sexta-feira, agosto 31, 2007

Um pingo de auto-crítica e dois de vergonha na cara






«Não é outro a causa do teu mal; tu próprio és o teu inimigo.»
- Sófocles, Édipo Rei

Para nós, portugueses, tão grave quanto a nossa falta de auto-estima só existe uma coisa: a nossa falta de auto-crítica.
Parece um paradoxo mas não é.
O caso, tudo o indica, é que muito poucos querem ser portugueses agora, no presente. Uns porque, pura e simplesmente, não querem ser portugueses, isto é, querem ser estrangeiros ou imitá-los religiosamente -são os assimilados, tal qual eram os pretos mais evoluídos das nossas antigas colónias; outros porque querem ser portugueses do passado; outros ainda porque não sabem o que querem, se é que querem alguma coisa fora do seu perpétuo êxtase umbilical - sendo que o umbigo, não raras vezes, serve de esgoto à vesícula. Existem também umas espécies mistas -dos que querem ser estrangeiros no passado e dos que querem ser estrangeiros no futuro - que consideraremos, por economia de texto, implícitos às duas primeiras.
Daqui, como é fácil de ver, resulta não o paradoxo, mas o quotidiano: o ser português aqui e agora, em plena tempestade, à beira do abismo não lhes interessa. Por um lado, só lhes merece desdém, sobranceria, rancor, quando não ódio declarado (e daí a falta de auto-estima); por outro, na medida em que não pertencem, em que não se integram no cenário, nunca se sentem minimamente responsáveis nem são, por inerência, em modo ou tempo algum, passíveis de reparo (e daí a ausência de auto-crítica). O país vê-se assim perspectivado ou dum promontório alienígena ou dum pedestal alienado.
Não deixa de ser curioso que todos eles - os que querem ser estrangeiros, os que querem ser passado e os que não sabem o que querem porque querem tudo e mais alguma coisa -, concordam num aspecto fulcral: o sórdido presente do país não é consequência nem do estrangeiro, nem do passado, nem da preguiça volitiva congénita ou da cobardia instituída. Não, dir-se-ia que este presente infame eclodiu por geração espontânea ou por acção exclusiva daquela meia dúzia de irredutíveis que não quer, nem hoje nem nunca, fugir para o passado, nem para o estrangeiro, nem para uma contemplação maravilhosa do umbigo.
Quer dizer, há uma unanimidade em toda esta gente na desestima do Portugal presente e na crítica desapiedada aos desgraçados portugueses que ainda resistem e, por conseguinte, devem ser responsabilizados. Atente-se em como se produz o inefável concílio: para os estrangeirados a culpa é dos nacionais; para os passadistas a culpa é do presente; para os umbiguistas a culpa é dos outros.
Cumpre assim perguntar: afinal, quem são estes portugueses detestáveis do presente - os tais que não se refugiando no estrangeiro, no passado ou no umbigo, arcam com as culpas pelo Calvário acima?
Bem, certamente que não são as elites. Essas, como lhes compete e é apanágio da horda há uns séculos a esta parte, querem ser estrangeiras seja lá de que maneira for - no presente, no futuro ou no passado, mas estrangeiras. Maiores toca-pívias que as elites - do sucessozinho a qualquer preço, da vida fácil, do venha-a-nós - tenho sérias dúvidas que existam.
Também não são os agarrados da ordem - às telenovelas, publicidades, créditos e telechupetas todas que houver -, essa vasta chusma de migrantes/emigrantes, em acto ou potência, em catapulta ou lista de espera, no desemprego ou a borrarem-se de medo dele. Tais mamíferos de imitação, se as elites querem ser estrangeiras, então eles, por gana suprema, querem ser como as elites. E quando falam mal delas é, nitidamente, à maneira da raposa na fábula das uvas inatingíveis: "estão verdes, não prestam, só os cães as podem tragar."
O que é que sobra?
Sobra não sei exactamente quem, não sei exactamente como, nem sei exactamente onde, mas suspeito que, na realidade, não existe, e, se existe, então, seguramente, é uma espécie em via de extinção. Uma espécie que, com dificuldade crescente e algum desespero à mistura, luto por vislumbrar em mim próprio.


Talvez seja por isso, por gastarmos o tempo a aspirar ao que não somos e a deitar as culpas sobre algo que não existe, que acabamos por não viver nem sair de cima. Há lições que são eternas e vêm dos primórdios. Há verdades mais antigas que a nossa amnésia. Encontrar-nos-emos no lugar e na hora em que deixarmos de fugir de nós próprios.
Nem que seja para arrancarmos para sempre os olhos, por nos ser insuportável a visão do monstro em que nos tornámos.

Português suave

Na Grande Loja, o José tece considerações e histórias sugestivas, num belo postal sobre determinada fauna da noite.
Permito-me um breve considerando, não de ordem criminológica, que o José, melhor e mais sabiamente que eu, já expôs, mas de mera espécie luso-semântica. Das televisões aos jornais, a amenização semiótica impera: aquilo que nos Estados Unidos se chama um gangster, ou em Itália um mafioso, entre nós denomiza-se "segurança ilegal".
É a linguagem do crime neste país: o Português suave.

Atrevimento gratuito ou Um peixe chamado Besugo


Também me vou atrever a umas palavras simpáticas, bem como a outras
antipáticas.
As simpáticas não as digo por simpatia mas por justiça: o Blogame Mucho é um bom blogue (poderia até dizer que era 10.000 vezes melhor do que o Abruto, mas isso não constituiria grande elogio) e acaba de celebrar quatro anos. O Verão de 2003 é, de facto, na tabela enológica de blogues, a melhor colheita de sempre. Precisamente nos antípodas do inverno desse mesmo ano.
Os animadores do Blogame mucho estão pois de parabéns e merecem o meu agradecimento. À Lolita, cuja beleza só é equiparável ao excelente gosto futebolístico; ao Alonso, que devia escrever mais; e ao Besugo, que devia escrever menos sobre futebol - aliás, sobre tão confuso senão abstruso assunto (para ele, pelo menos) não devia escrever nada, nunca, e sempre que escrevesse devia materializar-se um anjo caridoso e ministar-lhe umas marteladas ortopédicas nos dedos -, pois, aos três, vai o meu sincero obrigado. Que contem mais quatro iguais a estes que já não vão nada mal. Eu, pelo menos, em sendo vivo, cá estarei para aplaudir. Muito especialmente o Besugo, confesso, que, não sei se por via da costela transmontana (mas desconfio que sim), é dos raros por estas bandas a conseguir alcançar, não raramente, o sublime.
O pior é aquela maluquice que lhe dá sempre que se lembra daquele clubeco de tios e quéques a que não sei porque carga de água cismou de talibanizar. Mas enfim, como aquilo é um peixe deve ter que meter o precioso líquido, todos os dias, para não asfixiar.
E com isto tudo até me esqueci das palavras antipáticas que, em tributo vitalício aos meus maus-fígados soberanos, era para dizer.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Nem o pai morre nem a gente almoça

«Em síntese, os liberais poderão fornecer aos partidos conservadores aquilo de que eles mais carecem: uma ideologia e um pensamento para a sua actuação política».
Isto não é chinês: é liberalês.
Tradução do liberalês para português: Uns tipos sem ideologia nenhuma podem abastecer-se junto duns tipos que não sabem que ideologia têm.
Ou, em linguagem mais popular: uma senhora fina muito dada ao adultério procura reaprender a castidade junto duma menina de vida fácil.



Errata: onde se lê "vida fácil" deve ler-se "ideologia fácil".

O Império da Novilíngua




James Burnham publica em 1941 "The Managerial Revolution: What is Happening in the World". A obra teve grande impacto, tornando-se até o "modelo" inspirador de 1984, de George Orwell.

A certa altura pode ler-se: "Os políticos modernos do tipo que encontramos presentemente em França, na Alemanha e noutros países de regimes análogos assemelham-se muito a directores modernos. Dirigem os povos segundo métodos análogos aos que empregam os directores para dirigir a produção: têm mentalidades semelhantes, utilizam do mesmo modo as possibilidades da técnica. Staline e Hitler preparam a nova feição da sua política mais ou menos como um director de fábrica prepara o fabrico de um novo modelo."

Burnham, que começara por ser comunista (fundador da seita trotskeira nos USA), não andaria longe de acreditar que o verdadeiro paradigma da sociedade futura seria a Alemanha Nazi. Estava convicto (em 1940/41, lembre-se) de que a Alemanha e o Japão triunfariam e que, no futuro, três superestados directoriais partilhariam entre si a hegemonia mundial: a Alemanha, o Japão e os Estados Unidos (os americanos como herdeiros o Império Britânico então em declínio). Verificada a derrota da Alemanha e do Japão, Burnham publica em 1947 uma nova obra - "The Struggle for the World" - onde revê os prognósticos e convida expressamente os Estados Unidos a assumirem a supremacia mundial, se necessário pela força. Nessa obra, augura igualmente uma Federação Europeia sob supervisão e controlo americanos.
Naturalmente, Burnham teve uma importante influência na geopolítica dos neoconservadores. E não só. Estabeleceu, tanto quanto uma fórmula inquietante, uma receita deveras atractiva e vantajosa para todos aqueles que experimentem um interesse determinado na sujeição do mundo, mais que a uma determinada nação, a um directório tutor dessa nação e, através dela, do globo.
Em 1983, James Burnham foi condecorado com a Medalha da Liberdade pelo Presidente Ronald Reagan. Há toda uma ironia cínica no Império da Novilíngua.

Tetraplegiclastia


Pode ler-se no CM que Israel quer deportar tetraplégico - uma criança palestiniana de cinco anos, perigosa como todas elas, que estará em tratamento no hospital de Jerusalém.
A ilação óbvia que podemos retirar disto é que o anti-semitismo furioso dos jornalistas não abranda. Israel enceta nítidos progressos, já não lhes acerta com mísseis, apenas quer deportá-los, mas a comunicação social persiste como se nada fosse. Como se continuasse tudo na mesma.
Aposto que até há por aí alguns maldizentes que, a esta hora, já deduzem: "sim, sim, vão deportá-la para a Cisjordânea que é para a seguir lhe poderem acertar com um míssil!..."
Já os bendizentes honorários, apologetas imarcescíveis da bela Sion prometida, clamarão fundamentalistas: "Os tetraplégicos, ora essa, há que apanhá-los no início, antes que se desenvolvam. Um pouco como os incêndios ou os bacilos. Além do mais, ninguém gosta de serviços inacabados. E até podem experimentar aquele novo dispositivo sinalizador que os mísseis inteligentes tanto adoram."

quarta-feira, agosto 29, 2007

Feios, porcos e maus

Surpreendemos aqui, em flagrante delírio, mais que um programa, todo um filme. Uma fita completa. Ao melhor estilo do neo-realismo italiano - dum Ettore Scola, por exemplo.
Vasco Graça Moura acha que por escrever uma qualquer fantasia numa folha de couve ela se torna realidade. Ou que as pessoas a tomam como tal.
Dá-nos a todos uma amnésia súbita, corolada duma estupidez consumptiva e desatamos, em bloco, a crer piamente que o PSD tem elites. E que essas elites se distinguem das bases. Que, mais fantástico ainda, são "indispensáveis ao partido e ao País". À inteira Civilização Ocidental, quem sabe...
Bem, bastaria atentarmos no estado de ambos, do partido e do País - a país como o partido e o partido como o país - para desatarmos todos a rir a bandeiras despregadas. É mesmo caso para desabafar: Com elites destas, quem é que precisa de bases?
Ora, o que o País sabe, que está cansadíssimo - senão mesmo exausto - de saber é que o "capital entretanto acumulado por alguns" (essa nomenklatura para quem o Vasco faz os fretes de comissário político a troco das mordomias de cãozinho de colo) não foi exactamente o da "experiência, conhecimento, capacidade e aptidão". O País sabe e o partido também, sobretudo porque foi a expensas suas que esses alguns trataram de acumular. E é por saberem que ambos murmuram e, ainda que frouxamente, se agitam. Uma questão inquietante, mas cada vez mais obsessiva, azucrina-lhes as meninges: "porque é que os alguns têm que ser sempre os mesmos? Porque é que os outros não podem também mamar com idêntica fidalguia? Se não há moral, então não devemos comer todos?"...
E têm razão. Pois se é
A mama que faz o fidalgo
acima dos outros fulanos,
democratize-se a chupeta
deixem-nos chupar na têta
que logo fidalgos ficamos.

