sábado, julho 18, 2015

Imperativo categórico

Entre nós, repta uma espécie de gente que, ao mesmo tempo que vitupera com severidade os destituídos gregos, arde em frémitos de piedade e ternura solidária pelos contribuintes alemães.
Já eu considero que é um privilégio (e um imperativo categórico!) para os contribuintes alemães pagarem pelos desempregados dos países do Sul da Europa. Afinal, todos estes infelizes têm andado a imolar-se (e penam no limbo austeritário)  para benefício, saúde e glória dos contribuintes alemães. 
Até o grande contribuinte português, esse valentão das dúzias, cagamilhões encartado, quantos desempregados às vezes não produz por estrito amor (compulsivo e sincero!) às mercadorias da indústria alemã?!...
Por conseguinte, perante este esforço uníssono e concertado das gentes do Sul da Europa. podem os contribuintes alemães crivar de desprezo os seus reais benfeitores? Se ainda subsiste algum resquício de moral, julgo que não.
Que as nossos cinocéfalos de plantão já nem a mínima noção de amor próprio exibam, só atesta de como, por estes dias de crise identitária, a função suplanta a natureza.

48 comentários:

marina disse...

e isso para nao falar dos licenciados aos magotes do sul , q nos custaram couro e cabelo , e que os boches empregam " simpaticamente " , depois de nos dizimareem , sem gastarem um tusto . deviam ressarcir os paises de origem desses miudos no que toca ao custo da escolaridade e formaçao , digo eu.

Anónimo disse...

E é só o contribuinte alemão que paga para a Grécia? Há sete países europeus que seriam mais penalizados do que a Alemanha, quatro deles mais pobres do que a Grécia.

Se você falasse com conhecimento de causa, em vez de cavalgar a onda anti-alemã, é que era de estranhar.

http://www.bloombergbriefs.com/content/uploads/sites/2/2015/01/MS_Greece_WhoHurts.pdf

Anónimo disse...

"q nos custaram couro e cabelo"

Outra simplista.

Já ouviu falar em fundos comunitários? Quem é que mais contribui para os fundos comunitários? Se me disser que os alemães são espertos porque acabaram por ir buscar o que ajudaram a pagar, concordo. Mas também ninguém manda os outros serem burros e votarem em "pinóquios" duas vezes.

dragão disse...

«E é só o contribuinte alemão que paga para a Grécia?»

Pois, mas dado que é aquele que mais lucra e que mais arrota postas, devia ser o único a pagar. E devia pagar bem. Essa é, basicamente, a tese do postal. Se a cara criatura, ao contrário dos espertos alemães, não fosse parola, ou ileterata, teria percebido.

Quanto a vitupérios de "anti", se me quer ofender chame-me anti-português. Qualquer outras espécie, eu tomo como elogio e agradeço. Obrigadinho, pá.

dragão disse...

E, claro, o annilingus repenicado a que o Passos/Portas (e respectiva acolitagem) se devotam todo ele é carícia a Malta, Eslocoisas e freguesias passageiras que tais!...

Sempre me pergunto: debaixo de que pedras é que estes bichos-de-faz-de-conta habitam?...

Zephyrus disse...

«Portugal. por muito que isso custe a certas pessoas adoradoras de patacas e cabedais, é um país pobre. O clima não favorece muito a agricultura (chove no inverno quando devia chover no verão), o solo também não é lá muito fértil (tirando o Ribatejo e os barros de Beja), a coisa é assim a atirar para a Grécia e as matérias primas valiosas da idade industrial não abundam (petróleo, diamantes, ouro, por aí fora). Mas é pobre sobretudo em inteligência, brio e espírito empreendedor. »

Não temos recursos naturais para 10 milhões de almas.

O Noroeste está na Europa Eurossiberiana, tem chuvas no Verão mas parte deste território não serve para a agricultura, são serras e faltam planícies extensas. As que existem estão em parte destruídas com o desordenamento urbanístico das últimas décadas.

A Sul de Sintra-Montejunto-Estrela há o vale do Sado, o Ribatejo, os barros de Beja, o litoral alentejano ou as campinas algarvias. Mas não há chuvas no Verão, a estação seca dura 5 meses, e vastíssimas áreas estão esgotadas ou têm solos inclinados, de serra.

Um grande exemplo de desastre ambiental em termos de povoamento: a serra algarvia. Os romanos não a queriam povoar. Os árabes foram para lá destruir a floresta. Os solos de xisto-grauvaque, finos e inclinados, ao longo dos séculos, foram arrastados pelas chuvas torrenciais de Inverno e pelos ventos secos do Verão. Agora há a rocha nua e o esteval. Da destruição de uma riqueza, a floresta, resultou a miséria.

As campinas algarvias ocupam uma estreita faixa litoral mas estão parcialmente destruídas pelo desordenamento urbanístico.

Os solos férteis são um activo importantíssimo em Portugal. Décadas de desordenamento deram cabo de boa parte deles.

Zephyrus disse...

Não temos território para um aumento da população.

Daí resulta a emigração e daí resultou a necessidade do Império.

Anónimo disse...

O Dragão é mais cunilingus ao monhé.

dragão disse...

«O Dragão é mais cunilingus ao monhé.»

O impossível enunciado por um grunho. Maniqueísmo de cloaca.

dragão disse...

«Os solos férteis são um activo importantíssimo em Portugal. Décadas de desordenamento deram cabo de boa parte deles.»

Está coberto de razão no que ao desordenamento territorial concerne.

Todavia , e não obstante, possuímos vastas potencialidades florestais, oleo/vitivínicolas, e um mar imenso. Claro que a floresta é para queimar no verão e, na mesma estação, o mar é para as concentrações aquáticas de motards e ficar a ver o espanhol pescar.
Portanto, o maior flagelo até nem é o clima: é a qualidade de desgovernantes destes últimos quarenta anos.

