domingo, março 27, 2005

O MFB (Manifesto do Fundamentalismo Benfiquista)

Aproveito para recordar um panfleto miserável, com que duas grandessíssimas bestas -o Caguinchas e o seu caquético mentor, o Dinossauro - tiveram o desplante de me brindar. Afixaram-no à entrada da tasca, aliás, ciber-tasca. Rezava o seguinte (pausa para vomitar)...

MANIFESTO DO FUNDAMENTALISMO BENFIQUISTA

Informam-se todos os genuínos Benfiquistas, que a Lista de apoio a Eusébio para a presidência do nosso Glorioso, está em marcha! As nossas promessas, que tencionamos cumprir, são:

1. Terraplanagem do novo estádio e reconstrução do antigo, o verdadeiro, o Glorioso, o infernal, o maior da Europa!
2. Utilização de todos estes jovens palradores, que se dizem muito Benfiquistas, mas apenas são anti-Porto, nas obras de contrução: como serventes, trolhas e quejandos, à boa maneira antiga, do primeiro estádio (das Amoreiras, se bem me lembro, mas também a minha memória já não é o que era...) Poderemos assim testar o seu "amor ao clube"...Um estádio para Benfiquistas erigido por Benfiquistas!...
3. Construção da Estátua do nosso Pantera Negra, dez vezes maior, em duplicado, mas agora dentro do estádio, detrás de cada baliza, para apavorar as equipas visitantes!...
4. Extinção da SAD. Conversão do clube também em partido político, com assento na Assembleia da República. Conquistaremos a Maioria Absoluta e lançaremos novas leis, totalmente democráticas, passando o nosso interesse clubista a identificar-se com o "interesse nacional".
5. Despedimento dos actuais jogadores (salve 2 ou três excepções) bem como da equipa técnica vergonhosamente entregue a um italiano! Por decreto, requisitaremos os melhores jogadores a jogar em Portugal, (ou no estrangeiro, desde que cidadãos nacionais), passando a equipa do Benfica a ser também a Selecção Nacional!
6. Por decreto e revisão constitucional, o Benfica passará a ser igualmente considerado Campeão Honorário, podendo todas as outras equipas, dentro dos moldes convenientes, competir para o segundo lugar!
7. Proibição rigorosa de jogadores e treinadores estrangeiros na nossa equipa! (Muito menos castelhanos!!!) Aliás, a nossa equipa dispensará treinador, pois será uma máquina letal perfeitamente oleada.
8. Adjudicação de receitas do Orcamento de Estado para o engrandecimento e manutenção grandiosa do nosso clube! As percentagens dos Negócios Estrangeiros, da Defesa e da Educação serão suficientes...Senão, recorra-se também às da saúde! Porque a Defesa, a representação externa, a educação e a sanidade do nosso povo dependem das vitórias e da saúde do nosso Glorioso!
9. Mobilização das massas para um apoio esmagador, em qualquer parte do globo, de Lisboa à Antártida, da nossa equipa!
10. Inscrição compulsiva (se necessário) de todos os cidadãos como sócios da nossa colectividade! Cartão de sócio passa a servir também como Bilhete de Identidade Nacional e Passaporte. Registo obrigatório à nascença!
11. Inerentemente, tanto a bandeira como o hino também deverão ser alterados: a bandeira passará a ser vermelha e branca; e o hino nacional será o Hino do Benfica!...
12. As inscrições obrigatórias no nosso clube serão retroactivas, abrangendo até ao Rei Fundador e respectiva mãe.

13. Igualmente, a Igreja Católica deve abjurar do seu arreigado erro: a Santíssima Trindade não é Una em Deus, mas sim no Benfica, sublime colectividade de que tanto o Pai como o Filho como o Espírito Santo (já não falando na Nossa Senhora e nos santos todos) são fervorosos adeptos.
14. Encontrada a verdadeira Fé, deverão todos os desempregados e ociosos reembarcar em caravelas de modo a ir expandi-la pelo mundo. Também podem ir de autocarro, se enjoarem em alto-mar, ou mesmo nos cacilheiros.
15. Todos os jogadores do nosso clube, terminada a sua gloriosa carreira futebolística, serão beatificados; e canonizados, à hora da morte. Sua Eminência, o Santo Padre declarará o nosso estádio como primeiro Santuário da Cristandade.
16. O árbitro que apitar uma grande-penalidade contra o nosso clube, será acusado de heresia grosseira, conspiração demoníaca, e lapidado na praça pública.
17. Para qualquer jogo do Benfica, nas categorias de infantis, iniciados e seniores, haverá tolerância de ponto; sempre que jogar a equipa principal será declarado feriado nacional.
18. O 10 de Junho passará a ser Dia do Benfica e dos benfiquistas, que é o mesmo que dizer "Dia de Portugal", só que com mais rigor.
19. No dia 25 de Dezembro celebrar-se-á a inscrição, por S. José, do Menino Jesus no Benfica. O pai Natal, esse, dispensa comentários.