O que, espantalho e trafulha, como lhe compete, VGM tenta explicar-lhes, às cavalgaduras inquietas, é que o úbere é um mister esotérico que decorre ao mais alto nível. Que exige uma superestrutura adestrada, experiente, acrobática. Que as bases sozinhas não chegam lá. Que só conseguem alcançá-lo com alguém às cavalitas. Ele e alguns como ele. Cúmulos vitalícios. Ou melhor, cus levados em ombros.
Com elites tão básicas não hão-de as bases sentir-se elites!...
Vou soletrar devagarinho para ver se percebem: a classe é o espelho do professor; o exército é a imagem do general; a arte é o reflexo do artesão. Um povo feito choldra é o espelho de quem? Um povo conduzido ao chiqueiro foi atrás de quem? Um povo mergulhado em taras e vícios anda a emular quem?
"Feios, porcos e maus" não é apenas o título do filme: é a descrição exacta das actuais elites deste país. Tão postiças e ciganas quanto qualquer pechisbeque de contrafacção.

terça-feira, agosto 28, 2007

Aforismos Fernandeanos

«Gente rica não passa de gente pobre com muito dinheiro».

«Toda a revolução económica, depois de um certo tempo, faz apenas uma mudança de capitalistas.»

«A única diferença entre o carneiro e o contribuinte é que o carneiro só é tosquiado uma vez por ano».

«A escravidão de cada um termina onde começa a escravidão alheia».

«Metade das mentiras que os jornais publicam não são verdade».

«O homem é um produto do meio. O meio é um produto do homem. O produto é um homem do meio».

- Millôr Fernandes

Abandonada por você

«Nunca os portugueses abandonaram tantos animais como este Verão», lamenta-se a fundadora da SOS-Animal. E depois acrescenta: "as pessoas têm de entender que quando se adopta um animal é como se fosse um bébé".
Esta analogia, convenhamos, não é lá muito feliz. É até preocupante. Se coligirmos as notícias constantes de mães que se desembaraçam abruptamente dos bebés respectivos -como aquela, em Linda-a-velha, aqui há tempos, que atirou o nenuco pela varanda, ou esta agora, no Algarve, que foi atirar o recém-nascido ao mar -, facilmente constatamos que os animais, apesar de tudo, ainda auferem de algum cuidado na despedida. Ora, se as pessoas desatam a fazer como a senhora fundadora da SOS-Animal recomenda, ou seja, a tratarem os animais como se bebés fossem, ainda corremos sérios riscos que nos começam a chover cães das varandas, gatos das janelas e sabe-se lá que mais dos terraços. Já não falando nas praias infestadas de carcaças nauseabundas de ex-pets que os caranguejos petiscam. Havia de ser péssimo para o turismo.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Silêncio e nada mais

De tipos que nunca me disseram nada em vida eu não digo nada depois de mortos. Ou de acabados de morrer. É um princípio. Hoje em dia, eu sei, fica mal, mas convém ter alguns.

A evolução dos espécimes

Não há muito tempo, foi aquela histeria toda, aquele frenesim urgente para que a lei permitisse abortos por capricho em hospitais. Nos hospitais é que tinha que ser, é que era moderno, ecológico, super-asseadinho. Agora já vão começar a fazê-los fora dos hospitais, nos Centros de Saúde, à força de comprimidos ( não sei se pela goela abaixo, se pela viela acima). Logo a seguir, presumo, passarão carta de corso aos dentistas (é só o tempo de sujeitá-los a uma daquelas acções de formação pagas pela CEE, ou UE, ou lá o que é).
Em resumo, não tarda nada, estão outra vez no vão-de-escada. Abrem lá "salas-de-despejo". Ainda hei-de ver kits "faça você mesmo" à venda nas lojas de bricolage.

domingo, agosto 26, 2007

Salários, salafrários e dignitários




Segundo o Correio da Manhã, nas Forças Armadas portuguesas, um estomatologista ganha quase três vezes mais do que o Chefe de Estado Maior General, ou seja, em números concretos, 5183 euros para o general Chefe; 14 716 euros para o caçador de cáries.
Naturalmente, se bem vos conheço, vosselências aguardais um parecer meu sobre tão suculenta matéria. Importa, pois, que não vos desiluda.
Pois bem, acho que tudo isto está um pouco, quiçá até senão mesmo ligeiramente inflacionado. Trocando por miúdos: se por um lado não acho mal que o estomatologista ganhe mais do que o general-Mor - e, já agora, também que o presidente da república (7.262€, fora as alcavalas) , que o primeiro-Ministro e, em cascata sublime, que todos os outros altos dignitários da Nacinha por aí abaixo (afinal de contas, por pouco que seja, o tratador sempre faz qualquer coisa de útil e meritório na vida) -, por outro, parece-me que 14 716 euros raia o exagero. Digamos que com uns 5000 euros para ambos (guardando a justa vantagem para o dentista) fazíamos a festa e ainda recauchutávamos a moral. Pelo menos, os contribuintes não se sentiriam tão descaradamente - já não direi lesados - mas assaltados em cada ano que passa.
Até porque hoje em dia não faz qualquer sentido continuarmos a chamar Forças Armadas àqueles funcionários públicos que paradeiam e nidificam pelos quartéis. Armadas, só se for mesmo em parvas. Basta recordar como na última guerra em que foram chamados a defender o território nacional, entraram como exército e saíram feitos "Movimento de libertação". Não me perguntem porque é que, em vez de acabarem com os terroristas, desataram a emulá-los. A África, que conheço bem, é dada a estes mistérios e feitiços. O certo é que maçados de defender o ultramar, acharam por bem vir atacar a metrópole. A pretexto de a libertarem, escreveram na Ordem de Serviços. E, de modo a ganhar embalagem, começaram por libertar-se a eles próprios de escrúpulos, honra, sentido do dever, coluna vertebral e todo e qualquer respeito pela bandeira e pela farda que envergavam. Assim, devidamente libertos, puderam debandar com quantas ganas e vísceras tinham, mais as hirsutas coifas recém-descobertas, para nos virem libertar a nós - sobretudo duma série de preocupações e anacronismos cansativos, como a independência e a autodeterminação, só para citar as mais insignificantes (a gravata e o escanhoamento merecem, cada qual, todo um tratado à parte). Desde então, guerra não é com eles. Converteram-se em soldados da paz - uma mistura pacóvia de escoteiros internacionalistas e turistas fardados. Por conseguinte, não vejo qual seja a necessidade, ou sequer a justificação para continuarem a ser tratados -e ainda menos pagos - como se de soldados se tratassem. Soldado da paz, que eu saiba, é bombeiro. Pelo que o justo era integrá-los a todos, e duma vez por todas, no Regimento de Sapadores Bombeiros, que passaria a Brigada, ou Divisão se tanto, e o General Chefe a Comandante de Bombeiros (neste caso não já e apenas municipais, mas internacionais). Depois disso, poderiam continuar a mandá-los na mesma fazer de sipaios de aluguer por esse mundo a fora, não vejo qualquer inconveniente nisso. Cada qual é pró que nasce. Mas, claro está e condição sine qua non, desde que fossem de machado, capacete e auto-escada. Assim é que lhes ficava apropriado. Agora submarinos, blindados e outros gadgets que tais não sei que raio de falta façam a bombeiros ou justifiquem fatias do orçamento. Além disso, nos intervalos das viagens de servidão do globo sempre podiam ser empregues em qualquer coisa de prestável ao país, como o combate a incêndios no verão ou a limpeza de matas no inverno.
Quanto à tropa fandanga, ficamos conversados. E é melhor não me puxarem muito pelo badalo.
No que respeita àqueloutros altos dignitários da Nacinha, dado o nível cada vez mais baixo a que essa altura decorre, convém acrescentar alguns detalhes. Que se sintetizam num postulado essencial: parece-me lógico, sem qualquer tipo de hipérbole ou ironia, que essa gente devia pagar para exercer. O presidente da República e o Primeiro-Ministro, especialmente. Pagar (do seu próprio bolso, evidentemente) o alojamento, os carros, as viagens, a alimentação e ainda, a título de indemnização pelos prejuízos colectivos que sistematicamente caucionam e perpetram, o equivalente ao salário actual em prémio a distribuir mensalmente através de lotaria popular (que mecanismo mais democrático, digo e repito, não existe). Talvez se pagassem, começassem a dar valor e a ter algum respeito pela função, já que pelo povo em geral continuo com as minhas dúvidas. E também era sinal de que possuiam bens prévios ao exercício do poder, pelo que só ali estavam para asnear generosamente e não, como é sórdido costume, para asnear e, ainda por cima, enriquecerem à nossa custa, fazendo-se cobrar faustosamente por isso. Delapidarem o érario público a malta ainda desculpa... ainda é como o outro, descontamos à tradição; agora locupletarem-se e fartazanarem-se nele é que nos enfurece. Esbanjar é próprio dum rei, mas pilhar é típico dum gatuno.
Já os deputados ao Parlamento, bem como a generalidade dos autarcas maiores, não bastaria que pagassem monetariamente. Em complemento obrigatório, o castigo físico e o serviço cívico ao domicílio dos cidadãos (também através de sorteio) seria imprescindível. Absolutamente indispensável.
A Santa Casa havia de bater recordes de receita. Era uma destas corridas aos quiosques!... que até desconfio que deixava de ser preciso cobrar impostos.

sexta-feira, agosto 24, 2007

Assédio eleitoral

Só aparentemente é que existe contradição nas duas notícias que se seguem:
a) «Macário Correia acusado de assédio sexual»
b) «Macário Correia nega assédio sexual»

Com efeito, ambas podem ser verdadeiras em simultâneo.
Demonstração:
Diz ela, a putativa assediada - Ele anda a assediar-me.
Diz ele (Macário) - Ela não anda a assediar-me. Não tem havido mesmo assédio nenhum. O problema é esse. E é chato.

