quarta-feira, junho 09, 2004

GIN COM ÁGUA TÓNICA


Ainda a propósito da feira do Livro...
Se lá forem, procurem, na Estampa, este senhor. Em termos portugueses e de humor negro, salva Portugal duma mediocridade confrangedora. Se não o conheceis, sois ignorantes. Nem mais.
Refiro-me ao Mário-Henrique Leiria, pois claro... Tem duas obras, qualquer delas imprescindível. "Os Contos do Gin Tónico" e os "Os Novos Contos do Gin".
Aqui deixo uma pequena amostra.

«A Verruga

Estava eu sentado lá em casa, quando ouvi a minha tia dizer «uff!».
Suspeitei logo que havia coisa. Fui ver. Tinha-lhe nascido uma verruga na oerlha. Não me pareceu normal.
Procurei imediatamente o meu tio, que é brigadeiro.
-Vamos falar com o ministro - disse o meu tio.
Fomos.
O ministro, em princípio, não quis acreditar. Não podia ser, aquilo não era normal. Claro que não era normal mas eu tinha visto, e foi o que lhe disse.
-Nesse caso, o melhor será fazer como se não soubéssemos de nada - propôs o ministro. - O senhor já pensou o que isto pode causar? - continuou, ancioso. - Começam por aí a inquirir, a verruga complica-se, os anarquistas, sempre prontos para a insídia, aproveitam o momento, a greve surge, as coisas atrapalham-se, intervenção das Potências, a guerra, que sei eu? Não, não digamos a ninguém. Guardemos segredo, o Estado o compensará.
Olhei para o meu tio, brigadeiro como já tive oportunidade de fazer notar, e vi que realmente o caso parecia grave. No entanto, duvidando um pouco, inquiri ao ministro:
-A coisa é assim tão importante, Excelência?
- Mais que isso, meu amigo, mais que isso. A pátria está em tremendo perigo.
Senti que era a hora da decisão.
- Se a pátria periga, não desejo a mínima recompensa. Comigo é assim. Pela pátria, tudo. Calarei.
Calámos
Dias depois a minha tia recebia uma carta escrita pelo próprio Imperador. Agradecendo. Louvando.
A carta ainda lá está. A verruga também.
Quanto a mim, continuo sentado lá em casa. Calado.»

«Casamento

"Na riqueza e na pobreza, no melhor e no pior, até que a morte vos separe."
Perfeitamente.
Sempre cumpri o que assinei.
Portanto estrangulei-a e fui-me embora.»

1 comentário:

zazie disse...

"Ainda me lembro. O melhor presente que tive foi sem dúvida aquela flóber. toda a garotada da terra colaborou no meu entusiasmo. Íamos para o campo, pam pam, pardal aqui, pam pam , pardal ali.
A única arrelia que tive com ela foi quando um dia, sem querer, pam, acertei em cehio na tia Albertina.
Para castigo não me deixaram ir ao enterro."