segunda-feira, dezembro 31, 2007

Telenovela paquistanesa

Segundo versões alternativas que surgiram logo a seguir ao assassinato, quando o bombista suicida deflagrou a seus pés, a senhora Benazir Bhutto já tinha sido perfurada por cinco balázios, diligentemente expedidos por dois snipers das redondezas.
Conforme se pode ler na notícia, os snipers teriam usado AK-47 (vulgo kalashnicov).
Agora apareceu uma nova versão, com vídeo e tudo. Notem que a arma que dispara não é uma AK-47, mas uma pistola semi-automática de modelo claramente militar.
Não percam os próximos episódios.

Feliz Aniversário!

De Mestre Bu.
Para a Inês, que faz hoje anos.
Convém que não descures a educação musical, cara discípula. Afasta-te da Pop, ainda mais daquela que sempre se mascarou de rock.
Estes não são os King Crimson, faltam lá o monstro Fripp e o sub-monstro Bruford, pelo menos, mas é o Wetton, baixista e vocalista dos Crimson; e esta foi a única versão completa que se pôde arranjar duma música que foi feita para a Eternidade e não apenas para a feira: Starless and Bible Black.

Que faças muitos, além dos 25 que agora completas e que eu esteja cá para te abençoar e proteger de maus olhados.

Starless

Sundown dazzling day
Gold through my eyes
But my eyes turned within
Only see
Starless and Bible black

Ice blue silver sky
Fades into grey
To a grey hope that oh years to be
Starless and Bible black

Old friend charity
Cruel twisted smile
And the smile signals emptiness
For me
Starless and Bible black.

domingo, dezembro 30, 2007

Arqueologia Musical - III. Camel

Arqueologia Musical - II. King Crimson

sábado, dezembro 29, 2007

A ASAE-DGS

De modo a animar os proprietários para o novo ano que se avizinha, a ASAE promete e notifica: «Metade dos restaurantes e cafés em risco de fechar».
E estão em risco de fechar por uma razão muito simples: porque a ASAE vai fechá-los. Em nome da higienização económica, vulgo "regulamentos comunitários", claro está.
Mas, pergunto eu, vai fechar os McDonnald's, as Pizza Huts ou quaisquer umas dessas lixeiras alimentares que poluem e emporcalham o país de alto a baixo, desde shopping-coisos a babéis comerciais? Não, de maneira nenhuma! Era o que faltava! A qualidade da comida pouco lhes importa: o recipiente e a embalagem é que interessam. E desde que se calcem as luvinhas, ou se sirva a mixórdia em manjedoura ultra-pasteurizada, não há problema.
Em resumo: para se envenenarem, fica ao arbítrio das pessoas; funcionam as leis do mercado. Só se envenena quem quer (ou quem não tem dinheiro para mais). Mas para comerem em tascas, snacks ou restaurantes típicos, aí, fica ao critério do gangsterismo legal; funcionam as leis da burrocracia Bruxelosa, na ponta das pistolas e metralhadoras da ASAE. Só se come onde eles quiserem.
Vivemos, cada vez mais, num regime de burrocracia armada. E não já apenas em parva.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

Entrevista a Benazir Bhutto, em 02 Nov 07

Ao minuto 6.12, surge a misteriosa declaração:
«Omar Sheikh the man who murdered Osama Bin Laden»...

Arqueologia Musical - I. Soft Machine

Há quem diga que influenciaram os Floyd, há quem diga o inverso.
Seja como for, músicos levados da breca!

quarta-feira, dezembro 26, 2007

O TOP MAIS 2007

De volta ao mundo e às suas trivialidades, já foi publicada a Lista dos 1o mais corruptos da América, para a época 2007, segundo a Judicial Watch.
São eles:
1. Senadora Hillary Rodham Clinton
2. Deputado John Conyers
3. Senador Larry Craig
4. Senadora Diane Feinstein
5. Ex-Mayor de Nova Iorque Rudy Giuliani
6. Governador Mike Huckabee
7. Lewis “Scooter” Libby
8. Senador Barack Obama
9. Deputada e presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi
10. Senador Harry Reid

É animador saber que, entre os Dez Mais, estão vários candidatos à Presidência e, muito provavelmente, o próximo Presidente da nação mais poderosa do planeta. Se classificamos, e bem, Angola como uma cleptocracia, catalogaremos os Estados Unidos como quê - uma corruptocracia?...

terça-feira, dezembro 25, 2007

Eu não acredito em Deus




Um dos sinais evidentes da puericultura predominante no nosso tempo é a zaragata e o chinfrim, verdadeiramente fetichistas, em redor da existência (ou desistência) de Deus. Crentes e descrentes, quais bandos de pardais à solta, trocam pedradas e mimoseios dignos de qualquer recreio de jardim-escola.
Ora, Deus não é objecto de conhecimento, nem, tão pouco, de crença. Quer isto dizer, logo à partida, que não pode haver uma “ciência de Deus”, nem um “feiticismo de Deus”. Isto, apesar de ser isso o que por aí, e desde tempos imemoriais, sobremaneira abunda e efervesce. Um ídolo, mais ou menos perverso, que oscila entre o totemismo da Razão e o totemismo da Tribo. E, pior que tudo isso, um fetichismo a querer fazer-se passar por ciência, e uma ciência a querer tornar-se fetichismo.
Todavia, Deus não se acredita, nem se calcula: celebra-se. Respira-se. Vive-se. Muito mais que convicção, é acção. Não me imagino a calcular, contabilizar e catalogar as batidas do meu coração. Nem me imagino a proclamar a cada minuto que tenho fé, que rezo, que rogo ao Além para que ele não páre no minuto seguinte.
Suspeito que a questão fundamental não é se “eu acredito em Deus”. Acreditar é “dar crédito” – quem sou eu, um ser efémero que vive por empréstimo, para conceder crédito a Algo que me transcende? Haverá maior acto luciferino que proclamar “eu dou crédito a Deus”? Significa fazer de Deus um devedor meu: Alguém que tem dívidas e deveres para comigo. Não raramente, obrigações. Pervertidamente, é inverter e perverter a Ordem Cósmica: fazer da criatura, credor. Fazer do facto, fazedor. É transformar a própria Vida – e toda a metafísica que nela habita – numa mera relação contratual. Num agiotismo espertalhão. Num Fundo obrigacionista. Em que mercearia forjaram um "deus" destes?
Desenganemo-nos: a questão fundamental não é se eu acredito em Deus, mas, isso sim, se Deus ainda acredita em mim. Se eu, reles e mísero humano, cada vez mais longe do meu coração, cada vez mais afastado e disperso da minha própria raiz e da minha Palavra, ainda sou digno de crédito. Se ando perdido na confusão à procura do caminho para casa; ou se, viciado e embrutecido no caos, me tornei habitante dele. Se ainda procuro alguma verdade, ou se, pura e simplesmente, me tornei toxicodependente da mentira. Só uma cegueira veemente, uma estupidez grosseira pode transportar-nos a essa ideia peregrina de que me compete acreditar em Deus, como se ele precisasse do meu crédito para alguma coisa. Obrigar alguém a uma crença é negar Deus, é proclamar o seu contrário. Um Deus obrigatório é um Deus obrigado, convertido, sujeito dum contrato, em suma, proto-estado providência e, simultaneamente, super-agência de interesses. Porque, disso pelo menos não me resta qualquer dúvida, a crença em Deus deu origem à crença na liberdade, ou à crença na democracia, ou na salvação do mundo por obra e graça duma qualquer crença.
Não espanta – e constitui evidência ubíqua ao longo da nossa vida: quem mais perdido anda, é quem mais enche a boca de salvação; quem mais escravo age, é quem mais atafulha a boca de liberdade; quem mais totalitário e intolerante arfa, é quem mais atesta a bocarra de democracia; quem mais idolatra o próprio umbigo (pessoal e clubista), é quem mais proclama o seu amor assolapado ao outro, à humanidade. Confundem fé em Deus com bajulação a Deus. E celebração com suborno.

É de tudo isto que nasce um aforismo que há muito tempo me persegue – “eu acredito em Deus; Ele é que, desconfio, não acredita em mim.” -, e que hoje (não me peçam para explicar como, porque não sei) finalmente compreendi.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

FELIZ NATAL A TODOS, Ó EXCELENTÍSSIMOS!...

