sexta-feira, janeiro 06, 2023

Gisberta, ou o Despaís das maravilhas

                                              «À falta de problemas, nada de desesperos: inventam-se!»

                                                                                        - Anónimo do século XX


Quando a praga "abrilabunda", em procuração alógena, desembarcou no País, largou num alarido pretextual que o dito cujo tinha problemas. É verdade. Havia problemas. Imensamente menos do que durante a primeira ribaldaria, digo república, mas problemas. Aliás, essa é uma condição existencial de todo e qualquer país, reino ou império, em qualquer época: ter problemas. Excepto na república angélica, ou no mundo das fadas, entre os mortais humanos, problemas é coisa que nunca falta. Até porque o bípede implume, ainda mais em ambiente social, outra tendência não manifesta do que formar bando e, amparado nisso, arranjar problemas. Realço, de resto, que problema é uma palavra grega que, como é inerente à língua de Homero, resplandece de polissemias: significa "problema" tanto quanto "questão controvertida", "obstáculo", "abrigo", "armadura", "promontório" e, ainda mais curiosamente, "pretexto". Na nossa língua essa riqueza mantém-se. E os abrilabundos exploraram-na a fundo, nas suas múltiplas acepções e veículos. Primeiro, como pretexto: vinham devastar e mutilar o país para o salvarem; depois,  como obstáculo: bem se esforçavam para instaurar o paraíso terreal, mas os problemas eram de tal modo gigantes, numerosos e hereditários, que se impunha criar novos problema cuja função era servir de antítese e de antídoto aos problemas antigos, herdados da pré-história; a seguir, como armadura: na tarefa de multiplicar, mais que resolver, os problemas, estes segregavam e iam entretecendo uma malha coriácea, de leis, leizinhas e decretos, detrás da qual se defendiam e imunizavam contra qualquer tentativa de desalojamento ou desparasitação por parte da população hospedeira; finalmente, como "promontório": governar deveio presidir a uma montanha de problemas, sempre a levedar, instalado no alto dos mesmos, em sobranceiro êxtase e bem pago alheamento.

Mas tudo isto, claro está, apenas numa primeira fase. Na fase de choque, digamos assim. Passaram rapidamente à lua de mel. Descobriram novamente a roda, a pólvora e várias lâmpadas de Aladino. Os problemas eram grandes, desmesurados, porque o país era enorme, avantajado: começaram por reduzir os problemas miniaturizando o país. Mas, ainda que assim minimizados, os problemas continuavam a infestar e a formiguejar feitos marabunta. Armados em comichão. Duas abracadabras e uma eureka depois: havia problemas porque havia país, a culpa era deste, que, sem pejo nem vergonha, lhes disponibilizava, gratuitamente, o serviço infame de suporte e pedestal; acabava-se com o país e acabava-se com os problemas. Meu dito, meu feito. Ficaram sem país nem problemas. O ovo de Colombo em esteróides. Mascarou-se o som do autoclismo como o hino berrado no estádio cheio.

Porém, como não há bela -nem golpe de génio - sem senão, lá veio a ressaca: sem problemas, instalou-se o tédio. Os ministérios bocejavam; a assembleia ressonava ou barafustava em disputas acerca do jogo do galo ou da batalha naval - "é um submarino!...não senhor, é um patrulha da Polícia Marítima!"... ; nas autarquias alvejavam-se  moscas com aviões de papel.

E assim se chegou ao dia do Orçamento, ministros e deputados em amena pasmaceira. Derrancados na sub-tribuna, aqueles fitavam, melancólicos, o infinito; os outros coçavam a testa ou roíam as unhas, chateados. Onde gastar o dinheiro, a cornucópia a jorros do Além? Sem problemas, hospitais, escolas, a habitação, a educação, o emprego, as infraestruturas, a agricultura, a indústria, as pescas, a cultura motivavam o interesse e a animação dum cemitério vazio. Aliás, sem país, nem sequer havia a hipótese  disso - escolas, estradas, hospitais, fábricas, habitações, campos, etc, quanto mais problemas - pelo que começava a rarear a própria justificação para um orçamento. Alarme! Sem essa cortina providencial como podiam tratar da distribuição coorporativa dos fundos, entre políticos, afluentes e desaguadouros? Sem orçamento nada de redistribuição da riqueza e socorro aos amparados. Perspectiva aterradora! Sob a aparente modorra, palpitava já uma certa inquietação, uma indisfarçável angústia... Rostos taciturnos trocavam emojis sombrios e memes cabisbaixos entre as bancadas. Nos do governo, só o cadavérico e anguloso dos Negócios Estranhos tentava ainda animar o Primeiro com um projecto de recurso: blindados fantasmagóricos para uma país imaginário (a Ucrânia dos olhos doces)... Ninguém na Europa se atreveria a fiscalizar, muito menos a Alemanha... Era torrar sem haver amanhã nem depois de amanhã!... Estava-se pois nisto, quando, subitamente, a monodeputada de serviço, num ímpeto vertical culminado de estrídula anunciação, parturiu:

- " Taxa Rosa!..."

