sexta-feira, abril 19, 2024

A Justiça a Sério

 



O mais recente alarido merdiático da paróquia: a Justiça está desacreditada. Por via de mais um dos processos típicos da confraria. A Influencer não sei quantos (mais parece nome de vacina do que de investigaçoa, mas enfim, é  o que há). 

Bem, não quero ser desmancha-lazeres, mas deixem que pergunte: Desacreditada em relação a quê? À Política? À Administração Pública? À Comunicação Social? À Economia? À Ética (republicana ou outra qualquer)? Às Artes? Às Instituições Europeias? Às Forças Armadas?  Ao nobre e valente Povo? Sim, meus amigos, se vamos estar com classificações (ou desclassificações), convém arranjar um ponto de referência, uma escala,  um critério, que diabo!

Ora, pegando na bitola do crédito da Política ou da Comunicação Social, só para citar as mais relevantes para comparação (até por ordem de vizinhança), a Justiça, apesar dos denodados esforços de chafurdanço e atascamento em que se refina, ainda está longe de alcançar o desnível de qualquer uma delas. Estou seguro que tudo porfiará para lá chegar; não descansará noite e dia, domingos, feriados e horas extraordinárias. Mas ainda vai ter que pedalar um bocado. Tudo seria até mais fácil, e de certo modo exequível, se as duas bandalheiras avançadas permanecessem, por um instante que fosse, estáticas. O problema é que, bem pelo contrário, nunca freiam nem abrandam, e escavam levadas de seiscentos diabos e outros tantos assessores e secretários, como se não houvesse amanhã. E tudo indica que não há mesmo. Pelo que, se é certo que a Justiça se esfalfa, temo que se esfalfe em vão. Quando alcançar o descrédito completo, já as outras desceram ao enxovalho profundo, na vertiginosa rampa  do descalabro abissal. Mas isto sou eu a ser só optimista, para não dizer idílico.

Porque, na realidade, o caso é mais complexo. E germina dum problema assaz cabeludo: é que, ao contrário de qualquer competição ou certame condignos e abalizados, no presente torneio, não se distinguem nem as pistas separadas, nem, tão pouco, os atletas ou misses a concurso. Fala-se em "separação de poderes", mas isso é só para inglês ver e otário besuntar. Separação, do que quer que seja, é que não se avista em parte alguma. Nem de modelos, nem de pistas, nem de camisolas. Na verdade, apenas se avista um reboliço, uma amálgama, uma mixórdia sôfrega e ambulante. Onde os limites entre a Justiça e a Política (ou a Comunicação Social, ou de qualquer uma delas com qualquer uma das outras, do Circo Chapitô às Forças Armadas, à Academia ou ao nobre e valente povo, passe a redundância geral funambular), oscilam entre o indistinto, o inexistente e o inescrutável. Assim, em bom rigor, não é possível atribuir pódio, medalhas ou taça a qualquer uma delas: é todo um ex aequo permanente. Não há concurso, e muito menos regime: apenas uma zaragata em peregrinação tumultuosa pelo estádio. É um todo que é nada, já que as partes que deviam conferir-lhe forma, organismo e sentido apenas se digladiam e barafustam entre si, à boa maneira dos esquizofrénicos.

Faltam apenas duas ressalvas. Lá atrás, quando referi "Nobre e valente povo" estava a ser irónico, como é óbvio. Uma gente que embarca e atura (durante meio século bem contado) uma chungaria chinfrim destas, de nobre e valente tem nada. E bem merece, juntamente com toda a esterqueira em que se derriça e espelha, uma plêiada de génios  como aqueles que pirilampejaram em farol dos franco-afundadores... Só que agora o título de enciclopedistas é exíguo: há toda uma asnopédia, uma onagrosseia, uma gambusíada para cantar!...

E onde aponto que não há separação em lado nenhum, minto. Há, sim senhor! Uma que, até para mais, não é nada pequena. Orça mesmo, tudo o indica, um  novo adamastor: a separação, o divórcio completo e litigioso, de todo este Faz-de-Contra com a sua história - com o passado e o futuro - e, sobremaneira, e a reboque de sabe o Demo o quê, com a realidade. Mas nada de retrogradâncias ou negacionismos! Não temos tempo a perder: há todo um Ralo à nossa espera. E quando lá chegarem, prestem bem atenção: vão, finalmente, ver a Justiça. A Justiça a sério!

4 comentários:

passante disse...

Convém lembrar que justiça é para quem pode, como disse o grego.

“Right, as the world goes, is only in question between equals in power, while the strong do what they can and the weak suffer what they must.”
― Thucydides, History of the Peloponnesian War
[Livro 5, cap. 85, salvo erro - os atenienses a explicarem como era antes de exterminarem os ilhéus de Melos]

Anónimo disse...

A questão da Justiça é coisa com barbas!
Tendo-se o Homem despreocupado com a Justiça Divina, sobra apenas aquela que o próprio pretende para ele e para os outros. E como se sabe as leis são feitas ou executadas sempre em favor dos “príncipes”!
Portanto a “justiça dos homens” nunca passou de um meio para os submeter ao invés de os servir, seja ele qual for o regime vigente.

Do ditatorial até ao democrático é, no final de contas, tudo muito semelhante. Com a agravante de no democrático, criada a ilusão da virtuosidade, estarmos sujeitos aos humores e intentos das mais variadas castas de juízes e procuradores. Dos “Ivos Rosa” até aos “Carlos Alexandre” há toda uma vastidão de diferenças/possibilidades. Do inferno, passando pelo limbo, até à razoabilidade é todo um mundo na espreita!
Anónimo da poesia

Anónimo disse...

Por mim, é cagar sem autoclismo. O doutor Salazar tinhas as nalgas assadas e ia a empregadita ia lá com uma colher de mel acalmar-lhe a anilha. O Otelo em 76 pingava do cu e nem miava. Estes merdas que para aí andam a comprar toalhetes são a maior vergonha da Nação. Um homem a sério solta lascas do rego e chama-lhes cacau. Não gostam do cheiro? Vão para França cabrões!

Anónimo disse...

" Marcelo Rebelo de Sousa cortou relações com o filho devido ao caso das gémeas "