O Eclipse total do sol





O requinte desta argumentação, oriunda dum prodígio mental que dá pelo nome de Miguel Portas, não deve minimamente espantar-nos. Afinal, estamos a falar dum deputado europeu.
Não obstante, a bem da verdade e do rigor científico, passo a expor uma lista de "gestos espectaculares" que não seriam, de facto, um ataque à propriedade do agricultor:
1. Os Verde Eufêmeos concentravam-se junto ao milho pernicioso e destavam a comer pipocas todos nus;
2. Os Verde Eufêmeos organizavam um concerto de heavy-metal contra o milho pernicioso;
3. Os Verde Eufêmeos entregavam-se a uma orgia pública junto ao milheiral maléfico;
4. Os Verde Eufêmeos nomeavam um voluntário para se imolar pelo fogo na orla da plantação terrífica;
5. Os Verde Eufêmeos tentavam entrar para o Guiness Book of Records, fumando a maior broca de todos os tempos junto ao odioso vegetal e em protesto contra o mesmo;
6. A GNR comparecia e ajudava os Verde Eufêmeos a fumarem a broca;
7. O Ministro da GNR, de beiçolas e avental, era convidado a presidir e dava a primeira passa;
8. A bem da espectacularidade, o Ministro acendia primeiro o voluntário nomeado e atado para auto-imolação e só depois acendia a super-broca no archote humano;
9. O agricultor chamava os bombeiros na defesa do "princípio da precaução", não fosse a broca pegar-lhe fogo, inadvertidamente, ao plantedo;
10. A broca, porém, era de tais dimensões, que o fumo transtornava e confundia os bombeiros. Alucinados, imaginavam uma invasão de gambosinos alienígenas com desígnios incendiários. Daí a desatarem à mangueirada nos músicos de heavy-metal não demorava nada;
11. Enquanto os metaleiros entravam em curto-circuito, os Verde Eufêmeos faziam mosh com o Ministro da Agricultura;
12. Miguel Portas, das Bahamas, por SMS, supervisionava o sabat alternativo de encerramento;
13. Pacheco Pereira, da Marmeleira, através do Google earth, ocupava o céu e vigiava, severamente, em lugar de Jeová;
14. Subitamente, acontecia um eclipse total do sol e todo o evento mergulhava numa treva espectral. Obstruindo por completo a emissão do astro-rei, interpunha-se agora uma confluência meteórica formada, não pela lua, coitada, de todo inocente do fenómeno, mas pela condensação abrupta, espessa e osmótica do ciberego de Pacheco Pereira com a telecretinice de Miguel Portas.

quinta-feira, agosto 23, 2007

O Terrorismo Arco-Íris (rep.)




A máxima da avó Judite, segundo a respectiva neta e minha insigne esposa:
«Vale mais ter um filho ladrão que um filho maricas."


Tempos complicados, estes, em que eles não contentes de serem maricas, são também, sempre que possível (ou, se calhar, por isso mesmo) cleptomaníacos desarvorados.
A antepassada apostava na disjunção: ou deitar a unha ou dar o cu. Mas a coisa agora virou conjunção implicativa: dar o cu, porque isso, está mais que visto, facilita e catalisa muito o deitar-a-unha, o agenciar pecúlio.
Eu, no entanto, não concordo com a avó Judite. Tive que confessá-lo, com mágoa, à respectiva neta. Acho que é preferível um filho morto, ou filho nenhum, a uma aberração inerte e desossada dessas.
Não se trata de homofobia. Trata-se de que eu gosto dos meus filhos. Se nasceram homens, estimo que o sejam. Se nasceram mulheres, a mesma coisa. Quanto aos filhos dos outros, o fenómeno não me aflige especialmente. Menos concorrência, tento explicar aos meus. Excepto , claro está, nas carreiras artísticas, políticas, jornalísticas, diplomáticas e outras mordomofolias que tais. Mas como eu procuro, na medida do possível, educá-los de modo a que alcancem, no mínimo, o estatuto de humanos e vertebrados, confio em que não se sintam atraídos por pocilgas, monturos ou cloacas. É, aliás, uma regra de ouro que lhes lego e sempre pratiquei: Ninguém sobe a um monte de trampa para se fazer coroar lá no vértice; ao contrário, atasca-se irremediavelmente, é tragado sem apelo nem agravo quem assim pensa.
Se não imperasse uma badalhoquice mental parola e macacóide mascarada de modernismo catita, esta era uma coisa óbvia que não seria preciso manifestar. Mas como impera, é imprescindível não calar! É fundamental não temer a peixeirice albardada de último grito! É imperativo afrontar a tirania, ainda mais quando no-la tentam inculcar sob os ouropéis da bandalheira delicodoce. Ainda mais quando a tirania vem com falinhas melífluas e lengalengas anestésicas. O terrorismo árabe & associados rebenta-nos com o coiro numa esquina qualquer do melhor dos mundos, mas não é único. Há outros terrorismos mais cavilosos e menos esporádicos. Estilhaçam-nos o espírito (ou o que resta dele), trituram-nos a vontade e os ossos, infestam-nos de fobias e fantasmas. E fazem-no todos os dias, à hora da telenovela, à hora do telejornal, em maratonas ininterruptas de opinorreia pelos pasquins, na publicidade de empreitada, em compêndios sado-científicos e grandes reportagens funambulares atulhadas de números acrobáticos. O terrorismo arco-íris não é menos fundamentalista que o chanframento islâmico. A diferença é que não mata instantaneamente: vai envenenando, intoxicando, desmoralizando. Vai transformando, ao ralenti, em lume brando e banho maria, a própria condição humana numa sórdida anedota, num freak-show. É o regresso, em grande força, da mulher barbuda e do homem engolidor de todo o tipo de merdas.
E esta, desenganem-se, nem é uma questão de esquerda ou de direita. É uma questão de bom senso. E de higiene mental também...


PS: Nada disto tem a ver com a homossexualidade. A homossexualidade existe há milénios e nunca precisou de toda esta mariquice peganhenta para coisa nenhuma. Não estou a ver, em mais de dois mil anos, homossexuais a terem como superlativo objectivo de vida casar e ter filhos - homossexuais, no fundo, a quererem ser macaqueações bacocas e burgessas de casais normalíssimos. Não, este paneleiro/a mimético/a, híbrido entre a puta carreirista e a fada do lar, é artefacto recente. Toda esta campanha global serve-se da homossexualidade apenas como pretexto e subterfúgio. Em suma: como máscara. A sua verdadeira motivação deverá procurar-se mais nas usinas e forjas olímpicas da "impotência" e da "psico-esterilização". O seu intuito, secreto, velado, mas cada vez mais óbvio, é apenas um: tornar-nos a todos impotentes, neutros, amorfos, estéreis, uniformes. O Mercado, entre outros, agradece. Um homem a sério é fraco consumidor.

quarta-feira, agosto 22, 2007

A Espécie Humana

Através do Horizonte, tomo conhecimento dum cientista italiano que «afirmou que a espécie humana deve caminhar para a bissexualidade "como resultado da evolução natural das espécies"».
No minha ingenuidade, eu julgava que a espécie humana já era, desde sempre, bissexual, ou seja, composta por elementos do sexo masculino e por elementos do sexo feminino. Antolhado dessa mesma candura incorrigível, pensava eu que os árabes, os indianos, os africanos e até os tipos da Patagónia também faziam parte da "espécie humana". Afinal, andei todo este tempo enganado e embrutecido. Graças a Deus, existem estes cientistas peregrinos para nos polirem e esclarecerem. Estes cientistas, note-se, devidamente acolitados pelos redactores bestiais destas notícias. Não temam, eu percebi o que ele queria dizer.
Agora esta coisa da "evolução natural das espécies" deve ser um fenómeno cíclico que obedece a caprichos de boomerang. Vai e volta. De vez em quando, reaparece. O Império Romano, como a civilização grega sua precedente, experimentaram-no. E experimentaram-no duma forma bem mais ágil e festiva do que estes nossos modernaços hodiernos. Desataram mesmo a evoluir com todos os luxos, circos e orgias que lhes desse na real gana. Um enlevo. Em ambos os casos, os bárbaros agradeceram. Tinham a vantagem de não pertencer à louvada "espécie humana", pois era; pelo que não estavam sujeitos às suas tendências e modas. Tal qual os árabes, russos, africanos, indianos e toda essa malta extra-ocidental de hoje em dia.
Dir-me-ão, os ufanos coquichos do costume, que os esmagaremos que nem piolhos com a nossa superioridade tecnológica. Bem, os romanos também eram muito superiores tecnologicamente aos vândalos ou godos em geral, já não falando nos Hunos. O Império Chinês também era superior tecnologicamente às hordas de Genghis Khan. Até o III Reich era tecnologicamente superior aos russos. Podia aqui ficar a tarde inteira a descrever o cemitério das "superioridades tecnológicas" às mãos da barbárie, que é como quem diz, dos "não-humanos". Lá está, enquanto uns desenvolvem a tecnologia, os outros desenvolvem a testosterona. E até hoje a testosterona tem cilindrado por larga margem.
Mas nem tudo são contrariedades. Temos de facto uma vantagem em relação aos romanos e outros submersos idos que, embora meramente semântica, não é nada pequena. É que nós agora, à Decadência, chamamos "evolução natural da espécie". Já descemos àquele estado larvar da mentalidade em que acreditamos piamente que vencemos uma doença mudando-lhe o nome. Tem a sua lógica: vão-nos trucidar na mesma. Só que desta vez hão-de apanhar-nos devidamente anestesiados, os filhos da puta. É o Progresso.

