há pouco no telejornal, com estes que a terra não há-de comer porque o meu último suspiro será auto-incinerante: «o vírus está em constante mutação!»
Valha-me Deus! Mas quem é que escreve o guião a estes estafermos?
Para compensar do crianço que, afinal, tarda em assumir-se, atiram-nos com esta do "vírus em permanente strip-tease". Até anteontem o cabrão do micróbio não existia nem nunca ninguém tinha ouvido falar dele; agora já está em "constante mutação". Deve ser um transvírus. Ou melhor: um travírus.
No Egipto, por atávica aversão à alimária, determinaram o abate completo dos suínos. Aproveitaram o pretexto, foi o que foi. Entre nós , todavia, o caso é bem mais grave. Para conter a pandemia, isto só já lá vai com o abate completo dos jornalistas.

Nem mais um espirro

Viva! Hurra! Acabam de descobrir um crianço, um menino, um fedelho, um catraio, ou lá o que é (em Chaves, se bem os ouvi) que apresenta os sintomas. O puto já é glorificado por tudo quanto é notícia. Depois disto, e da confirmação deste fertilizante ansiado, é alerta laranja no mínimo. O George até se deve andar a babar todo. Depois do fumo, vai proibir o espirro. E policiar a rigor.
E ai de quem tussa!...

terça-feira, abril 28, 2009

O trunfo dos suínos



Como a treta da crise já metia nojo e não vinha acagaçando convenientemente o pagode, agora - abracadabra! - eia a gripe suína. Caída do céu aos trambolhões. A das aves já estava mais que gasta; as cobaias já apresentavam sinais de saturação. Por conseguinte, doravento não voa: grunhe. Os megafones de serviço não se calam. Na rádio é de meia em meia hora. Gripe suína em catadupa. às carradas, de enxurrada! Irmões, munamo-nos de toda a nossa pachorra e compenetremo-nos por antecipação: a seguir, é mais que certo, vamos levar com a gripe dos peixes. Ou das baleias.
O nível de imbecilização que este manicómio atingiu já está para lá das posses de qualquer literatura. Um verdadeiro e retumbante triunfo dos suínos.

PS: Não se preocupem. Do pouco que sabemos é que quando a coisa for mesmo séria e perigosa eles têm o cuidado de não avisar. Faz parte das regras do jogo.

domingo, abril 26, 2009

Relação íntima

«Um político que assistia a uma sessão da Câmara de Comércio pediu a palavra, mas viu a sua pretensão negada com base na alegação de nada ter a ver com o comércio.
- Senhor Presidente - disse um Membro Idoso, levantando-se: considero a objecção infundada. Este cavalheiro tem uma estreita e íntima relação com o comércio: ele próprio é uma mercadoria.»

- Ambrose Bierce, "Esopo emendado & outras fábulas fantásticas"

sábado, abril 25, 2009

Canções comemorativas - Lobotomia




Lobotomia


Sim, tudo vai bem
vivo numa ilha
sem mais ninguém,
o sol cá brilha
como convém
É uma maravilha
a vida que aqui se tem.

Sim, tudo okay
gostar de mim
é a única lei
A vida é assim
porquê não sei
correr sem fim
viver sem lei.

Sim, tudo normal
o teu bem é o meu mal
vivo refém
dum animal
sem pai nem mãe
sem sul nem sal.

Sim, tudo feliz
a besta ensina o seu aprendiz
menino ou menina
quase por um triz,
Implanta a vagina
promove o nariz.

Lobotomia, teleporcaria
sem dor nem anestesia,
Lobotomia, merdocracia
sem cor e sem fantasia,
Lobotomia, lobotomia...

Sim, tudo baril
é o 25 mil de Abril
até eu me sinto tão primaveril
neste labirinto
ou será funil?...

Sim, tudo bem bom
salta-se a barreira do som
Doura-se a asneira
beija-se o baton
Inveja-se à rameira
o supremo dom.

Sim, tudo au point,
debaixo da saia da mamã,
cada qual cobaia do seu ecrã
na bicha para a praia
do amanhã.

Sim, tudo bué fixe
quem vier depois que se lixe
pelo cano abaixo
como a Alice
por amor dum tacho
na velhice.

Lobotomia, teleporcaria
sem dor nem anestesia,
Lobotomia, merdocracia
sem cor e sem fantasia...
Lobotomia, lobotomia.

PS: Podia lá eu faltar aos festejos. Pena que não oiçam a música, porque isto tem música (é a face desconhecida - e ultimamente bastante activa - do Dragão). Mas não perdem pela demora. Venho acarinhando um certo número de ideias pérfidas e tenebrosas que ainda resultam em sinfonia a bordo. E agora desculpem-me, mas tenho uma guitarra à minha espera.

PSS: Ah, e não caiam no basismo de julgar que estou de luto pelo regime anterior: estou de luto por este desgraçado país. O regime anterior já era uma amálgama de muitos defeitos e algumas virtudes. Por isso mesmo, a última coisa que precisávamos era de um vil sucedâneo com os defeitos multiplicados e as virtudes banidas.

sábado, abril 18, 2009

Monkey mouse

Todo aquela montanha de ruído à volta do Obama? Era, de facto, a montanha. A parir um rato.

quinta-feira, abril 16, 2009

Os Primodonos, ou "A melhor maneira de roubar um banco é ser dono de um"

«Mr. Madoff, once a highly respected member of the Wall Street establishment, has admitted to defrauding investors of as much as $50 billion in such a manner. When asked by the agents who arrested him if he could explain what he'd done, he reportedly said, "There is no innocent explanation."
According to the man who may be the leading expert on banking fraud, there is also no innocent explanation for the events leading to the current economic crisis. Last week on his PBS show, Bill Moyers interviewed William K. Black, the senior regulator during the savings and loan scandal in the late 1980s. Mr. Black, who wrote a book based on his experiences and called it The Best Way to Rob a Bank is to Own One, said the fraud and deceit that resulted in the world banking system's dire distress makes Bernie Madoff look like a piker. In fact, says Mr. Black, who is the former director of the Institute for Fraud Prevention, what we have experienced was caused by "calculated dishonesty" on the part of corporate CEOs, aided and abetted by politicians and regulators who tore down the barriers to financial shenanigans - perhaps the most important example being the repeal of the Great Depression-inspired Glass-Steagall Act that separated commercial banking from investment banking. This cleared the stage for the fraudulent investments that made a lot of people very, very rich in what we can now see was an immense Ponzi scheme, many times the size and scope of the scam pulled off by Mr. Madoff.»

Quem diz um banco, diz um país.
No fundo, é o sumo que estas pseudo-democracias oxidentais, em que vegetamos mais ou menos lobotomizados, deitam. Com estas segregações cada vez menos subtis, malatamancam eles aquilo a que -só por sórdida piada - pode ser chamado de "elites". É a tal Cacocracia que não me canso de aqui balizar: a aristocracia às avessas, ou seja, o desgoverno pelos piores. O império pimpão das primadonas dos novos circos e dos Primodonos da política. A retórica, estrídula e omnipresente, da tão proclamada "democracia" mais não desempenha que a função simultânea de anestésico e vazelina.