Benfiquista verdadeiro, contamos contigo!! Já basta de galinhas e galinhices: Queremos a nossa águia, autêntica, de volta!!!
PARTICIPA!!!...

Dinossauro & Caguinhas

PS: Numa próxima oportunidade, quando melhorar da náusea e terminar os vómitos, tenciono responder a estes cabrões!...

quinta-feira, março 24, 2005

O Retrato duma Possessão

Quando falamos em possessão referimos um determinado espírito que se apropria dum determinado invólucro, que toma de assalto e manipula uma embalagem que não era, inicial e naturalmente, a sua.
Ora bem, nem é preciso estar muito atento, ou dispor duma inteligência fulgurante, para perceber que o capitalismo absorveu e incorporou o invólucro do comunismo. Fanou-lhe o veículo e faz-se transportar nele com o maior dos descaramentos e petulâncias.
Assim, em vez da globalização da Revolução, pormenor essencial da receita marxista, temos a Globalização do Mercado. A Internacional Socialista perdeu claramente para a Internacional Capitalista -ou melhor dizendo, foi absorvida, digerida à maneira da aranha-lobo (injectada, liquefeita e sugada até à medula).
Prova eloquente disso é a novel e peregrina libertação dos "povos oprimidos" por esse mundo fora. É uma tarefa benemérita, inadiável, doravante a cargo da Internacional Capitalista. Como, de resto, pode constatar-se no Iraque resgatado às garras da tirania feroz.
Também o hábito da propaganda insidiosa e das quintas colunas infiltradas, -apologistas a soldo, formiguinhas de sapa que minam e sabotam em prol da nobre causa-, não foi descurado. O campo de recrutamento manteve-se: jardins-escola universitários ou pré-universitários, plasticina cerebral em estado fértil e pronta para ser moldada. Desta puericultura ideológica acelerada resulta uma tropa de choque semi-imberbe, em permanente e sobre-excitado débito de asneira, compensando o gritante e gigante absurdo desta com o fervor imarcescível da convicção fanatizada e o frenesim do clamor ininterrupto. Mescla de pornochachada e trovoada angélica, a mensagem reverbera e afunila. Ou se está com eles, ou contra eles; ou se reconhece a via aberta para o Céu, ou se é despenhado sem apelo pelo alçapão dos infernos. Tal qual os catequistas das Rússias, Chinas e Albânias de anteontem.
De igual modo, se os comunistas acreditavam ser os destinatários da História, estes, agora, apregoam que são o Fim. O encerrar da História, em ambos os casos, equivale apenas ao acabar da discussão. É assim e não se discute. Com a História, encerram-se alternativas e opções. É comer e calar. Ou ser calado. A única variante doravante aceitável reside na velocidade da metamorfose: o encasulamento pode ser mais rápido ou mais lento. Não pode é deixar de ser.
Finalmente, é a própria retórica da esquerda revolucionária que não escapa e é, também ela, absorvida. A vanguarda capitalista tonou a seu cargo a defesa dos pobres e desfavorecidos contra os aventureirismos utópicos. Impinge, com cinismo de aspersão, que criar ricos é criar riqueza. É, de facto. É como melhorar o sangue através da amamentação de vampiros e sanguessugas.

Do Calvário, da Vida e dos Homens

Cada vez me convenço mais que a Vida de Cristo constitui o paradigma profético da nossa própria vida, de homens...
Num dia, fazemos milagres, caminhamos sobre as águas, convidam-nos para almoços e jantares, acorrem basbaques de todos os lados para nos verem e mararavilhar-se. No outro, tudo se altera e distorce: como num caleidoscópio infernal, damos connosco de madeiro às costas, arquejando ao fundo duma encosta íngreme, ninguém nos conhece, todos nos cospem, e flagelam-nos por ali acima, até ao cume sangrento onde, por vil embirração, cismam de nos crucificar.
Meio estarrecidos, perplexos, perscrutamos o chão que parece agora fugir-nos e conspirar contra nós. Afinal, o mel foi só para afinar o paladar para o sabor do fel?!...
Meio atordoados, interrogamos, com desespero, o céu: "Vou ter que beber este cálice?..."
E o céu, dum azul imenso, misterioso, profundo, responde:
-"Vais!..."
E é nesta altura, para lá do terror e da esperança, que o homem, se tem um dragão dentro dele, contém as lágrimas, esquece as feridas, fita com desprezo a maralha e clama:
"Então brindemos: À Nossa!..."
À nossa: à indiferença do Céu e à dor na Terra.

quarta-feira, março 23, 2005

Deixem lá as patas (a esquerda e a direita); falemos antes do que tem dentro da cornadura!...

