Há coisa de meio século, escrevia Aldous Huxley no prefácio do seu "Brave New world":
«À medida que a liberdade económica e política diminui, a liberdade sexual tem tendência para aumentar, como compensação. E o ditador (a não ser que tenha necessidade de carne para canhão e de famílias para colonizar os territórios desabitados ou conquistados) fará bem em encorajar esta liberdade. Conjuntamente com a liberdade de sonhar em pleno dia sob a influência de drogas, de cinema e da rádio, ela contribuirá para reconciliar os seus súbditos com a servidão que lhes estará destinada.»
Há intolerâncias essenciais. São estas que eu enuncio como fulcrais e determinantes numa civilização. O tipo de comportamentos e posturas que, por exemplo, são perfeitamente toleráveis num rebanho de ovelhas, numa manada de vacas, ou num bando de galinhas são, de todo, intoleráveis ao homem digno desse nome. Imaginando que, um dia destes, temos um planeta perfeitamente globalizado (isto é, uniformizado, normalizado, terraplenado) e hiper-controlado por um cripto-directório central Todo Poderoso, isso não constituirá, de maneira nenhuma, uma civilização. Atestará, pura e simplesmente, duma imensa, acabada e total exploração agro-pecuária, supervisionada por um complexo financeiro-industrial. Será sem dúvida um espanto de tolerância, de progresso catita e higienismo pimpão - direi mesmo: um pocilga ultra-pasteurizada (os suínos refocilarão felizes e os donos também, posso até admitir) -, mas não lhe restará nem ponta de civilização. Porque não lhe sobrará nem pinga de humanidade.
Ora, é essa a principal intolerância duma verdadeira civilização: a intolerância à desumanidade.
32 comentários:
Excelente! brilhante!
vocês deviam ler um livrinho muito acessível:
"Para além da miberdade e da dignidade" de um tal Skinner
vocês acham que pelo facto de serem marionetas que se julgam "não-uniformizadas, não-normalizadas, não-terraplenadas" são diferentes das outras
como escrevia São Josémaria, a falta de humildade é um terrível pecado
vocês são marionetas que apenas podem ser salvas pela Graça de Deus
ARREPENDEI-VOS
correcção: "Para além da liberdade e da dignidade" (Skinner)
ehehe o que eu gostei foi do ARREPENDEI-VOS
":O)))
De quê, rapaz? de fazer alianças com comunistas que destroem a religião?
De achar que por andar lá pelo alto não existem pessoas concretas, mas apenas um símbolo universal, a realizar num futuro utópico? a Homem Novo?
Porque o velho e concreto que existe cá por baixo não é abstracção e não devia ser usado como marionete dos que andam lá por cima a traçar-lhe o Destino e a corrigir a obra do Criador?
ehehehe
E quem é que falou em Liberdade?
E a ti agrada-te tanto a uniformização globalizadora, a qualquer preço, contra a tal identidade popular que tu desprezas e que até chamas cripto-fascismo ou obscurantismo e crendices porquê?
Por humildade?
ó bacano. Esta historieta não tem asas. Tem História ou a utopia do seu fim.
E é por isso que comunismo e neoliberalismo são mesmo as duas faces da mesma moeda. O fim da História. A terraplanagem é boa porque contribui para ela. Uns falam em nome do mercado e do Homem abstracto, a caminhar para essa utopia por indivualismo; os outros falam em nome do mesmo Homem abstracto, sem nacionalidade nem pátrica, a caminhar para o mesmo fim utópico,a magote, em bolo.
não é a liberdade?
então quando "a uniformização, a normalização e a terraplenagem" são efectuadas pela "tradição" e pelo "nacionalismo" já são boas?
mas olha uma coisa, esse Skinner não foi aquele psico determinista das experiências do berço e do condicionamento dos herdeiros?
eheheh
Se for não deixa de ter piada...
(desde quando é que existe terraplanagem no que consiste a variedade, com ritmos próprios e tradições específicas das comunidades?
Em pequena escala? De onde vem a sociedade? de terraplanagem? a família é uma terraplanagem e é fascismo? o clã também? a aldeia é terraplanagem e é fascismo? por ter hist´roia, por ter ordem, por ter identidade e gosto do que é seu?
O teu Papa mandou os padres para onde? o que é que ele disse que devia ser o centro da paróquia? quem é que lá devia estar?
Não foi isso que ele disse no tal puxão de orelhas que tu deturpaste? que o sacerdote deve ser o centro?
E não é porquÊ? quem é que foi para lá no seu lugar?