Ao escol da humanidade que constituem os leitores, comentadores e críticos deste meu humilde ringue (excepto, naturalmente, aqueles que estão -neste momento e pela noite fora - a receber a visita dos armários moldavos), desejo um Feliz Natal!

domingo, dezembro 23, 2007

Vamos às prendas - III



Numa pausa excepcional nos meu afazeres de ser rude, obnóxio, selvaginoso e anti-não-sei-o-quê, quero aproveitar enquanto a Svetlana foi visitar a família à Ucrânia, para, na medida em que a Irina no permite, deixar aqui um agradecimento especial a uns certos meliantes que andaram para aí, como de costume, a mentirozar a meu respeito. Fora essa tendência efabulante, até são uns rapazes desempenados, sobremaneira na pena e no verbo, que se reclamam nacionalistas e fazem eles muito bem. Eu, infelizmente, não me posso reclamar porque, sendo O Nacionalismo por antonomásia, tal está-me implicitamente vedado. Passo cartas de corso e já não é mau.

Mas vamos a eles. Os Sete Magníficos.

Ao Bruno Oliveira Santos, ao FSantos, ao Corcunda, ao Paulo Cunha Porto, ao Mário Martins, ao Pedro Guedes, que escreveram, e ao Manuel Azinhal, que não escreveu mas mo transmitiu telepáticamente, vai o meu "obrigado, malta!". E já que a maré está de feição, aproveito para desejar um Feliz Natal a todos.


Como bónus -e para os indemnizar do tempo perdido a darem cabo da vista com as minhas barbaridades e heresias -, aqui ficam as prendas:


Para o Manuel Azinhal,

http://br.youtube.com/watch?v=m3gd6uCD2FM

Para o BOS,
(ainda ponderei o "Imagine"...)

Para o FSantos,

Para o Pedro Guedes,


Para o Corcunda,


Para o Réprobo,


Para o Mário,


sexta-feira, dezembro 21, 2007

Vamos às prendas - II




Por ordem de antiguidade, seguem-se o insigne José e a destemida Zazie. É rico quem tem amigos assim. Deste nababo que muito vos estima, vão os votos dum Feliz Natal, ó caríssimos. Com Zappadas em abundância e gárgulas por desbravar.


Para o José:





Para a Zazie:


(Nemésis, ou a Grande Fortuna, de Albrecht Dürer)

Vamos às prendas - I




É a minha amiga blogosférica mais antiga. E venerável. Uma senhora gentil e uma alma luminosa que nunca me canso de admirar.


Para si, Margarida. E que o Céu nunca lhe falte. Com votos de um Feliz Natal, na companhia dos que lhe são queridos.

Pegadas


Já quebrei com mil espadas
contra as ameias do futuro,
sigo as minhas pegadas
e não encontro quem procuro.

Já esconjurei mil ciladas
esgota-se-me o esconjuro.
Sigo as minhas pegadas
e não encontro quem procuro.

Já visitei mil moradas
e em nenhuma eu figuro,
sigo as minhas pegadas
e não encontro quem procuro.

Já embosquei mil e uma estradas
mas o bicho é inaturo,
sigo as minhas pegadas
e não encontro quem procuro.

Já raiaram mil alvoradas
e não se acabou o escuro,
sigo as minhas pegadas
e não encontro quem procuro.

Algures, para além das palavras
sei que existe um silêncio puro
lá, onde acabam as minhas pegadas
sei que há-de estar quem procuro.


- Rui Ulisses de Castro

Auto-guilhotina ou haraquiri existencial, eis a questão

(Tenho uma resposta em dívida ao Camarada Psiquiatra Proletário e não gostaria que o ano acabasse sem que essa dívida ficasse saldada. O postal que se segue trata disso mesmo. Tinha ficado esquecido nos rascunhos e era pena.)

Camarada Psiquiatra Proletário,


Em resposta ao amável convite para presidir a não sei que rilhafoles revolucionário, começo por citar o camarada Cooper na sua obra vigorosamente delirante "A Gramática da Vida". Diz ele: «Em nome do orgasmo, que é o centro secreto da libertação, temos de realizar uma operação específica - temos de destruir os nossos pobres cérebros envenenados, decapitando-nos a nós próprios, o que, finalmente, nos levará de volta a uma vida perdida - e, depois, para a frente.»
E mais adiante, num delírio ainda mais galopante, o mesmo apóstolo da alucinação desenfreada proclama: «Temos de descobrir um ideal de orangotangos. (...) O orangotango é uma realidade permanentemente oculta dentro de nós. Temos de lançar para o mundo esse nosso interior oculto, através de um haraquiri existencial - e permanecermos vivos.»

Ora bem, camarada psiquiatra Proletário, antes duma qualquer decisão da minha parte, convém que alcancemos um consenso preliminar nesta questão fundamental: damos cabo dos nossos pobres cérebros envenenados através da auto-guilhotina com alçapão para uma vida perdida, ou através do haraquiri existencial com a ajuda do orangotango oculto?
Tudo isso em nome do orgasmo, naturalmente.

Parece-me que só depois desta problemática resolvida, poderemos avançar no Processo revolucionário em cuecas. Ou cueiros, para os mais juvenis. Mentalmente, como é evidente, quase todos.

Enquanto aguardamos douto parecer, aproveitamos para desejar um feliz natal e um próspero ânus novo.

César Dragão & Ildefonso Caguinchas

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Armários irrequietos




A Nação Sioux quer a independência . Eu acho bem. Até porque ou há moralidade ou comem todos. So o Kosovo merece e é uma urgência, porque não o Dakota e o Nebraska? Já é altura dos Estados Unidos, sempre tão pressurosos a semearem paisezinhos de conveniência na Europa, darem também o exemplo prático.

E também é mais que tempo de começarem a tomar o xarope que andaram a impingir por esse mundo fora. Só o gozo de ouvir o sioux rebelde afirmar:

Moral da história: É uma chatice quando os esqueletos não ficam quietinhos no armário e desatam a querer espernear cá fora.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Fantasia social



Como todos sabemos, uma das grandes injustiças e carências deste país é a falta dum "Dia Mundial Contra a Homofobia". Ciente dessa tremenda lacuna, a ILGA avançou com uma petição global que atingiu agora o Palramento português.