Como há muito tempo não disparo em "Celinada", aí vai. Refastelem-se!...
Fica, quanto mais não seja, a propósito de "modernices".

«...A máquina é o que há de mais infecto! Derrota suprema! Descaramento! Balela! Nunca a máquina mais pintada libertou ninguém! Embrutece mais cruelmente o homem e nada mais!... Eu fui médico na Ford, sei do que falo. Os Fords são todos parecidos, soviéticos ou não!... Descansar sobre a máquina é mais uma desculpa para continuar nas velhacarias. É fugir ao verdadeiro problema, o único, o íntimo, o supremo, o que está no fundo de todo o homenzinho, na carninha, na cachimónia dele e não noutro sítio qualquer!... O verdadeiro desconhecido de todas as sociedades possíveis ou impossíveis...Disto é que ninguém fala, não é "político"!... É o tabu colossal!... A questão "última" proibida! Mas, em pé, de gatas, deitado, do avesso, o Homem nunca teve, no ar ou na terra, senão um só tirano: ele próprio!... Nunca terá outros... Se calhar é uma pena aliás... Talvez se domesticasse, tornando-se enfim social.
Há séculos que lhe dão graxa, que lhe escondem o verdadeiro problema a ver se logo de seguida o põem a votar... Desde que morreram as religiões, passou ele a ser incensado, empanturrado a todo o instante de pachochadas! É ele a única Igreja! Deixou forçosamente de ver claro! É patego! Acredita em tudo o que lhe impingem! Então, duas raças tão distintas? Os patrões? Os operários? Cem por cento artificial! Uma questão de sorte e de heranças! Tratem de as abolir! Verão que eram tais e quais... Digo tais e quais e só isso... Hão-de ver que são...
A política corrompeu ainda mais profundamente o Homem nestes últimos três séculos do que durante toda a Pré-história. Estávamos na Idade Média mais perto de nos unir do que hoje... estava a tomar forma um espírito comum. A intrujice estava mais bem "montada em poesia", mais íntima. Já se acabou. »

- Céline, "Mea Culpa"

terça-feira, março 22, 2005

Força, Júlio!...

Soube agora pelo Dodo, no meio dum delirante panegírico em que este passava do exagero à desmesura e dissertava a meu respeito o que Maomé não disse do toucinho. Mas não passem cartão às pilhérias daquele tratante e concentrem-se no essencial: parece que o Júlio –o Machado Vaz-, tem um blogue. Parece não, tem mesmo. E chama-se "Morcon". Pelo andar dos comentários, aposto que vai destronar o outro morcão, o "Abrupto" e fazer enverdinhar e arfar de raiva despeitada, aquel’outros betinhos do "Barbabé". É uma bomba na blogosfera, meus amigos, uma pirotecnia inaudita. Nasceu uma estrela, um novo sol. As pessoas, entre estupefactas e maravilhadas, interrogam-se: "Será possível?"
Julgo que sim. Agora que o Tiago Monteiro alcançou a Fórmula Um, era inevitável que o Júlio Machado amarinhasse aos blogues.
Constou-me mesmo que amarinhou nestes depois de ter amarinhado às paredes. Nem mais, acreditem: Abriu o blogue (ou blog; ou divã; ou maple) por pura vingança. Contra quê? Garantiram-mo, de fonte limpa: Por não o terem convidado para a "Quinta das Celebridades II".
Que injustiça! Que inominável filha da putice! Júlio, bom homem, fique sabendo: tem toda a minha solidariedade. Não se deixe abater. Acredite. Nós, nós todos, acreditamos em si. Sabemos perfeitamente que o seu lugar de direito, o pedestal –qual pedestal, o trono! - que lhe compete, é lá. Lá, no prime-time, no top das audiências, primus inter pares... No meio da constelação.
O Pavaroti, aquele asno iletrado, é um usurpador!... A César o que é de César, e ao Júlio o que é de Júlio!...

PS: E tu, ó Dodo, vê lá se queres levar com uma cadeira nos...frontespícios?! Apregoas-me como o melhor do mundo para te auto-promoveres, ou julgas que sou parvo?!... Como escreves melhor que eu, se eu sou o maior cá de baixo, tu és quem? - Deus?...

Antes que me esqueça...