Os do governo como que despertaram do transe funerário. O dos Negócios Estranhos interrompeu mesmo a bichanação solerte ao ouvido do Primeiro. Este congregava agora, magnético, toda a atenção. Um ligeiro sorriso animou-lhe e quase rosou as terruginosas bochechas. Levantando os olhos dum qualquer documento, ripostou, com alguma esperança:

- "Humm... Submarino ao fundo."

A do Pan, claramente excitada, após nova consulta às visceras do toureiro marialva que tinha à frente, estrugiu:

- "Já sei: Espaço Gisberta!!"

Foi já com os olhos humedecidos e a voz trémula que o Primeiro anunciou:

- "Tiro no Porta-aviões!"

Rompeu o circo, de pé, em aplausos!  Excepto o urubu dos Estranhos Negócios, que fitava a monodeputada com ódio; e o PSD, aturdido, que requereu uma comissão urgente para apurar se, de facto, não tinha sido apenas no cruzador. Ah, e, claro, o Chega...  Clamando, aos gritos, provas de fraude no Tarot cigano e brandindo, com espavento, o Almanaque do Borda d'Água.


PS: No postal seguinte, analisarei em sede de especialidade, o já famigerado artigo 125 da lei do Orçamento 2023, ou seja, a implementação e financiamento do Espaço Gisberta. Com direito a nova "autoridade policial", e tudo.

5 comentários:

marina disse...

ou seja , querem ser tratados igual, os lgtb , querem poder frequentar casas de banho e vestiários que não correspondem ao sexo com que nasceram , mas ospois querem apoio à vitima diferenciado? iguais para uma coisas , diferentes para outra: o espaço G não será estigmatizante? acho que me vou inscrever nos lgtb , digo que já fui homem , dá-me ideia que compensa bastante , com o tempo talvez tenha direito a subsídios e tudo.

dragão disse...

Isso tudo, sem tirar nem pôr. Mas o mais grave não é isso: é a porcaria do Estado a perder tempo e dinheiro com carnavais desses. Enfim, dado a estado da arte essa até acaba por ser a execução fatal da arte do Estado.

Figueiredo disse...

O regime liberal/maçónico está também a dar subsídios, habitação, e trabalho, a mulheres e homens homossexuais:

- Assembleia Municipal de Lisboa aprova bolsa de habitação para comunidade LGBTI+

https://www.dn.pt/local/assembleia-municipal-de-lisboa-aprova-bolsa-de-habitacao-para-comunidade-lgbti-13050140.html

- Avançar na Gestão da Diversidade LGBT nos Setores Público e Privado

https://jornaleconomico.pt/noticias/lei-portuguesa-e-boa-mas-ainda-ha-longo-caminho-para-pessoas-trans-no-trabalho-965643

- Resolução da Assembleia da República n.º 69/2020

https://files.dre.pt/1s/2020/08/15400/0000300003.pdf

Isto viola a Constituição da República de Portugal (CRP) e o seu Artigo 13º, referente ao Princípio da igualdade, que diz explicitamente:

1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

Fonte: https://dre.pt/dre/legislacao-consolidada/decreto-aprovacao-constituicao/1976-34520775-50453575

Estas medidas infundadas, inconstitucionais, de desigualdade e discriminatórias, que os liberais/maçonaria (PS, CDS, BE, PSD, PCP, IL, L, CH) estão a implementar têm como objectivo saquear o Orçamento do Estado (OE) e de impor um programa de engenharia social com o qual os Portugueses não se identificam.

Mário Cesariny na sua última entrevista:

«...Qual é a sua opinião sobre as manifestações do orgulho gay, hoje em dia?

Acho feio, porque em vez de aparecerem como pessoas normais, põem umas mamas, pintam-se, ficam uns verdadeiros abortos. E saem assim para a rua. Eu, que sou homossexual, se encontrasse aquilo na rua, passava para outro passeio, porque em vez de angariarem simpatia, ofendem...»

Anónimo disse...

https://www.flash.pt/celebridades/nacional/amp/por-um-mundo-melhor-dino-dsantiago-propoe-mudar-o-hino-nacional-e-lanca-polemica

Anónimo disse...

O povo é quem mais ordena .