terça-feira, agosto 21, 2007

O Tempo não existe

Nos meus tempos de jovem aprendiz de filósofo, lembro-me que havia uma descoberta minha que causava grande escândalo entre os meus amigos (geralmente contraditores) da área científica. Dizia-lhes eu, em tom oracular: "o tempo não existe; é uma pura construção mental nossa, apenas a forma de nos orientarmos e distribuirmos no espaço". Indignavam-se comigo. Que delirava, que não sabia o que dizia, etc. Quase eclodiam zaragatas. Grandes algazarras esventravam a noite.
Irredutível, porém, não me ficava por ali. Quando já quase os via a espumar da boca, aplicava-lhes a segunda dose: "e os números também não existem; ainda me hão-de mostrar um "número 3" na natureza". Rebentavam de fúria. Ah, aquilo ultrapassava as marcas! Rompiam em urros e brados ofendidos. Aqui o herege tinha-lhes menoscabado as divindades. Deixara-lhes os altares a pingar saliva. Por pouco, escapava de ser linchado. Não raras vezes, tive mesmo que romper cercos à patada. O que perfazia com desenvoltura mas também com perfídia premeditada, sulfatando-os com uma terceira pérola de sabedoria, a qual, bem vistas as coisas, mais não era que o corolário lógico das anteriores: "por isso mesmo, não percebo que raio de ciência é a vossa, sempre a armar ao pingarelho da super-objectividade, quando passa a vida a medir uma coisa que não existe na realidade com entidades que não existem na natureza".
Desatavam a uivar e a arrancar cabelos, dando pontapés furibundos a quantos caixotes incautos por ali houvessem. Ballet troglodita, esse, que eu entendia como altura oportuna para me pôr ao fresco. Uma vez iniciada, a licantropia, nunca sabemos como acabará. Se bem que, de longe, ainda lhes gritasse: "metafísicos do Cara***!..."
Durante toda a minha adolescência, que terminou, mais ou menos, por volta dos quarenta anos de idade, devo ter dito duas ou três coisas acertadas (e pensado aí umas cinco). Estas, do tempo e dos números, Deus as abençoe, foram duas delas.
O tempo de facto não existe. Existe apenas como teia que todos vamos tecendo e entretecendo. E, à medida que tecemos e fiamos, que segregamos essa vasta armadilha, vamo-nos transformando em moscas - pobres insectos aprisionados na própria teia. Esta, entretanto, enquanto trama colectiva, adquire a forma duma imensa aranha. A que chamamos Tempo.
A Margarida, o Bruno, o Manuel e o Pedro ainda acreditam nessa ilusão. Que perfizeram 4 anos nos blogues respectivos, andaram por aí a anunciar, submissos ao calendário, vergados ao relógio, convertidos à contabilística cronológica do tempo pesado ao minuto. Como se este mundo, depois da mercearia de Iahvé, fosse agora a Loja dos trezentos de Deus.
Permito-me convocar os velhos gregos, de Homero e Sófocles, em prol da minha exposição. Eram gente mais sábia que nós. Houve até um medieval honesto que reconheceu (como aliás lhe competia): "somos anões aos ombros de gigantes" (os gigantes, claro está, eram os gregos). Nós, em contrapartida, do alto deste século XXI, bem podemos proclamar: "somos piolhos na cabeça de anões aos ombros de gigantes". Pelo que temos alguma dificuldade em vislumbrar os gigantes. E é pena. Mas tentemos.
Diziam então eles, esses promontórios ancestrais da clarividência: "o homem não passa dum efémero". Significa "efémero - epi ( "durante, cerca de) + emeros ( dia)-, qualquer coisa como "durante um dia". E tinham toda a razão. A nossa vida dura um dia e nada mais que um dia. Um dia que retorna e se retoma todas as manhãs, um dia que se regenera todas as noites. Somos o eterno retorno desse dia na parte que nos compete. Até ao crepúsculo pessoal e derradeiro da tarde última, que é quando os olhos se fecham e o nosso dia acaba. Efemérides são, assim, ultra-redundâncias. Parabéns não fazem sentido.
Prefiro, pois, dar-vos a estima e o reconhecimento, ó compatriotas. Por conseguinte, minha senhora, rapazes, bem hajam por existirem nesse vosso dia e que ele dure, pelo menos, mais do que o meu. Aqui. Sempre. E em toda a parte.






PS: Por seu turno, o Miguel anunciou 2 anos, imagine-se a proeza, e já ameaça encerrar o púlpito. Porque vai não sei para onde. Deveremos intuir que se dirige a um qualquer mosteiro, numa região remota e inóspita, onde nem sequer existe ligação à net?... Ora, deixe-se de fitas. Indeferido! Quando eu julgava que o tinha visto já debitar todos os disparates possíveis e imaginários, eis que emite o maior, o campeão de todos eles.

PS2: Além do mais mitolágico, o dragão é igualmente o animal mais manhoso e solerte da Criação: consegue matar cinco coelhos com uma cajadada só. Quer dizer, na realidade não consegue: porque o número 5 não existe fora da nossa imaginação. Portanto, não sendo o mais manhoso objectivamente, é, não obstante, o mais manhoso subjectivamente.

segunda-feira, agosto 20, 2007

No Jardim-escola à beira-mar...

Nada disto me surpreendeu: nem a destruição do milho pelos eco-coisos; nem a escolta proporcionada pela GNR para o efeito; nem o ministro da GNR, com aquela fronha que ele tem, a proclamar que a dita GNR "fez exactamente o que deveria ter feito". Para ser sincero, surpreendente foi o facto dos eco-coisos, gado tipicamente urbano, terem conseguido distinguir o milho das couves ou dos girassóis. E mais assombroso -de pasmar mesmo com toda a minha alma! - foi ter tomado conhecimento de que ainda existe alguém que se dedique à agricultura neste campo de golf à beira-mar desplantado. Não admira que o governo, perante tamanha resiliência, se veja forçado a promover e subsidiar estas eco-jornadas.
Quanto aos clamores irados do costume contra estes jovens vândalos encapuçados, só me fazem sorrir. As velhas ralhadoras de serviço -como o Bruto, por exemplo - deviam comer menos queijo. Talvez assim a memória não lhes falhasse tanto e tão sistematicamente. Todos sabemos que se o Bruto tivesse a idade daqueles jovens, muito provavelmente teria também lá estado, de garruço e charro no bolso, a pisotear a plantação ao rústico. À falta do "nem mais um soldado para as colónias!", agarrava-se, é mais que certo, ao "nem mais um trangénico para a metrópole!".
O filme já é antigo. Cada fornada tem as suas vias peregrinas. Temos que encarar estes jovens activistas das boas causas com uma certa ternura, com incomensurável longanimidade. Aquilo, meus amigos, faz parte da praxe. Parece um recreio, mas na verdade é um estágio. Um ritual de iniciação, melhor dizendo. Afinal, é dali que vão sair as nossas elites e -melhor ainda! - os nossos governantes do amanhã. Estão só a prestar as primeiras provas. A dar os primeiros passos.
Estes, está bem de ver, começam por espezinhar milho. Os anteriores, mais impacientes, começavam logo por espezinhar a bandeira.

domingo, agosto 19, 2007

Eco-zelo

«Activistas destroem um hectare de milho transgénico em Silves ».
O proprietário pode dar-se por felizardo. Se em vez de milho trangénico tivesse plantado cannabis, os eco-zeladores não se teriam ficado por um hectare: tinham-lha fumado toda.

sexta-feira, agosto 17, 2007

O Esgoto da Notícia

A dona Genoveva levantou-se hoje de manhã e foi às compras. É uma coisa que a dona Genoveva, uma velhota simpática, faz todos os dias. Uma coisa banal. Não constitui aquilo a que se chama "notícia". Os telejornais não dão importância à dona Genoveva e à sua odisseia diária de esbanjamento duma reforma milionária de 200 euros. Era preciso que a dona Genoveva protagonizasse ou experimentasse algo de extraordinário, de inaudito, de maravilhoso para que as televisões e os jornais corressem a decorar com ela as suas parangonas. É sabido: para que a Genoveva se tornasse interessante aos olhos dos espectadores das televisões, ou aos leitores dos jornais, e caso não ganhasse o Euromilhões ou fosse tia da Cinha Jardim, no mínimo, teria que massacrar os vizinhos, assaltar dois ou três bancos, deitar fogo ao supermercado ou, melhor ainda, descolar em voo perfeito da varanda, montada na vassoura, e perfazer várias piruetas e loopings, enquanto sobrevoava a cidade e as praias da Caparica à velocidade dum pombo. Assim, alquebrada, simpática, patusca, mas sem superpoderes-ou-parentescos nem espectaculares psicopatias, a dona Genoveva não é notícia. Ou seja, é como se nem sequer existisse. Mesmo que escrevesse romances ou poemas imortais, só postumamente teria algum interesse para o público e respectivos tratadores, os críticos e os magnatas da edição.
Tudo isto para exemplificar esse fenómeno óbvio e por todos nós reconhecido: o banal não constitui combustível da informação. É uma regra superlativa. Que, pelos vistos, também terá as suas excepções. Basta atentarmos em notícias como esta:
«Mais de 200 mortos em atentados suicidas».
Ora, isto, o massacre actual de pessoas no Iraque, das mais variadas formas e feitios, é ainda mais banal do que a dona Genoveva ir às compras ou receber 200 euros de reforma. Já ninguém, leitor ou espectador que seja, quer saber disso para nada. Todos, sem excepção, bocejam e suspiram de tédio. É uma daquelas banalidades que, de tão frequente e repetitiva, até já maça. Irrita. A carnificina, quando ininterrupta, rotineira, monocórdica, também enjoa. Sim, até a carnificina. Imaginemos que todos os dias os comboios descarrilavam calamitosamente: a malta enfadava-se; os basbaques desertavam. É como aquilo no Iraque. Já não tem nada de extraordinário. Extraordinário, espantoso, surpreendente e, portanto, merecedor, aí sim, de destaque informativo, seria o dia em que ninguém tivesse sido selvaticamente massacrado. Uma abertura do género: "Sensacional! nenhuma bomba explodiu nas últimas 24 horas, ninguém foi raptado e não se encontrou nenhuma vala comum apinhada de indivíduos sadicamente mutilados e assassinados!...", é que congregaria, estou em crer, a estupefacção geral. Aí sim, teríamos uma novidade a todos os títulos embasbacante e era uma corrida desinsofrida de mirones aos televisores. Mas assim... Sabe a ranço. Qual é a novidade? Ao fim de seis anos, dois mil e tal dias ininterruptos de repetição monótona, um fenómeno, mais que caquético, está caduco. Extinto. Morreu. Já são ossadas, poeira esquelética. Ora, além do aberrante, não é da novidade que vive a notícia? Mas quando o aberrante se banaliza, deixa de ser aberrante e passa a ser normal.
Então porque insistem? Porque continuam a estender tão desinteressante porcaria à janela? Porquê este tratamento excepcional do banal como se fosse extraordinário?
Acho que se chama saturação. Estão a saturar-nos. Não basta que o aberrante se torne normal: é imprescindível que o normal devenha necessário, essencial. Assim como o sol a nascer todos os dias. Não chega que nos habituemos à carnificina: é fundamental que já não consigamos viver sem ela. Que um mundo onde ela não aconteça a todas as horas, metódica e quase burocraticamente, se nos afigure em caos absurdo, tenebroso e ameaçador.
É como uma música de fundo. Um gás hipnótico, cristalizador e tranquilizante... para a ratazana que há em nós.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Cacocracia vitalícia

Acabo de ler um brilhante postal do Francisco. É caso para dizer: " Quem sai aos seus..."
Ainda que me pareça, o lema final, impregnado dum valente optimismo. Lá que os melhores morram e vão para o Céu, ainda sou capaz de acreditar. Pelo menos que morrem, não tenho dúvidas (mas tenho pena). Agora os maus, Caro Francisco... Em que país fantástico é que isso se passa? Em Portugal, pelo menos, já ganhou foros de lei: nem morrem nem vão pró inferno. Pelo contrário, multiplicam-se e vão pró governo.
Inferno, a haver algum, é só mesmo aquele em que nos fazem a vida.

