sábado, abril 10, 2004

REDUNDÂNCIA HOSPITALAR

A Ordem dos Médicos está alarmada. Os seus sócios anestesistas podem estar a ficar traumatizados. Multiplicam-se os óbitos inexplicáveis, por via de anestesias misteriosas no decurso de cirurgias elementares. Os pacientes apagam-se, teimam em não acordar. É incompreensível. E traumatizante. Por este andar, garante o presidente da secção Sul da Ordem, ninguém vai querer ir para anestesista. Começa a ser um cargo de muita responsabilidade. Bem, a não ser que se aumentem os salários e os dias de férias, refere lateralmente.
Podíamos até começar a suspeitar duma espécie de greve de zelo por parte dos médicos anestesistas, estilo: "adormecemo-los, mas não os acordamos". Eu todavia, não julgo que seja essa a razão. Tenho mesmo quase a certeza.
A razão, quanto a mim, é outra. Chama-se "Redundância".
É como vos digo: nem negligência, nem reivindicação - Redundância, pura e simples.
Reparem: actualmente, em termos psíquicos, os portugueses podem ser divididos em três classes gerais - embrutecidos, anestesiados e lobotomizados.
Ora, ao não existir um método eficaz de diagnóstico complementar e triagem efectiva à entrada do hospital (como, tudo o indica, não existe), pode dar-se o caso de acabarem por ministrar anestesia a um paciente que já está anestesiado. É redundante. E, naturalmente, fatal. De semi-morto ou morto-vivo é mais que certo que fica morto apenas, num instante.
Felizmente que os anestesiados são apenas uma minoria.

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