domingo, maio 13, 2007

Crudelíssima exacção

Aproveitando um momento de descontracção inerente aos nossos afazeres de piratas - durante o dito qual, levados da breca, como de resto mandam as regras da confraria, nos entregávamos em terra aos desmandos, festividades e romarias putanhófagas comemorativas de mais um espólio -, dois perigosos flibusteiros rivais, ainda por cima anti-democráticos e fassistas, juntando o oportunismo rapace à desfaçatez entranhada, abarbataram-nos o bergantim parqueado e, antes de zarparem desarvorados pelos mares a fora, concederam-se - para cúmulo - o desplante de nos invectivarem nos mais zombetivos e ribaldariosos termos. Do que a bebedeira (que ia alta) e as galdérias fogosas (com que ocupávamos o entre-pernas) nos permitiram discernir, um chamou-nos "maior não sei o quê", enquanto o outro, provavelmente cabecilha da operação, nos brindou com berimbauzuras de equidistante quilate -"salamaleques e mariquices" que não lembram ao diabo -, mas pior que tudo -e aí, sim, é injúria que não perdoamos! - uma taxonomia alucinante e desencabrestada de "moderno" -"pirata moderno!", vituperou-nos ele, vejam lá bem, encavalitado na amurada a afastar-se. Moderno?!!! Eu?! Digo, Nós?!!! (bem sei que o manhoso pilha-naus pensa em Orfeus e urbanidades congéneres, mas vou fingir que não percebo...)
Ora bem, isto não pode ficar impune. Não pode e não vai. Pelo que desde já vaticino: a não ser que transmigrem para outro planeta, neste não há lugar onde possam esconder-se tremebundos, de modo a que, através desse pusilânime expediente, possam escapar à minha justa e requintada -para além de retorcida, desmesurada e impiedosa - vingança. Da ira, é melhor nem falar. O melhor mesmo é irem tratando do testamento e da exprema unção: uma expedição punitiva vai já a caminho. A horda de brutamontes sanguinários que constitui o núcleo duro da minha - pouco amável e ainda menos piedosa - tripulação, nem mais, desloca-se já, medonha, naquele tumulto ruidoso característico, em infernal e exactora comitiva. As más línguas dirão que é uma manada, mas não vos fieis muito nisso. Eu, infelizmente, com imensa pena minha, não pude acompanhá-los, na usual e vociferante liderança. Toda esta vasta plêiade de mocetonas tão bruscamente abandonadas não mo permite. Alguém tinha que ficar a consolá-las; e esse terrível sacrifício, como de costume, coube-me a mim. Além de que ao chefe compete dar o bom exemplo ( ouviu, ó imediato Caguinchas? Entendeu duma vez por todas?!!...) Mas os tomba-lobos que aí vão, tudo escória da pior catadura, mijantropos e velhacórios ruins da mais vil proveniência, (exceptuando o meu imediato, que ainda é mais reles do que toda a escumalha restante) conhecem bem o seu hediondo ofício e levam a lição ainda melhor estudada. Aliás, mais que a lição, a receita. Que eu próprio, apesar da tosga alucinante, lhes prescrevi:
- "Rapazes, ao primeiro, um tal FSantos levado de seiscentos diabos, é clausura a ferros para um mês, só pão e água, escutando relatos das derrotas do Belenenses diante da fotografia glorificada de Vladimir Putin!... E ao segundo, o dito Bruno (também, imagine-se) Santos levado por idêntica cornupetália, a mesma dieta pelo mesmo prazo, cercado por posters flamejantes do Telmo Correia, do Dias Loureiro, do Pina Moura e de quaisquer outros insectos rastejantes que vos ocorram. Tudo isto, naturalmente, ao som de "Imagine", do saudoso John Lennon!... Alternando, se assim vos der na gana, com anúncios da PT pelos "Bichanos fedorentos ".
E da maneira chateada e furibunda como eles desembestaram daqui, estou mais que certo que lhes vai dar. Eu ainda sei o que é crueldade.

2 comentários:

Bruno Santos disse...

Vou ali escrever o testamento e já venho. Se isto é pena que se dê a um homem, ainda por cima num 13 de Maio!

Flávio Santos disse...

Eh, eh, eh. Pode-me fechar a pão e água e pôr-me o retrato do espião-mor das Rússias à frente mas não pode esperar que o Belém perca muitos jogos. :-)
Além disso, sei que não pode - ética de Dragão oblige - reconhecê-lo mas os elogios não lhe caíram mal... No meio do (deste) deserto, mesmo o mais empedernido eremita sente consolo em encontrar algum eco para as suas vociferações.