sexta-feira, outubro 20, 2023

Inusitada modéstia

 Em princípio, nada me move contra chacinas. Enquanto estão a chacinar, as pessoas, mesmo de etnias pulcras e ultra-pasteurizadas, não se entretêm com coisas muito piores como, por exemplo...  Bem, assim, de repente, não me lembro de nenhuma, mas deve ser defeito da minha memória que já não é o que era (aliás, nunca foi grande espingarda). Mas decerto existem por aí, senão aos molhos, seguramente às paletes.... Entretenimentos piores, que só visto!...  Ah, esperem...ocorre-me agora um: enclausurar as pessoas em campos de concentração e torturá-las e assassiná-las a conta gotas, com requintes sádicos e bombardeamentos ocasionais. Vêem?... E lá está, como agora é tudo relativo, o sofrimento e os seus fautores também. Comparado a matar à fome, à sede, ao desespero, em suma, ao lado do massacre lento e metódico, uma boa e rápida chacina chega mesmo a parecer um acto humanitário. Não chegarei ao ponto de considerar um gesto de caridade, mas, enfim, não andará longe.

Por conseguinte, quando vejo os israelitas, de facto e de aluguer, no púlpito e no coro, a chacinarem, com alacridade e benemerência, todo um conjunto de gente industrialmente mortificada e sistematicamente flagelada (às vezes, até fica a impressão que os santos jucoisos  continuam a projectar Cristo em cada palestiniano avulso), não me indigno ou sequer perturbo muito. Convenhamos: É o seu lado bom a vir ao de cima. Contra o seu lado negro, tortuoso, rancoroso e sádico. No fundo, é preciso que se emocionem (ainda que reduzidos e monotonizados pela emoção única da fúria) para que o sentimento humano se imponha à circunvolução cerebral alienígena. E quando chacinam um hospital avulso, aí, ninguém duvide, é claramente para atenuar, abreviar e, por piedade, erradicar o sofrimento de toda aquela gente agonizante. Uma eutanásia em larga escala, digamos assim. Nem consigo perceber porque tentam agora, no rescaldo, não assumir a benfeitoria. No seu apogeu vangloriar-se-iam sem pejo nem tibieza. Esmurrariam a peitaça entoando roncos. Descobriram a modéstia? Presságio da decadência fulminante?... Ou a profecia antiga paira, nebulosa, fúnebre, e assombra-lhes a fanfarra?... É que Ihavé não brinca.


3 comentários:

Anónimo disse...

Figueiredo, cabrão, o Pias é a tua chucha!

Vivendi disse...

"No final do ano passado, escrevi um artigo sobre o baixíssimo índice de morte de civis no conflito ucraniano. À medida que 6,8% das vítimas eram civis, o que fez da operação militar russa na Ucrânia o grande conflito com menor número de baixas civis desde a Primeira Guerra Mundial. Não tenho os dados atuais da Ucrânia em mãos para saber se o número permanece nessa faixa, mas acredito que sim, já que os ataques russos são cada dia mais precisos. Aliás, no começo desse ano foi encerrada a Batalha de Artymovsk/Bakhmut, já amplamente considerada a mais sangrenta da Europa desde a Segunda Guerra Mundial. A tática usada pelos russos foi, de certa forma, bastante "humanitária". O PMC Wagner no chão foi usado em larga escala, provocando um atrito de infantaria prolongado. A artilharia e a aviação russa só se conheceram realmente em Bakhmut nos últimos dias, quando já não restavam civis (todos evacuados por Wagner, diga-se de passagem). Resultado: um conflito longo, desgastante, sangrento, mas razoavelmente limpo, com poucas baixas civis - o contrário do que Israel faz em Gaza hoje -, e, claro, vitorioso. Contudo, fazemos uma comparação mais detalhada com Israel. Em pouco mais de duas semanas de conflito, a entidade sionista matou 4.385 palestinos. O número de civis é quase total, então vamos ignorar e considerar apenas os dados de mulheres e crianças: 2.732. Ou seja, mais de 60% das vítimas são mulheres e crianças (a maior parte crianças). Ninguém tem dúvidas de que o conflito na Ucrânia é o mais sangrento desde as Guerras Mundiais e de que o lado vencedor está alcançando seus objetivos militares sem grandes dificuldades. Enquanto isso, o conflito em Gaza não figura entre os maiores da história recente, Israel sequer conseguiu expulsar o Hamas de seu “território” ainda, não foi atacado por terra e está longe de qualquer vitória. A entidade sionista segue o pensamento militar ocidental, que não se esforça minimamente em poupar civis. Basta ver nos dados de baixas civis nas invasões americanas da Coreia, do Vietname e da Jugoslávia, por exemplo (74%, 46% e 56%, respectivamente). Aliás, entre 2000 e 2007, 69% das baixas palestinas causadas por Israel foram civis. Agora, estamos perto de ultrapassar essa marca. O Ocidente não apenas consente com o massacre que acontece diante dos nossos olhos, como também coopera ativamente com ele. Nenhuma sanção contra Israel, nenhuma expulsão de federações desportivas, nenhuma autorização de incentivo à violência explícita em redes sociais (como o Meta fez com os russos). No máximo, um "pega leva" e um disfarçado "mata um pouco menos" de alguns jornalistas emocionados. Extremamente simbólico e sintomático."

LL

muja disse...

Descobriram a modéstia?

Ahahahaha!