quarta-feira, maio 01, 2024

O Esquema Perfeito

 A Dívida Norte Americana...  35 triliões e subindo.

Em comparação, a dívida rectangulosa: 287 biliões, mais coisa menos coisa.

Todavia, a diferença essencial entre ambas não reside na dimensão. Reside na autenticidade.

Eu explico: para haver uma dívida é necessário que exista um credor (ou múltiplos, como é o caso). Ora, isso é verdade no caso rectangular, mas não no caso americórnio. Os rectanguleses têm credores (e bem ferozes, por sinal) pelo que possuem de facto dívida que lhes compete pagar até ao último tostão do juro. Aliás, isto é tanto verdade no conjunto dos tais cujos, como na individualidade das suas ex-pessoas: vivem a crédito. Submersos em dívidas. E chamam a isso, com imensa piada, liberdade e regime democrático.

Já os americórnios, na medida  em que nada existe neste mundo que os obrigue ao pagamento, não têm credores, nem, consequentemente, qualquer dívida. A forma como agenciam numerário líquido, decorre, em parte, por doação, no restante, por ficção (ou contrafacção, sem eufemismos). Assim, aqueles que emprestam dinheiro ao pseudo-estado rectangular, são credores autênticos e a "vossa" dívida é uma verdadeira dívida. Em contrapartida, aqueles que emprestam dinheiro ao tesouro americano  são doadores de facto e a "dívida americana" é uma falsa dívida, porque aquilo que exprime, na realidade, é o saldo actual (ou balanço consolidado) dos lucros fáceis do estado norte americano, seja lá o que isso for. É até por isso que eles torram biliões como eu visto uma camisa: quanto mais torrarem, em empréstimos a esmo (à Ucracoisa, ao Israló, aos alienígenas da lua de saturno, ou quem quer que seja), mais lucram e acumulam. O que aquele relógio desarvorado que aparece no link em epígrafe certifica não é, de modo nenhum, um descalabro das contas públicas. Bem pelo contrário, é um triunfo retumbante.

Num certo sentido, a economia americana alcançou, mais até que a perfeição, a superação de todas as contrariedades e problemas tradicionais da contabilidade e arredores. Na medida, em que a dívida coincide com o lucro, a meta-américa, prodigiosa, tanto mais produz quanto mais gasta. O capitalismo, mai-la sua lógica do consumo e desperdício, há muito que foi transcendido: agora, persignemo-nos em êxtase, através do consumo absoluto, nada é desperdício e tudo é lucro.

Estou à vontade para passar o alvará: inventaram e implementam todos os dias o "esquema perfeito". Uma espécie de buraco negro das finanças planetárias? Sim, e depois?...

11 comentários:

passante disse...

> aqueles que emprestam dinheiro ao tesouro americano são doadores de facto

Aqui há 2500 anos os atenienses tinham um esquema semelhante, também apoiado numa boa marinha, chamado Liga de Delos em vez de NATO.

Depois esticaram-se um bocado, e a coisa correu mal. Resumo do jogo no sítio do costume: https://en.wikipedia.org/wiki/Peloponnesian_War

dragão disse...

A Liga de Delos foi um bom protótipo. Embora bastante rudimentar em comparação ao estado actual da arte. Não deixa de ser curioso que é sempre o talassismo contra a continentalidade. Naquele caso, os de poucas falas ganharam aos tagarelas. Vamos ver no vertente episódio.

O "esquema perfeito" anda próximo da inexpugnabilidade. Ou, pelo menos, está auto-persuadido disso.

passante disse...

Outro dia o Vivendi pôs um boneco interessante no blog: https://o-tradicionalista.blogspot.com/2024/04/o-fim-da-ideologia-liberal-no-mundo.html

Resumindo, GDPppp mundial 2023 G7 vs BRICS: 29.9% vs 32.1%

Ou seja, se os não-G7 deixarem de usar dólares, SWIFT, etc, a coisa começa a parecer a D.Branca/Bernie Madoff em fim de carreira. A Rússia e a China já estão a fazer activamente umas coisinhas pela desdolarização.

