«Não podeis servir a Deus e a Mamon».
- Mateus, 6, 24
Comecemos pelo parecer de dois alemães absolutamente insuspeitos.
Schopenhauer: «O protestantismo, eliminado o ascetismo e o celibato que é o seu ponto capital, atacou nisso mesmo a essência do cristianismo, e pode, sob esse ponto de vista, ser considerado como uma apostasia. Temo-lo visto bem nos nossos dias, quando o protestantismo degenerou a pouco e pouco num chato racionalismo, espécie de pelagianismo moderno, que finalmente se resume na doutrina dum bom pai, criando o mundo, a fim de que a gente nele se divirta bem (o que a ser assim teria sido um formidável fiasco!); e esse bom pai, mediante certas condições, se comprometesse a procurar também mais tarde para os seus fiéis servidores um mundo mais belo, cujo único inconveniente é o de ter uma tão funesta entrada. Isto pode ser com certeza uma boa religião para clérigos cercados de conforto, casados e esclarecidos: mas não é o cristianismo.»
Nietzsche: «Depois de assim ter dado a mulher ao padre, Lutero não podia evitar retirar-lhe a confissão auricular, o que era de boa psicologia, mas suprimia, no fundo, o próprio padre cristão, cuja maior utilidade foi sempre ser um ouvido sagrado, um poço mudo, um túmulo dos segredos. "Cada um é o seu próprio padre"; atrás de semelhantes fórmulas, atrás da sua astúcia campesina, dissimulava-se em Lutero um ódio insondável contra os "homens superiores", tais como a Igreja os concebeu: destruía um ideal que não tinha podido alcançar enquanto mantinha o ar de lhe combater e de lhe abominar a degenerescência. De facto, frade impossível, rejeitava a dominação dos homines religiosi, fazendo no interior da ordem eclesiástica aquilo que combatia na ordem social com semelhante intolerância: uma sublevação campesina.»
Portanto, ao protestantismo, Schopenhauer taxa de apostasia; Nietzsche categoriza como uma sublevação de lâbregos; e eu, concordando com ambos, classificaria ainda como um "judaísmo recauchutado".
E se a coisa já repugnava Schopenhauer no seu tempo, nos dias de hoje alcança requintes do materialismo mais desbocado e, em rigor, anti-cristão. Basta atentar no actual best-seller e manual de cabeceira dos pastores da América:
«Tithing - God's Financial Plan» (ou seja: "O Dízimo - Plano financeiro de Deus")
O slogan de promoção do livro, pelo emérito e ladino Dr. Pastor Norman Robertson, ainda é mais edificante: «Aumente as receitas da sua congregação!»
Nestes tempos de ecumenismo às bolinhas, penso que está na hora dos católicos ecumenistas começarem também a pensar seriamente num "revisionismo evangélico". E, em coerência, tratarem de corrigir aquele anacronismo assaz intolerante onde Jesus Cristo, em pessoa, expulsa a pontapé os vendilhões do templo. Se conseguem intrujar tão bem a consciência, porque não hão-de aldrabar ainda melhor o Livro?
5 comentários:
O núcleo fiel é sempre um resto que não se submete à ganância e não saltita de idolatria em idolatria. A adesão ao Cristo é medularmente libertadora e exige Absoluta Liberdade.
O Paradigma porém é Diabólico e diabolizante no devoramento superfluoizante do Ser Humano: «se te prostrares diante de mim e me adorares, tudo o que a tua vista alcança será teu.» E assim é.
Isto está tremendamente bom, Drago!
PALAVROSSAVRVS REX
eu, concordando com ambos, classificaria ainda como um "judaísmo recauchutado".
é isso mesmo. O problema é que grande parte dos "católicos progressistas" de hoje andam mais a dar para o evangélico.
Sim,mas...quando acordamos desses devaneios enfrentamos a interrogação:
-Porque se dirigiu Deus por livro (selecionado capítulo a capítulo por homens) a um mundo de analfabetos?
Para que o sentido das Suas palavras pudesse ser fixado pelos inspirados (pelo dízimo?) pastores?
Precisará Ele de intérpretes?
A economia de Deus...
Mas que treta de polémica? Há uns tempos atrás, era menino para vir aqui zurzir nos teóricos do celibato forçado da padralhada e mostrar-lhes a ignorância teológica e histórica em que assentam os seus disparates. Mas hoje, apenas lhes recomendo a leitura do "God Delusion", na esperança vã que se libertem dessa tralha e da água benta.
1º - o padralhame (incluindo Papas) não precisou de Lutero para "ter mulheres". Sempre as teve, quando, como e aonde quis.
Hipocrisia, tão só. Materialismo desvairado?! é melhor não puxar esse assunto no que concerne a esta temática.
2º - Falando em materialismo lembro-me das Indulgências (olvidou-se ó Dragão?) e de muito mais.
Há quem não tenha a memória curta e, além disso, quem tem telhados de vidro...
João Paulo II e o actual Papa Bento XVI (excelentes Papas) devem mesmo enfurecer esta gente, ahahahahah!!
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