Da bondade desta iniciativa não me vou, por enquanto, pronunciar. Aproveito antes para elaborar acerca dalguns mal-entendidos mais que evidentes. Gritantes mesmo. E com estridência.
Começa pelo termo "Homofobia", que apregoam solenemente como sendo "ódio aos homossexuais". Ora bem, "fobia" não significa ódio, mas "medo" -"pavor", melhor dizendo. Portanto, se insistem no termo "homofobia", um "homofóbico" será alguém não com ódio, mas com pavor de homossexuais. Tendo pavor deles, não se percebe que terrível ameaça poderá constituir para os mesmos. Mais que inverosímil, é anedótico.
Se, como lhes convém, o que pretendem é denominar "ódio a homossexuais", bastaria adaptarem o "ódio aos homens" a "ódio aos homossexuais", convertendo assim "misantropia" em "misomia". O indivíduo que, por algum motivo misterioso, odiasse homossexuais seria "misomo" e não "homofóbico". Persistir num equívoco destes indicia, tanto ou mais que mimo, ignorância arrogante (passe o pleonasmo). Da mesmo forma, um tipo que invejasse homossexuais seria "homoftono"; e um qualquer outro que se enojasse deles classificar-se-ia como padecendo de escaromia. Vai contra as regras do marketing ideológico? Pois, mas é assim.
Esclarecido o conceito, passemos às razões engendrantes do mesmo. Existirá algum motivo excelente para alguém, no seu perfeito juízo, odiar homossexuais? Serão muitos o que se dedicam a esse ritual compulsivo? Existirá alguma coisa nos homossexuais que seja digna de ódio?
Pegando já na última... Digno de ódio, nos dias que correm, é só a pobreza, a fraqueza e o insucesso. E a independência. Além do Passado, esse canalha. Estamos aqui, naturalmente, a falar do grande ódio - do ódio cultivado, telebombeado, instituído. Ódio a sério. Ora, mais que uma opção sexual, a homossexualidade é, crescentemente, uma opção económica: a maior parte das pessoas optam por ser homossexuais porque isso lhes granjeia uma mais valia curricular. Ou seja, porque isso lhes facilita a vida em termos profissionais, sociais e financeiros, tornando-as mais ricas, mais fortes e mais bem sucedidas. Por conseguinte, mais dignas de estima e louvor. O que, diga-se, basta ligar a televisão, abrir um jornal ou escutar um qualquer opinadouro municipal, em qualquer dia do mês ou do ano, para constatar à exuberância. Conclusão: nestes tempos, a homossexualidade não é motivo de ódio, mas de simpatia. De faguice e ternura. Não canga nem labéu, mas trampolim e pedestal. E a única descriminação concreta que socialmente suscita é positiva e não negativa. Obstar-me-ão com os odiozinhos de faz de conta, as antipatiazinhas sobrempoladas que servem mais para imunizar à crítica e vacinar contra o escrutínio público do que para traduzir alguma realidade que se veja - o "ódio aos judeus", por exemplo, como paradigma mestre e catitão (um ódio que é ódio às segundas, quartas e sextas, e inveja nos restantes dias, com descanso ao sábado e dias santos). Bem, mesmo neste ambiente Peter-Pan, a lengalenga não pega. Se alguns judeus são homossexuais, não creio que a grande maioria o seja. Assim como grande parte dos homossexuais não são judeus. Resultaria daqui que apenas uma porção residual e insignificante de homossexuais seria digna de ódio/inveja. (Notem que não menciono aqui "mulheres" , "pretos" ou "ciganos", porque estamos a falar especificamente de ódio/inveja - nas mitologias urbanas dos israelofrénicos apenas os "judeus" são uma minoria digna de ódio/inveja, uma minoria superior; todas as outras, suas subalternas, são apenas dignas de desprezo ).
Quanto à quantidade de gente que se devota a este ritual singular e estapafúrdio do "ódio aos homossexuais", decorre implicitamente do anterior que se trata dum número deveras escasso de excêntricos e lunícolas. E nem sequer cultivam um ódio a preceito, mas, de soslaio, uma panóplia de emoções guturais que oscilam entre o asco, o menoscabo e a galhofa pegada.
Que sentido fazem então, no tempo actual, estas campanhas contra uma discriminação que, na realidade, não existe?
Uma noção fundamental que deve ser sempre levada em conta, para qualquer análise política, é a diferença entre o domínio da aparência e o domínio da essência dos factos; a vertente superficial e a vertente profunda das coisas. É só aparentemente que as tais "associações internacionais" lutam contra a discriminação dos homossexuais. Na essência, essa luta é uma campanha pela discriminação positiva dos homossexuais. Não todos os homossexuais, evidentemente, porque isso não existe - "os homossexuais" (como é duvidoso que exista "os judeus", "os pretos", "as mulheres"), mas uma minoria vanguardejante de activistas frenéticos e acólitos sindicalizados, arvorados locomotivas transcívicas - se bem que, na verdade, terroristas sociais que utilizam a "especificidade fictícia dos homossexuais" à maneira de refém, de escudo humano, ou seja, como argumento de arremesso e coacção política. Esta metodologia esquemática, se observarmos com alguma frieza e atenção, está presente em todos estes lobbies minoritários hodiernos. Em nome duma causa fictícia, urdem toda a uma constelação de efeitos perversos.
Entretanto, reconheçamos que faz o maior sentido que "diversas associações internacionais que lutam contra a discriminação dos homossexuais e ainda formações políticas com assento no Parlamento Europeu, como os socialistas, Os Verdes e o Grupo de Liberais e Democratas" proponham o dia 17 de Maio para Dia Mundial da tal Luta contra os gambosinos. Foi nessa data que a OMS "eliminou a homossexualidade da sua lista oficial de distúrbios mentais".
Significa isto que, desde o dia 17 de Maio de 1990, a homossexualidade, por decreto, deixou de estar confinada ao foro individual. O distúrbio pode assim alastrar da mente à sociedade. De fantasia mental, foi promovido a fantasia social.

Eu devo





«Sovando, curarei por toda a parte
se a tanto me ajudar o Engenheiro e a Arte.»


Fica a promessa, meus caros amigos.

Os meus direitos minguam todos os dias. Mas, em contrapartida, os meus deveres aumentam a cada noite que passa. É o meu sonho... Morrer, à maneira antiga, soterrado sob o peso dum dever esmagador. Atado a um leme, nem que seja nos braços da tempestade, até ao fundo do abismo.

Mais uma volta, mais uma viagem!...




PS: Os agradecimentos devidos e personalizados seguem dentro em breve, acompanhados das prendas de Natal.

terça-feira, dezembro 18, 2007

A Questão fundamental

Condição essencial a qualquer ser vivo, ou meio morto, ou meio vivo-meio morto, é o seu lugar de origem. O meu é Portugal. Sou um dragão made in Portugal. Genuí­no português... para a pobreza e a riqueza, na tristeza e na alegria, até que a morte nos separe! Ora, se este não é um belo assunto, então não sei o que será um belo assunto! Então, vejamos: qual é a caracterí­stica mais forte do português?... Esperteza saloia, mesquinhez, balbúrdia, burrocracia, inveja, superficialidade, bacoquismo, futebolite, hipocrisia?... É certo que estas abundam, mas serão realmente o vértice?... Não restam dúvidas que o português adora falar ao telemóvel e guiar o automóvel (de preferência as duas em simultâneo), mas quanto a mim há algo que ainda supera estas delí­cias e o deixa, mais que derretido, babado... Não adivinham? Eu digo: Mirar. Pois, mirar e remirar com a maior das gulas. O português não come com os olhos, empanturra-se. E não há dispepsia que o aflija: digere tudo! É uma gibóia insaciável, uma anaconda voraz. Mas nada de voyeurismos ou espreitadelas subtis, de soslaio, como quem não quer a coisa. O verniz não lhe quadra... gosta mesmo é de plantar-se defronte dos acontecimentos, das coisas e, sobretudo, dos desastres, das cenas degradantes e empanzinar-se, tirar a barriga de misérias, ou melhor, enchê-la! Não se pode exigir aos portugueses que apaguem incêndios, quando, na verdade, o que eles gostam mesmo é de vê-los, apreciá-los, na sua beleza feérica, catastrófica (e quem sou eu, dragão, para os criticar nesse caso especí­fico...)
Diante da própria casa a arder, o português deve ser único no mundo a experimentar sentimentos contraditórios: por um lado "ai que desgraça!,minha rica casinha!..."; por outro, "compõe-te mulher, vêm ali os senhores do telejornal!..."
Da mesma forma, é absurdo incitá-los a que se levantem da desgraça, da miséria mental e fí­sica em que vivem, qual país prostrado, rastejante, mendigabundo, quando, acima de tudo, o que eles mais gostam é de contemplar misérias, desgraças, ignomí­nias, hecatombes, nem que sejam as suas! Aliás, sobretudo as suas!... Para que quereriam eles um paí­s organizado, seguro, planificado, ordeiro: só se fosse para morrerem de tédio! Tanto mais, que nenhum sarrabulho lhes chega, nenhuma confusão lhes basta: mergulhados numa babel monumental, eis que anseiam emigrar para as áfricas ou brasis, só porque sonham que aí a balbúrdia ainda é maior!... E é, graças a Deus!...
O caso dos acidentes aparatosos e sanguinolentos (ou melhor será dizer, massacres?) nas auto-estradas serve de modelo alegórico... Quem já não assistiu às tripas do semelhante em exposição gongórica nestas galerias? E as filas de basbaques que logo se formam? E os desastres subsequentes, como que por simpatia (por simpatia mesmo) que, regra geral, se encadeiam? A malta a ver, a absorver morbidamente, com volúpia... a assistir, a esquadrinhar, a pesquisar, à cata de minúcias e detalhes, quanto mais escabrosos, sórdidos e repugnantes, melhor! Uma corja, sem dúvida. O português conforta-se na sua própria repugnância, engrandece-se e regozija-se na proporção directa da desgraça alheia. O seu bem, a sua sorte, só são reconhecí­veis, assinaláveis a partir da desgraça e do azar dos outros. Puta de gente! E eu, apesar de dragão, sou um deles. Ninguém escapa: vem com o Tejo, os sobreiros, o azul único do céu e tudo o que faz com que este lugar seja este e não outro. Os gregos chamavam-lhe "moira"; nós chamamos-lhe "destino".
Não deixa de ser irónico: os portugueses embasbacados diante de misérias e desgraças, e eu embasbacado diante deles e de mim próprio (ou sejam, outras misérias e desgraças que tais)...
Mas felizmente há o riso! e este meu dragoscópio, que dá para ver tudo e mais alguma coisa!...E que vejo eu, Dragão, nos portugueses, através do meu dragoscópio?...
- A desgraça que é ser português..., pensais vós...
Desgraça?! Não me fodam!, desgraça mesmo era ter nascido americano!...


- Foi assim, há quatro anos inteiros, que aqui o lança-chamas rompeu as hostilidades. Só se perderam as que caíram no chão.