quarta-feira, agosto 15, 2007

O Fosso



O Timshel leu um artigo no Jornal de Negócios e está preocupado com o fosso entre ricos e pobres, em Portugal. Está a aumentar todos os dias, dizem. Compete já com o buraco do Ozono. Temos o maior fosso da Europa. Os franceses têm a Eurodisney, nós temos o fosso. E o Timshel, se há-de estar orgulhoso, lastima-se, arrepela os cabelos. Quem diz o Timshel, diz um ror de gente sempre aos gritos, às reivindicações, por tudo e por nada. Esta malta nunca está satisfeita. Revolucionam, contra-revolucionam, reformam, contra-reformam, nacionalizam, privatizam, descolonizam, encolonizam, elegem, deselegem, nomeiam, desnomeiam, decretam, derrogam, partidarizam, repartidarizam e quando já têm o maior fosso da Europa, ainda não estão contentes, ainda é pouco. A megalomania está-lhes na massa do sangue, a ostentação esporeia-os à desfilada... Se bem os conheço, o maior fosso da Europa nem lhes cabe na cova do dente: não descansarão enquanto não tiverem o maior fosso do Mundo. Espero que consigam. Se alguém o merece, são eles. Todos. Têm sido incansáveis.
Mas o facto de ainda não o terem (e desfrutarem) também não é caso para tanta impaciência e desespero. Que diabo, sempre é o maior da Europa. Podiam era rentabilizá-lo. Organizar campanhas de promoção turística: "Conheça Portugal, o maior fosso da Europa!..."; "faça férias inesquecíveis, conheça África e o Brasil em plena Europa!"; "Portugal, o fosso europeu de hoje, o abismo mundial de amanhã!", etc,etc.
Portanto, nada de derrotismos e frustrações: o fosso não é pequeno, está é subaproveitado. Deviam apostar mais no outsourcing.
Agora a terminologia que certo jornalismo (e bloguismo) usa é que está totalmente desadequada e só revela impenitente má fé. O nosso fosso, o maior da Europa, orgulho do nosso saber e espírito empreendedor, não é -de maneira nenhuma! - um fosso entre ricos e pobres. Convinha que metessem isso duma vez por todas nas cabeças casmurras. Toda a gente sabe que desde o dia 25 de Abril de 1974, deixaram de haver pobres em Portugal. Pobres e problemas. Isso era no tempo do fáxismo, da longa noite salazarenta. Desde então, dessa data milagreira, dessa manhã radiosa, a pobreza foi proibida e os problemas ilegalizados. Passámos a ser todos ricos, só que uns em acto e outros em potência. E os problemas, sem excepção, foram todos convertidos, genialmente, em resoluções a médio e longo prazo. Mais a longo, aliás. E aí reside mais um dos motivos de orgulho da nossa raça: não só temos o maior fosso da Europa, como o nosso médio prazo é o mais longo e o nosso longo o mais longínquo. E todos os dias conseguimos que se afaste um pouco mais. É uma modernização que nunca mais acaba! Um progresso que só visto!... Até o longínquo está cada vez mais remoto.
Que significa então, e efectivamente, o nosso portentoso fosso? Significa, tão só, que já somos potencialmente o país mais rico da Europa e, a este ritmo, com tanta proficiência junta, ainda nos tornamos num dos mais potencialmente ricos do hemisfério Norte e, logo a seguir, do mundo. Uma vez instalados no trono do planeta, trataremos da galáxia, podem estar seguros. Empreitadas é connosco.
Por isso mesmo, o facto evidente dos ricos potenciais, entre nós, serem cada vez mais e os ricos actuais cada vez menos não deve de modo algum desmoralizar-nos. E ainda menos induzir-nos em escândalos impertinentes. Pelo contrário, cenário mais animador e auspicioso seria difícil. Atesta como estamos no bom caminho: de potência da riqueza (a maior da Europa) abalançamo-nos a superpotência mundial. A hegemonia está já ao virar da esquina.
O futuro é nosso. E é glorioso. Os augúrios, de resto, são mais que manifestos: todos nós, ricos, reinaremos - os activos serão hiperactivos; e os potentes... superpotentes.

Não há que enganar: é sempre a descer. E a descer, já lá diz o povo, todos os santos ajudam.

terça-feira, agosto 14, 2007

O Não Deus - III. Arqueologias

Em 399 a.C., Sócrates é julgado no tribunal dos Heliastas. A acusação, conforme nos transmitiu Diógenes Laércio, consiste, sumariamente, em dois quesitos: "Sócrates é culpado de não acreditar nos deuses em que acredita a cidade"; e também de "corromper a juventude". Pede-se a pena de morte.
Das peripécias do julgamento e, sobretudo, da defesa de Sócrates, existe um extraordinário texto de Platão - "Apologia de Sócrates" -, que vale sempre a pena ler. Todavia, não é a questão da justiça ou da injustiça do processo e da sentença, ou, tão pouco, a culinária de intrigas envolvente, o que aqui nos traz. Sócrates, como bem sabemos, bebeu a cicuta e inaugurou a galeria de mártires da filosofia.
Não; o interessante é constatar que estamos num daqueles momentos de crise -eventualmente, um dos primeiros na civilização europeia - em que, de certa forma, a tradição e a "modernidade" se confontam.
Disso mesmo, já Aristófanes, 24 anos antes, dera eloquente sinal aquando da primeira encenação de "As Nuvens". Aí, Sócrates é alistado nas hostes sofistas e serve de porta-bandeira a todo um activo apostolado de hábitos, costumes e, sobremaneira, lógicas "modernas". Atentemos nas características desta proto-modernidade, segundo Aristófanes...

1. A impiedade, onde o ateísmo se deriva duma estreita fenomenologia:

«Estrepsíades - "(...)Faz o preço que entenderes, que eu te pagarei, juro pelos deuses!..."
Sócrates - Pelos deuses!...Quais deuses!... Para já, deuses é moeda que não usamos cá na casa
(...)
« Estréps. - "Mas... então e Zeus... vejamos... c'um raio! Então Zeus Olímpico não é deus?
Sócrates - Qual Zeus nem meio Zeus!... Não digas asneiras: pura e simplesmente, Zeus não existe
(...)
Sócrates - Ora bem: estás então disposto, de agora em diante, a não aceitar qualquer outra divindade que não sejam as nossas, isto é, o Caos, as Nuvens e a Língua, estas três e só estas?

2. A "lógica mecânica" (antepassada da ratio escolasta) como arma ofensiva duma retórica manhosa, oportunista, psicotécnica e persuasiva:

«Sócrates - Ora bem: fala-me tu mesmo do teu próprio carácter, que é para eu, depois de ver como ele é, mandar avançar contra ti uma maquinaria (mhecanon) cá das minhas.»


3. A vocação revolucionária, demagógica, transgressiva, reeducadora, perversora, hedonista, individualista - de que logramos especial montra na memorável logomaquia entre o "raciocínio justo" e o "raciocínio injusto". Poderia aqui citá-lo de fio a pavio, mas, por economia de espaço, condenso nalguns trechos mais elucidativos:

a) «Raciocínio Justo - Dar cabo de mim, tu? Quem julgas tu que és?
Raciocínio Injusto - Um raciocínio.
Raciocínio Justo - Sim, mas o mais fraco.
R.I. - Pois venço-te na mesma, lá por te gabares de ser o mais forte.
R.J. - E com que artimanhas?
R.I. - Inventando ideias cá muito minhas, ideias novas

b) « R.J. - És muito desavergonhado
R.I. - E tu muito antiquado


c)« R.J. - Vou então expor em que consistia a pedagogia antiga, naqueles tempos em que eu florescia pugnando pela justiça, quando a moderação era de norma. Para já não era habitual ouvir-se um fedelho murmurar sequer uma palavra. Além disso, quando se dirigiam para a escola de música, marchavam, nas ruas em boa ordem, cada grupo de seu bairro, sem manto e em formatura, ainda que nevasse como farinha. Aí o professor, obrigando-os a manter as pernas afastadas, fazia-os decorar cantigas, como aquela "Pélade terrível destruidora de cidades" (...) e os moços sustentavam a harmonia tradicional recebida de seus antepassados. E se algum deles se fazia engraçado ou ensaiava uns requebros esquisitos, como hoje em dia está em moda executar à maneira de Frínis essas difíceis modulações, apanhava logo uma valente coça, por atentado às Musas.»
R.I. - Tudo isso não passa de velharias (...)


d) «R.J. - (...) é certo que passarás o tempo nos ginásios, nédio e viçoso, em vez de cirandares pela Praça cacarejando monstruosidades bicudas que nem cardos, como a malta de agora (...)
Raciocínio Injusto - (...) E tu, ó jovem, toma bem sentido nas chatices que o bom comportamento implica, de quantos prazeres da vida irias ficar privado: rapazinhos, mulheres, jogos de amor, petiscadas, pinguinha, gargalhadas... Sim... para que queres tu a vida, se te vês privado desses gozos?»

e) Por fim, o raciocínio Justo é derrotado com uma argumentação que é, simultaneamente, um atestado da decadência resultante das "novas pedagogias" e do inerente abandono das velhas tradições. Um termo repete-se: euri-proctos. Ora, euri (largo, amplo) + proctos (ânus) significa qualquer coisa como (à letra: ânus largo) paneleiro (picolho ou rabeta) dos nossos dias, isto é, homossexual no sentido predominantemente passivo da tara. O termo é usado pelo Raciocínio Justo, defensor da pedagogia tradicional, como cúmulo do depreciativo e pelo seu opositor, paladino da pedagogia moderna, como zénite da virtude. O que trata de demonstrar pragmaticamente e escorado nos índices de triunfo social da classe:
«R.I. -E que tem que seja rabeta? Que mal lhe virá daí?
R.J. - Diz antes: que mal ainda maior que este lhe poderia vir daí?
(...)
R.I. - Ora então diz-me cá uma coisa: aonde é que vão buscar os advogados do Ministério Público?
R.J. - Aos rabetas.
R.I. - Certo. E os tragediógrafos, aonde vão buscá-los?
R.J. - Aos rabetas.
R.I. - Dizes bem. E os oradores, vão buscá-los aonde?
R.J. - Aos rabetas.
R.I. - Portanto, reconheces que não tens razão, não é? E já agora, entre os espectadores quais constituem a maioria? Olha bem.
R.J. - Estou a olhar.
R.I. - E que vês tu?
R.J. - Que... Ena pai!... são de longe mais numerosos os rabetas. Por exemplo, este aqui, que eu conheço, e aquele além, e esse aí de grande trunfa...»

