quinta-feira, fevereiro 26, 2015

A Fé, camaradas, a Fé...

«Com a tomada de posse dos meios de produção pela sociedade é eliminada a produção de mercadorias, e com ela a dominação do produto sobre os produtores. A anarquia no interior da produção social é substituída pela organização consciente e planificada. Acaba a luta pela existência individual. Só então o homem, em certo sentido, se separa definitivamente do reino animal, sai de condições animais de existência e entra em  [condições de existência] realmente humanas. O círculo das condições de vida que rodeiam o homem, que até aqui dominava os homens, pela primeira vez os senhores reais e conscientes da natureza, porque, e na medida em que, eles se tornam os senhores da sua própria socialização. As leis do seu próprio agir social, que até aqui os tinham confrontado como leis naturais que lhes eram estranhas e que os dominavam, passam então a ser aplicadas pelos homens com pleno conhecimento de causa, e deste modo dominadas por eles. A própria socialização dos homens, que até aqui os confrontava como se lhes fosse imposta pela natureza e pela história, passam para o controlo dos próprios homens. Só a partir daí é que as causas sociais por eles postas em movimento terão predominantemente, e numa medida sempre crescente, os efeitos também por eles queridos. É o salto da humanidade do reino da necessidade para o reino da liberdade.»
- Friedrich Engels, "Do Socialismo utópico ao Socialismo científico"

Escolhi estre trecho do Engels, porque me parece uma súmula bastante clara e concisa do projecto marxista, na sua fase terminal maravilhosa.
Recapitulando, etapas na Estrada para a liberdade: Socialização dos meios de produção. Donde se seguirá necessariamente, a sociabilização da própria natureza.
Os projectistas não esclareceram alguns detalhes concretos, como sejam, terramotos, tempestades, inundações, e outras catástrofes naturais. Sim, serão classificados de fenómenos reaciomários, mas que forma de punição lhe será atribuída? Já sabemos como se eliminam as mercadorias, mas como se eliminarão os caprichos metereológicos que nos oprimem e perseguem há milénios? A própria Morte, essa desmancha-paraísos, como será superada?
Não sabem? Eu sei. Fé. Fé cega e inabalável na ciência e na tecnologia.

15 comentários:

zazie disse...

Maravilha!

muja disse...

Muito estranho, o paleio destes tipos.

Só então o homem, em certo sentido, se separa definitivamente do reino animal, sai de condições animais de exist~encia e entra em [condições de existência] realmente humanas.

Pressupor a existência de coisas realmente humanas é implicar uma diferença fundamental entre essas e as outras todas. Mas se se nega a existência do divino ou sobre-humano, e existe uma diferença fundamental entre a condição "animal" e a "realmente humana" (a animal será falsamente humana?), onde ficam os tais humanos num mundo exclusivamente material? Se não são animais, nem são filhos de Deus, são o quê?

Outra vez:

As leis do seu próprio agir social, que até aqui os tinham confrontado como leis naturais que lhes eram estranhas e que os dominavam

O que é natural é estranho ao homem, e o divino não existe. Que sobra?

A própria socialização dos homens, que até aqui os confrontava como se lhes fosse imposta pela natureza e pela história

É a "socialização" que confronta os homens? Ou eles que se confrontam com a necessidade de? Língua de trapos.











muja disse...

Já se vê que isto é grandessíssima trapaça.

Ou seja, ninguém lê isto e fica convencido porque para desatar esta linguagem de trapos é um castigo logo à partida.

E quando se desata, vê-se que pouco mais sobra que contradições.

Portanto, ninguém compreende, realmente, isto. Como se depreende facilmente do convívio com os que acham que compreendem, serve apenas para pedantismo pseudo-intelectual. Para se gabarem e fanfarronarem, vá.

É forçoso que quem está convencido que compreendeu o incompreensível, fosse convencido de outra forma que não compreendendo.






muja disse...

Mas sim, essa fé existe. E tem profetas ó:

http://en.wikipedia.org/wiki/Ray_Kurzweil

muja disse...

Mas a trapaça não é só pedantismo...

Existe uma razão positiva e prosaica para a trapaça existir.

«Com a tomada de posse dos meios de produção pela sociedade é eliminada a produção de mercadorias, e com ela a dominação do produto sobre os produtores. A anarquia no interior da produção social é substituída pela organização consciente e planificada.

Isto é intrujice.

Não é o produto que domina os produtores. Quem domina os produtores é quem domina o produto. Quem for capaz de criar escassez ou abundância de algo, tem na mão os produtores dessa mesma coisa (e os consumidores). E quem é capaz de criar escassez ou abundância? Ora, os mercadores.

Mas o intruja fala apenas em mercadoria, não fala em mercadores. Embora fale de produção e produtores. Esqueceu-se?

A anarquia no interior da produção social é outra intrujice. O que é "produção social"? É o conjunto da produção de uma sociedade? Sendo assim, como pode ser anárquica sem o ser a própria sociedade? Mas uma sociedade anárquica é um oxímoro.

No mínimo, a produção tem de estar sujeita à mesma ordem definidora da própria sociedade onde existe, ou teria de existir fora dela não podendo chamar-se-lhe "social".

Portanto, numa sociedade - que por definição nunca é anárquica - só pode existir produção "anárquica" se alguém influenciar, isto é, realizar trabalho, para causar essa condição. Quem?




