Eu já elucubrei sobre esta questão, mas como o dia se aproxima, volto agora à vaca fria. Que, diga-se, até está cada vez mais quente.
Pois, a mutilação das palavras. A castração da Revolução.
Para começar, uma declaração de princípio: num regime de cleptocratas, não me admira que fanem coisas, e até os "erres".
Foi o "erre" como podia ter sido o "vê", ou o "éle", ou até a desgraçada da "cedilha". Os resultados, os efeitos alegóricos, basta conferir. Ia dar ao mesmo.
Protesto, todavia, contra a arbitrariedade, o mais que evidente capricho. Se gamaram o "erre" à revolução, porque não palmaram também o "erre" ao Abril. Ao menos, para equilibrar. Distribuíam o mal pelas aldeias. Até ficava mais adequado. Reparem:
"Abil é evolução"
O 25 de Abril foi o que foi. Como Aljubarrota, Alcácer-Quibir, ou a Restauração. É uma parte da nossa história. Podem celebrá-la ou não. Fazer dela feriado ou não. O que não podem é cuspir no próprio passado. Bem, pelos vistos podem. Mas não deveriam.
Se a ideia peregrina, a esperteza saloia, era achincalhar e resolver rancores mal digeridos, ao menos, deviam ser coerentes, justiceiros: iam a todas as datas pretéritas e mutilavam com equidistância e jurisprudência retroactiva. Pois, se a Revolução, que foi há 30 anos, é forçoso que evolua, dizem, então que dizer da República que foi há quase 100 ou da Restauração que já passaram mais de trezentos?!... Arrear-lhes também os "erres" era o mínimo, caramba. Temos andado pr'aqui a comemorar fósseis anquilosados!
Atentem nas vantagens: No Primeiro de Dezembro passava a comemorar-se a Estauração, no 5 de Outubro a Epública e no 10 de Junho, à falta de "R" marchava o "P", que até é parecido, e ficava o dia de Ortugal.
Assim sim, assim é que era uma evolução pegada. Durante todo o ano. Evoluíamos não só em Abril, mas também em Junho, Outubro e Dezembro. Nunca parávamos de evoluir. Em vez de evoluir ao ano, evoluíamos ao trimestre
Mas não. O óbvio e o justo não lhes interessa. A lógica são batatas.
Enfim, porque carga de água se lembraram de marrar unilateralmente no 25 de Abril, só me ocorre uma explicação: a irresistível e desembestante atracção do vermelho...
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