Anónimo disse...

"Os solos férteis são um activo importantíssimo em Portugal. Décadas de desordenamento deram cabo de boa parte deles."

Zephyrus, de quem é a culpa disto? Se se está a referir aos últimos quarenta anos e creio que esteja, porque é que os culpados - que sabemos perfeitamente quem são e fóra alguns poucos já falecidos, os outros todos ainda por aí andam a viver regaladamente à nossa custa e a gozar que se fartam dos nossos brandos costumes - não são severamente punidos como manda a Lei?
Maria

Zephyrus disse...

«Todavia , e não obstante, possuímos vastas potencialidades florestais, oleo/vitivínicolas, e um mar imenso. Claro que a floresta é para queimar no verão e, na mesma estação, o mar é para as concentrações aquáticas de motards e ficar a ver o espanhol pescar.
Portanto, o maior flagelo até nem é o clima: é a qualidade de desgovernantes destes últimos quarenta anos. »

Sobre a floresta, dir-lhe-ei algumas coisas.

Em primeiro lugar, importa sublinhar que nós não temos floresta. Temos sim silviculturas. Eu sou um grande defensor de uma rede de floresta nativa pública, como existe nos EUA, Reino Unido e noutros países da Europa Continental. Menos de 2% das matas são públicas. Verdadeira floresta em Portugal só se pode encontrar na Mata da Margaraça, nas Mata da Albergaria e do Cabril, ou na zona Norte da ilha da Madeira.

Depois sublinho que os portugueses não sabem quais são as árvores nativas. 99% dos portugueses não sabe o que é um carvalho-cerquinho, árvore com valiosa madeira que ocupou boa parte das regiões Centro e Sul. Portugal é um país de carvalhos. Mesmo o Sul é território de carvalhos. O sudoeste de Portugal tem o seu carvalho nativo, o belo Quercus marianica. E é terra de castanheiros, árvores dizimada no século XIX devido a uma praga.

Lamentavelmente apareceu uma praga sem futuro chamada eucalipto. Esta árvore gera rendimentos rápidos, contudo estamos perante uma ilusão. Com uma moeda cara, e com os BRICS a entrar no negócio, a tendência será para a queda da vendas. Depois, o eucalipto destrói os solos. É ainda uma infestante.

Qual seria a estratégia?

1) Aumentar drasticamente a área ocupada pelo sobreiro. Esta árvore vai desaparecer do Sul do país porque ninguém combateu a doença do sobreiro. O sobreiro já morreu em vastas áreas do Alentejo ou Algarve. Portugal dentro de alguns anos poderá ser ultrapassado pela Espanha na produção de cortiça. Além de ser fundamental o combate à doença do sobreiro, a espécie pode e dever ser plantada no Centro e Norte do país. E porquê? Ora, o sobreiro é nativo da Galiza ao Algarve! E a cortiça tem futuro, pois tudo indica que o petróleo subirá nas próximas décadas.

2) Substituir a produção de eucalipto pelo carvalhal. No Norte e Centro não é necessário plantar os carvalhos. Nem no Sudoeste de Portugal. Basta limpar as terras e deixar as árvores crescer. Um carvalho demora 40 anos a crescer. Mas a sua madeira vale muito mais que a madeira de eucalipto. O eucalipto também pode e deve ser substituído pelo pinheiro-bravo.

3) Recuperar o castanheiro. O valor de mercado da castanha é elevado. É ainda um alimento muito mais saudável que a batata, e com potencial para crescer entre os consumidores nas próximas décadas.

O eucalipto ocupou o espaço dos carvalhos, que produzem uma madeira muito mais valiosa, do sobreiro e do castanheiro.

A opção é entre um modelo responsável por incêndios, destruição de solos mas que gera rendimentos rápidos e outro mais sustentável que no longo prazo trará muito mais riqueza ao país. Mais nenhuma área do planeta tem as condições edafo-climáticas ideias para o crescimento do Quercus suber, Quercus marianica, Quercus robur broteroi ou Quercus faginea. Estas árvores são nossas e ninguém consigerá fazer-nos concorrência.

Quem pensa nisto? Quem planeia isto? Quem domina esta tema? Com estes bandalhos desta democracia, não há futuro.

Zephyrus disse...

«"Os solos férteis são um activo importantíssimo em Portugal. Décadas de desordenamento deram cabo de boa parte deles."

Zephyrus, de quem é a culpa disto? Se se está a referir aos últimos quarenta anos e creio que esteja, porque é que os culpados - que sabemos perfeitamente quem são e fóra alguns poucos já falecidos, os outros todos ainda por aí andam a viver regaladamente à nossa custa e a gozar que se fartam dos nossos brandos costumes - não são severamente punidos como manda a Lei?
Maria»

O grupo Galilei/Finalgarve - que anunciou no mês passado que iria avançar com o empreendimento de 232 milhões de euros na Praia Grande, mesmo ao lado da já demasiado fragilizada zona húmida, é presidido por Fernando Lima, o 43.º e atual Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, a mais antiga loja maçónica no país”, denunciou o MPT num comunicado.

O responsável do partido no Algarve, Paulo Dias, denunciou o “envolvimento maçónico numa carta sem papas na língua enviada ao Presidente da República, Cavaco Silva”, na qual protesta contra o “assassinato ambiental prestes a ser cometido” na zona.

Em causa está, segundo o responsável do MPT do Algarve, “uma tentativa de liquidar progressivamente o maior tesouro de biodiversidade” do concelho de Silves, “com o objetivo de levar por diante as obras de betonização a favor de uma grande operação de especulação imobiliária, com a conivência e cumplicidade da Administração Pública Portuguesa”.

http://www.regiao-sul.pt/noticia.php?refnoticia=129466


Estes tipos do grupo Galilei querem construir ao lado de um mega empreendimento falido.

