domingo, outubro 29, 2006

Um país de artistas

Aqui há tempos, vai para coisa de quatro meses, vivia-se então a epopeia do mundial futeboleiro, uma alma benemérita, provavelmente preocupada com o meu afastamento das coisas mundanas, como sejam as cavalidades que quotidianamente se aspergem sobre as massas, enviou-me, via email, um artigo dum tal José Manuel Barroso. Comecei por experimentar um calafrio inaudito, ao ler o nome do escriba: tratar-se-ia do Zé Manel Durão Barroso, o maoista arrependido? Persignei-me e corri a armar-me duma grinalda de alhos, bem como dum sortido variado de martelos e estacas. Graças a Deus, não era. Era outro. Todavia, segundo averiguei, faz parte do painel de (a)luminárias que bolsa regularmente no DN, o que só por si é uma promessa de náusea garantida... e superlativa.
Este Zé-Manel, ao que tudo indica, pertence à facção Delgados, Amarais & Afins, a qual, como todos sabemos, simula uma alternativa à Côncio, Lopes e Assados, mas, na verdade, mais não exerce do que contracenar num épico de imbecilidade conjunta cujos limites desafiam as megalomenorreias mais exacerbadas de um Cecil B. DeMille a dieta rigorosa de LSD, psicolaxante e água das malvas. Todos juntos, devem rondar os quarenta - entre charlatões, pilha-galinhas e génios da lâmpada, cada qual mais obcecado que o compadre em armazenar, à maneira das pegas, pechisbeques e marroquinarias num cavername ignoto, sob a basbaquerie gulosa dos Ali-Babás, Bebés, Bibis, Bobós e Bubus da paróquia.
A mim, porém, conhecedor calejado e veterano destas hortofrescuras, é que já não me apanham desprevenido. Blindado pela ascese, jamais dispenso o capacete do método. Assim, reconhecida a autoria do despejo, cartografado o chiqueiro onde regularmente refocila, preparei-me para o pior. O chorrilho que de seguida sobrevoei, de narinas bem apertadas, não me desiludiu. Uma descarga dignas das melhores suiniculturas, benza-a Deus.
O Zé-Manel, pasme-se, tem um país e decidiu tirar-se de cuidados, pousar por momento os lavores, para nos falar dele.
Ora, no país do Zé-Manel, a que ele, com imensa graça, chama Portugal, «milhares de portugueses aprenderam a cantar o Hino e a usar os símbolos nacionais com orgulho, por causa do Euro 2004 e agora do Mundial.» Nem mais. Que maravilha! Significa isto, que, de dois em dois anos, são organizadas magníficas jornadas de alfabetização simbólica. As massas aprendizes, sequiosas de cultura heráldica, são acantonadas em estádios-escola onde aprendem a cantar o hino e a agitar as bandeiras ao vento. Afinal, não é o fado que induca nem o vinho que instrói: é o futebol que trata de ambas as tarefas. Verdadeiro dois em um: shampô e amaciador de cerebelo.
Esta euforia cantadeira e bandeirante, segundo o insigne Zé-Manel, tricotador de bacoquices fulgurantes, revela, sem margem para qualquer dúvida ou hesitação, que «a ideia profunda de País e de Nação venceu a ideia rasca e anti-portuguesa do antinacionalismo».
Portanto,a "ideia profunda de país e de Nação" - o país e a nação do Zé Manel, nunca é de menos destacar -, consiste em cantar o hino e brandir a bandeira -e, já agora, pintar o cabelo, as ventas, o traseiro, as mamas, etc - com as cores ditas nacionais, patrióticas, defronte duns marmanjões pagos a preço de ouro que se entretêm a preencher de pontapés uma esfera de ar encadernada a couro. Curiosamente, a "ideia profunda de país e nação" dos Zé-Manéis em nada se distingue dessa mesma ideia, tão abissalmente profunda, dos angolanos, dos japoneses, dos mexicanos, dos brasileiros, dos ingleses, etc, etc. Aliás, no caso dos angolanos, mexicanos, brasileiros e alguns outros, a ideia ainda é mais profunda, pois eles não só trinam e desfraldam bandeiras com idêntica fúria, como ainda dançam, deliram e festejam até à exaustão. Os ingleses, esses, supervisores da democracia e da civilização na Europa, sempre zelosos dos seus privilégios, vão ainda mais longe: escavacam coisas, urram em bandos e mergulham em coma alcoólico. Mais profundo que isto é difícil.
Mas Zé-Manel é coerente nas suas extravagâncias. Celebra, com fanfarra e majoretes, que «esta ideia de Pátria, de Nação, de País está de novo caminhando.» «Não tanto, ainda, pelo que conseguimos fazer de bom na economia, na educação ou noutros campos (e é universalmente reconhecido pelos portugueses) (...)», nem, tão pouco, reconhece ele, com olímpica displiscência, «pelo culto positivo da nossa história, da nossa literatura, da nossa língua e da nossa cultura». Para tipos profundos, como os Zé Manéis do Zé-Manelogal, tudo isso são minudências, detalhes despiciendos. Que interessa a economia, a educação, a história, a literatura, a língua, a nossa cultura, quando existe o futebol e os estádios-escola onde os nacionalistas dos abismos podem aprender a cantar o hino e a ondular a bandeira? Melhor economia, educação, história, literatura, língua e cultura não se conhece. O povo, como eu sempre profetizei, após não sei quantas campanhas de dinamização falhadas, descobriu a pedra filosofal: auto-educa-se. Depois da descoberta que o universo se auto-engendrou, maior e melhor revelação não era possível.
Pois bem, certamente na senda desta magnivisão Zé-Manuelina, arauta e tabernacular do nacionalismo benigno, eclodiu recentemente na RTP uma iniciativa patriótica de análogo jaez e não inferior pedigree. Intitula-se “Os Grandes Portugueses” e pressupõe uma eleiçoeirice qualquer para entreter as massas, desocupadas que se encontram estas, no intervalo entre as bandeiro-cantorias do último mundial e as cantarolo-bandeiradas do próximo europeu. Há que manter viva a chama. Não deixar arrefecer os ânimos.
Para o efeito criou até, aquela estação pública, uma página na Net com uma lista de realces históricos, acompanhados de biografias altamente esclarecedoras.
Foi quando, por mera curiosidade, consultava uma destas, que garimpei a pérola que aqui venho, em êxtase, ostentar. É acerca duma das figuras por quem tenho especial admiração: Nuno Álvares Pereira. Transcrevo:
«"Estava sempre pronto para servir a pátria", diz Hélio Loureiro, cozinheiro da Selecção Nacional de Futebol.»
Devo subentender que o cozinheiro da Selecção nacional é um licenciado - senão mesmo mestre - em História, daqueles milhares que vulgarmente penam no desemprego, mas que, por sortilégio óbvio de apelido, lá desenrascou um providencial tacho como cozinheiro federativo? Ou então tratar-se-á apenas de um cozinheiro excepcionalmente erudito, membro dum colégio de catedráticos que, num rasgo de dedicação patriótica, condescenderam em acolitar humildemente os pés, as panças e sabe-se lá mais o quê dos supremos heróis da nação?
Seja como for, fico em pulgas para saber o que nos tem a dizer o roupeiro sobre Afonso de Albuquerque, o massagista acerca de D.Afonso Henriques, ou o apanha-bolas em favor do Príncipe Perfeito, do Infante ou de Fernando Pessoa. E o cabeleireiro da Selecção Nacional, meu Deus, o cabeleireiro, por que Torres do Tombo terá estagiado ele?!...
Mais palavras para quê? Não é apenas um artista português: é todo um país superlotado deles.