Aristófanes quase nos dispensa de mais palavras. Encetemos, todavia, um balanço final.
Que significa, neste momento inaugural, "moderno"? - Sofista, nem mais. A "nova pedagogia" é a pedagogia dos sofistas. E tanto assim é que o "moderno" e a "modernização" nunca mais perderão esse cunho original de "sofistica(do)" e "sofistica(ção)". O moderno, o novo é e será sempre, desde então, mais sofisticado que o antigo. Por outro lado, este litígio entre o antigo e o novo, entre o tradicional e o moderno, entre o legado e a invenção, de que a sofística constitui, repito, o protótipo, reflecte a luta ancestral - que não mais deixará de assombrar a civilização europeia - entre o sagrado e o privado, entre o arquetípico e o egótico. Na disputa pelo espaço social e mental da polis, ou dito em termos hodiernos, do "espaço público".
Quanto a Sócrates, uma última nota: se é certo que, segundo Platão, não seria exactamente um sofista, também não é menos certo -e agora fazendo fé na "Apologia" - que opunha um "deus/daimon pessoal" aos deuses da cidade e dos seus antepassados. Um protestante avant la lettre?...

segunda-feira, agosto 13, 2007

O Progresso é uma tradição

De facto, a maior tradição ocidental é a decadência. Temos avançado ao ritmo da escalada: da decadência grega para a decadência romana; da decadência romana para a decadência cristã; de decadência cristã para a decadência moderna. Como podemos constar, a decadência, sendo cada vez maior, nota-se cada vez menos. Isto, muito provavelmente, porque, regra imperial, se vão erguendo civilizações com a sucata, o lixo e os cadáveres -ou seja, com a decadência - das precedentes (exemplo: decadência de Roma é a decadência duma decadência e por aí adiante). Ora, a isso, a esse singular processo de canibalismo cultural e decomposição metódica, chamam eles Progresso.

domingo, agosto 12, 2007

Reflexão dominical

O problema de aperfeiçoarmos o homem é que quanto mais perfeições lhe ministramos mais imperfeições lhe descobrimos. Chega a ser vertiginoso. Um pouco como a sabedoria: é apenas tomar consciência da vastidão imensa da nossa ignorância. Felizes os papagaios!...

sexta-feira, agosto 10, 2007

O Não-Deus -II. Escavações

«O intelectual do século XII, situado no centro do estaleiro urbano, vê o universo à imagem e semelhança da cidade, vasta fábrica borbulhante de ruídos e de ofícios. A metáfora estóica do mundo-fábrica é retomada num meio mais dinâmico com um alcance mais eficaz.»
- Jacques Le Goff, "Os Intelectuais da Idade-Média"

Acontecem várias coisas deveras significativas no século XII, muito por via da chamada Escola de Chartres...
É o século do grande afluxo de influências gregas e árabes; é o século do Homo-faber; da valorização do corpo (nesta vida); do novo ensino -além dos velhos trivium (gramática, retórica, lógica) e quadrivium (aritmética, música, geometria e astronomia) - das novas artes: Física, Mecânica, Economia e Política; também, por influência árabe, do interesse pela alquimia, pela astrologia e pela magia; do racionalismo de Chartres que se baseava na "crença na omnipotência da natureza"; da crítica do simbolismo (conceito tradicional que conotava cada coisa natural com um correspondente oculto, sobrenatural); da Dessacralização da Natureza -uma vez que deixava de ter conotações metafísicas, tornava-se uma mera física permissível de investigação e manipulação técnica; e, finalmente, detalhe de consequências épicas, do Humanismo.
Comecemos por este humanismo... Em que consiste?
O Humanismo de Chartres estabelece o Homem como objecto e centro da Criação. A tese tradicional sustentava que o homem não passava de acidente daquela, criado por Deus para substituir os anjos decaídos após a revolta. Mas Chartres, aprofundando e secundando Santo Anselmo, contrapõe a ideia de que, desde o início, o homem estivera previsto nos planos do Criador. Mais: era ele o destinatário da criação. Deus criara o mundo para o homem. O que perde em mistério, a criação, ganha em nepotismo.
Significa isto, logo à partida, que o homem deixa de ser um particular entre outros, para se tornar um particular acima dos outros, mescla de herdeiro mimoso e vedeta. Depois, está-se claramente a submeter a mundovisão à antropovisão. Assim, o mundo deixa de ser apenas o lugar onde o homem vem servir a Deus: passa a ser o lugar onde o favorito de Deus se vem servir da Natureza. Quer dizer, a existência humana enriquece-se, optimiza-se: já não deve apenas servir a Deus; pode - e compete-lhe - servir-se do mundo. É neste proto-self-service que germina já, no óvulo, a self-made-man de séculos adiante.
Esta consagração do Homem deriva intimamente da dessacralização da Natureza. Basicamente, esta deixa de ser simbólica, como era desde a antiguidade, e passa a ser absolutamente racional. Ou seja, arrumada e legível segundo regras puramente racionais. Mais sintomático ainda, é que Chartres, ao mesmo tempo que deixa de considerá-la sagrada, passa a creditá-la como omnipotente. Eu traduzo isto: o homem adquire na Natureza um novo instrumento, um instrumento operável através da razão, e, detalhe sobretodos fascinante, um instrumento omnipotente.
Calculem agora onde é que isto foi dar... Quando, séculos adiante, o micro-girino se tornar batráquio-rex.

Se o sono da razão engendra monstros, o que engendrará a amnésia?...
E o que é a soberba senão a forma mais completa e furiosa de amnésia?...

Provas da Não-Existência de Deus

Bem, assim de repente, não me ocorre nenhuma.


PS: Um argumento céptico, na antiguidade, era que "o que não existe não necessita de ser demonstrado". Repare-se que naquele tempo não havia noções formidáveis que mais tarde se tornaram essenciais na nossa cultura: "zero", "vazio", "infinito".

quinta-feira, agosto 09, 2007

O Não-Deus - I. A Parafísica

O vulgo, que é cada vez mais crivado de pseudo-informação e está cada vez mais ruidoso e estúpido, convenceu-se de que a Metafísica é uma sucata mental completamente inútil que, mais coisa menos coisa, consiste em discutir o sexo dos anjos, nas suas diversas ordens e classes: querubins, tronos e serafins.
Todavia, quando um ateu - melhor ainda, um ateísta moderníssimo - proclama que Deus não existe nem faz cá falta nenhuma -haja dinheiro e tecnologia, que o resto vem por arrasto -, está a responder a uma das perguntas basilares da Metafísica -que, recordo, são quatro: 1. O que é o Homem? 2. Donde vimos? 3. Para onde vamos? 4. Deus existe? Exactamente, e por incrível que pareça, está a responder - pela negativa, mas a responder. Por conseguinte, e apesar da sua jura de amor eterno e exclusivo a uma mera e redentora Físico-química, está a patinhar na Metafísica. E o caso é tanto mais grave e patético quanto se serve de tudo para erguer e esgrimir contra Deus, para firmar a não-existência Deste. Quer dizer, a sua metafísica resume-se, não a quatro, mas a uma única pergunta: a quarta - Deus existe? - Não; que disparate anacrónico e aberrante: Deus não existe!, proclamam a todas as horas.
Tentem inquirir-lhes pelo Homem, pela proveniência ou pela finalidade do mundo. Nada disso lhes interesssa ou minimamente os intriga ou afecta. O importante, o essencial é que Deus não exista. Crucial é que Ele não estorve. Acreditam pois, e piamente, na "Não-existência de Deus". E acreditam à maneira das crianças apavoradas com qualquer papão ou monstro emboscado nas trevas que atravessam a noite a repetir a si próprias: "os monstros não existem! O papão não existe!..." Eles, porém, não só atravessam as noites como passam os dias. E não apenas o repetem mentalmente a si próprios, ou martelam obsessivamente a quem quer que encontrem, como o escrevem por toda a parte. Aposto que até nas toalhas e guardanapos dos restaurantes, concluído o repasto, lá deixam garatujado: "Deus não existe!" Já não falando nas paredes dos sanitários ou nos blogues que criam para o efeito, passe a redundância. É uma espécie de religião automática, este ateísmo monocórdico.
No entanto, a bem da verdade, convém precisar que a metafísica ateísta -chamemos-lhe parafísica - não é apenas uma mutilação e uma miniaturização utilitária da metafísica ocidental. De facto, mais do que reduzi-la a uma única pergunta, eles convertem-na numa única resposta. Se ao longo de milénios se pesquisaram e entreteceram "provas da existência de Deus" era porque, por um lado, existia a pergunta e, por outro, existindo essa pergunta, existia a dúvida própria do mortal. Ora, nos antípodas disso, a afirmação da não-existência de Deus destes religiosos modernos é peremptória, definitiva, axiomática. Não responde nem duvida em tempo ou modo algum: decreta. Sendo automática, é igualmente uma Fé de burocratas, aliás, mais que Fé: uma fézada. Nitidamente, constata-se que ambiciona o império absoluto duma qualquer Repartição Geral das Crenças donde, após publicação em Diário da República, se obrigará, com força policial, à ilegalização de Deus e, no mínimo, ao internamento compulsivo para desintoxicação dos infractores. Quando, há dias atrás, o Governo Chinês proibiu o Buda de reencarnar, surpreendemos em pleno acto uma eclosão exuberante dessa mesma mentalidade peregrina - epifania mirabolante, essa, que deve ter enchido de volúpia onírica e projecções equiláteras os ateístas cá da paróquia. "O chamado Buda existente reencarnado é ilegal e inválido sem a aprovação governamental", decreta o Partido Comunista Chinês. Isto não é apenas hilariante: é sinistro. E não é apenas património folclórico dum país despótico ou duma cultura longínqua: entre nós porfia-se e avança-se, a passos visíveis, para uma uniformização forçada e burocrática de idêntico jaez tecnoeficiente; uma universão em que os cidadãos são degradados a meros porta-modas -sendo estas, todas elas (económicas, políticas, científicas, jurídicas e morais), obrigatoriamente compactadas numa única religião laica, monototemística, rigorosa e exclusivista. Creem, os seus apóstolos frenéticos, que através duma hábil manipulação - onde a alquimia do voto enxertada na cabalística mercantileira operará milagres -, a Opinião Pública poderá ser contrafeita em Religião Pública. Já que Deus não morre, ilegalize-se. Já que teima em persistir, proiba-se. A limite, encarcere-se. Por conspiração e contumácia.
Ninguém se surpreenda se um dia destes a parafísica for objecto de referendo.
Há toda uma nova religião de ímpetos proselitistas e globais em marcha. Só se pode espantar com o carácter cada vez mais opressivo de nova-catequese que infecta os sistemas educativos ocidentais quem ainda não percebeu isso. Estes ateístas são apenas uma das suas tropas de choque - uma espécie de novos dominicanos espontâneos. Deus criou o mundo, mas é a eles que compete corrigi-lo.
E preparemo-nos: Moral e Religião devirá, a breve trecho, disciplina nuclear nos diversos ciclos do Ensino. A única, aliás.

quarta-feira, agosto 08, 2007

A Outra Palavra

«Não acreditava, e no entanto admitia o sobrenatural; porque, se pensarmos bem, mesmo aqui, na terra que habitamos, como é possível negar o mistério que nos surge em casa, ao nosso lado na rua, em todos os lugares? Era, de facto, muito fácil rejeitar as relações invisíveis, extra-humanas, e deixar à conta do acaso, aliás ele próprio indecifrável, os acontecimentos imprevistos, os azares e as sortes. Não era frequente que encontros decidissem por completo a vida de um homem? O que eram o amor, as influências incompreensíveis e no entanto formais? O mais desconfortante dos enigmas não seria o dinheiro?
Sim, porque tudo isto nos põe perante uma lei primordial, uma lei orgânica atroz, editada e aplicada desde que o mundo existe.
Com regras permanentes e sempre claras. O dinheiro atrai-se a si próprio, procura aglomerar-se nos mesmos locais, vai de preferência parar aos celerados e aos medíocres; e depois, quando uma inescrutável excepção o leva a acumular-se num rico de alma não criminosa nem abjecta, permanece estéril, incapaz de se converter num bem inteligente, e entre mãos caridosas nem mesmo é apto a alcançar um fim elevado. Dir-se-ia que vinga assim o seu destino falso, se paralisa voluntariamente quando não pertence ao último dos trapaceiros nem ao mais repelente dos malandros.
E mais singular ele é ainda quando se extravia, por grande excepção, na casa de um pobre; de imediato fica sujo se estiver limpo; torna lúbrico o indigente mais casto, actua de umsa só pancada no corpo e na alma, e a quem o possui sugere um egoísmo baixo, um orgulho ignóbil, aconselha a gastá-lo apenas consigo próprio, do mais humilde faz um lacaio insolente, do mais generoso um larápio. Num segundo altera todos os hábitos, transtorna todas as ideias, num abrir e fechar de olhos transforma as paixões mais teimosas.
É o mais nutritivo alimento dos maiores pecados e, seja como for, também o seu vigilante contabilista. Consentindo que um seu detentor se distraia, dê uma esmola, faça um obséquio a um pobre, não tarda que a esse pobre suscite o ódio por essa boa acção; substitua a avareza pela ingratidão, restabeleça o equilíbrio, ao ponto de as contas ficarem saldadas, não haver défice quanto a pecados de amanuense.
Faz-se verdadeiramente monstruoso quando se intitula capital, escondendo o esplendor do seu nome sob o véu negro de uma outra palavra. A sua acção deixa de limitar-se a incitamentos individuais, ao conselho de roubos e crimes, para abarcar a humanidade inteira. Com uma palavra o capital decide os monopólios, edifica a banca, açambarca as matérias primas, dispõe da vida, e se quiser pode levar milhares de criaturas a morrer de fome!
E ao mesmo tempo ele alimenta-se, engorda, concebe de si próprio numa caixa de pagamentos; e os Dois Mundos adoram-no de joelhos, morrem de desejos à sua frente, como à frente de um Deus.
Pois bem! Sendo assim tão senhor das almas, o dinheiro ou é diabólico ou não tem explicação. E quantos outros mistérios existem, tão inteligíveis como este; quantas ocorrências deveriam pôr a tremer o homem capaz de reflectir!»