Eu digo-te foi o vazia da lei positiva contra a natural, foi o apagamento das identidades naturais em pequena escala e foram os partidos e a propaganda doutrinária e jacobina, a tal da libertação do "fascismo".
Mas estou mortinha de riso. È que se esse Skinner é o melro do psico que eu cá penso. O tal do condicionamento behavirista que até usou a filha como cobaia, o da utopia social a partir do berço, até percebo o teu problema com o carpinteiro pai natural e a defesa da utopia do sargento que raptou a miúda
ehehehe
Nem quero ser indiscreta. Mas só faltava mesmo um psico utópico para a historieta do marxismo em upgrade religioso.
Timshel, Glutão das hóstias, uma pergunta simples e concreta:
1. Algum rei português uniformizou, normalizou e terraplenou?
Penso que o tempo de Huxley começar a fazer sentido está a chegar. Tenho estado a tirar muitas notas a respeito nos útimos meses.
zazie, o Skinner é esse
continua
dragão
rei português só conheço aquele que dizia que excomungon non brita osso
e agora vou dormir que estou com um pipo de vinho em cima
boa-noite
ahahaha
Cura-a rapaz. E mato-me a rir O Skinner, o grande determinista, herdeiro da utopia do Watson que foi desembocar no nazismo ou na utopia neoliberal em literatura
ahahah Não há dúvida que a engenharia social, com pitada de engenharia de berço e condicionamento desde a nascença benzida a água benta, é mesmo uma grande originalidade.
Por isso é que tu és único
":O))))
"Algum rei português uniformizou, normalizou e terraplenou?"
Nenhum rei (portugues ou estrangeiro) normalizou, nem terraplanou, meu!, pela simples razao que nao existiam as maquinetas adequadas. Fizeram tudo o que puderam com o que tinham 'a mao... o que e' que serviu de 'petroleo' para economia durante os secs. XVI e XIX?
Noutra onda:
Nem tudo se reduz 'a politica, nem 'a economia. Este e' o principio basico da sociedade livre e civilizada. A 'liberdade' sexual do Huxley tinha muito pouco de liberdade; tinha tudo de controle -- a sociedade de controle.
A liberdade que vale a pena e' a liberdade das coisas inuteis: vagabundear, explorar, ler, ....
A aprendizagem da liberdade, aqui esta' um exemplo:
When I see a couple of kids
And guess he's fucking her and she's
Taking pills or wearing a diaphragm,
I know this is paradise
Everyone old has dreamed of all their lives--
Bonds and gestures pushed to one side
Like an outdated combine harvester,
And everyone young going down the long slide
To happiness, endlessly. I wonder if
Anyone looked at me, forty years back,
And thought, That'll be the life;
No God any more, or sweating in the dark
About hell and that, or having to hide
What you think of the priest. He
And his lot will all go down the long slide
Like free bloody birds. And immediately
Rather than words comes the thought of high windows:
The sun-comprehending glass,
And beyond it, the deep blue air, that shows
Nothing, and is nowhere, and is endless.
De facto, as anti-utopias começam, pouco a pouco, a tornar-se realidade. Em nome de um "bem comum" imposto pelos "iluminados", o indivíduo perde a sua identidade, o seu valor próprio, a sua singularidade. Que bem pode vir ao todo, se as partes se tornarem defeituosas, incompletas, existencialmente doentes? As anti utopias são visões do inferno na Terra.
O timshel disse-o a gozar, mas o apelo deve ser tomado a sério: Arrependei-vos. Porque diria Jesus Cristo de si mesmo: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida", aquele que sabia o seu destino e sabia-o de morte, se não fosse verdade? Compreendo a vossa relutância para com as religiões (cheias de hipócritas), para com os "representantes" de Deus (representantes??? como se Deus tivesse necessidade de expandir o Seu "negócio"), mas não devem rejeitar Deus. Procurem-no, de coração aberto, sem reservas, sem medos, sem arrogâncias, sem preconceitos e vão ver que Ele sempre esteve, aí dentro de vós, à espera pacientemente que olhassem com atenção.
Olá mp-s, bom ano.
Estás é enganado. os reis não terraplanaram grande coisa porque nem precisavam de grandes leis, instituições e engenharias para governar. Tinham a lei natural e tal subordinação a um fim maior que a optimização social.
As coisas mudaram quando começaram a aparecer as optimizações e planemantos. Os bons planos para novos mundos. E, para isso foi preciso muito mais que a velha tradição e sujeição de todos a uma ordem superior.
Foi mesmo preciso chamar liberdade a processos de condicionamento utópico. Fosse para serem todos mais ricos e felizes, fosse para serem todos mais "livres".
