sexta-feira, outubro 13, 2006

Da Nobreza de alma

«Por nobre entendo aquele cujas virtudes são inerentes a uma estirpe; por de nobre carácter entendo aquele que não perde as suas qualidades naturais. Ora, a maior parte das vezes, não é isso que acontece com os nobres, pelo contrário, muitos deles são de vil carácter. Nas gerações humanas há uma espécie de colheita, tal como nos produtos da terra e, algumas vezes, se a linhagem é boa, nascem durante algum tempo homens extraordinários, depois vem a decadência. As famílias de boa estirpe degeneram em caracteres tresloucados, como os descendentes de Alcibíades e de Dionisio, o Antigo; as que são dotadas de um carácter firme degeneram em estupidez e indolência, como os descendentes de Cimon, de Péricles e de Sócrates.»
- Aristóteles, “Retórica”


E quanto a pedigrees, estirpes, linhagens, eugenices e outras modalidades de enchidos, acho que ficamos conversados. Nasce-se cretino ou não cretino - mas nasce-se em toda a parte, em toda a raça, povo, credo, regime, classe ou família. Não está sujeito a sufrágio, nem decreto. A engenharia nem finança. A lobbys nem subornos. E ainda bem que assim é. Que existe algo que verdadeiramente rege, um mistério que nos ultrapassa, que jamais conseguiremos entender e, por conseguinte, conspurcar. Algo que essa emanaçãozinha ufana das nossas tripas a que chamamos razão jamais pilhará para altar das suas imundícies.
Puro, em Aristóteles, significa imortal, separado e absolutamente livre. Exactamente nos antípodas da porcaria que geralmente somos. Uma porcaria que, às vezes, quando ao Destino apraz, tem um centelhazinha dessa pureza inescrutável, lá no âmago. Chama-se inteligência. E ele, o Destino, quase sempre com ironia mordaz, planta-a onde muito bem entende. Nós não temos nada a ver com isso.

2 comentários:

Anónimo disse...

A razão jamais pilhará para altar das suas imundícies? "Brave new world".

Anónimo disse...

Muito bonito.