- J.-K. Huysmans, "Além". (trad. port. Aníbal Fernandes)

Opus Mamon

«Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e deprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.»
- Mateus, 6, 24

Quando o Comendador Berardo, a propósito deste triste espectáculo do BCP, vem denunciar putativas irregularidades - que, diz ele, geraram uma transferância anual de lucros para o bolso de Jardim Gonçalves no valor de 50 milhões de euros -, ficamos maravilhados com as virtudes imensas deste capitalismo que nos alumia. Ao contrário do que geralmente se pensa, o dinheiro não nasce da retórica nem dum qualquer "fiat money". Alguém paga os fabulosos lucros de outrém. Alguém contribui. Ora, os bancos, que vêm paulatinamente tomando o lugar do Estado, têm vindo a transformar os depositantes em contribuintes. Congratulemo-nos então: A quantidade de gente (eu, entre milhares de outros otários) que se quotizou em prol dos lucros fabulosos do beato Jardim Gonçalves!...
O Problema das actuais elites é que nos conduzem alarvemente ao abismo, mas cobram-nos o preço subtil duma viagem ao Sétimo Céu.

Noutra passagem de S.Mateus, Jesus responde a um jovem rico: "Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.»
Diante desta passagem, Francisco de Assis não hesitou e foi um dos mais perfeitos cristãos de que há memória. A Opus Dei, destes banqueiros sanguessugas e hipócritas, é o quê?... A que porcaria de elites anda a Santa Sé a dar cobertura?...
Se a Fé anda por estas ruas e, sobretudo, por estes becos e vielas, até o ateísmo está mais próximo de Deus. Pior que duvidar de Deus é servir ao diabo. Pior que ignorar o Sagrado é conspurcá-lo.

terça-feira, agosto 07, 2007

O elementar

O Pedro Arroja atirou-se ferozmente ao Descartes. Bem, no Descartes só se perdem as que caem no chão. O problema, todavia, é aquilo que desde a Antiguidade se conhece como a síndrome de Ixion e que pode traduzir-se na expressão "tomar a nuvem por Juno". Arroja, auto-armado cavaleiro, atira-se a moinhos. Envio-lhe daqui a minha bênção. E também um pequeno subsídio filosófico:
«No tempo de Locke os seus maiores contraditores filosóficos eram os cartesianos e Leibnitz. Ilogicamente, a vitória da filosofia de Locke em França e Inglaterra deveu-se em grande parte ao prestígio de Newton. A autoridade de Descartes como filósofo foi acrescida mesmo no seu tempo pela sua obra matemática e de filosofia natural. Mas a sua teoria dos vórtices era claramente inferior à lei da gravitação de Newton como explicação do sistema solar. A vitória da cosmogonia newtoniana enfraqueceu o respeito por Descartes e aumentou o respeito pela Inglaterra. Ambas as causas favoreciam Locke. Na França setecentista, onde os intelectuais estavam revoltados contra o despotismo estéril, corrupto e antiquado, a Inglaterra era considerada pátria da liberdade, predispondo-os em favor da filosofia de Locke pela sua doutrina política. Nos últimos tempos antes da Revolução a influência de Locke foi reforçada pela de Hume, que viveu algum tempo em França e conheceu pessoalmente muitos dos savants orientadores.
O principal transmissor da influência inglesa em França foi Voltaire. (...)
A Necessidade do Ateísmo, de Shelley, que o fez ser expulso de Oxford, está cheia da influência de Locke.»

- Bertrand Russell, "História da Filosofia Ocidental"

Então, antes dos Franceses darem cabo do rei e sarrafaçalarem os funcionários do Papa, não tinham os Ingleses feito exactamente a mesma coisa (só que com muito mais eficácia e menos espalhafato)?...
Os Jacobinos, meu caro, são filhos da Tábua Rasa. E da Ratio, claro, mas essa é mais complicada e antiga que Descartes.
Até já Protágoras dizia:
«O Homem é a medida de todas as coisas».



Piadas inomináveis






1. Porque é que os judeus têm narinas tão grandes?
- Porque o ar é grátis.

2. Porque é que os judeus andaram quarenta anos às voltas no deserto?
- Correu o rumor que um deles tinha deixado cair dez cêntimos.

3. O que é um judeu maricas?
- É um judeu que gosta mais de míudas do que de dinheiro.

4. Porque é que os dólares são verdes?
- Porque os judeus os colhem sempre antes de estarem maduros.

5. O que é um dilema judeu?
- Porco grátis.

6. Num táxi, por uma colina abaixo, se o condutar gritar, "estamos sem travões?", o que grita o passageiro judeu?
- "Páre o taximetro!"

7. Porque é que os judeus gostam de ver os filmes pornográficos em reverse?
- Porque a sua parte preferida é aquela em que a prostituta devolve o dinheiro.

8. Como é que se sabe qual é a sogra judia num casamento?
- É aquela que anda de gatas a apanhar os grãos de arroz.

9. O que é que faz o judeu anfitrião assim que algum dos seus amigos se retira?
- Passa revista ao sofá à procura de trocos.

10. O Pai Natal judeu: Desce pela chaminé, acorda as crianças e pergunta "Hey miúdos, querem comprar brinquedos?..."

11. Que acontece quando um judeu com uma erecção choca contra uma parede?
- Parte o nariz.

12. Como é que se diz "Vai-te foder!" em Yiddish?
- "Confia em mim."

13. Porque é que as sinagogas são redondas?
- Para que a congregação não se possa esconder nos cantos sempre que passa o prato da colecta.

segunda-feira, agosto 06, 2007

O Holocausto Benigno

Hiroshima, 06 de Agosto de 1945







- O Fast-Holocaust... O holocausto instantâneo.









Arma de destruição maciça construída sob a direcção de Robert Oppenheimer, cientista chefe do III Reich.

Velhas anedotas socialistas



I

As cinco regras do socialismo:
1. Não penses.
2. Se pensares, não digas.
3. Se disseres o que pensas, não escrevas.
4. Se pensas, dizes e escreves, não assines.
5. Se pensas, dizes, escreves e assinas, não te surpreendas.

II

Capitalismo significa a distribuição desigual da riqueza. O comunismo significa a distribuição equitativa da pobreza.

III

Diga-me, já chegámos ao Comunismo ou será ainda pior?

IV

- É verdade que quando chegar o comunismo poderemos requisitar os produtos por telefone ?
- Sim, mas depois iremos recebê-los pela televisão.

V

Porque é que Lenine usava sapatos e Stalin usava botas?
Porque no tempo de Lenine só havia merda até aos calcanhares.

VI

Porque é que os polícias russos andam sempre em grupos de três?
Um sabe ler, outro sabe fazer contas e o terceiro anda a vigiar os 2 perigosos intelectuais.

VII

Haverá KGB numa sociedade comunista?
Não, as detenções serão feitas em regime de autogestão.

VIII

Será mesmo possível construir o comunismo?
Construir, é possivel, sobreviver-lhe é que será difícil.

IX

Durante uma excursão ao inferno um visitante pergunta:
- Porque é que Hitler está mergulhado na merda até ao pescoço enquanto Stalin só está mergulhado até aos ombros ?
Responde-lhe o diabo guia:
- Porque Stalin está às cavalitas de Lenine.

X

As 3 grandes reformas que Kruchev não conseguiu realizar:
1. Construir uma ponte ao longo do rio Moscovo.
2. Fundir a retrete com a banheira.
3. Subdividir o ministério dos transportes em ida e volta.

XI

O que é que acontecerá se um crocodilo engolir o Brejnev?
Irá cagar condecorações durante 2 semanas.

XII


A União Sovietica é o pais onde reina o maior grau de secretismo: em França, numa fábrica não sabem o que fazem noutra do mesmo grupo; na Inglaterra, numa secção duma empresa não sabem o que se faz na secção vizinha; nos Estados Unidos, um empregado não sabe o que faz o seu colega ao lado; e na União Soviética o próprio empregado não sabe o que anda a fazer.

XIII

Quais são os principais obstáculos que atravessa a agricultura dum país comunista?
São quatro: Primavera, Verão, Outono e Inverno.

XIV

Quantos automoveis por pessoa tem um país socialista?
- Dois: o carro da policia, e a ambulância do hospital psiquiátrico.

XV

Qual é a anedota mais curta do mundo: O comunismo.


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Nota: não sou autor de nenhuma destas anedotas. As anedotas são mesmo assim, anónimas. Dir-se-ia que irrompem por geração espontânea. São uma espécie de património popular universal. Do povo para o povo.

domingo, agosto 05, 2007

O Traje de Gala Obrigatório para Entrevista


Caso a Márcia, ou qualquer outra garina da comunicação sucial queiram entrevistar-me, aviso já que só respondo a perguntas desde que a entrevistadora respeite a minha religião, apresentando-se no hábito tradicional da minha alimentação, digo cultura - o qual, por via das dúvidas ou confusões, é tal qual aqui se expõe.







