Em todo o caso, extraindo Swift, Sterne, Quincey, Twain e mais dois ou três - vá lá, quatro -, comparar a literatura inglesa à francesa é comparar o buraco do cu ao firmamento. Acima dessa, só existe uma verdade ainda mais retumbante: todas as obras geniais - e felizmente são muitas - que essa meia dúzia anglófona mais a centena francófona produziram só alcançam verdadeiramente esse estatuto, singrando então pelas estratosferas do sublime imortal, depois de bem traduzidas para português. Eis o seu zénite!
Só uma língua superior, como a de Camões, tem o poder de lhes conferir tal dignidade.Literatura, Deus só lê em português. Ora, por mim, antes imitá-Lo a Ele que a uma chusma de macacos. Ainda por cima de imitação.
E muito precariamente evoluídos.
21 comentários:
Não resisti a recordar-lhe este 'Luís Vaz de Camões' de Carlos Néjar:
Não sou um tempo
ou uma cidade extinta.
Civilizei a língua
e foi reposta em cada verso.
E à fome, condenaram-me
os perversos e alguns
dos poderosos. Amei
a pátria injustamente
cega, como eu, num
dos olhos. E não pôde
ver-me enquanto vivo.
Regressarei a ela
com os ossos de meu sonho
precavido? E o idioma
não passa de um poema
salvo da espuma
e igual a mim, bebido
pelo sol de um país
que me desterra. E agora
me ergue no Convento
dos Jerônimos o túmulo,
quando não morri.
Não morrerei, não
quero mais morrer.
Nem sou cativo ou mendigo
de uma pátria. Mas da língua
que me conhece e espera.
E a razão que não me dais,
eu crio. Jamais pensei
ser pai de tantos filhos.
Não conhecia e agradeço, amiga blogossáurica.
Caro Ab,
tente agora com o "Obladi-Obladá". A seguir, ensaie com a "Lady Mandona". E finalmente, já bem bebido, compare com uma retroversão do "Jardim da Celeste Giroflé-giroflá".
Mas, no entretanto, obrigadinho por ajudar à demonstração de como a poesia inglesa,regra geral, é pateta.
Ah, esse gosto pela emissão de bojardas atordoantes, para espantar a manada! Compreendo bem essa pulsão. Mas e não se arranja aí lugar também para Beckett, I.Murdoch, Dickens, G. Vidal, Lorrie Moore, Ph. Roth, D. Delillo, R. Carver e M. Amis, pelo menos? E já não falo em poetas, para não ter que passar a próxima meia hora a digitar nomes atrás de nomes...
E o que é isso de línguas superiores? Não há línguas superiores nem inferiores; há, quando muito, línguas lexicalmente mais ricas (e a inglesa, nesse aspecto, supera de longe qualquer das novi-latinas, lamento), mais flexíveis ou mais plásticas. Mas no fundo todas servem igualmente bem para exprimir o mundo material e mental em que se inserem. Se tentássemos usar o inglês ou o francês para expressar a realidade dos hotentotes, facilmente veriamos que estas línguas seriam curtas e pobres. Enfim, o nacionalismo linguístico é uma forma de auto-ilusão como qualquer outra. E não das mais inteligentes, se me permites a franqueza.
Desses,nenhum, ó jms. Lamento muito. Tens mais duas tentativas. Depois volto para a lâmpada.
Quanto à lista de poetas, se forem ao nível desses prosadores, eu vou ali buscar as páginas amarelas da Amadora e arranjo, aleatoriamente, o dobro ao mesmo nível. :O)
Já as considerações linguísticas são do mais fantasista que tenho lido. É precisamente o contrário: o inglês é pura e simplesmente uma "língua fácil". E como as "mulheres", "políticos" e criaturas de idêntica condição, encontra nesse utilitarismo de beira-de-estrada e meia-porta uma clara vontagem sobre as outras, coitadas, que não se prestam a esses serviços.
Do nacionalismo linguístico não arredo pé. É estúpido, mas não tanto como o alternacionalismo. Já que se trata de ser subjectivo, preconceituado, antolhado, então, ao menos sou-o com aquilo que é meu de nascença.
E mai nada!
ehehe
Eu mantinha o Beckett (tinha-me esquecido do Johnathan Swift)os irlandeses são um caso à parte
e acrescentava o Wordsworth na poesia
Eu nem devia falar no Swift.O Swift é como um Cervantes ou um Dostoievski: sozinho vale uma literatura.
Claro está, desde que, todos eles, traduzidos para português. :O)
Bom, seria inútil estar aqui a tentar converter-te às delícias da literatura anglo-saxónica. Compreendo que possa ser irritante esta enxurrada do inglês no mundo actual, que parece obliterar a riqueza de todas as outras línguas e literaturas. Mas o francês também já foi uma língua imperial e dominante, e daqui a 100 anos será a vez do chinês, quem sabe?, ou do castelhano, novamente. Em todo o caso, parece-me tão gratuito dizer "não gosto de literatura inglesa" como dizer "não gosto de lit. francesa", ou alemã, ou que seja. Olha que a poesia francesa também está cheia de tralha inútil, homem! E a poesia, então, se lhe tirarmos Baudelaire, Verlaine, Char e Michaux, o resto quase não chega para encher um incensário de dimensões regulares.