Se um faliu, por que iria sobreviver o outro?

A construção civil é um dos maiores cancros que destruíram este país desde que Marcelo Caetano mudou as leis do sector.

Anónimo disse...

"Não temos recursos naturais para 10 milhões de almas."..."Não temos território para um aumento da população."

O Zephyrus é um brincalhão! Desde a cultura da castanha do Norte à alfarroba do Sul, passando pelos micro-climas específicos e as culturas de valor acrescentado como o olival, a vinha, o mirtilo. Não referindo o milho OGM do Alqueva, o excesso de produção leiteira e os bovinos incinerados nos Açores para manter o preço ao produtor. Os recursos minerais subaproveitados, somando o facto de podermos ser auto-suficientes em termos energéticos só com a solar, o que mais o Zephyrus quer?

"Daí resulta a emigração e daí resultou a necessidade do Império. "

Portanto nem uma coisa, nem outra...

Um outro anónimo, sem ser o da cloaca dorida...

Anónimo disse...

Ainda sobre os recursos minerais:

http://www.cienciaviva.pt/img/upload/RecMinPort-SituPerspectivas-Total2001.pdf

Convém ates fazer isto, se não acabamos como a Grécia a preço de saldos...

http://visao.sapo.pt/os-recursos-naturais-sao-nossos=f693089

Anónimo disse...

"Em primeiro lugar, importa sublinhar que nós não temos floresta. Temos sim silviculturas. Eu sou um grande defensor de uma rede de floresta nativa pública, como existe nos EUA, Reino Unido e noutros países da Europa Continental. Menos de 2% das matas são públicas. Verdadeira floresta em Portugal só se pode encontrar na Mata da Margaraça, nas Mata da Albergaria e do Cabril, ou na zona Norte da ilha da Madeira."

É isso...

http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/decretolei-n%C2%BA-962013-um-erro-historico-so-comparavel-a-campanha-do-trigo-1615800

O mesmo, da cloaca não inflamada...

Zephyrus disse...

«O Zephyrus é um brincalhão! Desde a cultura da castanha do Norte à alfarroba do Sul, passando pelos micro-climas específicos e as culturas de valor acrescentado como o olival, a vinha, o mirtilo. Não referindo o milho OGM do Alqueva, o excesso de produção leiteira e os bovinos incinerados nos Açores para manter o preço ao produtor. Os recursos minerais subaproveitados, somando o facto de podermos ser auto-suficientes em termos energéticos só com a solar, o que mais o Zephyrus quer?

"Daí resulta a emigração e daí resultou a necessidade do Império. "

Portanto nem uma coisa, nem outra...

Um outro anónimo, sem ser o da cloaca dorida...»

Você conhece o país? Eu conheço. De Norte a Sul. Nós não podemos ser auto-suficientes em cereais.

"De modo que este país da vinha e da oliveira, das frutas magníficas e das flores preciosas, podendo oferecer no grandes mercados, com antecedência de bastantes dias, os produtos mais caros e mais raros, de maior procura e consumo, vive agarrado à miséria da sua cultura de cereais. Porque não a abandonará?”". António Oliveira Salazar

Zephyrus disse...

«O Zephyrus é um brincalhão! Desde a cultura da castanha do Norte à alfarroba do Sul, passando pelos micro-climas específicos e as culturas de valor acrescentado como o olival, a vinha, o mirtilo. Não referindo o milho OGM do Alqueva, o excesso de produção leiteira e os bovinos incinerados nos Açores para manter o preço ao produtor. Os recursos minerais subaproveitados, somando o facto de podermos ser auto-suficientes em termos energéticos só com a solar, o que mais o Zephyrus quer?

"Daí resulta a emigração e daí resultou a necessidade do Império. "

Portanto nem uma coisa, nem outra...

Um outro anónimo, sem ser o da cloaca dorida...»

Você conhece o país? Eu conheço. De Norte a Sul. Nós não podemos ser auto-suficientes em cereais.

"De modo que este país da vinha e da oliveira, das frutas magníficas e das flores preciosas, podendo oferecer no grandes mercados, com antecedência de bastantes dias, os produtos mais caros e mais raros, de maior procura e consumo, vive agarrado à miséria da sua cultura de cereais. Porque não a abandonará?”". António Oliveira Salazar

Phi disse...

Ò Zephyrus, onde disse que temos que ser auto-suficientes em tudo? Os sauditas o são, os alemães, os russos? O que disse, tal como Salazar, é que temos que aproveitar os produtos de valor acrescentado. Competir em termos de produtividade é com os chineses...

Ps: Aquilo do Alqueva, se não percebeu, era pura ironia...

dragão disse...

Vossências fazem muito bem em discutir estas belas questões. Têm em mim um ouvinte atento.

Zephyrus disse...

«Ò Zephyrus, onde disse que temos que ser auto-suficientes em tudo? Os sauditas o são, os alemães, os russos? O que disse, tal como Salazar, é que temos que aproveitar os produtos de valor acrescentado. Competir em termos de produtividade é com os chineses...»

Nem digo o contrário.
Mas pelos vistos não percebeu os meus comentários. Lamento. O Dragão pelos vistos sabe do que falo porque se antecipou e lançou a ideia num texto que entretanto citei nesta caixa de comentários.

O que poucos portugueses percebem é que têm uma terra que é grosso modo pobre. Os franceses, a malta do Norte de Itália, os alemães, os ingleses, são da Europa Média. Têm chuva na estação quente e terra plana e funda. Uma aldeia da Aquitânia tem melhores terras e mais água, e melhor clima que uma aldeia alentejana ou do interior.

A única região da Europa Média é o Noroeste: Minho, Douro Litoral, Beira Litoral. A Estremadura já é uma transição. Estamos a falar portanto de cerca de um quarto do território. Mas mesmo parte do território nesta zona é constituído por serras com solos inclinados, sujeitos portanto a fácil desgaste por erosão. Com o desordenamento urbanístico, é difícil encontrar áreas extensas, planas, no Noroeste, para o investimento agrícola ou na criação de gado. O tipo de distribuição da propriedade e a eucaliptização não ajudam.