No Atmosfera, um blogue decente e equilibrado, recomendam este estabelecimento. Na categoria de "o mais desconcertante e alucinado".
É, estou em crer, o juízo mais justo que já teceram a meu respeito.

segunda-feira, março 21, 2005

A Imaculada Concepção

Andam para aí a dizer que a "direita" precisa de ser refundada. Ou fundada. Ou afundada. Ou o diabo que os carregue!...Acho graça. Até porque algumas dessas vozes sabidas, de imaculados apóstolos peregrinos, de novas sibilas recauchutadas, pertencem a escroquezinhos de trazer por casa, que não se têm dado nada mal com o (des)governo das esquerdas, dos centro-esquerdas, das... aliás, o desgoverno seja de quem for, que é preciso é estar de mancebia com quem, de momento, controla a torneira do erário. Pelo menos um, toda a gente sabe, verdadeiro chulo da pátria, vive de biscates e expedientes (a que com imensa piada chama lobbys), à boleia do orçamento, dos amigalhaços e de subsídios para banha da cobra, ou sejam, projectos imaginários além-mar. Estranhamente, o Além-Mar desta gentinha coincide, a 99%, com o Aquém-Bolso.
Há um outro, riamo-nos, (não por acaso) acólito do primeiro que, em boa orquestração, também bota discurso. Diz ele, trocando por miúdos: "ser de direita, na verdade, é ser "Bem". Ouve lá, ó boa alminha, então eu que sou mau, ruim dos quatro costados, que ardo em desejos de tiranizar e imperalizar –espatifando e vandalizando pelo meio, que é o que dá mais gozo -, não posso ser de direita? Expulsas-me? Despejas-me? Atiras-me novamente para fora do paraíso? Empurras-me pró stalinismo, ó sapiência?! Eu, só porque não sou junkie do cifrão, nem me babo porcinamente diante do dinheiro, já não caibo na confraria?... É forçoso que seja um coninhas, um queque, um papa-hóstias, um betinho de juba tratada e gravatinha a condizer, uma lombrigazinha afectada convencida que recebeu a graça divina por ejaculação paterna, desde espermatozoidinho, para ter direito a ingresso?!... Com essa é que tu me lixaste, ó caro amigo! Afinal, estamos a falar dum campo ideológico –axiológico, no melhor dos casos- ou dum cocktail de embaixada? Deve ser por isso que, em teu sabão entender, a direita não existe. Deves, aliás, ter toda a razão: com porteiros desse vosso calibre, só pode mesmo ser discoteca ou clube de strip do jet-coiso. Isso, na aparência. Porque na essência, a fazer fé no perfume dos guarda-portões e na qualidade das artistas, não excede em nada a casa de passe. E rasca.

Agora, para completar o ramalhete –isto é, o inefável leque de opiniões destes portentosos think tanks da direita lights, TT (Todo o Terreno ou Tó-Tó, como preferirem), ou ainda TB (Toda-Bem, prós amigos; Tati-Bitate, prós outros) -, só falta escutar, do alto da sua ubíqua transcendência, a santa padroeira do bando. Sim, só falta mesmo ouvir o que pensa a arguta Cinha Jardim. Estamos todos curiosos das tendências, penteados e fatiotas para a próxima estação. Afinal, não sendo uma forma de pensar, querendo nós acreditar que é algo mais que uma técnica sofisticada de deitar a unha, essa tal "direita" de Loja de Conveniência, há-de ser, pelo menos uma forma de vestir, calçar, desfilar o presunto e domar a madeixa, não?...

Entretanto, se, apesar de tudo, ainda querem a minha opinião (o que eu duvido muito), até vos diria que a direita não precisa de ser refundada coisa nenhuma. Necessita, isso sim, e urgentemente, é de ser desparasitada, desinfectada, desratizada. No mínimo, lavada de alto a baixo, à mangueirada, e de alta pressão. Aliás, a direita, a esquerda e o país inteiro. Mas como, por cá, higiene é sinónimo de utopia, não se fala mais nisso.

domingo, março 20, 2005

My Fair Lady


Hoje é dia de faxina aqui no blogue. Quer isto dizer que me dedico ao assédio sexual sobre a criada. Mas não digam nada à senhora Dragão.
Entretanto, nada de se porem para aí com malícias a imaginarem cenários alucinados, perseguições tresloucadas - ela a cavalo no aspirador e eu à desfilada no carrinho-bar - como nos filmes americanos. Ou ela ainda, acrescente-se, já encurralada, desfraldada, suplicante; e eu, quase a babar-me, de mastro em riste, com bigode à Roflin, num esgar feroz de pirata disposto às piores sevícias (sendo que, neste particular caso, as piores coincidem com as melhores). Não; isso foi antes.
Agora já vamos naquela fase em que eu, com a distinta erudição que todo o mundo me reconhece, lhe dou aulas –primeiro teóricas e depois práticas ( como, de resto, recomenda a boa pedagogia) -, de Iniciação ao Latim. Exactamente: latim. Começando pela palavra "felatio"...
E com que facilidade esta boa alma e melhor nalguedo aprende!...É a alegria de qualquer professor que se preze. Um enlevo! Direi mais: o desempeno e o timbre mavioso com que na sua boca trina o verbo defunto, a vivacidade com que ela o palataliza e ressuscita, quase nos transporta à crença pia na predestinação. Quem fala no Latim como uma língua morta não sabe o que diz, nem, seguramente, experimentou a língua hábil desta voluntariosa rapariga. A língua e, naturalmente, os lábios, as amígdalas, o forro aveludado das bochechas, enfim: todo o aparelho aurifalante.
Já agora, enquanto ela, mocetona gulosa e desembaraçada, se exercita e refastela, aproveito para ir actualizando a coluna dos "linkes".
(Vou ter que ser é rápido: pela forma sôfrega e endemoninhada como esta mariola aspira as vogais e haure, quais rebuçados suculentos, as consoantes, não sei por quanto mais tempo poderei responder pelos meus actos. Um dragão, apesar de pau feito –e como essa mesma propriedade sugere-, não é de ferro.)