Depois há o factor "cobrador do fraque", aka "carrier strike groups". Li algures que por estes dias 9 dos 11 que existem estão nos respectivos "home ports". É boa ideia, parece que as coisas lá fora estão perigosas, como dizia o sarja do Hill Street Blues. Agora há para aí muito drone baratucho que estoira coisas mil vezes mais caras. E até o Iémen tem disso, e usa qb.

Apesar da gente em causa ter lido o seu Tucídides, e evite fazer expedições a Siracusa para se desgraçar de vez, ainda se aplica uma que os bêbedos do MoonOfAlabama citam de vez em quando:

“How did you go bankrupt?"
Two ways. Gradually, then suddenly.”
― Ernest Hemingway, The Sun Also Rises




Laoconte disse...

Na verdade, se há falta de doadores de facto, fabrica-se. Com efeito, já há duas fábricas a funcionar, uma na Europa denominada "Fábrica de Amizade Russo-Ucraniana" e outra no Médio Oriente com o simpático nome de "Fábrica de Solidariedade Semita".

Vivendi disse...

No meio das iniciativas de desdolarização dos BRICS em curso, o JP Morgan fez uma previsão importante relativamente ao impacto geopolítico nos Estados Unidos. Especificamente, o CEO do banco, Jamie Dimon, conversou com o Wall Street Journal sobre a trajetória da economia dos EUA.

Dimon não tem sido tímido quanto à sua posição sobre as questões atuais que a economia enfrenta. Quer sejam preocupações geopolíticas, lutas inflacionárias ou a iminente crise da dívida dos EUA que continua a passar despercebida. O CEO do JP Morgan, em última análise, prevê que o país irá espelhar o mesmo destino que se abateu sobre ele em 1973.

https://watcher.guru/news/brics-jp-morgan-makes-major-prediction

Vivendi disse...

Esta agitação (pandemia, inflação, guerras, juros, recessão, ...) e que irá durar toda esta década é o estrondo do dólar e o iminente colapso da América.

Os cavalos em que os globalistas apostam para não cair no cataclismo é a IA e imposição da moeda 100% digital » controle total.

Vivendi disse...

Sobre aquele post da Boeing:

https://revistaforum.com.br/global/2024/5/2/segundo-delator-da-boeing-morre-em-meio-denuncias-contra-empresa-158206.html

Laoconte disse...

"Apesar da gente em causa ter lido o seu Tucídides, e evite fazer expedições a Siracusa", tenho o pressentimento de que o novo Alcibíades, vulgarmente conhecido por Trump, não leu a Guerra do Peloponeso, só conhece o "Thucydides Trap" propagandeado pelo escriba acocorado Graham T. Allison para assustar os chineses.

dragão disse...

Vossências, que eu muito prezo, a falarem em bancarrotas com estes gajos é apenas corroborarem o sucesso cavalgante e inexorável dos mesmos. A minha tese é simples e deriva da simples observação do fenómeno: quanto mais aparentemente falidos, mais efectivamente pujantes. Aquilo que para os outros significa processo de falência, para eles significa modo de vida e de enriquecimento. Se juntarmos a isso um controlo completo das sereias, preciso de fazer um desenho?

Economicamente, são indestrutíveis. Ninguém me desconvence disso. Só se os derrotarem militarmente, isto é, se os arrasarem à maneira de Cartago é que conseguem alguma coisa. Como isso implica levar o planete de arrasto, a solução, única, devém, assim, assaz problemática.

passante disse...

Pois, pela saúde das contas bancárias cá da paróquia, era talvez melhor que não houvesse descalabro.

Mas entretanto começam a acontecer coisas inéditas destas: https://swentr.site/africa/596940-russian-us-forces-niger-base-share/

Parece que aquela piada de "Onde é que se senta um elefante? Onde quiser." não se aplica tanto a elefantes minguantes.

Anónimo disse...

https://youtu.be/Gn0MpidIxSs?si=Yb_HjHnw-8Ahomwe