Hilaryedades

Hilary-ante toon. (clique e veja...)

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Breadjacking

«World food price rises to hit consumers».

Não tarda muito, começam os assaltos às padarias. Carcaças e cacetes, bem como pães saloios, serão transportados em furgões blindados, das empresas de segurança especializadas em Transporte de Valores. Temo bem que a seguir ao Carjacking irrompa o Breadjacking.

O Caos premeditado







No entanto, nós, que já passámos por idênticas - se bem que não tão açougueiras - balbúrdias e vamos mais adiantados no processo, podemos garantir ao senhor Chefe da Polícia de Basra que, mais que compreensivo, está a ser ingénuo. O processo de democratização é isso mesmo, ó caro amigo. Na essência, despido de maquilhagens e coberturas, consiste em escaqueirar um país em seitas, tribos, partidos e facções de energúmenos patriofóbicos e velhacabundos, todos eles fanatizados ao único e alarvajante intuito de submeter a desgraçada nação à mandíbula e respectivo aparelho digestivo do seu divino bando. No fundo, é devolver a civilização aos seus charcos embrionários.

Portanto, caro Khalaf, anime-se! Não é nenhum imprevisto fortuito: é mesmo assim. Não é A-cidente, é O-cidente. Bem vindo!


(Esta coisa de "injectar a democracia" sempre me fez lembrar a picada necróptica da aranha-reclusa. O veneno é um solvente dos tecidos orgânicos da vítima que actua de modo a propiciar a absorção. Com tal arte e liquidez que, depois, a aranha nem digere: ingere.)

Upgrade

«Em Espanha, 1,2 milhões deixaram de fumar em dois anos.»

Passaram a snifar cocaína. Ou a emborcar fármacos. É o progresso. E não polui.


PS: Faltou dizer o mais edificante: nova vitória, outra machadada significativa no Aquecimento Global. Sim, porque o pior, como todos sabemos, não é o tabaco matar: é derreter os polos.

domingo, dezembro 16, 2007

Tapetes e Armários

Manuel Fernandes Cabelo Empastado era de direita. Fernando Manuel com Dry-Look era de esquerda. Nandel Ferman com Meda Capilar era anglodemocrata liberal.
Naquele dia, discutiam o local onde deveria decorrer o próximo jantaréu de confratricidiação.
-“Em casa do Manuel Fernandes não pode ser!” – Proclamava Fernando Manuel. – Tem os armários cheios de esqueletos!... Aquilo dá calafrios. Um tipo nem se consegue concentrar nos argumentos, quanto mais na tese!...”
-“Bem, na do Fernando Manuel também não entro! – Ripostou o acusado . – Debaixo dos tapetes e da carpetes é só ossadas. Um tipo não anda, crocanteia. Já não falando atrás de televisão, que mais parece um aterro carcaçário. Impossível debater num tal necrotério!...”
-“Jantareia-se na minha. – Conciliou Nandel, afagando a trunfa. – Garanto que nem os armários nem os tapetes hospedam tais horrores. E na véspera, podeis ficar desde já seguros, mandarei fazer uma desinfestação, logo seguida de esterilização e aromoterapia.“
Tentados pela propaganda, até porque nunca lá tinham estado, Manuel Fernandes e Fernando Manuel concordaram. Seria em casa de Nandel Meda Capilar.
Foi assim que no dia combinado, à hora costumeira, Manuel Fernandes Cabelo Empastado e Fernando Manuel com Dry-Look compareceram em casa de Nandel Ferman Sobrejuba Pujante, para o sarau logomáquico.
Numa apresentação prévia do imaculado palco, Nandel esmerou-se a exibir a higiene completa que reinava em armários e tapetes. Nem sinal de esqueletos; nem resquício de ossadas. Tão pouco odores ou aromas nauseabundos, sequer longínquos; ou gemidos subterrâneos. Tudo aquilo estava um brinco de meter inveja a uma enfermaria vip. Mesmo do sótão, por mais que apurassem os ouvidos, nenhum rumor de fantasmas acorrentabundos gotejava.
A única minudência vagamente contraditória deste estado idílico aconteceu quando Manuel Fernandes cabelo empastado, no seu jeito impetuoso característico, abriu subitamente uma porta e levou com uma autêntica avalanche de ossadas e restos humanos variados em cima. De facto, num aluvião inaudito, centenas de peças dum qualquer puzzle esquelético, claramente armazenadas em regime de ultralotação, irromperam pela nesga aberta.
Enquanto os bombeiros não chegavam para resgatar o rival ao desmoronamento, Fernando Manuel aproveitou para zurzir sardonicamente o dono da casa:
-“Ah, com que então não tinha esqueletos no armário!... Grande aldrabão!... Não tinha era poucos.”
-“Desculpe, mas não menti! Era a pura das verdades! – Protestou Nandel, serenamente. – Disse que não tinha armários com esqueletos e, como, aliás, tinha acabado de mostrar, nem um metatarsozinho de criança neles consta!...”
- “Ah, mas ainda insiste no tremendo mentiroteio... É preciso ter uma distinta lata!- Escandalizou-se Fernando Manuel com Dry-Look. – Então, este monte de osteo-entulho que acaba de desabar em cima do Manuel Fernandes cabelo empastado, jorrou de dentro de quê? Foi só ele abrir a porta e catrapumba!...”
- “Pois, precisamente. – Tornou Nandel Trunfa Levedada. – Isso só corrobora o que acabo de dizer. A porta que ele abriu não é de nenhum armário.”
- “Ora essa!, não é de nenhum armário?!!”
- “Não. É da casa-de-banho."

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Corin Telhados ou o Talking Ed

Um leitor pede-me um comentário sobre isto. O Isto é mais um fascículo do Corin Telhado que vem decorrendo, em ritmo alucinante, na ornitorrincolândia.
Caro e estimado leitor "E disse", como Vosselência fará a fineza de calcular, não são contas do meu rosário. Todavia, e por mera consideração ao seu interesse, lá dei uma vista de olhos. Do que pude perceber da enormíssima meda retrogurgitada, o autor, um tal Tiago qualquer coisa (a quem a turbo-Câncio, ainda recentemente, em mais uma daquelas bizarrias em que é prolixa, ardia em frémitos de lambuzar os cascos), pois este Tiago, afinal, segundo barafusta e contesta, não teria qualquer nem malmequer intenção de ofender ou sequer sanear o outro, o triple-A. Mas apenas, conforme jura a patas juntas, se pretendia queixar ao treinador do trote anacrónico daquele, que, cismada e porfiadamente, teimava em trotar para a direita, enquanto ele, Tiago puro malte, se matava e esfalfava a galopar para a esquerda. Ora isto, como é justo reconhecer, criava um tropel embaraçoso, quando não estapafúrdio e empatafucescido (termo que V.Excª escusa de procurar no dicionário, pois acaba de ser inventado). Abreviando, não era do blogue que pretendia expulsá-lo: era apenas da quadriga.
Enfim, picardias de picadeiros, quezílias e mariposeiras de hipódromo. Nada que uma mescla adequada de chicote e torrão de açúcar não resolva.
Tenha, Vª Excª, meu caro leitor, um bom Natal e um Novo Ano atestado de esplendores e conquistas.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

A Admirável Escola do Amanhã




Um vislumbre da "escola pública" do amanhã:



Traduzindo: o Estado, depois de assumir as prerrogativas de Deus e da Pátria, abalança-se agora à substituição da Família. A Trilogia tradicional virou amálgama bur(r)ocrática. Universão globoscópica.

Era sobre tudo isto que profetizava a "Laranja Mecânica". O Totalitarismo laico e balalaico. A higienização social sob os augúrios da fantasia determinista da fabricação uniforme... de sociopatas.
Tenho um belo nome para tudo isto: Parafascismo.

Tratado da saúde

Depois duns marçanos quaisquer terem assinado não sei o quê, está para ali uma tipa aos gritos no caixote televisivo...
É a cacofonia depois da cacografia.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

O Índex



Anteontem aconteceu-me um episódio intrigante:
A partir do Portugal Contemporâneo, carregando no link do Rua da Judiaria, tentei aceder a este último. O resultado (que podeis comprovar) foi este:
Forbidden
You don't have permission to access / on this server.
Apache/2.0.59 (Unix) Server at ruadajudiaria.com Port 80


Que raio significava aquilo? Significava que os visitantes do Portugal Contemporâneo estavam interditados de visitar o Rua da Judiaria?

