sábado, julho 11, 2015

Trevas e Luzes (rep)


Tem um certo interesse recordar aqui algumas daquelas que eram as "profissões párias" da Idade Média. Em pleno século XII, sob a forte influência duma Igreja pouco inclinada a "modernismos", no index profissional (ofícios desonrosos), figuravam, entre outros: 
* Prostitutas 
* Magarefes 
* Jograis 
* Cozinheiros 
* Soldados 
* Taberneiros 
* Advogados 
* Juízes 
* Notários 
* Médicos 
* Cirurgiões 
* Mercadores 
* Banqueiros 

Não deixa de ser curioso o destino que a História reservará a estes ministérios: a Idade Moderna procederá à sua reabilitação; a Idade Contemporânea velará o seu triunfo. Nos dias de hoje, sem sombra de dúvida, equivalem, em grande medida, aos ofícios mais bem pagos do planeta. Este desenlace, aos nossos olhos, simboliza o triunfo dessa classe -de prostitutas, cozinheiros, magarefes, advogados, médicos, taberneiros, mercadores e banqueiros-, denominada, no seu conjunto, por burguesia. Em contrapartida, aos olhos severos e pouco elásticos do espírito medieval significaria a glorificação da desonra, a aclamação do ilícito, o império da vileza. 

Por muito que nos proteja o santíssimo sacramento da aversão cultivada e promovida a esse tempo de "trevas", quanto mais mergulhamos nos "luzes" resplandecentes destes novos tempos e assistimos às tropelias histriónicas destas novas gentes, mais se instala em nós um profundo mal estar, mais nos assaltam doses crescentes de angústia e sentimentos paradoxais de incerteza. Um dos mais constrangentes é esta suspeita, vaga mas atazanante, de que, se calhar, os medievais não eram tão estúpidos como os pintam.

PS:  O facto é que a imundície medieval deveio elite contemporânea. Em Portugal, então, é um mimo: ultimamente, ocorre a apoteose dos cozinheiros.

13 comentários:

Zephyrus disse...

Porquê os médicos?

dragão disse...

A doença, na época, era considerada uma manifestação do mal. Logo...

Zephyrus disse...

Essas dos médicos dá pano para mangas, mas não vou discutir isso aqui. Os cirurgiões, bem isso percebo. Os médicos não.

Vivendi disse...

Aguarde-se pela apoteose das prostitutas.

mm disse...

oh Vivendi, nao seja ingénuo

dragão disse...

Zephyrus, tem que levar em consideração o que eram os médicos medievais.... Aliás, a história da medicina é toda ela uma eloquência. Os próprios médicos, nos finais da idade média, já snobavam os cirurgiões.
Todavia, esteja à vontade: exponha o caso.


«Aguarde-se pela apoteose das prostitutas.»

Os filhos delas, pelo menos, já se apoderaram do parlamento, governação e vários camarotes do "estado de direito". Os últimos decénios têm mesmo sido dum intenso alpinismo destas criaturas.


muja disse...

Então e os cozinheiros, era porque alimentavam a gula?

dragão disse...

Dum modo geral, era tudo gente que remexia em coisas sórdidas, físicas e morais. Os cozinheiros entravam pelo mesmo filtro dos magarefes.



Entretanto, faltou-me acrescentar no postal que, entre nós, antes dos cozinheiros, foi a apoteose dos jograis.

Zephyrus disse...

A minha mãe teve uma educação «à moda antiga» e fui educado que actores e actrizes, modelos e afins eram imorais e de «casta inferior». Vem num livro que tenho lá em casa dos meus pais, do Pierra Grimal, vem escrito que nos tempos do Império Romanos actores ou artistas de circo eram saltimbancos associados ligados à prostituição (feminina e masculina). Ou seja, profissão de meretrizes e sodomitas.

Zephyrus disse...

Depois vieram os jograis, mas a função era a mesma, era o entretenimento de um público.

Ora hoje em dia temos entretenimento para as massas e a canalhada é endeusada e chega a ter honras de Estado.

O Ronald Reagan...

Euro2cent disse...

> vem escrito que nos tempos do Império Romanos actores ou artistas de circo eram saltimbancos associados ligados à prostituição

Há aí umas confusões. Os romanos preferiam o circo (gladiadores e quadrigas) ao teatro, porque a ficção amolecia o gado proletario, como os gregos tinham mostrado. A república proibia teatros permanentes - montavam e desmontavam bancadas ocasionalmente. O Pompeu disfarçou um teatro com um templo, o arquitecto fez uma parede do templo inclinada com bancadas.

Não que dizer que fosse pessoal virtuoso, mas no século XIX é que era comum as actrizes menores e coristas serem particularmente sustentadas numa vida com mais conforto por cavalheiros que gozavam dos seus favores.

Euro2cent disse...

Ah, já agora que aqui estou, uma recensão de livros:

http://www.nybooks.com/articles/archives/2015/jul/09/two-cheers-middle-ages/

onde alguém nota a "black propaganda of Voltaire, Hume, Kant, and Mark Twain" contra a era medieval.

Os republicanos são tramados (e mentem habitualmente com mais dentes do que têm).

Vivendi disse...

"oh Vivendi, nao seja ingénuo"


Reafirmo o que escrevi. Para além da achega que o Dragão já deixou, o jardim à beira mar plantado precisa de procriação para não acabar em extinção ou para não acabar colonizado por outros povos.

Aguardo assim pela apoteose das putas (parideiras).