E isso só acontece quando a mecanização e industrialização servem de paradigma para outras optimizações do homem pelo homem. Ou de uns eleitos, donos do saber, sobre os não eleitos, que eles pretendem melhorar.
Olha, foi preciso que aparecessem as caixas de condicionamento e os reforços cooperantes. Pergunta ao bacano do Tim que ele sabe a história. A utopia nasceu mesmo daqui- da boa da engenharia do homem sobre a cobaia e não da predação conjunta de civilizações e sociedades contra os que as queriam tomar.
Ainda me estou a rir. É que não existe imagem que melhor explique a historieta que a caixa e o berço de Skinner. Pedagogia e processo de montagem. Directamente da fábrica para a felicidade fora do tempo e da História.
ehhehe
":O)))
zedeportugal
quando eu lhes disse para se arreoenderem, não estava a gozar
zazie
disseste:
"os reis não terraplanaram grande coisa porque nem precisavam de grandes leis, instituições e engenharias para governar. Tinham a lei natural e tal subordinação a um fim maior que a optimização social"
deves estar a brincar
os reis portugueses sempre foram os gajos mais egoístas e mais anti-lei-natural ou moral ou o que quiseres chamar-lhe
o episódio que mecionei aí em cima é paradigmático:
um rei português fez uma merda qualquer, o Papa ameaçou-o com a excomunhão e ele repondeu-lhe "excommunion non brita osso"
não me recordo do episódio nem de quem foi o rei, mas isto é esclarecedor sobre o respeito pela lei natural da parte dos reis, é positivismo puro e duro: a lei é a força e nada mais que a força
quanto ao Skinner, é bom ir um pouco mais além do que as ideias feitas
é muito engraçado (e é mesmo) mandar umas bocas mas seria bom se se fosse um pouco mais além:
o que é que ele escreveu sobre o comportamento humano e as suas origens que seja errado?
porquê?
mesmo no pressuposto que ele não tenha ido bem ao fundo das questões e que existam erros de base nas suas concepções, que contributos úteis ele trouxe para que as pessoas possam ser mais felizes?
porquê?
"as caixas de condicionamento"
e' isso, zazie! atingiu os pincaros da perfeicao controlante com a introducao da grande matraca do movimento perpetuo pos-moderno (nem a termodinamica nos safa desta): a televisao.
Bom ano!
Tim:
não percebeste o post. Acho que é apenas isto.
Quanto ao Skinner, mais um iluminado descendente de Darwin, que achou que também podia corigir a obra de Deus à escala mundial, apenas tenho a recordar-te que, se ele não disse nada de errado, a verdade é que não foi ele que fez de cobaia, nem nunca foi essa a sua intenção. Mas os outros, e com planos à escala mundial.
O behaviorismo foi mais uma das terraplanagens determenísticas que prometia o céu na terra. Mais uma ilha utópica, pegando na natureza humana e no ambiente, para criar um homem, universal, todo igualzinho e feito de novo. Porque, o problema desses iluminados não é apenas acharem-se deus ex-machinas, é estarem convencidos que lhes foi pedida a tarefa.
De resto, pouco sei do gajo, apenas as consequências naquela optimização pavloviana que serve de cartilha para outros iluminados irresponsáveis chamados pedagogos.
É mesmo algo que se pode caricaturar à Tempos Modernos do Charlot- tudo na linha de fábrica, directamente do produtor para o consumidor.
E claro que sem tradições, nem Deus, nem psiquismos, nem identidade humana, nem cultura, nem nada- esvaziando todo o ser humano desses acessórios para condicionar desde o berço, esse barro ainda por trabalhar e lhe dar a "boa forma".
Se isto não é um dos melhores exemplos da degeneração da revolução industrial no homoeconimus marxista e nas sociedades humanas feitas mercadorias, explicadas, ainda por cima, por iluminados do que se passa no inconsciente dos outros, então é tudo ficção de reaccionários.
De qualquer forma o nosso bacano do mp-s deixou aí um poema do Larkin. O Larkin é demasiado bom para eu lhe tocar. Seria de mau gosto e também nada tem a ver com o post mas com a leitura errada que ele achou que se podia fazer do post.
