«A diferença entre os dois continentes faz-se sentir na noção de partido político. Na Europa, um partido representa os interesses de classe nos dois planos de dignidade e lucros, lutando pró ou contra os salários, os impostos, orçamentos e outros interesses materiais, pró ou contra um determinado sistema de poderio ou de hierarquia, portanto, a favor ou contra certos princípios. Na América, encontrando-se eliminada a condição, os dois partidos representam exclusivamente interesses realativos aos ganhos. São duas empresas concorrentes, dirigidas segundo os mesmos princípios e com objectivos idênticos, mas empregando caminhos e meios diferentes. Os dois partidos só diferem neste ponto. Lutam como dois grupos de futebol por uma mesma bola, que é o poder exercido no Congresso ou na Casa Branca. Pouco importa quem seja o vencedor, pois em qualquer caso será um jogador de bola. É aí que é preciso encontrar a explicação desta impressão de corrida no vácuo que tão frequentemente produz o conjunto da marcha política americana. Na verdade, muitas vezes não é outra coisa, pois que, tanto para um como para outro partido, não se trata mais que de negócios. O país é regido como uma empresa: todos os pontos de vista além dos económicos são de importância secundária.(...)
O lobby é o que se chamava no século XVIII uma "antecâmara", a do poder. Apenas esta sala não se compunha de um só local, mas de milhares de repartições que se estendiam por toda a cidade de Washington; em cada uma há um homem que representa determinados interesses de vertas sociedades, uniões ou associações. A sua obrigação é impedir o Congresso de empreender qualquer coisa que esteja em contradição com os interesses do seu grupo. Desempenha assim uma função de ama; ninguém lhe pede a sua opinião mas praticamente desempenha o papel principal quando do "baptismo" de uma lei, porque o lobbyist é, a maior parte das vezes, o único especialista que sabe sobre aquilo em que assenta o processo. Há mais de dois mil lobbyists em Washington e a A.F.L. e a C.I.O têm também ali as suas repartiçoes. Os chefes operários fazem, pois, exactamente a mesma coisa que toda a gente, tentando abordar um senador, um deputado ou qualquer outra personagem de influência, adiar as assembleias, influenciar indirectamente grupos pela obliquidade de homens de confiança, etc. Dispõem sempre de contrapartidas podendo valer milhões de dólares, assim estejam eles em condições de agir. São, como toda a gente, homens de negócios.
Mesmo quando não operam senão como lobbyists, mas se opõem ao manager de uma grande empresa, continuam a ser homens de negócios. A situação em que então se encontram é muito característica, porque não são dois poderios opostos que se defrontam, mas um único e mesmo poderio desdobrado. Se um deles põe sobre a mesa um maço de estatísticas, o outro faz outro tanto. Porque se trata quase exclusivamente de estatísticas. Todos os outros assuntos, e sobretudo a política, são eliminados. Os dois homens, representando perfeitamente as duas metades de um mesmo tipo, apenas diferem um do outro por este facto: habitualmente, o representante do patrão age, ao passo que o do empregado reage.»
- L.L.Matthias, "A Autópsia dos Estados Unidos"
1 comentário:
É o "lobby" em pele de Democracia. ;O)
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