domingo, janeiro 14, 2024

Da aletofobia contemporânea

 




Acreditar que o jornalismo subsidiado pelo estado (e quem quer que seja que lá se hospede na hora a correr) não é isento, nem missionário, nem sindicativo é uma sonsice tão grande como acreditar, piamente, que uma vez controlado por obscuros grupos privados e cumprindo agendas óbvias internacionais já oferece garantias supimpas de todas essas virtudes. Acontece que o jornalismo., na generalidade, não ultrapassa o jornalixismo, seja quem for que o controle. Entre os Pravdas soviéticos e os actuais Pravdas amerdicanos, Washington Posts ou New York Times (só para citar os mixordeiros de meta-referência) a diferença é nenhuma (a limite, os soviéticos até eram mais honestos: não vestiam a pele de cordeiro). Acontece que, no nosso peculiar caso nacinhal, não são necessários jornalistas para sindicar uma coisa que não existe: poder político. Daí que o que se passa, em bom rigor, é um bando de moços de frete em voyeurismo ruidoso dum bando de impotentes. Daí que o que ocorre é que os mesmos que controlam os borra folhas também manipulam os murchos soberanos, pelo que, a bem da economia e do lucro que os iluminam, dispensam a redundância dos primeiros (no jargão actual: reajustam). Virtudes da internet: dois ou três Pravdas oxidentais  bastam; a seguir é toda uma reverberação online, que a proliferação da guilhotina moderna (vulgo, televisão) ao nível de bolso, garante em modo ininterrupto e ubíquo. Ironia amarga: o medo ao desemprego que transportou os jornalixeiros a todo um serviço forçado numa fábrica de aldrabice industrial e compulsiva culmina no sado-tálamo  desse cagaço motriz. Dizer que tenho pena seria mentir descaradamente. Como não sou jornalixa, estou dispensado desse preceito. Parece que não há por aí falta de trabalho: na construção civil ou nos campos, a servir à mesa ou a conduzir turistas, é toda um cornucópia de ofertas. Experimentem trabalhar honestamente, para variar.

Quanto à minha posição nesta matéria (o tal jornalismo), e já que falamos nisso, é, acreditem, de meridiana e proverbial sensatez: se o estado serve para alguma coisa, e a única coisa que ele pode servir é a nação que o abriga e sustenta, então o estado deve controlar o jornalismo, de modo a que este não seja controlado por outros estados meramente proxenetizantes e extorcionionários; isto é, o jornalismo deve submeter-se ao interesse nacional e não ser correia de transmissão de interesses alógenos, escusos, e esses sim, de modo nenhum escrutináveis.  Longe de ser uma utopia, esta modalidade já foi mesmo praticada entre nós, durante quase meio século, com censura e tudo, abençoadinha seja. Adianto ainda, que controlar não significa formatar ou reprimir sistematicamente. É mais da ordem do controlo de qualidade. Pretende-se que haja informação, não deformação. Portanto, alguma repressão será necessária e justa: a repressão da aldrabice, da escandaleira, da obscenidade, do boato, da corrupção intelectual, da estrangeirite torcionária, da esbirrite ideológica, da gonorreia sectária, do inquisicionismo laico, etc, etc.  De  resto, no estado actual da arte, uma questão dupla e pungente a colocar seria:  se esta paródia de estado e esta paródia de jornalismo seriam de algum modo corrigíveis e recuperáveis? Inclino-me pela dupla negativa. E se, no primeiro caso, alguma possibilidade, particularmente violenta, possa ficar sempre em aberto, já na segunda, despejá-los numa lixeira afigura-se mesmo como o corolário lógico, legítimo e exclusivo. Se viveram do lixo, natural é que sejam despejados nele. Cá se fazem, cá se pagam.

Por fim, algumas considerações de ordem técnica. Os jornais sempre foram veículos não apenas de propaganda, mas também de publicidade (no fundo, dupla acepção da mesma essência). Aliás, enquanto empresas com intuito lucrativo, procuravam na publicidade a sua principal fonte de subsistência. Portanto, a questão determinante que se coloca, em relação ao jornalismo, dado que a deontologia profissional não passa de mito urbano assaz rasca, prende-se com a gestão e administração dos fluxos e vias publicitárias. Ora, ao longo do século passado, foi-se assistindo, gradualmente, à internacionalização acelerada da publicidade e da informação (passe, em larga medida, a redundância). Até que se entrou naquilo a que se chamou "globalização". Podia, na aparência, alardear uma dispersão e disponibilização, à escala planetária, duma variedade e cornucópia de produtos publicitários; porém, na realidade, outra coisa não materializou (e vem solidificando) senão a concentração, monopólio e afunilamento do empório, numa espécie de cérebro centralizado que despeja, quase em tempo real, toda uma pasta monocórdica e monocromática, através dum sistema metastizado de vasos comunicantes e capilaridades anexas. Ora, esta exorbitação megalómana da Agência Central implica necessariamente o fecho e extinção duma miríade de agências e sucursais regionais entretanto tornadas obsoletas e desnecessárias. O consumidor, cada vez mais conectado à matrix, absorve directo da Cloaca Mater, sem delay nem ferrugem. Há mesmo, em toda esta metalambicagem, uma espécie de concretização tardia da imanência pródiga do bento Espinoza.