O facto dos outros três quartos serem pobres não implica que a agricultura não tenha futuro. Até tem mas terá de ser adaptada às características de cada região. Mas teremos sempre de ter a noção que somos diferentes pois temos em três quartos do território 3 a 6 meses secos que coincidem com a estação quente e vastas áreas de solos finos e altamente degradados. Enquanto os outros na Europa Média têm solos fundos, planos, férteis, e água com fartura todo o ano. Daí isto ser um pouco a puxar para a Grécia, como diz e bem o Dragão.

A emigração num passado recente resultou muito disto. As terras não «davam» para alimentar os novos. E aí surge o Império. Há séculos não havia perímetros de rega, barragens, tractores, para colmatar a rudeza do território. Portugal usava os lucros do Império para importar alimentos, e usava as terras do Império para produzi-los.

Mais uma coisa.

A agricultura, o mar e as minas são importantes. Mas isso não chega. Precisamos de indústria e de serviços. E com estes preços de electricidade não vamos a lado algum. Precisamos de uma alternativa: energia nuclear.

Anónimo disse...

Permita-me que esmiúce o seu comentário:

"O que poucos portugueses percebem é que têm uma terra que é grosso modo pobre."

Eu da minha parte, percebo bem. Vivo na Gândara, derivada do termo grande-areia, solo improdutivo portanto...

"Os franceses, a malta do Norte de Itália, os alemães, os ingleses, são da Europa Média. Têm chuva na estação quente e terra plana e funda."

Errata, tirando os franceses e italianos, os restantes têm no máximo uma estação morna. Se é para produzir pasto, a minha zona chega e sobra. Meta lá essa gente a produzir tomate, laranja, pêssego, em suma, culturas de clima quente e depois conversamos. Sublinho portanto, que Portugal é dos países mais versáteis da Europa, quiçá do mundo e é esta a nossa riqueza. Os portugueses não emigram por falta de farelo de trigo, o que interessa é produzir culturas que em balança comercial geram lucro e nesse quesito estamos bastante bem aviados. Já produzimos em demasia, como o tomate ou o leite, não temos é moeda e importadores, os chineses agradecem as sanções à Rússia...

"A única região da Europa Média é o Noroeste: Minho, Douro Litoral, Beira Litoral. A Estremadura já é uma transição. Estamos a falar portanto de cerca de um quarto do território. Mas mesmo parte do território nesta zona é constituído por serras com solos inclinados, sujeitos portanto a fácil desgaste por erosão. Com o desordenamento urbanístico, é difícil encontrar áreas extensas, planas, no Noroeste, para o investimento agrícola ou na criação de gado. O tipo de distribuição da propriedade e a eucaliptização não ajudam."

E lá está você a falar de pasto, já viu alguém a produzir uma boa vinhaça em pradarias? Quanto à produção de gado já temos de sobra. No resto concordo, principalmente no desordenamento urbanístico ou agrícola, se preferir. Nunca vamos competir com países como a Holanda, em que a maquinaria, num dia ceifava Portugal de lés a lés. Ao invés do talhões produtivos demasiadamente espalhados. Gasta mais um tractor a ir à gasolineira, para fresar uma terra aqui e acolá, do que a debulhar a colheita em si...

"O facto dos outros três quartos serem pobres não implica que a agricultura não tenha futuro.

Pobres em quê? Minerais: nitrogénio, fósforo, potássio? Já se inventaram os fertilizantes há muito... Nos States, não importa se chove ou não, se é preciso água vai-se se buscar ao lençol e continuam produtivos. Além do mais a rama da batata precisa de sol para secar, se é que me entende...

"Até tem mas terá de ser adaptada às características de cada região. Mas teremos sempre de ter a noção que somos diferentes pois temos em três quartos do território 3 a 6 meses secos que coincidem com a estação quente e vastas áreas de solos finos e altamente degradados."

E ainda bem que assim é! Quer produzir tomate ou criar míldio, destruir a cereja e a uva com as chuvas?

Anónimo disse...

"A emigração num passado recente resultou muito disto. As terras não «davam» para alimentar os novos. E aí surge o Império. Há séculos não havia perímetros de rega, barragens, tractores, para colmatar a rudeza do território. Portugal usava os lucros do Império para importar alimentos, e usava as terras do Império para produzi-los."

Aqui, pio mais baixinho. Você e o Dragão que são de outra geração, lá saberão. Mas pelo que me contam, podia não haver engenhos de rega sofisticados, mas os meus avós em Junho ainda iam à vala e tinham um palmo de água límpida para regar o milho. Eu agora, um palmo de água só no poço e com água que parece café. Não sei se é do clima ou se se deve aos milhares de metros cúbicos de água armazenados em tubagens... O solo antigamente era muito mais produtivo à priori. Os tractores só vieram destruir ainda mais o solo, não se engane. O bom agricultor é aquele que cheira o solo, que o apalpa e o sente, que sabe distinguir o solo vivo do morto. Esse tem sempre a carta na manga, a da matéria orgânica, não a queima nem destrói antes a incorpora ao solo, quer seja a palha do milho, o tremoço bravo ou as folhas do sobreiro e é por isso que é um bom agricultor. Tal como o médico antigo escutava o paciente, o agricultor escuta o solo e o clima, daí escolhe a cultura e a variedade mais adequada. Agora já nem temos agricultores nem médicos, antes savants de gravata! Concluo portanto, que mais do que a boa terra e a maquinaria, faltava-nos nesse tempo a formação dos nossos agricultores e as culturas mais adequadas para a criação de riqueza. Isso do importar cereais não me incomoda, era o mesmo que acabar com as FA, não porque não têm serventia para o país mas sim porque não produzimos o combustível para os F-16.