Sim, Márcia, o piano também faz parte. Aliás, é fundamental. Sem piano nada feito. Tem que ser em cima do piano. Sou aquilo que se chama um Talibã romântico.

sábado, agosto 04, 2007

Esta(gna)ção Parvalhona

Quem, como eu, experimenta uma fruição estética com doidos varridos e alucinados militantes, nunca se entedia neste planeta à beira Marte plantado. Como diria o meu estimadíssimo Mencken, os Estados Unidos, então, são um manancial inesgotável. Aquilo esguicha e jorra a todas as horas de palhaços, bobos, mongos e pantomineiros de eleição. Quando, ainda por cima, se tele-reproduzem e ciber-proliferam por esse mundo fora à velocidade da coelhos, só podemos louvar a Deus por tamanho maná em queda livre. Quem aprecie uma boa gargalhada nunca lhes há-de agradecer o bastante.
Pois bem, agora foi um candidato a Candidato à Presidência dos Estados Unidos que alvitrou o "bombardeamento preventivo de Meca como fórmula rainha dissuasora". Temperada Meca com algumas ameixas peregrinas, receita ele e a sua equipa, os Árabes, outros malucos deveras interessantes, perderiam de pronto todas e quaisquer veleidades desestabilizadoras. Bem, nada como experimentar. Depois, logo se vê. Uma bordoada em cheio no vespeiro é remédio santo para anestesiar as vespas. Força, Tancredo!... (Vou ficar a torcer por este gajo.)
Entretanto, na Índia, "prostitutas editam jornal para fazer ouvir a sua voz". Mas não seria mais eficaz organizarem um Festival da Canção? Ou um Parlamento Improvisado? Bem, já vi que o felatio não tem grande procura por aquelas paragens. Bocas ociosas só geram desperdício oral.
Por seu turno, na Rússia, entregam-se ao sexo em massa para combaterem a carência demográfica. Nobre e meritória iniciativa que Lisboa deveria copiar urgentemente. Mas enquanto tal não acontece, aproveitei para enviar um email ao Kremlin, em meu nome e do Engenheiro Ildefonso, a perguntar se aceitam dadores de esperma estrangeiros (não exactamente jovens, mas com muita prática). Pela "Mãe Rússia", pela "Mãe Ucrânia", pela "Mãe Joana", por qualquer mãe, estamos sempre de mangueira pronta. Nesse tipo de causas não há mesmo ninguém mais Internacionalista que nós.
De volta aos Estados Unidos, os noticiários esclarecem-nos que uma "ponte que caíu tinha deficiências". Havia de ter o quê - vertigens?
Por fim, entre nós, àquem fronteiras, o "consumo de tabaco e álcool aumenta entre as mulheres". Será porque o consumo de mulheres baixa entre os homens? Ou será porque as mulheres, aos homens, cada vez preferem mais copiá-los a seduzi-los?
E sabiam que "quase 40% dos idosos já perderam todos os dentes"? É típico do nosso país: perde-se tudo - os dentes, os cabelos, as ilusões, a virgindade, a independência, o juízo, a memória, o norte e até os escrúpulos. Vitalícios, por cá, só mesmo os cornos. São para toda a vida. Mas mesmo que, por milagroso acaso, caducassem, as nossas elites, sobremaneira ciosas das condecorações, corriam ao estrangeiro a implantar novas próteses.
A estação parvinha acabou. Viva a Esta(gna)ção Parvalhona!....

Com pluma



Minha boa senhora,
não querendo de modo algum contestar a soberania plena da intuição feminina, eu não lhe chamaria "opostos", mas apenas diferentes. E também não diria "campos"... O substantivo adequado é "planetas".
O seu, onde lhe desejo as maiores felicidades, é aquele donde o meu não se avista.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Made in USA

Foto pirateada ao Abnóxio.

«Em Abril de 1963, de passagem por Leopoldville, o recepcionista negro do hotel onde me hospedava perguntou-me se eu desejava conhecer Holden Roberto, o "grande chefe". Aceitei com ambas as mãos esta proposta e, minutos mais tarde, dois Africanos batiam à porta do meu quarto para me conduzirem à sede do governo angolano no exílio (GRAE), situada em pleno centro da cidade. A rua estava repleta de Negros e uma fila de automóveis, cada qual mais caro que o outro, estacionava em frente de uma moradia cuja escadaria parecia desmoronar-se sob um cacho humano. No pátio, uma centena de homens e mulheres atarefava-se em redor de fogueiras onde preparam refeições enquanto um grupo de jovens fazia exercícios de ginástica. Informaram-me complacentemente que se tratava da guarda pessoal do "Primeiro Ministro".
Ao entrar no edifício, lembro-me que quase ia rebentando a rir quando li, numa correnteza de portas, os seguintes letreiros: "Gabinete do Primeiro Ministro", "Gabinete do Interior", "Gabinete de Toilette", "Gabinete dos Negócios Estrangeiros", "Gabinete da Guerra", "Gabinete dos Refugiados". Rodeado pelo seu "Gabinete", Holden Roberto recebeu-me, visivelmente satisfeito por discutir com um jornalista chegado da América, país reputado rico e generoso, visto que, desde o princípio, logo me falou de dinheiro. Enquanto fazia o elogio da América, que havia visitado em 1959, Holden Roberto disse-me sem delongas:
- Temos tudo o que precisamos menos dinheiro. Ajude-nos, escreva sobre a nossa causa e diga que homens não nos faltam; cérebros e armas também não. Só não temos dinheiro.
- Mas para quê dinheiro, se possuem homens e armas, que é o essencial? - retorqui-lhe ingenuamente.
- Ora, para ajudar o povo, os 300 000 refugiados angolanos que presentemente vivem no Congo Belga - replicou ele.
Estes 300 000 refugiados - gozando de auxílio internacional - tinham vindo aumentar as fileiras dos ladrões e dos preguiçosos, dando fortes dores de cabeça ao governo congolês. Holden Roberto parecia bastante seguro de si e propôs-me ir visitar um dos campos militares, situados perto da fronteira angolana, em Kinkuzu, conhecido por ser uma importante base terrorista.
- Quantos homens em armas tem você? - perguntei.
- Aqui, em treino, dez mil; vinte mil a combater em Angola, e outro tanto à espera de receber instrução militar.
Holden Roberto estava longe de dizer a verdade, pois apenas se avaliava em dez mil o número dos seus homens, quer a combater, quer em treinos. Quanto a cérebros, havia em seu redor alguns antigos enfermeiros, alguns escriturários, com a ajuda dos quais ele pretendia dirigir os destinos de uma Angola independente. Porém, onde Roberto não mentia era quando afirmava que armas não faltavam. Os seus homens, cuja maioria havia tomado parte na carnificina, tinham à disposição carabinas-metralhadoras, morteiros e até minas. O armazém de armas e munições da U.P.A. era o próprio arsenal congolês, pois os soldados de Mobutu trocavam sem dificuldade o seu material por dinheiro ou álcool. Mais ainda, até à partida da ONU, os Ganeses, Marroquinos e Tunisinos haviam igualmente contribuído para equipar a U.P.A.»

- Mugur Valahu, "Angola, Chave de África"

Holden Roberto morreu ontem. Tinha 84 anos. Estou certo que o nosso actual governo - com um sobado moderno e gabinetes ministeriais em tudo semelhantes ao da UPA acima descritos - não deixará de enviar sentidas condolências pelo falecimento de tão ilustre antepassado.
Entretanto, nos cemitérios de Luanda, os vermes entraram em greve de fome. Argumentam que é contra o seu código deontológico cometer canibalismo. Vai ser uma demorada putrefacção.

Trajes e ultrajes



O grande enigma blogosfórico do momento: Porque é que a jornalista Márcia Rodrigues, para entrevistar o embaixador do Irão em Lisboa, se fardou da maneira assaz pitoresca que podemos testemunhar na fotografia em epígrafe? Que ideia mirabolante a terá transportado a tamanho delírio folclórico?

O meu palpite é que se ela não se vestiu assim a pedido da Embaixada iraniana, então só pode ter sido a conselho da Embaixada Israelita, por intermédio da Esther Mikzinishllsrabong-pling. Basta relembrarmos como Nuno Rogeiro, essa enciclopédia com pernas e trunfa sobrepujante, foi monitorizado e teleguiado pela boa da Esther durante a sua excursão ao Congresso dos holocaustofrénicos em Teerão, para orçarmos a que ponto estas peregrinadelas exóticas são fruto de espontaneidade ou livre arbítrio dos agentes.
Mas o meu palpite pouco interessa.
Vejamos antes o que emitem algumas sumidades cá do burgo. São muito mais divertidos do que eu.

O Bruto, naturalmente, verbera a jornalista acusando-a de faltar ao respeito a si própria. Maçada a que a Márcia se teria facilmente poupado com um singelo email ao Bruto, informando-o de que o anacrónico traje apenas serviria para dissimular o cinto com godemiché XL que levava, escarninha e justiceiramente, afivelado para o happening.
Helena Matos, por disciplina atávica e consanguinidade mao-mao, abisma-se às cavalitas do Bruto. O mesmo email -apenas acrescido duma nota explicativa dos adjectivos com mais de duas sílabas - teria evitado esta monótona redundância.
Finalmente, a caríssima Bomba vai direita ao alvo, com precisão milimétrica , e chama os bois pelos nomes. Ao contrário dos anteriores, a sua exegése açambarca, ainda mais que a minha concordância, o meu crepitante entusiasmo. Do que, próximo da euforia, passo a lavrar a acta que se segue:

Sim, minha excelente senhora, é claro que a jornalista não só parece, é : excelente, imparcial, rigorosa, profissional - tudo isso e mais uma série de virtudes cardinais que se tornaria fastidioso enumerar. Basta recordarmos a magnífica cobertura que fez (ou deu) ao conflito Israelo-Libanês mais recente. Para quem teve o privilégio de assistir, um monumental tour de force disso tudo - de imparcialidade, rigor e profissionalismo emasculado, digo, imaculado. A jornalista, por conseguinte, e abençoada seja, está automaticamente isenta de qualquer responsabilidade ou pecado nesta palhaçada. Que goze merecidas férias no remanso dos trópicos.
A culpa, toda ela, está bem de ver, é do Irão, esse antro troglodita que teima em desafiar o progresso e a modernidade da Humanidade. As provas - mais que eloquentes - retumbantes disso mesmo são as que a ilustre Bomba apresenta e eu aproveito para confirmar, reforçar e aplaudir:

a) Os homens iranianos, toda a gente sabe, "vivem obcecados com a sexualidade feminina". Que toscos! Em pleno século XXI estagnaram eles, vejam lá bem, numa medievalidade destas. Se hão-de obcecar-se com a sexualidade deles próprios, dos outros homens, das criancinhas, dos animais domésticos, dos electrodomésticos e até dos extraterrestres, como manda o Mercado e a Televisão, não: teimam em assediar a fêmea da sua própria espécie. Repugnante! Cavernícolas empedernidos, suínos lúbricos, todos eles.

b) Depois - escandalizemo-nos, camaradas consumidores! - é "um país que não respeita as mulheres". Quando no Ocidente Civilizado já não se respeita coisa nenhuma - nem mulheres, nem homens, nem velhos nem crianças, nem mortos nem vivos, nem valores nem éticas, nem Deus sequer (quer dizer, enquanto por aqui se desrespeita democraticamente, tudo por igual, a esmo), eles, aqueles atrasados duma figa, persistem nessa carunchice de não respeitar mais uns do que outros, sobretudo as mulheres. Fascistas! Retrógrados! Inqualificável discriminação. Em que é que as mulheres merecem ser menos respeitadas do que os homens, hein? (As mulheres e, claro está, os gays, os tisnados de conveniência e aqueles cujo nome não deve ser pronunciado a não ser em panegíricos postiços).

c) E por fim, cúmulo dos cúmulos, horror dos horrores: ameaçam varrer Israel do mapa. Querem maior prova de fossilização cultural e obsolescência tecnológica? Varrer?! Mas em que século é que eles vivem? Qualquer povo evoluído, eco-esclarecido, moderno usaria já, no mínimo, um aspirador.

Aquilo não é um país: é um cemitério de tralhas, cangalhos e antiguidades.