Para tirar dúvidas, fui ao Blasfémias e linkei o da Judiaria a partir de lá. Abriu na perfeição. Pude, mais uma vez, deleitar-me com as maravilhosas, inteligentes, nada racistas, nada tribalistas e ultra-tolerantes, bem como elevadas, catitas e supimpas postas que o Josué sempre nos disponibiliza. Portentos de clarividência, verdades refinadíssimas, cognociências sofisticadérrimas e fervilhantes, como por exemplo "que anti-semita não leva hífen" (ou que a javardice mais reles, em sendo perpetrada num cemitério judeu, ascende automaticamente a terrorismo).
Como determinam as regras da boa ciência, depois do Blasfémias fui ao Timshel e ensaiei o mesmo procedimento. Com idênticos resultados.
Vários blogues depois, todos eles unânimes nos resultados, fui forçado a concluir que, por algum lúgubre - mas histriónico - motivo, o Portugal Contemporâneo tinho ido parar a um qualquer Índex e disse para com os meus botões: "sacana do Arroja, hein, já tem direito a estes miminhos e eu nada!"

Até que ontem, a título de novo teste científico, no último postal cá da casa, coloquei um link para o Inefável Josué, na tal Rua da Judiaria. Experimentem clicar em "hanuká"... E - ó maravilha! - lá resplandece a gloriosa tabuleta:
Forbidden
You don't have permission to access / on this server.
Apache/2.0.59 (Unix) Server at ruadajudiaria.com Port 80

Ah, a volúpia de ser indexado!
Tenho que confessar publicamente que coisas destas me dão um especial gozo. Até aqui, já havia uns não sei quantos filisteus sonsos que se tinham dado à distinta trabalheira e ao adjunto "blogo-higienismo" de me deslinkarem. Não fosse aquilo, o linquezito de merda, de algum modo, prejudicar-lhes a maquilhagem. Torná-los suspeitos aos olhos da manada. Mas agora, é um novo degrau para a apoteose. A patetice foi superada pelo ridículo.
No entanto, que fique bem claro: o Nuno Guerreiro Josué tem todo o meu beneplácito nestas atitudes de coquetismo ultrajado e enxofradinhice militante. Cada qual dá o passo que o tamanho da perna lhe permite. Apenas lhe recomendo, ou a alguma alma caridosa que o informe, que o melhor é barrar todos os linkes. Fechar-se numa concha hermética e solipsista. Descalçar o calçado solípede, largar as cavalgadas e trancafiar-se num ciber-claustro, inexpugnável a todos e quaisquer acessos, imune aos intrusos. Caso contrário, em havendo atalho e boleia, eu vou continuar a penetrar-lhe o rilhafoles, o farisódromo ufano donde, por vício de que já não abdico, continuarei a extrair barrigadas de riso.
Inveja, Josué? Ódio? Glosando um filósofo alemão, vosselência, como quase todos nós, não é digno nem de inveja, nem, ainda menos, de ódio: é apenas digno de pena, muita mesmo. Quase tanta quanto de riso.

terça-feira, dezembro 11, 2007

O Holocausto Americano (qual Darfur, qual carapuça!,,,)



Pois é, meus amigos, o horror não acaba. Depois dos alemães lhes terem dado cabo dos corpos, andam agora os americanos a dar-lhes sumiço às almas. Mas como é que isto pode estar a acontecer mesmo debaixo dos nossos narizes nada aduncos? Que hedionda e sub-reptícia metodologia o consumará?
O Rabi explica: Assimilação! Arrepiemo-nos todos: se os alemães os concentravam e gaseificavam, os americanos ainda fazem pior: assimilam-nos. Ao ritmo de 1000 por semana. Voracidade não lhes falta. Estão bulímicos!
O Rabi Lazer Brody anda preocupado, direi mesmo alarmado, e com razão.
Agora a parte mais suculenta:
Quer dizer, se não põem travão urgente ao êxodo das almas, a seguir pagam com os queridos corpos. O G-diesel encarrega-se de mandar um tirano daqueles fresquinhos. Se não vai a bem, vai a mal.

Numa outra mensagem pungente - e extremente divertida, havemos de reconhecer - o Rabi Lazer expele mais revelações formidáveis:
Cá está! Helenismo, esse veneno ancestral. Esse inimigo figadal. O malandro do Homero sempre a fazer das suas.
Tudo isto faz imenso sentido. Se na generalidade do ano, o Rabi anda nervoso e angustiado com a contaminação helenista, em chegando o Natal fica à beira dum ataque de nervos. O nascimento do "tal" irrita-o sobremaneira, contende-lhe com a veneta. Ainda mais quando, por via da assimilação, parece que há judeus que já metem árvores de Natal em casa. Putas ainda vá, agora árvores de Natal... Anátema!, proclama o Rabi Lazer, «Jews plant trees: We don't chop them down, and we certainly don't put them in our homes».
O que o rabi recomenda nesta altura do ano, com devoção reforçada, é o Chanuka. Nada de misturas. O Chanuka é que ilumina devidamente. Ou Hanuká, como proclama Nuno Josué, o judeu profissional cá do bairro. Muito provavelmente, um fervoroso acólito do Rabi Lazer.
Termino com um apelo. Aos americanos: "Oh pá, párem lá com isso, com esse tremendo holocausto! Isso não se faz, pá!... Quanto mais não seja, pensem no amanhã dos vossos filhos e netos, olhem as indemnizações. Se não vos entra na cabeça, vai-vos sair do bolso!..."


PS: Já agora, aproveito para desejar um Feliz Hanuká ao Nuno Josué. Que o seu G-diesel lhe dê muita saúde, a si e a todos os seus congénitos, por muitos e bons anos, que gente assim divertida, e que me faça rir tanto, nenhum outro planeta deve ter.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

A Cimeira

Não tenho nada de especial contra ajuntamentos festivos de marionetes, títeres, anõezinhos e insectos rastejantes. Desde que, claro está, não sejam às expensas do erário público e se intitulem, enganosamente, de "cimeiras".
Uma humanidade com cimos daqueles é uma planície a putrefazer-se.

Os comentários ficam a vosso cargo...

A hilariante fotogaleria da Hilária...

A minha preferida também é a seguinte:



Mas esta também não está mal:

domingo, dezembro 09, 2007

Os paisanos e a paisagem (rep.)


Força-me a um reparo essencial:
Os embriões, os pobres, os deficientes, os idosos, vá lá, ainda dou de barato - quanto mais não seja, enquanto bibelot retórico. Agora os "menos capazes", francamente, não sei que mais é que o Timshel, ou quem quer que seja, pode reivindicar para eles. Do governo central ao poder autárquico, da administração pública à gestão desportiva, das forças de segurança às fraquezas armadas, os "menos capazes" já açambarcam praticamente todos os cargos de chefia, vice-chefia, direcção, gestão, ministério, assessoria e coiso-e-tal da nação (corrijo, da "nacinha"). De facto, a densidade de "menos capazes" nesses meandros inefabilíssimos, estou em crer, só será suplantada por certas aglomerações mirmitónicas geralmente conhecidas como "marabunta".
Por conseguinte, a fazer fé nesta fantasia "timsheliana", fruto certamente dum cocktail explosivo -e seguramente alucinogéneo - de hóstia consagrada com Pet Shop Boys, Deus o abençoe, Portugal, sem sombra de qualquer dúvida, lidera o pelotão ufano do "igualitarismo supino". Aliás, se juntarmos aos "menos capazes" triunfantes, todo o enxame coalescente - de "indigentes mentais", "pobres de espírito", "tetraplégicos morais" e "caquéticos juvenis" - que os reforça, apaija e inexpugnabiliza, então, mais que na liderança galharda, a Lusitónia pedala já, isolada, qual locomotiva resfolegante e toirabunda, em fuga desarvorada ao pelotão. Ou seja, da supremacia mundial abalança-se, com todo o seu arcaboiço boçal, à hegemonia avassaladora do planeta, os dois polos incluídos.
Isto deveio mesmo um país de tal modo igualitário, que colocar na presidência ou no governo um doutor-engenheiro ou um trolha das obras é rigorosamente indiferente, igual ao litro. Qualquer badameco lustroso que só aparentemente desfila, acelera e telefona na postura vertical, neste cóio de mediocridade soberana, neste ambiente de terraplenagem cultural, neste império da sabujice exo e endomilitante, ninguém duvide, pode ser ministro, secretário-geral, nababo, empresário-deus, PCA, vedeta, campeão, barão do jet-set, presidente da câmara, da república da Igreja Universal do Chuto na Bola, tudo! É claro que nem todos podem ser ao mesmo tempo, mas se houvesse tempo podemos estar certos que todos acabariam por exercer à sua vontade. Aquilo exala, mas turbilhoneia. Numa espécie de vórtice, de buraco-negro, de ralo hiante e centrípeto.
Não entendo pois a luta preocupada do meu bom amigo. O seu afã na instauração de algo que já existe e resplandece por toda a parte.
Em bom rigor, desfavorecida, aqui, só já se vislumbra uma pobre e desgraçada entidade: este pedaço de chão - sob este bocado de céu a velar esta míngua de esperança -, que padece conspurcado e flagelado por uma tão sórdida e descategorizada amostra de gente.
É que tais paisanos já nem na paisagem se integram: estragam-na.

