sábado, janeiro 31, 2004

BLOGOSCOPIA - 1

Como a "blogosfera" também é gente (será?), chegou a altura de lhe dar um pouco de atenção.
À primeira vista, o circo apresenta uma clivagem mais evidente entre os chamados de "esquerda" e os auro-denominados de "direita". É a velha questão.
Ou melhor, o velho cisma. O mesmo que já Rabelais referia como estando na origem da pugna entre Beija-Cus e Cheira-Rabos; ou Swift alegorizava na guerra ancestral entre Blefuscudianos e Liliputezes. (Os mamíferos em questão, e são muitos, vão negar isto com quantos dentes têm, argumentando que são episódios anteriores à revolução Francesa e eles só gostam é de brincar à dita Revolução, mas não acreditem.)
A seu tempo dilucidarei exaustivamente este fenómeno. Por agora, convencionemos apenas que os de "direita" correspondem, respectivamente, aos Cheira-Rabos ou Liliputezes, consoante a autoridade citada.
Umas palavras genéricas sobre estes blogues Liliputezes (ou Cheira-rabianos, se preferirem)... Em regra, não são dignos de menção ou atenção: são mais dignos de pena; uma verborreia pomposa e gritantemente queque, pechis-queque, panqueque ou filoqueque, não consegue disfarçar, de todo, o pedido angustiado de atenção veterinária e valium injectável. É escusado procurar-se neles qualquer ideia, argumento ou projecto, ainda que rudimentares. Invariavelmente servem-se, pela negativa, das pouco brilhantes e muitas vezes patéticas ideias e argumentos dos Blefuscudianos (ou Beija-Cus, se preferirem), quer dizer, parasitam-nas malévolamente, esforçando-se obsessivamente por destrui-las ou vandalizá-las. Transposto para a nossa realidade, são, em resumo, "contra-qualquer-coisa" - contrabortistas, contra-eutanazes, contramarijuanistas, contrarevolucionários, contrademocratas, enfim: aguardam que os adversários (e também hospedeiros) digam qualquer coisa, apresentem qualquer argumento ou projecto, para se definirem e afirmarem...naturalmente, contra. Da mesma forma, são destituídos de qualquer tipo de convicções, preferindo conspirar e urdir contra qualquer convicção alheia, boa ou má, sensata ou não. Beneficiam também do facto destas "convicções alheias" não primarem, em grande parte dos casos, por grandeza ou originalidade por aí além. Mesmo para efeitos básicos de parasitagem e deturpação, algo que não fosse medíocre e mesquinho impossibilitar-lhes-ia o acesso e a lavoura.
O blogue Liliputês com que inauguramos esta nossa rubrica, é revelador de toda esta panóplia mental. Referimo-nos ao Mata-Mouros.
A vantagem do Mata-Mouros em relação a outros da mesma estirpe (como a "Abrupto", por exemplo) é que consegue ser ainda mais bacoco e pedante. Além disso, transporta o farisaísmo característico da espécie a níveis anedóticos.
Não acreditam?
Começa no subtítulo: "perspectiva política liberal inconformada". Um liberal inconformado (não confundir com revolucionário, que é comuna) é no mínimo, esquisito: faz lembrar um "panasca ninfomaníaco"; ou um "canibal vegetariano".
(Se bem que o sentido, no fundo, depois de aturada pesquisa e alguma indulgência, até seja perceptível: quer dizer que os gajos nunca se conformam com a péssima situação do mundo; acham que conseguem sempre fazer pior! Baseiam-se, de resto, no lema predilecto das suas vidas: "quanto pior, melhor.")
Depois, têm um manifesto, com aquelas coisas todas que lhes desagradam, em tese, mas das quais vivem, muito provavelmente, na prática. Todavia, o mais engraçado e emblemático não é isso: o mais exuberante é a forma como terminam esse arrazoado de balelas juvenis. Dizem eles: "Dando o antigo grito português, prometemos “dar Santiago” a todos eles..."
Conluimos, portanto, que estes "mata-mouros" são espanhóis mascarados de portugueses. Revelam-se pelo "grito". Em Aljubarrota, nós gritámos por S.Jorge (não confundir com o Sampaio); por "Santiago" gritaram e, pelos vistos, continuam a gritar os espanhóis.
Fugiu-lhes a boca prá verdade. Bem feito. E deve ser daí que lhes vem o "inconformados": os castelhanos, verdade seja dita, nunca se conformaram com a independência portuguesa. São oitocentos anos de inconformismo.
Não obstante, tudo isto deve ser exagero sarcástico da minha parte. O mais provável é serem apenas mancebos de esmerada trunfa, angustiados (mais até que inconformados) com a perspectiva da calvície.

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