Mais uma coisa:

As populações de países pequenos como Macau, Suiça, Luxemburgo, Mónaco não andam a imigrar porque não produzem farelo de trigo...

Ps:Energia nuclear? Credo homem, vá se tratar. Resgate-se antes, o centro de decisão de Bruxelas..

Ps2: Não fique melindrado, encare tudo na desportiva. Mas sabe, vossemecê parece daqueles que entram na via rápida em sentido contrário e em vez de fazer inversão de marcha, pé a fundo, sempre em frente!

Anónimo disse...

Em resumo:

- A existência de um solo pobre, seco e pouco profundo, não é sinónimo de cultura fraca com baixo valor comercial. Temos a sorte de na mesma parcela poder produzir culturas de valor acrescentado.

- Portugal mesmo que tivesse um solo fértil, nunca poderia competir no ramo dos cereais por um a questão meramente de extensão territorial, mesmo que esse fosse bem ordenado...


- A oferta de cereais não é requisito fundamental para a dieta de um povo. A flora e fauna autóctone, selvagem ou não, podem constituir a base da dieta deste. Os povos com solos pobres e secos, sempre tiveram as leguminosas, e não os cereais, como dieta base pela sua boa adaptação a este tipo de solos.

dragão disse...

O primeiro acto de alta-traição aos interesses nacionais ocorreu com o 25 de Abril de 74; o segundo acto consistiu na adesão à Comunidade Europeia; a cereja no topo do bolo foi a entrada para o euro.

Se queremos ser algo mais que uma colónia de férias, temos que recuperar a moeda, as fronteiras alfandegárias , a indústria e, base de tudo, o sector primário. Ou seja, como diz o anónimo, temos que inverter o processo maligno (aí estou totalmente de acordo).
Tanto o Zephirus como o caro anónimo colocam questões de substância e pertinência (é preciso discussão e, a partir desta, congregação de esforço e inteligência - em suma, é preciso que este povo entregue à dispersão se re-úna).

dragão disse...

Há um ditado antigo que está prenhe de sabedoria prática:

«A necessidade força o engenho".

Ao que eu me permito acrescentar:
«A pobreza da terra aguça a inteligência dos habitantes".

lembro alguns exemplos práticos: os bosquimanos, os esquimós, a agricultura dos isreaelitas (também têm coisas boas, pena que percam tanto tempo com as más...)

muja disse...

Olha que interessante conversa...

Também quero dizer algumas coisas.

De algum tempo para cá, tenho vindo a considerar seriamente "investir" em árvores. Do meu ponto de vista, é loucura ficar à espera de receber reforma do Estado e maior demência ainda contar com os bancos e suas falcatruas financeiras. Comprar ouro ou valor do género levanta o problema de o guardar. Cheguei à conclusão que a árvore é um óptimo compromisso entre o risco e o rendimento.

De uma maneira geral, os riscos são: roubo, doença ou fogo. O mais importante é, naturalmente, o fogo.

Ora o que o Zephyrus diz, já eu o suspeitava há muito até se intui pela paisagem. Carvalhos e castanheiros são as árvores que melhor "ficam" quando se vêem.

Bom, mas o problema é este: devido ao fogo a única árvore que oferece uma possibilidade razoável de não dar prejuízo - para não dizer rentabilidade - é o eucalipto. O corte faz-se mais ou menos de oito em oito anos. Um pinheiro é de vinte em vinte, carvalhos, castanheiros e outras madeiras superiores é o mesmo período ou maior. Para além disso, não existe madeira que chegue em Portugal para alimentar a indústria do papel, portanto importa-se madeira e penso que até madeira chamuscada compram, embora a preço muito inferior.

Portanto, considere o problema do aspecto económico: se eu tenho um pinhal, ou um souto, e aquilo arde tudo, são dezenas de anos que se perdem! No caso dos eucaliptos em média serão três ou quatro... e ainda se recupera qualquer coisa da madeira queimada.

Agora, do meu ponto de vista de "investidor" é sensato diversificar e ter árvores de todo o tipo. E seria o primeiro a plantar carvalhos, castanheiros, etc - e estas árvores até têm a propriedade de atrasar o fogo - por aí. Mas quem de seu perfeito juízo vai fazer isso sabendo que pegam fogo ao país todo o santo verão? Note-se bem: ateiam o fogo.

Temos assim um imbróglio à portuguesa: pela sua simples incompetência (é mais que isso, é negligência criminosa, mas não é preciso para o argumento) o Estado cria uma situação em que estorva a pequena iniciativa particular, muitas vezes apegada à terra, que se dispõe a remediar um problema: e com isso, e por isso, cria para si próprio um problema ainda maior. A incompetência no combate ao crime de fogo posto invoca por sua vez o problema da reflorestação nacional.

muja disse...

Quanto ao mais, plenamente de acordo.

A nossa agricultura sabe pouco (mas quem sabe muito?) e desdenha de quem sabe mais. Já o meu pai se queixava que o meu avô e o resto do pessoal lá da aldeia o não levavam a sério quando descrevia as "inovações" que via na Suíça quando andava por lá a apanhar fruta nas férias, por exemplo.

Agora, suponho que seja melhor e há-de ter sido das pouquinhas coisas em que se andou para a frente. Em contrapartida, também haverá muito menos agricultores.

Quanto a indústria, é sem dúvida um dos principais pilares em que assenta uma economia - ainda para mais quando a agricultura não é famosa e é difícil. A indústria deve ser diversificada, e deve haver pesada e ligeira.