PS: Musicalmente, se eu mandasse, este gajo, o Timshel, era logo internado num Campo de Concentração. Mas politicamente, não obstante a fábula esquerdista em que se fantasia feito fado dos subúrbios, devo reconhecer que é um castiço. E para arranjar motes, não há melhor.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Showbiz




O ubíquo e regimívoro Júdice, um dos abichadores mais bem sucedidos da nacinha, proclama que «se o mandato de Rogério Alves foi uma tragédia, o de Marinho Pinto será uma tragédia ao quadrado."»

Deve ser para compensar da opereta bufa que os antecedeu. O público até agradece: depois da arlequinada histriónica, cai sempre bem o drama de faca e alguidar.

Falta de ocupação, isso sim.

«Opinar sobre a sexualidade alheia é falta de educação», diz o Rui, num postal absolutamente certeiro que subscrevo integralmente, à excepção desta frase inaugural. Porque eu, com franqueza, diria diferente. Diria que, mais do que falta de educação, revela falta de ocupação e falta de sexualidade própria. E isto todo o "opinar" - não só sobre o pinar alheio, mas sobre tudo e mais alguma coisa. Acho que, bem vistas as coisas, a blogomania transformou-nos a todos num bando de comadres quadrilheiras, a gralhar à janela - e ao despique - a telenovela da TVI em que se transformou este país e, para guião dele, o próprio mundo. Sou sincero e por mim falo: acabo de escrever este postal apenas porque não possuo meios de fortuna para estar neste momento a rebolar-me com duas ou três ucranianas. Ou, pelo menos, com uma. Se houvesse já não direi justiça mas um mínimo de decência neste país, esta porcaria de estado parasita (que delapida o dinheiro dos contribuintes pobrezinhos com hordas de chulos e sanguessugas) armava-se de dois pingos de vergonha nas fuças e atribuía-me um justíssimo subsídio para tão indispensáveis fins. Medrava a humanidade e ganhávamos todos: ganhava eu, que me sentiria devidamente recompensado em vida; ganhavam as ucranianas, que seriam fogosamente afagadas até à morte (minha, claro está); e, sobretudo, ganhavam as pessoas que não teriam que arcar com o flagelo de ler os meus postais, os quais, tudo ponderado, não passam de escape para a minha legítima indignação, e retaliação pertinaz e juramentada ao, para além de gatuno, ignóbil incumprimento estatal. Dos milhares de milhões de injustiças que - a todos os minutos - se perpetram por esse mundo fora, e são todas elas clamorosas, nenhuma chega aos calcanhares desta. Pode até parecer que me insurjo e barafusto com as outras, mas é apenas esta que me preocupa. Onde está o meu subsídio? Repito -e jamais me calarei! -: onde pára a renda mensal a que tenho pleno direito? Em que pedofilias, sado-masoquismos, chuvas douradas, bichanices e outras mixórduras que tais, andam - os tarados que nos desgovernam - a gastá-lo?
PS: Notem que a pergunta final é retórica.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Debate de ideias




Para os vários candidatos a torcionários-bem que militam na blogocoisa, avisa-se que já está disponível on-line o Manual de Detenção, Encarceramento e Disciplina para Terroristas, tal qual se pratica em Guantanamo, o Bom-Gulag. É só consultarem ou descarregarem na Wikileaks, o Guantanamo Bay SOP manual.
Na fotografia em epígrafe, podemos reconhecer, prototipificados, os portadores de "ideias adoráveis" (a camuflado) partilhando com os portadores de "ideias execráveis" (a laranja) duma amena e civilizada sessão de grupanálise. Enquanto os segundos meditam, os primeiros explanam e supervisionam. O debate harmonioso é assim.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Filhos duma punheta menor

É uma história real.

Duas lésbicas decidem brincar às casinhas. Reunido o apartamento, a mobília, o trem de cozinha, o kit de bricolage, o jogo de godemichés, só faltam os nenucos. De preferência reais, daqueles que se mexem sozinhos. Nada mais simples: contratam um dador de esperma e uma delas, a que faz de mulher, engravida por inseminação artificial. A que faz de marido rejubila e apoia. O dador, um bombeiro de Enfield, no Norte de Londres, alivia-se para um frasco e não pensa mais nisso.~

Nos dois anos seguintes, com a bênção da ciência e o bafo presepial da modernidade, nascem um menino e uma menina . E emergem os primeiros desentendimentos, proliferam desavenças. A lésbica-marido, além de não lavar a loiça, não quer mudar fraldas. Começa também a ter ciúmes dos brinquedos da outra. Eu podia continuar o romance, mas não tenho tempo. Vamos directos ao epílogo: ao fim de quatro anos, o casal realiza a finalidade do matrimónio hodierno e divorcia-se.

A questão que vos coloco é a seguinte: quem assume a pensão das crianças? Sendo que as crianças são entregues, por princípio, à mãe - à lésbica esposa -, responder-me-eis que compete à lésbica-marido assumir essa responsabilidade. Como, aliás, é da praxe. Pois; eu também apostaria assim. Mas não. Estamos todos enganados. Quem se lixa é o bombeiro. Não acreditam? Então leiam com atenção:


«A man who donated sperm to a lesbian couple is being made to pay child support, despite having no involvement in the children’s lives.
Andy Bathie, 37, a firefighter from Enfield, North London, provided the sperm after being assured by Sharon and Terri Arnold that he would have no personal or financial involvement with the children. But now he is being forced to pay thousands of pounds in maintenance by the Child Support Agency, although he has no legal rights over the boy and girl, aged 2 and 4, born to the couple, who have now split up.
»


E lixou-se, o bombeiro, por duas boas razões:

1. Por a punheta não ter sido anónima;

2. Porque a luta dos activistas LGTB é uma luta por direitos, não é uma luta por deveres.




terça-feira, dezembro 04, 2007

Degenerado

«Chimpanzés venceram humanos em teste de memória»


Penso que isto coloca sérios embaraços à Crença evolucionista. Afinal, multiplicam-se os escandalosos indícios de que o homem não evoluiu do macaco: degenerou.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

O Abominável Ad Hominem das Névoas



Rebentou a peixeirada na Atlântico. Num tique-tanque daquela dimensão, com tal volume de águas, não é de espantar. Mas isso, digo já, pouco me interessa.
Bem mais interessantes, sempre vos digo, foram alguns efeitos colaterais. Aproveito um desses, do sempre inefável João Miranda (que já estava decerto com saudades minhas), para dilucidar acerca dum apetrecho que não há cão nem gato que, a cada quarto de hora, não sacuda e alguidareje aqui na blogolândia: o dito cujo, e abominável, ad hominem.
Legisla, então, o João (e memorizemos):
«Os Ataques ad-hominem são
1. falta de educação
2. denotam falta de argumentos
3. denotam incapacidade para sequer perceber o que é um debate de ideias.
4. Revelam um total desconhecimento de uma boa teoria da informação e do conhecimento.»