-"Atenção aos dentes, sua bandida!...Não mutiles a sílaba tónica!..."

sexta-feira, março 18, 2005

O Neo-Coperniquismo Somali


Os deputados somalis que, iluminados por alguma revelação fulgurante, certamente inadiável e a todos os títulos meritória, desataram, furiosamente, à cadeirada uns nos outros, deram uma grande lição ao mundo: Mostraram, sem margem para quaisquer dúvidas, a fundamental e edificante utilidade dum assento parlamentar. Por uma vez, havemos de concordar, agiram, aqueles eleitos, em digna –direi mais: digníssima!- representação dos eleitores.
De facto, dar com a democratabilíssima cadeira nos cornos do respectivo deputado é um desejo comum à generalidade dos cidadãos minimamente esclarecidos. Não me ocorre mesmo –e a vós, estou seguro, certamente também não- destino mais honroso (e urgente) para tão insigne peça de mobiliário.
Pena que por cá, nesta república à beira mar plantada, avessa contumaz ao progresso e aos bons exemplos, as manobráveis cadeiras se vejam substituídas por mastodônticas bancadas, gigantescos paus com cabeleiras em cima. Concordaremos: Levantar um colosso daqueles para, com ele e em democrática virtude, raquetar a cornupetólio dum qualquer daqueles mandatados da nação, mais que a inteligência dum somali, requereria a força dum Hércules.
Não obstante, não me calarei: Agora que os abençoados somalis descobriram, finalmente, para o que é que serve um lugar de deputado na assembleia, exijo que o deputado que se arvora em meu representante me represente. Ou seja, arreie num vizinho qualquer como lhe compete. E não me venha com desculpas que lhe falta o guindaste. Se Maomé não vai à montanha, vem a montanha a Maomé. Quer dizer, se não consegue levantar a bancada para dar com ela nos cornos do outro, pegue nos cornos do outro e dê com eles na bancada.
Nós, portugueses, somos um povo desenrascado. Portanto, eles –eles todos, o meu representante e os vossos – que se desenrasquem. A democracia é que não pode ficar eternamente adiada. Agora –Deus te abençoe, Somália!- não podem mais argumentar que não sabem o que raio ali estão a fazer, nem para que bodega serve o ror de dinheiro que o erário público delapida com eles.
Foda-se: representem-nos!!...

PS: Até porque dadas as trunfas –as choupanas, as medas de palha, melhor dizendo -, com que alguns ornamentam o cocoruto, é de temer que nem a raquetada sintam, ou a bastonada os sensibilize, tal o airbag cabeludo com que se couraçam. A esses, pressinto-o bem, talvez conviesse passar-lhes a máquina zero antes. E sim, escusam de me perguntar, que eu também não sei: Desconheço de que Parnaso jorrante me afluem estas ideias resplandecentes.

terça-feira, março 15, 2005

A Patranha

Uma das aldrabices com imensa piada que para aí se impingem avulso, é aquela patranha onde reza assim:
“Viver dependente dos pais é a suprema vergonha, o vexame marechal; em contrapartida, viver dependente do banco, além de volúpia incomparável, constitui-se como glorificação em vida."
Esta deslumbrante lógica tem sido bombeada sem dó pelas tenras mioleiras dos jovens em idade núbil.
O resultado são hordas espavoridas de pré-adultos em debandada a qualquer preço do espaço familiar e em demanda de ninhos autónomos, que uma corja de usurários mancomunados com uma seita de trolhas desinsofridos, muito conveniente e providencialmente, lhes disponibiliza.
Nesta marcha forçada para a responsabilidade e a autonomia, não só à revelia mas contra o espaço familiar tradicional – sobressai um pormenor curioso: regra geral, são os pais que pagam a emancipação dos filhos.

domingo, março 13, 2005

A Apologia da Humilde Puta

Não pude deixar de reparar numa declaração peremptória que o Clark 59 lavra no seu estaminé. Proclama ele, apoditicamente:
"Gosto de mulheres. Não gosto de putas."

