segunda-feira, setembro 03, 2007

Gente efervescente

A propriedade que mais se tem desenvolvido no português das últimas décadas é a sua efervescência: a agitação à superfície apenas encobre -e certifica - a diluição lá no fundo.
Corremos sérios riscos de nos tornarmos um povo completamente efervescente, animado duma irresistível vontade de dissolvência. Desde que me lembro, este é um sítio em perpétua crise parindo clamores aflitos por uma solução.

7 comentários:

Anónimo disse...

Esta «mania» dos portugueses em estarem sempre a zurzir no seu próprio país é desconcertante.
E tão desconcertante é que deixa admirados os próprios estrangeiros, que não compreendem porque é que os portugueses estão sempre nesta contundente lamúria e neste constante azedume para com a sua própria Pátria.

Esta «mania» ultrapassa o âmbito da natural auto-crítica.
Enfim, o que os franceses têm quiçá a mais temos nós a menos.

PScriptum - Do que conheço do mundo não tenho visto assim nada de tão especial ou tão deslumbrante ou tão maravilhoso assim que me faça ter qualquer tipo de «inveja» e/ou «complexo de inferioridade».

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Ou "s" vai para França...
"quiça" se não mudas de ideias...

azagaia

josé disse...

Vou adiantar algumas ideias.

Portugal ficou fechado ao mundo exterior das novidades em cima da hora, durante quase 50 anos.

Particularmente, nos últimos 10 desse período, o mundo evoluiu nos costumes de modo trepidante.

A América e o Ocidente em geral, criaram um sistema de valores culturais que Portugal também acompanhou com alguns anos de atraso. Sempre com um ou dois anos de atraso.
Na moda, na música, nas artes em geral, na arquitectura, nas técnicas de engenharias etc etc.

Esse gap, mesmo pequeno criou um complexo de inferioridade relativamente aos trends.

Nos anos sessenta e setenta, o gap tinha alguma importância porque impedia de usufruir de algumas das liberdades que outros, na Europa e
América já gozavam.

A ganga das calças só chegou aqui passados dois anos. As modas sucessivas idem. Os emigrantes traziam novidades que só chegavam aqui muito depois e os modelos de desenvolvimento, politicamente falando, seguiam a mesma senda de atraso.

Parece-me que este complexo apanhou a geração de baby-boomers ( expressão desprezível, mas que nós não temos para dizer que são os nascidos nos anos 40) e os que se lhe seguiram.

Daqui resultaram malefícios graves para todos nós: adoptamos a correr as novidades que chegavam lá de fora como se fossem o último grito do progresso. Exemplo? As leis penais, notoriamente copiadas de modelos alemães dos sessenta.
Outro exemplo? As autoestradas que por essa Europa fora havia em milhares de km, por cá contavam-se me poucas dezenas e perto de Lisboa.

E assim sucessivamente.

Resultado de tudo isto? O deslumbramento dos parolos, recém-chegados á Europa comunitária, no tempo desse expoente da parolice nacional que se chama Cavaco, deu no que se poder ver: auto-estradas em vez de investimento produtivo e racional; carros de luxo em vez de juízo na tola; futebol a rodos em vez de equilíbrio nos tempos livres; educação a martelo tipo Sócrates.
That´s all folks.

Anónimo disse...

Maria Albertina,
porque foste nessa,
de chamar Vanessa,
à tua menina?
....
Homenagem à campeã do Mundo.

Anónimo disse...

José, até concordo com o que disse, mas é pouco. Infelizmente é problema muito mais antigo.

Anónimo disse...

"A ganga das calças só chegou aqui passados dois anos"

E melhor fora que não houvesse chegado, amigo José, que tão bem vens servindo os fregueses da tua queijaria, benza-te Deus.

Morro de saudades dos tempos das serapilheiras, dos surrobecos, dos cotins, dos zuartes azuis, das sarjas, das opalinas, das xitas, dos riscados, das popelines, dos merinos, das lãs da praia, dos fiocos, das camurcinas, dos cetins, dos têvês, dos tirilenes, dos caquis e dos fundilhos amoravelmente cerzidos no cu pelas nossas santas mãezinhas!

Com a chegada das gangas, carimbadas com nomes, a um tempo, dissolutos, sediciosos e dissolventes (levis-strausses, wrangleres, brrr!, que até me engasgo a dizer isto), começou a nossa desgraça, o nosso progressivo definhamento.

Tantos a matutar, há tanto tempo, sobre a misteriosa causa - a causa última, a causa primeira! - do nosso empobrecimento material, do nosso amarfanhamento psíquico, do nosso enfezamento intelectual, do nosso aviltamento moral, e ela aqui, tão à nossa vista, tão rentinha aos nossos narizes, a abelhuda: as gangas!
As gangas! As gangas! Foram as gangas a nossa mortalha...

Anónimo disse...

E por causa das gangas, se calhar, temos agora aí os gangues.