Ora bem, começo por declarar que não sei a que arte marcial o Miranda se refere quando soletra "ataques ad-hominem". Das que conheço, e ainda são uma quantas, não faz parte. Nunca por lá a vi, tal técnica, golpe ou kata. Não é kung-fu, não é Jiu-jitsu, não é Karate, não é judo, nem é muay-thai. Nem muesli. Também não é boxe. Será wrestling? Será xadrez - uma variante sinistra anti-siciliana ou um truque rococó do gambito de dama? Será luta na lama? Será na cama? Sutra? Bruta? Gruta? Será luta livre, digo liberal? Será esgrima? Será play-station? Será playback? Ou play-adiante? Será tourada? Será lambata? Street-fight? Street-racing? Break-dance? Luta de galos? De frangos? De quê? Ocorre-me agora: será Vale-tudo? E há só para hominem, ou também há para senhorem? E para gajem?... Será murro, pontapé, cabeçada?... Raid, razia, cerco, carga tresloucada?...
Enfim, por mais voltas e manivelas a que submeta a cachimónia não vislumbro a que ciência trauliteirante pertencerá esse temível - bem como vil, reles, ordinário e badalhoco - "ataque ad hominem". Será uma fórmula erudita, muito erudita, para descrever o tão célebre quão famigerado coice às partes baixas, vulgo tomates? O Engenheiro Ildefonso Caguinchas já me está para aqui a buzinar aos ouvidos: "O que o gajo quer dizer é que 'há-dominó', pá!", mas o engenheiro, como todos sabemos, não é de confiança.
Declaro-me vencido. Não sei que arte marcial, jogo ou desporto colectivo será.
O que conheço, muito vagamente (e sem ser no sentido bíblico, naturalmente) é o "argumentum ad hominem", também conhecido por "ex concessis". Schopenhauer, no seu tratado erístico, até o denomina por Estratagema 16 e descreve-o da seguinte maneira: «se o oponente faz uma afirmação, deve procurar saber-se se ela não estará de algum modo, nem que seja aparentemente, em contradição com algo que ele disse ou admitiu anteriormente, ou com os princípios de uma escola ou seita que ele haja aprovado e elogiado, ou com os actos dos adeptos de tal seita, quer sejam sinceros ou não, ou com os próprios actos e pretensões dele. Por exemplo, caso ele defenda o suicídio, deve bradar-se logo: "Por que não se enforca?" Se ele sustentar por exemplo que Berlim é um local inóspito, diz-se-lhe: "por que é que não parte na primeira carruagem?"»
Mas decerto não é a isto que o João Miranda se pretende referir. Pela descrição que faz, sobretudo no ênfase primogénito à "falta de educação" (a subentender quiçá o ataque pessoal), só me ocorre aquele que Schopenhauer, no mesmo tratado, cataloga como "Último estratagema". É o chamado argumentum ad personae, descrito assim: "quando percebemos que o oponente é superior e que não iremos ganhar, tornamo-nos pessoais, insultuosos, grosseiros. Tornar a questão pessoal consiste em passar do tema da disputa (uma vez que se perdeu a partida) para o próprio oponente, atacando a sua pessoa de todas as maneiras possíveis: poderia chamar-lhe argumentum ad personae para o distinguir do argumentum ad hominem (...)"
Em todo o caso, vou conceder que, por limitações do google ou da wikipédia, se integre o argumentum ad personae num sub-departamento do argumentum ad hominem. Mesmo assim, ao recapitularmos o diagnóstico joão-mirandês, ver-nos-emos constrangidos às seguintes objecções:

1. Não é forçoso que o argumentum ad hominem constitua falta de educação; apenas no caso de resvalar para o argumentum ad personae é que isso eventualmente acontece (e amiúde ocorre, como foi agora o caso);

2.Não denota "falta de argumentos" porque ele próprio é um tipo de argumento. O que denota é uma falácia, caso aquele que o emite seja grosseiro bastante para não saber mascará-lo e aquele que o recebe seja subtil o suficiente para dele se aperceber. Se for o contrário, subtil o emissor e grosseiro o receptor, o resultado, geralmente, é este último remeter-se à rosnadela desconfiada ou ao silêncio confuso; se ambos forem grosseiros, o mais provável é aquilo degenerar em peixeirada ou ciber-rixa. Por outro lado, o facto de ser falacioso não constitui entrave ou objecção especial ao utilizador, seja ele grosseiro ou subtil: não consta que o caro João Miranda seja muito escrupuloso no recurso a falácias (o facto de serem por regra subtis, justiça lhe seja feita, apenas abona da sua solércia, não tanto da sua honestidade intelectual);

3. Também não é imperioso que denote "incapacidade para perceber sequer o que é um debate de ideias", porque as pessoas não são anjos armados de razão pura, nem, tão pouco, máquinas calculadoras de silogismos, andaimadas em "critérios de verdade" ortopédicos à maneira dos fedelhos com arames na dentuça. Não são conhecidos, até à data, ambientes ultra-pasteurizados para o debate. Os "argumentos" são, por isso mesmo e invariavelmente, das academias às tabernas, manifestações mais de vontades, birras, intuições, manias, interesses, modas e preconceitos do que de "razões purinhas e lavadinhas" que, desde o senhor Immanuel Kant, nenhum pensador com os alqueires bem medidos resgata ao reino cristalizado da fantasia (onde pertence, entre outros, na ala dos perigosos, o delírio neo-positivista); e com certeza, vosselência, um ultra-liberal encartado, não me vai requerer uma explicação para esta preponderância do "interesse" e do "egoísmo" sobre as acções dos indivíduos (a não ser que me diga que um debate é uma inacção...);

4. Finalmente, se o "desconhecimento de uma boa teoria da informação e do conhecimento" impede o debate de ideias, não se percebe que raio andou a humanidade a debater, por exemplo, no tempo de Platão ou Aristóteles. Calculo mesmo que Platão nem terá tido tempo para debatê-las, assoberbado que estava a concebê-las. Na vintena de séculos seguinte também não houve debate, porque, entre outras coisas, ad hominem é um termo inglês, pelo que não tinham como arremessá-lo uns aos outros.

Falta apenas acrescentar que o argumentum ad hominem, além de não ser necessariamente uma falta de educação para com o alvejado, pode também nem ser sequer uma falácia.
Exemplifico:
Se eu proclamar que "o João Miranda é um asno" estou a usar um claro argumentum ad personae que, além de falacioso, é grosseiro. Profiro, sem dúvida, um insulto ao João. Tem lá as suas manhas , mas não evidencia, pelo menos dum modo escandalosamente acima da média nacional, ser burro nenhum. Mas se eu disser: "o CAA é um bácoro" não estou, de modo algum, a usar um argumento ad personae: estou, isso sim, a esgrimir um argumentum ad pecum, isto é, estou a ser injusto e grosseiro para com o suíno. Do mesmo modo, se eu afirmar que a Câncio é uma turbo-sopeira frenética estou, definitivamente, a usar dum argumentum ad personae, mas não estou a ser falacioso nem injurioso, porque, simplesmente, estou a dizer a verdade. (Não a verdade absoluta, bem entendido, mas a verdade possível de extrair duma observação científica, com quanta certeza, rigor e minúcia o conhecimento humano actual disponibiliza ao entomólogo).

Também tenho direito às minhas bizarrias e hoje deu-me para ser pedagógico.

Jurisdição

«AMERICA has told Britain that it can “kidnap” British citizens if they are wanted for crimes in the United States.
A senior lawyer for the American government has told the Court of Appeal in London that kidnapping foreign citizens is permissible under American law because the US Supreme Court has sanctioned it.»


Não vejo onde está a admiração. Qualquer país tem plena jurisdição legal nas suas colónias.

sábado, dezembro 01, 2007

O Amanhã que afinal não cantou: abortou.

«No que respeita à estrutura do Estado, ao que se relaciona com as suas "liberdades" e "democracias", os homens do KGB muitas vezes contam anedotas pelas quais um vulgar mortal seria imediatamente sentenciado ao abrigo do Artigo "Difamação contra o Estado soviético e a ordem social". Eis uma dessas anedotas:
O filho de um membro bem colocado do Partido não trabalhava bem na escola. Tinha particular dificuldade ao estudar a estrutura do Estado. Não conseguia meter na cabeça o significado das diferentes concepções como Partido, Pátria, sindicatos e povo. Não querendo que a sua própria autoridade sofresse, o pai decidiu ensinar o filho. Durante duas horas, tentou em vão ensinar ao filho o que significava Partido, Pátria e povo. Tudo foi em vão; o filho não compreendeu. Então o pai decidiu usar métodos práticos. "Bem" disse, "eu sou o Partido, a tua mãe é a Pátria, a tua avó é os sindicatos e tu és o povo". E com a ajuda deste esboço, começou a explicar tudo desde o princípio. Mas o filho ainda assim não compreendeu. Furioso, o pai pôs o filho de castigo num canto durante horas. Mais tarde, esqueceu-se dele. Tudo isto se passou no quarto, infelizmente. Durante a noite, o pai começou a fazer amor com a mulher. Vendo-os do canto, o filho lembrou-se da avó que dormia no quarto ao lado, e pensou para consigo: "Mas que vida! O partido viola a Pátria, os sindicatos dormem e o povo tem de sofrer!"»