Em resumo, o jornalismo é aquilo que se sabe e que não vale a ponta dum corno. Mas não é tudo. Resistem, todavia, alguns jornalistas. Aqueles que sempre existiram e porfiaram, apesar do jornalismo. Na porção que lhes compete, também eles, dignos e raros heróis do nosso tempo. Na TSF, por exemplo, não se avista nenhum. E isso - não a lixeira mas o deserto -, isso sim, é que dá pena.


PS: Para os jornalixeiros ofendidos e, sobretudo, desdenhosos dos ofícios alternativos recomendados, têm bom e sobrejusto remédio: na Ucrânia estão a aceitar matrículas para as heróicas brigadas defensoras da democracia e dos "vossos valores". É, por uma vez, serem bravos e coerentes, correndo  a apostar o coiro onde, até aqui, só arriscaram a treta.

PS2: Aletofobia - aversão/fobia à verdade.

7 comentários:

A Tal disse...

Assino por baixo.

passante disse...

> esta modalidade já foi mesmo praticada entre nós

Não que tivesse servido de muito, o canto das sereias corroeu o tecido na mesma. Em Abril de 74 viram-se tramados para encontrar alguém nos jornais e TVs que não fosse do reviralho.

> cornucópia de produtos publicitários

A verdadeira revolução de Gutenberg - as bíblias, que também tiveram o seu papel no descalabro protestante, não se comparam ao folheto publicitário.

Um dia destes alguém faz uma estimativa das toneladas de papel envolvidas, e tem uma surpresa.

Anónimo disse...

A única diferença é que no caso do fassismo, o Estado era uma "pessoa de bem". Com esta tropa fandanga, privado ou público, o jornalixo continuará uma jornalixeira a céu aberto, independendo da associação de malfeitores escolhida pelas formas de vida presentes no retângulo, em Março.

dragão disse...

«Não que tivesse servido de muito, o canto das sereias corroeu o tecido na mesma.»

Infelizmente, em considerável medida, tem razão. Mas isso é e será sempre fatal (e independente de haver ou não censura aberta; porque encriptada há sempre): os situacionistas de arribação da véspera serão sempre os neo-situacionistas eufóricos do dia seguinte. Isso está implícito à sua própria natureza: a situação muda e eles mudam junto com ela. :O)

Samaritano da Silva disse...

Mas, ó dragão, se o estado acode à banca quando esta está à rasca, não devia acudir também aos da treta social aflitinhos?

Figueiredo disse...

Como diz o Presidente Rui Rio, «...é preciso controlar a comunicação social...»:

- Rui Rio acusa a Comunicação Social de contribuir para degradar a democracia

https://www.publico.pt/2015/09/17/sociedade/noticia/rui-rio-acusa-a-comunicacao-social-de-contribuir-para-degradar-a-democracia-1708079

Lê-se menos em Portugal e a iliteracia é maior desde o golpe de Estado da OTAN em 25 de Abril de 1974, do que no tempo do Estado Novo.

O que hoje se publica em Portugal é lixo, a comunicação social Portuguesa (ou médias) é controlada pelos liberais/maçonaria, são meios de propaganda que não diferem em nada entre si, não existe diversidade na informação e conteúdos, nem princípios, nem valores ou ideologias, vigora o pensamento único, o silenciamento, e a cultura do cancelamento, um cenário impensável e que nunca existiu durante o Estado Novo.

Voltámos ao tempo da tirania liberal/maçónica que foi imposta a Portugal e aos Portugueses pelo golpe de Estado de 1820, um período sombrio e perigoso para a informação e publicações durante aquelas décadas em que o regime se manteve.

Os únicos jornais que ainda vale a pena comprar e ler são «O Diabo» e o «Tal&Qual», embora sejam um bocado caros para as poucas páginas que trazem.

Recomendo-lhe a leitura deste artigo da autoria de João Martins, publicado em «O Diabo»:

- Censura em Portugal

https://jornaldiabo.com/destaque/censura-em-portugal/

Vivendi disse...

George Soros com 10 Milhões controla a diarreia jornalística em Portugal:

https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/global-media-empresario-ricardo-oliveira-avanca-com-10-milhoes-para-garantir-maioria-do-capital/