A "Bíblia" não conta, mas o faraó teve outro sonho. Um sonho ainda mais extravagante e enigmático que o primeiro, o das vacas gordas e das vacas magras. Desta vez começava quase da mesma forma: estavam seis vacas gordas a pastar. De seguida, repentinamente, auto-devoravam-se. Eis que chegavam então outras vacas, deveras estranhas, absurdas e igualmente canibais. Furiosas de não encontrarem vacas gordas pra comer, desatavam a marrar e a espezinhar a torto e a direito. O faraó acordou do pesadelo, cheio de palpitações e suores frios.
Preocupado, olheirento, chamou José, o de poderes oraculares, para que lhe decifrasse o mistério.
-"Serão tropas invasoras, José?... - Inquiriu, aflito. - Virão, após um período de prosperidade, para oprimirem o Egipto e as suas gentes?..."
José escutou com atenção. Olhou para lá dos símbolos e das aparências, associou os caracteres da caligrafia divina até que as palavras e as frases se tornaram nítidas. Falou então, com gravidade solene:
-"Não, ó Digníssimo Faraó, nem são anos nem tropas, nem provações que o Egipto deva temer. São mesmo vacas, vacas loucas, que assolarão, daqui por milhares de anos, um pequeno país longínquo, para lá das portas do Mediterrãneo. "Portugal", parece-me ler aqui..."
-"E não poderemos fazer nada, um sinal ao menos para avisar essa pobre gente?..." - Apiedou-se, o faraó.
-"Temo bem que não, ó Grande Faraó. -Proferiu José. - São desígnios do destino, inexoráveis fatalidades. Eles próprios abrirão a porta às vacas e lamentarão depois, amargamente, tão funesto acto...."
-"Loucos! Loucos!..." - lastimou, o Faraó.
-"Ou liberais. Que é como também se chamarão então. Pelo menos as vacas."
-Acrescentou José.
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