Naturalmente, não tenho intenção de acabar com o blogue, nem, tão pouco, de cobrar assinatura mensal aos leitores.
Desde logo, em relação à segunda hipótese, por duas razões óbvias e soberanas: uma de justiça e outra de mercado. Aquela, porque não seria justo cobrar aos leitores para me lerem; justo seria pagar-lhes, e principescamente; esta, porque também não haveria mercado para assinantes: haveria decerto mais pessoas neste mundo dispostas a pagar-me para não escrever do que o contrário.
Já em relação à primeira hipótese, porque, além de orgulhoso, iracundo e demasiadas vezes estúpido, sou tenaz. Não desisto facilmente. Significa isto, entre outras belas coisas, que não aprendo com o erro: fortifico-me nele. Entrincheiro-me aos urros de "venham buscar-me se são capazes!". E quanto mais entraves, obstáculos e armadilhas me estendem, mais desafiado e instigado me sinto. Se me disserem: "está ali uma desfiladeiro cheio de perigos!", não é daí que eu fujo: é por aí que eu vou. Além disso há uma velha luta: no canto direiro, calção branco, 80 quilos, dois testículos, um ligeiramente mais descaído que outro, está o candidato ao título, César Augusto Dragão; no canto esquerdo, calção negro, um peso esmagador e toda uma engrenagem fatal e implacável de milénios, está o campeão mundial invicto e absoluto, o Destino. Vamos no fim do quinto assalto, eu já pareço um Cristo, mas o gajo também não se está a rir. Um dia destes, se me suplicarem muito, eu conto.
Mas em relação ainda à primeira, porque sobreleva uma outra razão superlativa que em cada dia mais se acastela e avoluma: eu não posso acabar com uma coisa que já não apenas é minha nem sou apenas eu. E não, não estou apenas a falar desse promontório da sapiência e da virtude que responde pelo título de Engenheiro-Arquitecto-Diácono & Webmonstro Ildefonso Caguinchas, mas daquele núcleo de indefectíveis leitores desta página, torre de menagem que, ainda que tudo o resto desabasse, me obrigaria, me animaria e me galvanizaria à resistência.
Ora, os leitores prontificaram-se a notificar-me de que não estavam pelos ajustes. Que eu não podia matar uma coisa que já não era apenas minha. Que já não me dizia apenas respeito a mim.
Sou o primeiro a dar-lhes razão. A conceder-lhes esse inalienável direito de co-propriedade. Tanto quanto aquilo que aqui exerço, se algum talento tem, decerto também não é meu, nem, ainda menos, mero alambique do meu umbigo (por mais delirantes que sejam os cenários em que se fantasie). A verdade é que Algo mo emprestou, mo concedeu a prazo. O mesmo Algo que, estou certo, me pedirá um dia sérias contas por ele. Algo que, no mínimo, entre outras, desempenha as terríveis funções de Presidente do Tribunal da minha Consciência.
Concluindo, a questão não era acabar com o blogue nem transformá-lo na sua antítese. A questão era - e é - bem mais comezinha, mas não menos premente. Os leitores, de resto, já a entenderam quase na perfeição, estão a agir em conformidade e, de facto, mais não almeja que a manutenção deste espaço comum ao nível a que nos habituou a todos e donde, nem eu nem vós, concedemos que desça. Dito por outras palavras: não podemos abandonar à sua sorte o tipo do rés-do-chão, esse vulnerável atlas humano que suporta sozinho as colunas de todo este nosso obstinado cosmos.
Perante todos vós, caros leitores e amigos, resta-me, pois, a obrigação acrescida na pena, o tributo sincero dum grande "bem hajam" e uma saudação especial às portas deste desfiladeiro que nos vela a todos: "Bem vindos às Termópilas! O almoço, frugal, é aqui; o jantar, opíparo, esse, será no Hades."
3 comentários:
Uff! Qua alívio. Ainda bem que o problema está ultrapassado. Sempre que aqui vier vou clicar insistentememte. Não há-de ser por causa de mim que o "nosso" blogue vai fechar.
Entretanto, se quiser contar as suas lutas com o destino, não se acanhe. Os meus ouvidos estão ávidos de aventuras.
2Bs
Vá lá, a coisa parece que se compõe.
Deu para passar pela livraria Omnisciência e fazer um pós-graduação em como baixar toques para o celular.
Parabéns Dragão!
Mostraste ser um Homem.
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