Ainda assim, como escolheu um exemplo bem datado e totalmente ultrapassado pela tal terraplangem desumana de que aqui se fala, deixo-lhes a pergunta: como é que faziam um poema que falasse do mesmo mas com estes novos direitos que já não são o diagrama mas o aborto?
o diafragma, queria dizer ehehehe
É que há coisas muito giras. Se por acaso esta dita civilização apanhar com uma guerra e isto tudo vá à vida, ou mesmo sem guerra mas por infiltração natural, imagino que os que ficarem, daí a uns tempos digam o mesmo que v.s:
Estão a ver no que deu aquele totalitarismo ideológico? É que aquela civilização queixou-se de Deus e matou-o e queixou-se das Igrejas e acabou com elas, e dos costumes e tradições e acabou com eles, tornando tudo científico e asséptico e vejam só no que deu a substituição totalitária.
áh, e esquecia-me: tudo isto sim, para dar a tal liberdade que tu lestes às avessas, Tim. A dita liberdade mercantil e egoísta e individualista, ufana e a olhar para o umbigo, foi enunciada pelo mp-s. Não pelo post nem por mim.
Mas pediste-me para dar um exemplo do que pudesse ter deixado o Skinner de errado.
Como te disse pouco sei do sujeito, para além de saber de onde vem e do que queria. Mas posso-te dar um exemplo- não há planificação de pedagogia do nosso ME que não tenha por lá a cartilha. Entre outros efeitos pavlovianos de optomização acéfala de tudo, incluindo de programas escolares imbecis que devem apenas ser vendidos como lhes dizem, tem um efeito muito engraçado na pedagogia escolar: não há noção de obrigação, não há noção de valor do conhecimento por si mesmo, não há noção de ética nos incumprimentos e desrespeitos entre todos- há apenas o "reforço" e o negociar de reforços.
Uma bela ideia para retirar qualquer noção de ética e cumprimento de obrigações a partir de pequenino- a escola é um circo onde se negoceia com os animaizinhos treinados para as macacadas que os iluminados governamentais apresentam a todos_ incuindo os "´tecnicos" do amestramento. No fim ou dão o rebuçado ou tiram-no negociando a performence.
a liberdade e' a possibilidade de ser individual e inutil. sem isso, nao ha' liberdade. o que cada um faz a partir dessa possibilidade, e' com cada um. se
vamos fazer um juizo de normativo sobre a
forma de exercicio da liberdade, entao ja'
se esta' a falar de outra coisa que nao a liberdade. De um ponto de vista cinico (e realista), e' de controle que geralmente se trata. Os 'priests' e' que sao outros, hoje em dia; nao estao nas igrejas, estao nos conselhos de administracao de tudo e mais alguma coisa. teem um traco em comum com os antigos 'priests': sabem sempre como e' que a liberdade de outrem deve ser exercida. isto e' intoleravel porque e' desumano.
humanidade civilizada e' a que permite cada individuo desenvolver as proprias potencialidades criativas. tudo o que o impede e' desumano.
O Skinner nem sequer diz nada de novo, é uma espécie de neo-jesuítismo.
Os Jesuítas também se gabavam que, em educando eles uma criança, podiam garantir infalivelmente as futuras opiniões religiosas da mesma. Um dos resultados mais famosos desta máquina perfeita chamou-se Voltaire.
:O)))
ahahahaha
Grande boca, Dragão. É que é mesmo verdade.
"Um dos resultados mais famosos desta máquina perfeita chamou-se Voltaire"
Tomo XII da revista francesa, Correspondance Littérairer, Philosophique et Critique (1753-1793)(páginas 87-88):
«Eu, o que escreve, declaro que havendo sofrido um vômito de sangue faz quatro dias, na idade de oitenta e quatro anos e não havendo podido ir a igreja, o pároco de São Suplício quis de bom grado me enviar a M. Gautier, sacerdote. Eu me confessei com ele, se Deus me perdoava, morro na santa religião católica em que nasci esperando a misericórdia divina que se dignará a perdoar todas minhas faltas, e que se tenho escandalizado a Igreja, peço perdão a Deus e a ela.
Assinado: Voltaire, 2 de março de 1778 na casa do marqués de Villete, na presença do senhor abade Mignot, meu sobrinho e do senhor marqués de Villevielle. Meu amigo».
Assinam também: o abade Mignot, Villevielle. Acrescenta:
«Declaramos a presente cópia conforme a original, que foi entregue às mãos do senhor abade Gauthier e que ambos confirmamos e que ambos temos firmado, como firmamos o presente certificado. Paris, 27 de maio de 1778. Abate Mignot, Villevielle».
Ó Glutão,
o gajo aí, com 84 anos, já estava em adiantado estado de Alzheimer e não se lembrava de quem era nem do que tinha ajudado a atear.
Já não falando nos cagufes da Negra Ceifeira, que são de dar a volta ao miolo a alguns.
Ao miolo, a alguns. À tripa, a quase todos!...
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