Bem, ó Clark, gostos não se discutem. Portanto, não vamos discutir.
Mas não haverá contradição na afirmação? Será que as putas não são mulheres?
Há mesmo um amigo meu que, sobre tão candente assunto, já chegou ao requinte de me expor o seguinte prognóstico:
-"Não tenhas dúvidas, Dragão... Homem para ser homem tem que saber explorar a puta que há na mulher e descobrir a mulher que há na puta."
Não preciso de especificar qual foi a besta autora de tão grandessíssimo aforismo, pois não?...

Em todo o caso, esta é uma questão de capital importância, capaz de originar os mais descabelados cismas. E também digna, no mínimo, duma reedição melhorada e alargada da "Crítica da Vazão Pura".

Ah, e tem ainda mais uma coisa...
A fazer fé na qualidade dos filhos, as piores putas até nem são aquelas que - usual, árdua e honestamente - passam por tal.

sexta-feira, março 11, 2005

O Horror e o Terror (II)

"O que se passou no dia 11 de Março em Madrid foi um acto horrível, uma inominável atrocidade. Mesmo para aqueles que a cometeram, não devem haver muitas dúvidas sobre isso. Provavelmente, também acreditam nessa velha e bela tese do "mal necessário", ou melhor, do "horror necessário". Justificar-se-ão que é uma resposta a outros "horrores", uma retaliação a outras "atrocidades". Ora, em se tratando de "horror necessário", quanto mais horrível, melhor. O que, convenhamos, numa época em que o lema reinante é "quanto pior, melhor", acaba por assentar que nem uma luva.
Mas imaginemos que, por hipótese meramente académica, esse acontecimento, a todos os títulos horrivel e atroz, não devinha super-notícia, orgia mediática por muitos e largos dias...Certamente, não se teria tornado "terrível", "aterrador".
Basta ver que, todos os dias, por toda a Europa e Estados Unidos, só em acidentes de trabalho e viacção, morrem e ficam feridos o equivalente às vítimas do horror de Madrid, senão mais. Esfacelados, mutilados, comatosos também não faltam. No entanto, ninguém no seu perfeito juízo se lembra de acusar de terrorismo os construtores de automóveis ou as empresas exploradoras das auto-estradas. Ou o ritmo de vida cada vez mais frenético e desvairado que é imposto aos cidadãos. Esses mortos e feridos também são horríveis, mas, contudo, não se tornam "aterradores", nem as suas causas são apelidadas de terroristas.
Por conseguinte, o horror só devém terror, quando amplificado e propagado. Os tipos que puseram as bombas nos comboios de Madrid, horrorofactores "hard", assumidos, sabem-no e contam com isso. Eles só cometem a atrocidade, o horror. Dão o mote, o leitmotif. Do terror propriamente dito, da sinfonia macabra, tratam outros: os jornais e as televisões. Em delírio. E os políticos. Em manobra.
Há toda uma indústria necrofágica ansiosa por colaborar. Por transmitir a má nova a todo o mundo. Por transformar o choque em histeria colectiva, em estampido de manadas.A existir esse tal indivíduo Bin Laden, nem é preciso ser muito inteligente ou maquiavélico: basta-lhe um oportunismo qb. Ele já percebeu que o ocidente histérico, gorduroso, mercantilista, fariseu, entrou na fase autofágica, isto é, do absurdo e da auto-destruição. Basta acrescentar-lhe um bom catalizador.
Este terrorismo sem resquício de quaisquer escrúpulo, ética ou respeito, que transformou o massacre e a carnificina no supremo dos espectáculos, reflecte, por isso, uma tripla infâmia: a daqueles que o semeiam; daqueles que o propagam e amplificam; e da sociedade mórbida, cada vez mais embrutecida e viciada no seu consumo."
Adivinhem lá quem escreveu isto?...
Entretanto, já que falamos em terrorismo, aproveito para deixar uma pequena questão:
Em 1961, 15 de Março curiosamente, quando a UPA, no norte de Angola, iniciou os seus belos massacres, à catanada, de cerca de 3.000 portugueses e para cima de 30.000 Bailundos, isso foi o quê? Terrorismo benigno, cheio de escrúpulos? ...