A língua inglesa é acessível, reconheço. Quer isso dizer que com meia dúzia de lições qualquer um aprende a exprimir-se horrorosamente em inglês. Mas a língua de Shakespeare, de Seamus Heaney, de Nabokov, é tudo menos fácil. E em riqueza vocabular, insisto, bate qualquer outra que eu conheça.
Mas estas disputas de gosto são inúteis e intermináveis. Como poderia eu convencer-te, por exemplo, que Dostoievski é um escritor de 3ª, pelo menos se comprado com Tchekov ou Tolstoi? (E que ganharia eu com isso, mesmo que conseguisse tal feito?)
Já só te resta uma tentativa.
E essa do Dostoievski teve imensa piada.
Como é que alguém que não lê inglês como a sua própria língua se atreve a opinar sobre literatura inglesa?? Aliás...como é que se atreve a opinar sobre seja o que for! A lata que esta gentinha tem, realmente...
Acho que a mãe do Bush escreveu um livro sobre os pensamentos da sua cadela! Isso sim será literatura que interessa, agora esses shakes qualquer coisa ou swift isso é lá nome que se dê a um filho, balha-me Deus...e depois a falar mal dos países dos outros, a dizer que na dinamarca cheirava mal? então isso diz-se da terra da linda sereia. Homessa!
E como é que alguém que lê inglês como a própria língua, não aproveita, e à força de ioga, enfia a própria língua no próprio cu, de modo a ficar com o órgão falante directamente ligado ao órgão pensante?...
Esta sim, esta é uma questão que nos preocupa a todos.
Esta tua última calinada, Dragão, leva-me a suspeitar que estará a decorrer no teu blogue um certame para o Comentário Mais Idiota de Sempre; e que tu (vá-se lá saber porquê) decidiste lançar-te furiosamente na corrida a um lugar no pódio.
Não sei quem serão os juízes, nem qual a dead-line para entrega de originais, mas qualquer um diria que estás optimamente encaminhado para arrebatar a coroa de louros. Adeus, então, e boa sorte.
Ouve lá, ó jms, tira lá a cabeça de dentro da carapuça que não é contigo.
Aliás, os teus comentários não costumam primar pela estupidez congénita e avassaladora (bem pelo contrário) da débil mental que motivou o belo pedaço de poesia concreta em causa.
Larga lá as susceptibilidades. Para susceptível, irascível e belicoso já basto eu.
JMS,
Gostei de ler os seus comentários, aprendi muito, e vou tentar ler alguns dos autores que mencionou que eu desconhecia. Um abraço.
Ora aqui está alguém que os tem no sítio!
É evidente que a literatura de língua inglesa não chega aos calcanhares da francesa ou mesmo da alemã; não tem a ver com a riqueza ou não da língua, mas sim com a forma como o mercado literário evoluiu (daí que os editores anglo-americanos consigam hoje impingir qualquer merda, género Roth ou DeLillo).
Dou um exemplo, não há nenhum poeta de jeito na literatura inglesa desde o Wordsworth (sim, Zazie) e o Byron!, enquanto a poesia francesa teve entretanto Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Mallarmé, Laforgue, Apollinaire, Aragon, Michaux, Char...e já nem falo no romance, exceptuando os irlandeses Joyce e Beckett, não há nada que se compare a Stendahl, Balzac, Flaubert, Zola, Maupassant, Proust, CÉLINE, que felizmente tem por aqui muitos leitores), Camus, Queneau, Pérec e não sei mais quantos (a não ser no tamanho, com aqueles pastelões vitorianos horrorosos à George Eliot ou à Dickens...).
É como digo, se todas as literatures tivessem um mercado igual, queria ver quem é que se importava com a literatura de língua inglesa!
Mas o curioso é que, por sinal, a melhor literatura inglesa é aquela que agora, nas livrarias e nas universidades, é varrida para baixo do tapete, como o Swift (sim), Defoe, John Donne e os outros autores isabelinos...só aceitam o Shakespeare porque o lêem em traduções "modernas" (é como se dizem, se não podes chegar ao nível deles, podes sempre fazer com que eles desçam ao teu).
A Emily Bronte também prometia bastante, pena que só tenha escrito o Monte dos Vendavais.
"É como digo, se todas as literatures tivessem um mercado igual, queria ver quem é que se importava com a literatura de língua inglesa!"
Como sempre o choradinho das vítimas. Quando o produto não é bom, a culpa é do mercado. Coitadinhos...
Afonso Dinis
Eu citei o Wordsworth mas não concordo que depois dele não haja mais ninguém.
Há questões que podem estar sujeitas a critérios de extremo rigor mas há outras em que o gosto pessoal se mistura com eles e se perde a objectividade.
Não abro mão de considerar o Larkin um grande poeta e faço-o supondo estar a usar um critério objectivo.
Para entender melhor a afirmação podemos fazer comparação caseira.
Camões e Pessoa foram grandes mas isso não invalida que Herberto Helder, Franco Alexandre e José Agostinho Baptista (do Jeremias) também o sejam.
É capaz de me dizer para retirar o Franco Alexandre da lista?
Creio que não. E isto é rigor crítico.
Já se me dissesse para incluir o Alberto era falta de rigor e mau gosto.
(quanto à lista dos franceses, perfeitamente de acordo)
e vejo que concorda comigo que os irlandeses são um caso à parte. E não é apenas na literatura. São sempre um caso à parte em tudo
";O))
É como dizer-se que Tolstoi é superior a Dostoievski. Uma grande calinada.
":O)))
Mas já não é calinada nenhuma incluir, por obrigação, o grande Tchekov.
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