Instado por Franco Nogueira, em 17 de Junho de 1966, para conceder uma entrevista a um jornalista inglês que pretendia recolher dados biográficos, Salazar redarguiu:
-"Biografias só interessam de pessoas que tenham um futuro político. Não é o meu caso. Eu só tenho um passado político; e isso, por conhecido, não interessa a ninguém. Cheguei ao fim. Os que vierem depois de mim, vão fazer diferente ou vão fazer o contrário e contra mim, e isso é que interessa."
Realismo ou resignação? Defeito ou virtude? Profecia, pelo menos.
Serve isto de intróito a mais um daqueles fenómenos bizarros em que Portugal tem sido pródigo nos últimos trinta anos. Não se sabe exactamente como, mas, germinando fetichisticamente de boatos, rumores e mitologias, instalou-se entre certa qualidade de indígenas mentecaptos a firme crença nas propriedades milagreiras da pedra tumular do antigo Presidente do Conselho. Para mais, em áreas mórbidas tão luso-endémicas como a chifradura e a impotência. Garantem os curandeiros avulsos e médiuns encartados que homem cornudo ou impotente, bem calafetado na crença e artilhado na devoção, marrando lá com o porta-chifres ou amassando a alcatra sob determinados luares e confluências, fica sarado em meia dúzia de sessões. É claro que há casos desesperados, de ramificação exuberante ou emasculação profunda, não raramente cumulados no mesmo impaciente ambulatório. Foi o que aconteceu na madrugada da pretérita quinta-feira. A notícia fala num suposto paralelo a servir de ferramenta ritual. Mas, na realidade, foi mesmo um par de cornos exorbitante. De algum animal de hastes fustigado por crónica e galopante tribulação. Sofrem horrores estas bestas.
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