segunda-feira, março 07, 2005

A Odisseia anual Caguinchiana


De vez em quando –em rigor, uma vez em cada ano – o Caguinchas vai de visita a casa. A mulher espera-o, de emboscada, com contas sempre antigas e facturas acumuladas por receber. Vitupera-o, discutem, andam à porrada, partem coisas, dão gritos, e depois, seja porque aquilo os excita, seja porque ela cai exausta, com a combinação em desalinho e as pernas à mostra, ele –indecentemente- aproveita, e, com ganas de seiscentos diabos, faz-lhe mais um filho. Ela, nesse entretanto, por via de electrocussão súbita ou de compressão dalgum botão mais sensível, de exausta transfere-se a possessa: arranha-o, morde-o, estrangula-o, enrosca-se feita cobra constrictora, e fá-lo, desconfiamo-lo bem, passar um bom bocado. Finalmente, por alturas do clímax com que a natureza brinda as suas favoritas, ela grita de novo, uiva aos quatro ventos e respectivas brisas, num estertor ribombante de plantar benzedura em todas as beatas das redondezas e atrair à cusca todos os putos do bairro, enquanto ele, ou por mania inveterada de sincronismos, ou por simpatia fornicabunda, em nada se coíbe de acompanhá-la aos urros, aos brados de incitamento dignos duma tauromaquia descabelada e pornofazeja. Diz, quem o escutou, e sou testemunha que se propaga a grandes distâncias, que é um espectáculo digno de se ouvir. A coisa chega a ter contornos de rapsódia animal. Até que -contam os mitos da vizinhança- por imutável desenlace, um suspiro profundo, um arquejo cavernoso, derradeiro, encerra as hostilidades amorosas e ela, num fulminante êxtase, cai para o lado, desfalecida e saciada para mais 365 dias e outras tantas noites. Facto providencial, esse, pausa deveras oportuna, que ele, manquejante, mordido, escoriado, em perfeito desalinho, ainda meio a pingar e a sacudir-se, aproveita para se pôr ao fresco, dar de frosques, tal qual, aliás, faz e recomenda, entre outros, o pequeno macho da tarântula, por hora de idênticos apertos e desapertos. Eu, no lugar de ambos, o Caguinchas e o "tarântulo", se calhar fazia o mesmo.
Resta acrescentar que no fim da retirada –convenhamos, estratégica –, fica invariavelmente a tasca, aliás ciber-tasca. Ano após ano, é aí, nessa praia de abrigo, que um Caguinchas invariavelmente esfarrapado, náufrago urbano e maltratado da ilha dos amores, vem desembarcar ulissianamente. Feito num Cristo - mas um Cristo ufano e refastelado, triunfador dum Calvário de delícias -, ofusca-nos, então, a todos com o brilho de sóis ignotos que traz no olhar. Um explorador amazónico acabado de regressar do Eldorado, após excursão alucinante por selvas e pantanais, evadido à tangente de feras bravias e tribos antropófagas, não se apresentaria mais condecorado.
Nessas alturas peregrinas, de raro esplendor homérico, uma vez sem exemplo, confesso: temos inveja... Todos! Mordemos a beiça e cobiçamos-lhe as botas. Ao filho da puta do Caguinchas, imagine-se! Que, nesse dia, não há como negá-lo, é o maior. Logo que entre, arrastando-se glorioso, lacerado, a tasca cala-se, estatui-se, em respeitosa veneração. Um silêncio sepulcral, reverente, em jeito de grinalda, é lançado aos pés do arqui-herói que regressa, que desfila, que ostenta, com empáfia, com pompa e circunstância –como manda a ordem, as marcas da sua bravura.
E o sacana sabe disso, o grandessíssimo cabrão, salvo seja!... Oportunista miserável, desfrutador do momento, aproveita a ocasião e responde às trombas em continência, desembainhando ao alto alardes do estilo:
"Estão a ver, ó pichas moles? Macho é assim!..."
A malta engole e cala. O homem, macho de facto incontestável, vem coberto de golpes, mordido e ensanguentado, lá das bandas do Eldorado, e a coroar cada ferida –sendo elas, ainda por cima, mil e muitas – traz reverberações de ouro, fulgores de rubi, irradiações de diamante. Até nos poderia escarrar em cima, que a pandilha acharia justo. Guardaríamos a lostra num frasco, a que prestaríamos culto pagão, devoções de relíquia, tal qual aqueles objectos preciosos, camisolas ou pedaços de muro, que certos maduros coleccionam a título do "eu estive lá". A custo, devo dizê-lo, contemo-nos de não cair de joelhos, prostrados, em adoração.
Entretanto, exagerando nos combalimentos, o Caguinchas senta-se. Como um leão ferido –ou melhor, como um domador de leões após um motim raivoso destes –, põe-se a lamber as feridas, dá-se ares de heróico estoicismo. Munido de aguardente velha –que toda a malta faz questão de lhe oferecer -, entrega-se aos curativos. Ora entorna pela goela (para anestesiar as terríveis dores, conforme explica), ora entorna pelas chagas rubras, a banhar os sulcos épicos que lhe dignificam, a cumes olímpicos, a carne. Rasgou a camisa e ensaia garrotes, pensos ad-hoc. Uma dentada mais sincera, que lhe devasta o ombro direito, deslumbra grande parte de plateia. Os restantes embasbacam, num pasmo idólatra, com os rasgões unguliformes que lhe exaltam as costas.
A certa altura, tomado dos humores caprichosos próprios dos seres predestinados, berra:
-"Tragam-me álcool puro, foda-se! Isto com a aguardente não se aguenta -ainda me gangrenam os tomates! Esse cabrão do Armindo deve tê-la baptizado, diluído, o filho da puta!..."
O citado Armindo, dono da taberna, baixa os olhos e esconde-se atrás da máquina de café, aterrado, temendo o linchamento pelos fiéis; enquanto a mulher, de emergência, larga os tachos e corre a satisfazer o decreto do super-herói. O Caguinchas, sem mais delongas, reforça a anestesia, entornando o álcool puro pela goela e a aguardente velha sobre as feridas.
-"Ah, assim está melhor! – exclama.- As piores hemorragias são as internas!...Já me estava a esvair!..."
É nesta altura que, aos olhos extasiados da maralha, ascende de superhomem a deus.
Ao mesmo tempo, como se tamanhos prodígios não bastassem, dá-se ainda, o finório, ao requinte de ir polvilhando de desabafos sublimes o pudim já de si excelso da situação. Fá-lo como quem conciliabula com os próprios botões, mas até porque estes primam em larga medida pela ausência, fruto da refrega épica, murmura alto o suficiente para que todo o auditório oiça:
-"Irra, esta mulher lembra-me os tempos de África. Quando se vem, um raio me parta se não é a minha velha G3 em figura de gente: nada de tiro-a-tiro, sempre em posição de rajada!..."
Mas a pérola-mor eclode quando porventura alguém, eu por exemplo, cai na asneira de lhe perguntar pela saúde da ferocíssima consorte...
-"Então, Caguinchas, lá vens da visita anual...E que tal está a Anabela?..."
-"Anabela?!! –ruge ele. – Baptizaram-na Anabela, as bestas dos padrinhos. Mas mais valia terem-na baptizado Anaconda!..."