O que nos leva à energia. Uma economia produtiva requer energia. Devia ser preocupação constante o abastecimento ou produção de energia barata. A produção nuclear faz todo o sentido. É preciso não esquecer que é possível construir hoje centrais nucleares muito mais seguras que as do Japão que se estragaram com o tsunami. Mas os sectores dos hidrocarburetos sabotaram o progresso científico nessa área através dos movimentos e lobis ecologistas anti-nucleares, que financiaram (e ainda devem financiar) largamente.

dragão disse...

É certo isso do lobbi ecologista. Toda a treta ambientalista serve para empatar. Não que o ambiente não deva ser cuidado e preservado, mas essas bestas cumprem uma agenda que, a maior parte deles, nem sequer vislumbra. Estão a ser formatados desde pequenininhos, na escola, como noutras cantigas da moda.

A questão energética é estratégica e basilar. Não só a hipótese nuclear como as renováveis. Temos sol e vento com fartura. O meu saudoso sogro é que dizia que os portugueses não podiam aproveitar o vento para produzir energia porque o gastavam todo nos incêndios...

O problema é que esta malta "liberal" plantada nos governos está ao serviço das petrolíferas mais que do "povo". Qualquer esboço de autonomia é punido exemplarmente.

Quanto às árvores, a alternativa às exo-infestantes não são apenas os carvalhos/castanhos (abençoadinhos sejam). Nogueira, não me canso de alertar. A madeira mais preciosa e valiosa do mundo. Nos tabliers dos Rolls-Royce e dos Jaguares, por exemplo, é nogueira(raiz). Acresce que a nogueira, sendo de raíz aprumada e profunda consegue penetrar os solos áridos em busca dos lençois subterrâneos, pelo que aguenta bem o verão (só não aguenta os solos argilosos que a sufocam). Também a cerejeira, o ácer-sicomoro, o freixo (é natural e espontâneo no nosso país), a carpa, etc.
Mesmo o eucalipto tem espécies boas para madeira (o maior problema dos eucaliptais relaciona-se com a indústria da pasta de papel, que fomenta o cancro, o fast-food silvícola)... Outro exemplo: A acácia-negra. Pode tornar-se infestante e adora o nosso país. Todavia, é uma madeira de excelência (a blackwood, dos australianos e outros anglos) completamente desaproveitada. Madeira de luxo, digo-vos eu, em beleza e estabilidade. Desde o mobiliário aos instrumentos musicais, é um hino. O mesmo pode dizer-se de algumas espécies que, regra geral, constituem o mato: o zambujeiro é outro caso de desleixo e ignorância grosseiros.
Ficava aqui o resto do dia a falar de árvores.

Anónimo disse...

Muja, quantos aos fogos não me vou alongar muito:

http://octopedia.blogspot.pt/2012/09/o-negocio-dos-incendios-em-portugal.html?showComment=1346790032473#c4855280521296824803

Agora a temática do nuclear. Para mim a questão não é ecológica é sobretudo ética. Primeiro o Muja diz-me onde se vai buscar a matéria prima. Como deve saber, a França anda a invadir África fora para garantir o abastecimento das suas centrais, por isso certamente não quererá que nos tornemos nos mesmo tipo de pedófilos. Segundo, diga-me se sabe onde iríamos armazenar os resíduos secundários, actualmente não há nenhuma forma 100% segura de armazenar estes resíduos, a menos que se exporte para os mares da Somália, e segredo, daí advém boa parte da pirataria! Claro que os verdadeiros piratas somos nós, os ocidentais, ou melhor, o conglomerado do nuclear! Depois, sabe o que acontece a quem trabalha nas centrais uma vida a fio, não sabe? Agora a questão económica, não pense que sou contra o nuclear, isto se primeiro me responder às questões acima referidas. Para o investimento no nuclear ser lucrativo, tínhamos que formar técnicos, extrair a matéria prima e depois fazer contas ao custos, não só de construir uma central, mas sim de no futuro ter que a demolir. Por isto a energia nuclear é um investimento muito mais rentável em países grandes que criam empresas nacionais para lidar exclusivamente com o assunto.À uma questão menor e muito ridicularizada de que nunca de mal acontece, mas se algo acontecesse, adeus pequeno Portugal...

Acredito, até porque países como a Dinamarca já atingiram a produção de 130% das suas necessidades através das renováveis e exportaram o excedente, que o mesmo pode ser muito facilmente conseguido neste país. Meta-se as nossas universidades a trabalhar em tecnologia de ponta para as renováveis. E por falar em lobis, sabia que tudo que for tecnologia que tenha uma eficiência de >20% de recolha de energia solar é considerado segredo de estado nos States. Sim os actuais colectores nem chegam perto de serem 20% eficientes...

Anónimo disse...

Voltando à agricultura...

Não referi, mas julgo que todos concordam, que mais do que a erosão dos solos, temos assistido à erosão do conhecimento antigo...

Um exemplo, os antigos sem nenhuma formação, tinham por regra que sempre que plantavam uma árvore frutífera, outra da mesma espécie era plantada lado a lado. Hoje, um eng. agrónomo diz-lhe que deriva do facto de certas espécies, como a cerejeira ou a nogueira, precisarem de polinizadores, variedades da mesma espécie em que a floração feminina e masculina precisam de estar sincronizadas para a maximização da cultura. Ora isto, tanto garante o aumento do calibre como a quantidade dos frutos.