8 comentários:

timshel disse...

corrige:

onde está "Mas Zé-Manel é coerente"

deve estar

"Mas o Zé-Manel é coerente"


proposta

o dragão para "o maior português"

é esse o meu voto

Anónimo disse...

Pode até não jogar nada, a nossa selecção, mas é a mais culta. :)

Anónimo disse...

Lool!!

PlanetaTerra disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
PlanetaTerra disse...

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--- A única Identidade Autêntica [ou seja, Identidades Sólidas, Autónomas e Independentes]... capaz de sobreviver MILÉNIOS... é a Identidade Étnica!

NOTA:
--- Só os PAROLOS é que acreditam que os Judeus - espalhados pelo Planeta - vão 'trocar' a sua Identidade milenar... por... Identidades Artificiais: que aparecem... e depois são substituídas por outras...
--- MAIS, não é por acaso que os Judeus - espalhados pelo Planeta [uma observação: os Judeus controlam a Alta Finança mundial; logo, eles controlam muitos Grupos Económicos] - são uns FEROZES INIMIGOS das Identidades Étnicas Autóctones: para os Judeus, a ÚNICA Identidade que possui o Direito de Sobreviver no Planeta... é a Identidade Judaica: os Judeus procuram impedir, a todo o custo..., que as outras pessoas possuam Identidades Sólidas, Autónomas e Independentes -> capazes de sobreviver MILÉNIOS...
--- De facto, para os Judeus, os outros indivíduos deverão ser, tão somente, Mercenários que 'saltitam' de Identidade Artificial em Identidade Artificial... --> há milhares de anos que [de acordo com os seus interesses] os Judeus promovem quer a formação, quer a destruição, de Identidades Artificiais... {nota: as Identidades Artificiais são demarcadas em função de Interesses Conjunturais...}

--- Um exemplo: Andam por aí muitos Portugueses/Iberistas/Lusófonos/Europeístas... mas eles não são coisíssima nenhuma... melhor, eles são, isso sim, uns Mercenários Saltitões... que se limitam a adoptar a 'Teoria' [mais à mão] que lhes proporciona maiores Lucros Económicos...

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PlanetaTerra disse...

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--- Esta Identidade designada 'Portugal' já não representa absolutamente nada para muita gente...

--- É preciso uma Identidade Autêntica... consequentemente... o caminho a seguir só pode ser o SEPARATISMO ÉTNICO.

--- Quando se fala em ESTADOS ÉTNICOS - para a preservação de TODAS as Identidades Étnicas Autóctones do Planeta -, os Judeus começam a falar em Hitler, "Mein Kampf", Inquisição, etc... etc...
--- Os Povos Autóctones, que gostam de ser comidos por PARVOS pelos Judeus, que façam bom proveito da sua parolice...

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PlanetaTerra disse...

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--- A Identidade Étnica Autóctone... é uma Identidade Autêntica!...

--- Portugal, Espanha, etc... etc... são Identidades Conjunturais!...


NOTA:
Ao contrário das Identidades Étnicas Autóctones... a Identidade Mestiça é uma IDENTIDADE IMPERIALISTA: pretende ter o caminho livre para Ocupar e Dominar mais e mais novos territórios......

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Anónimo disse...

Buiça e planeta terra: Dois idiotas em acção.