Pois é, meus caros: Há heróis assim. A nós, vulgares mortais, cumpre-nos velá-los, admirá-los enquanto vivem. Até porque, sabemo-lo bem, um dia não regressarão.

domingo, março 06, 2005

A Alta traição aos "Valores"...

Freitas do Amaral diz que a hora é de "dar a cara". Paulo Portas, claro está, tem razões para se sentir ofendido, para se arrepelar traído e despeitado. Todos sabemos como sempre preferiu "dar o cu".

sexta-feira, março 04, 2005

O "Crédito Sénior"

É o último grito: o "Crédito Sénior". Ou melhor, o último grunhido, a chiadela peregrina e derradeira desses cabrões usurários que fazem vida de parasitar e vampirizar incautos, toinos e pacóvios.
-"É um nicho que estava por explorar", proclama uma das grandessíssimas bestas, com ares empertigados, de quem acaba de descobrir a pólvora. Agora nem os velhinhos escapam. Já nem os cabelos brancos respeitam. Toca de sugar até os caquéticos e as velhas carcaças. Tipos com Parkinson ou Alzheimaer? Venham eles! Desgraçados à beira da cova, estropiados ou paralíticos, em coma, ligados à máquina, pouco importa: basta que os filhos, netos ou sobrinhos fiquem de penhor, ofereçam as jugulares, sirvam de reféns.
Este conceito maravilhoso de nicho pimpão é um mimo. Uma beleza! Por artes de tão fulgurante lógica, expediente e ciganice, doravante, a chulagem banqueira até pode emprestar dinheiro a mortos e defuntos, a monglóides e alienígenas, a duendes e fantasmas, que ninguém se espanta. Basta que um fiador, um cristo voluntário se apresente ao suplício, entregue os costados ao martírio. Basta que um qualquer masoquista inveterado se ofereça em holocausto, se cubra de mel e exponha ao formigueiro, à marabunta.
A seguir, não se admirem, vão-se atirar aos sidosos –vai ser o "Crédito Sida". E depois aos tetraplégicos, aos que sofrem dos pézinhos, aos que sucumbem a diarreias crónicas inexoráveis – vai ser o "Crédito Merdinha"!
Finalmente, depois de vos crivarem todos de dívidas, de vos penhorarem desde o primeiro cabelo do cocuruto até ao derradeiro pintelho do cu, hão-de querer emprestar dinheiro ao vosso cão, ao vosso gato, ao piriquito e à galinha! Ao espantalho da vossa horta! Aos gambosinos todos da paróquia! Aos arincus da noite escura!
Hão-de emprestar até aos vermes que vos hão-de comer e às moscas que, na hora da despedida, as almas vêm escoltar. E tudo isso só porque na hora em que nasceram ninguém teve a caridade de fornecer um penico, uma algália, um caixote do lixo –enfim, um adequado nicho – à grandessíssima puta que os pariu!...
Tenho dito.