terça-feira, julho 19, 2022

Notas acerca da Cultura I. Ponto de partida

 Uma coisa é ou não é. Não pode ser e não ser em simultâneo. Ou dito de outra forma: uma coisa não pode ser o contrário dela própria. Isto, segundo a lógica. Segundo a ala de furiosos do Júlio de Matos, a claque do Clube X ou a seita dos adoradores da Treta Y, isto não se aplica, naturalmente. E segundo qualquer sofista de vão de escada também não: a falácia mais recorrente é que a coisa muda e, embora transformada no seu contrário, continua a ser a mesma. Ora, se é a mesma, não se percebe como houve transformação; e se houve transformação não se entende como poderá ser a mesma. Mas, enfim, da sofística, mesmo hiper-serôdia (25 séculos ainda é algum tempo...) e rançosa, tudo é expectável.

Mas vamos a um caso típico e concreto: a cultura. Sendo negação da cultura,  a aculturação não pode ser a mesma coisa.. Excepto para os malucos e os sofistas, como atrás foi exposto. Todavia, se alguém quiser conceder-lhes o benefício da razão, nesse caso terão que aceitar que anarquia é o mesmo que arquia, que atopia é o mesmo que topia,  que abulia é o mesmo que bulia. Ou seja, que desordem é o mesmo que ordem, que alhures é o mesmo que algures, ou que imobilidade é o mesmo que movimento. Ora, as coisas não são assim. Mesmo que a CNN e toda a propaganda o bombeiem a todas as horas, não são. Mesmo que as televisões, os jornais, as revistas o debitem sem interrupção, o avesso não é o direito, o simulacro não é o real, o aparente não é a essência. Compreender essa realidade básica que distingue algo do seu contrário, e o contrário do seu algo, nisso, consiste o cerne daquilo a que chamamos (ou chamávamos) cultura, civilização. É a base elementar, o alicerce primeiro e fundamental. A cultura parte da definição, e esta consiste em todo um processo de elevação a partir do caos, do indiferenciado. A Terra, o Céu, os Astros, os deuses, a noite, o dia, os sonhos, a morte, a vida, os heróis, o destino, as musas, a efemeridade, a eternidade, a necessidade, os campos elísios, as profundezas infernais, tudo isso, e tudo o que constituiu derivação e voo em redor de tudo isso, em forma de literatura, pintura, musica, filosofia, arquitectura, etc, etc, tudo isso, reforço, é a origem e força motriz da cultura. A nossa, pelo menos, europeia.

Se tivessemos que a definir segundo Aristóteles, eu talvez arriscasse o seguinte: a civilização/cultura é o processo da realização humana, o percurso através do qual o Homem actualiza todas as suas potencialidades. Um trajecto que, realmente, o aproxima do Primeiro Motor, ou seja,  de Deus. Quer dizer, um caminho que o coloca nas imediações da sabedoria autêntica, da liberdade genuína e, inerentemente, da autonomia perfeita. O culminar deste pensamento e desta definição não é pura fantasia minha, ou efabular utópico dum espírito alucinado. Bem pelo contrário, é algo de muito concreto e presente neste mundo. Podereis constatá-lo, ainda hoje, por exemplo, em qualquer partitura de J.S.Bach ou na monumentalidade maravilhosa, e anónima, de qualquer grande catedral.

O Homem não "é tudo igual", nem é uma porcaria que só come e caga. Quem criou sinfonias e construiu catedrais, não pode aceitar a redução ao micróbio e, ainda menos, a devolução ao caos.

3 comentários:

Vivendi disse...

O melhor caminho do homem é a sua preparação para a Eternidade.

Anónimo disse...

Cá na terreola confunde-se cultura com costumes e nivel de instrução. Uma estupida uma vez na radio disse que lutou muito para o filho conseguir concluir um curso superior porque agora licenciado sabe tanto como eles...eles...médicos,politicos,advogados etc...o monhé,o catavento,ministros/as da cultura,deputados etc...são autenticos parolos labregos que só adoram e promovem pimbalhada asquerosa. Um dia estava a ver na tv um concerto de Vivaldi com a minha avó que era analfabeta e no solo de violino ela diz: que lindo,parece um passarinho a cantar!
Acerca de sinfonias,muitas famosas de compositores famosos como Mozart,Beethoven,etc... são pessimas,pura trampa ridicula e infantil! Bach é uma das excepções porque era um verdadeiro génio e quase tudo o que compôs é de alta sensibilidade. Mas para muitos tudo de Mozart,Beethoven,etc...é maravilhoso.
Ainda a proposito de musica recomendo o ultra absurdo texto da BBC acerca dum tal Vicente Lusitano publicado ontem no site BBC Brasil,nem sei como não desmaiei a ler aquele lixo zog xuxalista globalista...
Basilio el xuxalhote

marina disse...

estava mesmo a precisar de ler isto.

"Um trajecto que, realmente, o aproxima do Primeiro Motor, ou seja, de Deus. Quer dizer, um caminho que o coloca nas imediações da sabedoria autêntica, da liberdade genuína e, inerentemente, da autonomia perfeita"