Não precisamos de agricultores, mas sim de bons agricultores, aqueles que têm o bichinho. A agricultura não é só uma ciência, é também uma arte comparada à filosofia ou até à música. Um agricultor superior, tal como um filósofo, questiona o método das coisas. Peguemos no exemplo da criação de frangos. Em quanto a industria, anda a criar os animais em jaulas de m2 e alimentar os animais com rações importadas, cheias de hormonas e medicamentos, em último caso é esta a industria a responsável pelo aumento da resistência das bactérias aos antibióticos, tudo pela maximização do lucro. O bom agricultor interroga-se sobre a dieta natural dos animais, percebe que o milho nem sequer fazer parte dessa dieta, primeiro têm que ser partido para os animais o comerem, a soja nem se fala, têm que ser cozida antes de incorporada à mesma dieta! Logo conclui, que a dieta base destes animais deve ser constituída, primeiramente à base de proteína natural; insectos, anfíbios, moluscos, amoras, etc... Chega portanto à conclusão que os animais têm que ser produzidos ao ar livre, tanto por uma questão de saúde como pela questão económica. O Perú preto alentejano, variedade autóctone, é nas primeiras fases da vida alimentado à base de farelo de trigo e malvas escaldadas, depois lhe é dado o acesso ao campo de forma a garantir que o mesmo escolha a sua dieta base, só depois vem os cereais, tudo produzido nas herdades onde é criado, e é isto que forma o valor acrescentado.

Não podemos continuar a pregar a industrialização da agricultura às cegas. Pensa-se comummente que temos uma dieta mais rica do que os nossos antepassados, mas cada fez mais isto começa a ser uma mentira. Vários estudos demonstram que a nossa dieta têm vindo a perder valor nutricional, não só devido à fast food, mas sim porque temos vindo a seleccionar as variedades pelo calibre, textura e sabor e não pelo conteúdo nutricional. Por exemplo compare-se uma maça bravo de esmolfe a uma pink lady e chegue-se a conclusões...

Na criação de bovinos podemos incorporar a silvicultura. Estes animais não se alimentam exclusivamente de pasto, também comem folhagem arbustiva e florestal como ramos de Freixo...

Felizmente, parece que se começa a investir em negócios poucos explorados mas muito rentáveis como a ranicultura e a helicicultura.

Ps: Se o bom professor que educa o espírito ou o médico que trata o corpo não são formados em quantidade, porque raios o devem ser, os agricultores que produzem a alimentação humana?

Ps2: Infelizmente a cultura da nogueira não é aumentada em Portugal, não pela vontade do agricultor, mas porque o consumidor não têm o hábito de procurar a noz. Isto resulta, pelo que mesmo que o produtor aumente a produção, não a consegue escuar.

Anónimo disse...

Vou frisar mais um pouco a questão nutricional:

Do que nos vale produzir muito alimento, se este é à partida pobre. Muitas das doenças da actual geração advém do facto do corpo não ter acesso aos nutrientes e minerais fundamentais ao seu bom funcionamento. Um solo explorado sob duas gerações, perde os seus micronutrientes, estes que formam os oligoelementos fundamentais para o organismos humano. Para absorvermos os mesmos nutrientes que os nossos antepassados temos que comer duas ou três vezes mais que estes reflictam nisto sff...

http://gilsonsampaio.blogspot.pt/2015/02/por-que-uma-maca-da-decada-de-1950_29.html

dragão disse...

Nada a obstar, ó caro anónimo. A não ser que devia arranjar um nome qualquer por mera questão coloquial.

A propósito da folhagem silvícola para alimento do gado, lembro-me da minha mãe referir as folhas do negrilho (espécie de ulmeiro) com que se alimentava o gado em Trás-os-Montes.
E julgo que a folhagem do lodão-bastardo também é utilizável para esses fins

muja disse...

No que respeita ao nuclear, eu não sou perito nenhum. Não sei se teríamos que invadir África para obter os recursos necessários ou não. Mas sei que, outrora - nos tempos em que Portugal tinha governo -, existiu uma Junta da Energia Nuclear, que suponho estivesse encarregada de estudar essa questão. Ainda existiu uns quantos anos, pelo que alguma coisa hão-de ter feito: é saber o que foi e a que conclusões chegaram.

Todavia, o desperdício que resulta da fissão (como o "combustível" que a alimenta) para aproveitamento energético é muito menos radioactivo que o material usado nas armas, que é normalmente o que preocupa as pessoas e a que se referem normalmente quando se referem a desperdício radioactivo.

muja disse...

E em relação às renováveis, creio que estaremos de acordo em que o principal problema é ajustar a produção ao consumo - ou, por outras palavras, o armazenamento. Penso que se têm feito grandes progressos na tecnologia das baterias eléctricas (o fabricante de carros eléctricos Tesla apresentou há uns tempos uma bateria para casas), mas se não é tecnologia tão avançada como a nuclear, deve andar perto; ou seja, técnicos (e respectiva formação) hão-de ser sempre precisos, de uma ou outra forma.

Em todo o caso, o que há a fazer é estudar todas as alternativas e escolher a melhor proporção entre elas, já que dificilmente se arranjará uma que dê para tudo - nem é sensato depender de uma forma de energia apenas.

O que não muda é que precisamos de energia barata. Sem isso, não vamos a lado nenhum. É uma coisa tão básica, tão imediatamente óbvia que é ensurdecedor o silêncio sobre esta questão em Portugal.

muja disse...

Aliás, é revelador de que ninguém - rigorosamente ninguém, (com voz mediática que se ouça, pelo menos) - pensa realmente no nosso problema económico. O que não admira porque também não pensam no financeiro, que o antecede. Por isso estamos reduzidos a despiques de papagaios cada qual com sua solução para prolongar a dívida, para permitir que possamos, até, aumentá-la. De acabar com ela, ninguém se lembra...

Os problemas social e político, esses então nem existem, nem os conhecem e têm raiva a quem os conhece...

muja disse...

E fechando o círculo com as árvores, pois temos que tudo isso é muito bonito mas eu não vou plantar nogueiras se sei que não descansam enquanto lhes não pegam o fogo...

Mais uma vez não se começa pelo princípio: qualquer política florestal tem que partir de princípio e de facto que os seus resultados não ardem todos os verões...

muja disse...

Ah, já me esquecia das "culturas". Interrogo-me se haverá alguma fonte onde se possa consultar esse tipo de conhecimentos, de uma maneira simples e acessível, que alguém sem um curso superior nessas coisas possa entender e aplicar na prática. Se não há, devia haver...