Ricciardi disse...

Em suma, o Socialismo precisa do Capitalismo para manter o fetiche.
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Por uma razão muito simples e pragmática e pouco filosófica. A massa. Ou a falta dela.
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Daí que regimes Socialistas tenham optado por abraçar uma versão (selvagem) do capitalismo. Selvagem porquê?
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Porque é despótico o poder e não natural, mas tomado pela força de poucos, contra a vontade do povo. A Monarquia é o oposto. É uma instituição Natural que decorre da natureza das coisas.
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A democracia é o único sistema onde o capitalismo moderado pode triunfar. O despotismo e a autocracia não natural devém capitalismo selvagem.
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Os países mais desenvolvidos, economica e socialmente, são democracias, em regimes monarquicos (manhosos) ou republicanos.
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Rb

Ricciardi disse...

1º Socialismo Capitalista Selvagem:
-China, Russia.
2º Capitalismo Moderado democrático:
- UE, EUA, Japão, Australia, Canada...
3º Socialismo puro e duro:
- Coreia Norte, Venezuela.

Anónimo disse...

Ricciardi,
Gostei da sua classificação.
Por curiosidade, onde colocaria o Estado Novo? E já agora, Angola?

Cumpts
Miguel D

Anónimo disse...

Eu não sou muito dado a estas coisas, mas ainda vou ter de ler outra vez.
Mas à partida suscinta-me uma pergunta, o que será que o homem andava a fumar quando escreveu isto?
Carlos

muja disse...

Por outro lado, há uma parte a quem a produção parecerá sempre anárquica: os tais mercadores, ou intermediários. Do seu ponto de vista, se pudessem ditar directamente quando e quanto será produzido de uma mercadoria, poderiam planear os seus negócios com muito mais facilidade e eficácia - ou seja, lucro. E poupar-lhes-ia o trabalho de terem que manipular o mercado através da acumulação da mercadoria como faziam no início do século vinte, para fazerem as suas especulações.

Portanto, temos, numa mão, uma classe de gente para quem a produção é "anárquica" - na realidade, isto significa que não segue a ordem deles; na outra, temos outra classe - da qual faz parte o autor do excerto - que assevera que a produção é anárquica e que não só era melhor que fosse planificada e consciente (embora nunca diga de quem seria a consciência), ou seja, ordenada (não diz sob que ordem), mas que tal coisa é o próprio destino do homem. Para o justificar usa linguagem de trapos como "O círculo das condições de vida que rodeiam o homem, que até aqui dominava os homens, pela primeira vez os senhores reais e conscientes da natureza, porque, e na medida em que, eles se tornam os senhores da sua própria socialização."

Como diz o ditado, uma mão lava a outra e as duas lavam a cara. O agitador nunca refere o manipulador, apenas afirma a oposição entre os manipulados; o manipulador, fornece os meios para o agitador agitar com eficácia: o dinheiro para propagar a agitação, e a condição objectiva que aquela denuncia parcialmente.




muja disse...

Mas hoje, isto é já quase irrelevante. Pois já não existe distinção entre intermediário e produtor.

Enquanto o mundo discutia se o agitador tinha razão, e se a linguagem de trapos significava realmente alguma coisa de compreensível, o intermediário adquiriu o produtor e forçou à inexistência os que não quiseram ser adquiridos.

Não só isso, como teve o cuidado de minar a independência dos consumidores, afastando-os da terra - única fonte de independência real, e escravizando-os assim, de facto, ao produto cuja produção rege absolutamente.

A globalização tornou irrelevante a doutrina do agitador. Os proletários do mundo já estão todos "unidos"... na China. A produção já não é anárquica porque simplesmente não existe excepto como, quando e onde o mercador quiser.

Da acção do agitador ficou o essencial para o mercador: a habituação de todos à ideia que a produção tem de ser organizada.

Esta sim, é a verdadeira dialéctica do mundo, ahaha!

muja disse...

Escusado será dizer-se que, assegurada a ordem da produção, o que importa a seguir é, naturalmente, assegurar a ordem do consumo.

Portanto, o lema de hoje é, evidentemente: consumidores do mundo inteiro, uni-vos!

A questão é, enquanto discutimos se os agitadores da ditadura do consumidorado - também conhecidos por neo-várias-cenas, (tontos para abreviar) - dizem alguma coisa que se possa realmente compreender, que ordem estarão a tramar os manipuladores...

Porque é certo que estão... dialéctica oblige!

muja disse...

Pelo menos, é assim que eu vejo as coisas...

E, por mercador, não se entenda o senhor da mercearia: entenda-se antes especulador.

Ricciardi disse...

"Gostei da sua classificação.
Por curiosidade, onde colocaria o Estado Novo? E já agora, Angola?"
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-Angola na mesma classificado da China e Rússia. Socialismo capitalista selvagem.
-Estado Novo é de outras épocas e, portanto, classificaria num Mercantilismo, q é uma espécie de capitalismo bairrista ou nacionalista, digamos assim, com a vertente colonial q é inerente ao sucesso do mercantilismo.
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Rb

marina disse...

adorei o salto do reino da necessidade para o reino da liberdade . conseguiram chegar a buda , esta visto , e deixaram de comer e essas coisas todas animais q o corpo nos faz fazer. so alma , os marxistas.