Phi disse...

Julgo que o Muja, nem consegue visualizar o que o nuclear representa...

Aqui, algo que pode ser interessante como leitura:

http://observador.pt/especiais/nuclear-criar-bomba-atomica-produzir-energia-qual-diferenca/#

http://observador.pt/2015/06/29/central-nuclear-espanhola-proxima-da-fronteira-portuguesa-chumba-teste-da-greenpeace/

Aqui, um documentário obrigatório:

https://www.youtube.com/watch?v=lPaT8io_R0I

O problema do nuclear faz-me lembrar do post do Onanista Adúltero do Dragão. É assim, na teoria é tudo muito lindo, mas quando se salta para a prática... Ui!!!

Sempre nos States, há uns quantos reactores a funcionar que deviam ser considerados um atentado contra a Humanidade. Mas sabe como é, lá o nuclear está em parte subcontratado, como no Japão com a TEPCO e isto das grandes corporações... lucro acima de tudo...

Depois há em parte umas quantas belas conspirações, como que Chernobyl foi um atentado para dissolver a URSS... Coisas dos serviços secretos, mas nisto não assino...

A falta de apelido, foi mera questão de preguiça em fazer o log in...

muja disse...

Pois não consigo visualizar o que "representa" não senhor. Antes de mais, porque o que "representa" para si não o sei eu... Para mim não representa nada a não ser uma forma de obter energia. E acho que é assim que se deve ver a questão.

Agora, esses reactores a que se refere foi quase tudo concebido nos anos sessenta e setenta... A tecnologia entretanto aperfeiçoa-se, e tem que se ter isso em consideração quando se apontam como exemplos a seguir ou a evitar.

De qualquer maneira, eu gostava de ver era o que fizeram na tal junta. Porque, se alguém estudo isto em condições, foram esses.

Anónimo disse...

"Interrogo-me se haverá alguma fonte onde se possa consultar esse tipo de conhecimentos, de uma maneira simples e acessível, que alguém sem um curso superior nessas coisas possa entender e aplicar na prática. Se não há, devia haver..."

Há, e é fácil Muja... É falar com a geração mais antiga, aquela que têm o conhecimento de causa...

Se você quer diversificar no ramo silvícola, o melhor ramo julgo que seja o da fileira do pinheiro. Quero dizer, varia, isso é aqui no litoral. No Norte lá está, madeiras maciças e no Sul todos sabem o quê... Tanto consegue incorporar espécies autóctones como o sobreiro, como retirar valor acrescentado com os produtos secundários: pinhas, fungos, bagas como o zimbro, etc.

O conhecimento é reduzido, basicamente podar em época própria e não em demasia, ou então só crescem para cima e dão varas. Há sempre o problema do nemátodo...

Os antigos neste ramo eram danados... É impressionante como conseguiam produzir móveis de pinho que ainda hoje duram, tudo com tratamento natural. Julgo que em parte, tinha a haver com a época da colheita. Agora mesmo que esteja a chover, corta-se tudo, é claro que depois têm que ir ao forno, levar fungicida, tratamento contra o bicho, primário e secundário de verniz. Enfim, outros tempos... Agora temos a Ikea, mas ainda não percebi se fabricam móveis baratos ou puzzles caros...

Phi disse...

"Antes de mais, porque o que "representa" para si não o sei eu..."

Homem, para que ando eu, a postar as ligações?

muja disse...

Pois, mas falar com a geração antiga só é prático enquanto ela cá andar. Depois...

E nem toda a gente em essa geração à mão para lhes perguntar essas coisas.

muja disse...

Ó Phi, mas que quer V. que eu visualize afinal? Que os reactores nucleares são coisas perigosas? Decerto. Que são mal mantidos? Pois será questão de fazer manutenção em condições.

Quanto aos resíduos, não lhe sei responder. Mas nas suas ligações ninguém fazia distinção, que eu visse, entre resíduos militares e civis.

Até, se não me engano, há reactores que reaproveitam os resíduos.

Eu não quero estar aqui a fazer de paladino do nuclear. O que digo é que tem de se considerar. Só isso. O que implica considerar as vantagens e os defeitos.

E, já agora, repare noutra coisa: uma barragem, por exemplo, é uma alteração ecológica, desde logo porque geográfica, colossal. Tem desvantagens. Até as turbinas eólicas têm desvantagens.

Há sempre desvantagens, há sempre perigos e há sempre problemas.

Phi disse...

Cafés, tascas, centros de dia...

Julgo que os agrónomos de outro tempo, tenham deixado qualquer coisa de literatura resumida...

Os documentários do José Hermano Saraiva e outros como ele... está lá muito...

muja disse...

Eu ando a ver os Horizontes da Memória, por acaso... Uma alma caridosa pôs tudo no youtube.

Phi disse...

"Ó Phi, mas que quer V. que eu visualize afinal?"

É simples, ao contrário da dívida que será herdada pela geração futura, os resíduos radioactivos mais perigosos têm uma meia-vida de 300.000 anos! Mais tempo do que a nossa sociedade existe e mais do que provavelmente vai durar... O resto é tudo as questões éticas que já enderecei...

Ainda vai nessa cantiga de que o nuclear é seguro! Antes do verbo já assim era, depois de chernobyl as futuras centrais seriam mais seguras. Depois Fukushima, depois a mesma cantiga das centrais futuras seguras. Agora até já as querem construir em alto mar! Está tudo louco...

Porque raio devemos gastar na matéria prima FINITA, se temos as renováveis INFINITAS?

Mais claro, não consigo ser, desculpe. Veja o documentário e as questões que lá são levantadas...

Anónimo disse...

Econtrei um resumo, para não gastar mais latim:

https://mochilandoalieacola.wordpress.com/2014/06/01/onkalo-uma-arquitetura-pos-humana/