- Aleksey Myagrov (Oficial da 3ª Repartição), "Eu pertenci à KGB"

Simbiose

Conta a mitologia, que Zeus, para bem seduzir Europa, se transformou num touro branco. No século vinte, a plutocracia americana fez melhor: transformou a própria Europa numa vaca multicolorida. Que ordenha quando mais lhe convém ou necessita. No resto do tempo, o animalzinho pasta e repleta os úberes.

sexta-feira, novembro 30, 2007

Não há duas sem três

Acho imensa piada aos analistas europeus (e, mais que todos, os nacionais) que proclamam a crise económica nos Estados Unidos como se de um problema dos Estados Unidos se tratasse. Como se isso os preocupasse muito, aos americanos. Como se isso lhes tirasse o sono ou ameaçasse rebocá-los a sabe-se lá que precipícios ou íngremes despenhadouros. Há realmente uma amnésia incutida e cultivada em toda esta boa gente. Só isso pode explicar como teimam em não perceber o óbvio: a crise é deles, mas o problema é nosso. Sobretudo da Europa. Aliás, nem era preciso perceber, bastava que não esquecessem com tanta sofreguidão.
Pois se funcionou das outras duas vezes, porque não há-de funcionar desta?
No Kosovo, no Golfo Pérsico, algures, mais tarde ou mais cedo, hão-de arranjar fricção até que salte a faísca. Depois, como de costume, é só trocar a gentinha em excesso pelo rendimento em falta.
Até lá -e suspeito que já não demora muito -, há que aproveitar o espectáculo. Principalmente destes pitorescos rebanhos de geopalhíticos de aviário que por toda a parte balem e retouçam. Compensam a descabelice medieval da mundovisão simbólica - "este é o Reino do Mal e Satã o Príncipe deste Reino" -, com a globovisão patetinha, de barbies maquiabúlicas e maquiangélicas em perpétua viagem, física e mental, por uma excitante disneylândia. Ainda não perceberam com quem estão metidos.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Provérbios impopulares do Dragão

· Nem tudo o que lês é ouro
· Tristezas não apagam dívidas
· Vêem-se caras, não se vêem cotações
· Devagar se vê ao longe
· O silêncio é de outro
· A cavalo doido não se molha o dente
· Não guardes para amanhã o que podes foder hoje
· Os umbigos são para as ocasiões
· Em tempo de guerra não se limpam Karmas
· Cada maluco com a sua maria
· Cão que ladra não fode
· Contra flatos não há argumentos
· Da discussão nasce a cruz
· De boas invenções está o Inferno cheio
· De noite todos os patos são parvos
· Mudam-se os tempos, mudam-se as vaidades
· Não deites foguetes com fé na testa
· No papar é que está o ganho
· No melhor plano cai a nódoa
· O hálito não faz o monge
· O que não mata, engoda
· O Saber não ocupa lagar
· O futuro morreu de velho
· Olhos que não vêem, coração que não mente
· Cabrão fora, dia santo na gaja
· Quem fala, contende
· Quem morre por gosto, não descansa
· Quem espeta sempre alcança
· Quem mais jura, mais monta
· Quem te evita, teu amigo era
· Quem tem cu, tem mundo
· Um mal nunca tem dó
· A união faz a forca
· Ardor com ardor se apaga
· As aparências elegem

Adenda (a pedido do Luís Guerreiro):
* Diz-me em quem mandas, dir-te-ei quanto é
* A ração tem sempre cliente

quarta-feira, novembro 28, 2007

Crítica literária

Começo por uma breve resenha do que pensam os literatos sobre os críticos de literatura, para que não restem dúvidas sobre o raciocínio subsequente.
Ionesco: “O crítico devia descrever e não prescrever”;
Montesquieu: “Os críticos são como aqueles generais maus que quando não conseguem conquistar um país, envenenam as suas águas”;
Valéry: “Crítico: o mais imundo biltre pode dar um golpe mortal. Basta que tenha raiva”;
Bierce: “ Crítico. Pessoa que se gaba de ser de satisfação difícil, porque ninguém lhe tenta agradar”;
Prevost: “Não é necessário que um autor compreenda o que escreveu. Os críticos se encarregarão de lhe explicar”;
Goethe: “Mata-o, o cão! É um crítico”;
Flaubert: “Um homem torna-se crítico quando não pode ser artista, assim como um homem se torna espião quando não pode ser soldado”;
Twain: “O símbolo dos críticos devia ser o besouro: ele deposita os ovos no esterco de qualquer outro, doutro modo não os podia chocar”;
Shelley: “Assim como o ladrão falido se torna receptor de bens roubados, assim o escritor falhado se torna crítico”

Ora bem, se alguma coisa esta amostra - deveras eloquente - atesta é do desprezo dos tipos competentes em literatura pelos especializados em crítica da mesma (julgo que ninguém colocará em causa a competência dos senhores em epígrafe). Shelley é até particularmente esclarecedor: quando um tipo não tem competência literária, dá em crítico. Com a mesma fatalidade, acrescento eu, com que um tipo sem competência conjugal, dá, primeiro, em coleccionador de hastes e, depois, em bêbado. Ou um indivíduo sem competência de qualquer espécie dá em político.
Resulta disto, como é mais que óbvio, que se há defeito de que nunca se poderá acusar um crítico literário é, precisamente, de falta de competência literária. Raia o absurdo. É o mesmo que acusar um crítico literário de ser um crítico literário. Quer dizer, mais que um truísmo, é uma sandice. Já que, como fica implícto, a falta dessa competência (literária) só abona em favor da sua competência crítica. É o seu certificado-mor de habilitação. E isso, ninguém duvide, é algo que qualquer literato minimamente competente sabe, mal lhe nascem os primeiros dentes: o crítico é tanto melhor no seu ofício quanto pior –mais medíocre, frustrada, impotente e aleijadinha - for a sua competência literária. Da mesma forma que a deficiência visual desenvolve a faculdade auditiva, a deficiência literária promove o frenesim crítico.
Portanto, quando um tipo diz que falta a outro competência literária para fazer crítica literária está a incorrer em duas proezas simultâneas:
1. Está a confessar palonsamente a sua própria incompetência literária;
2. Está a reconhecer e a valorizar a competência crítica daquele que, nesciamente, desvaloriza;

É precisamente um caso de auto-aviltamento destes que acontece a Miguel Sousa Tavares, quando profere, em relação a Vasco Pulido Valente, numa entrevista recente à SIC-Notícias, que, e passo a citar: «não lhe reconheço competência literária ou de outro género para fazer crítica literária".

MST tem tudo para vir a ser um excelente crítico literário. Ao contrário de VPV, em quem, apesar de tudo, vislumbro umas certas limitações e handicaps.

Cabalística para cabalos



No Herald Tribune:
«Israel estabelece as perdas e danos do holocausto (240 biliões)».

Ou seja, seis, bem espremidos, dá nove; e nove, bem espremidos, dá 240. A multiplicar por 1000.

Significa isto, entre vários outros fenómenos edificantes, que existe um revisionismo mau (tudo o que signifique pôr em causa um dogma religioso acerca da contabilidade dos mortos: são seis milhões e não se fala mais nisso), e um revisionismo bom (a constante ordenha e pisa dos números, no lagar da propaganda, de modo a extrair imarcescíveis juros e reparações: e aqui os seis milhões já vão em nove).
É preciso reconhecer que se os alemães fizeram, o resto do mundo deixou fazer. Portanto, mesmo que os alemães digam que não pagam mais, que já pagaram a parte deles, faltam agora os outros. Nós, portugueses, especialmente. Até porque também éramos fássistas na época.
Portanto, das duas três:
Ou se estabelece uma taxa como a da televisão, agregada à factura da electricidade;
Ou se adjudica uma percentagem extra nos combustíveis;
Ou, semestralmente, organizam-se peditórios nacionais para o cancro. Com uma diferença: não é quem dá que ganha um emblemazinho, é quem não dá. Um auto-colante estigmativo com a palavra "anti-semita". A amarelo.


PS: Os alemães não pagam mais em dinheiro, mas pagam em género e frete. Basta conferir esta notícia.

terça-feira, novembro 27, 2007

Razão e Presunção (rep.)

(Vem sempre a propósito repetir - « sê como a água», dizia o meu mestre de kung-fu; e na pedra dura há que dar muitas vezes...)

Na Igreja da Santíssima Razão e dos Santos dos Últimos Dias, como nas Igrejas em geral, perigosos não são os sacerdotes: são os beatos. E, de entre estes, uma categoria acima de todos: os sonsos.
Todavia, quando descemos ao nível da micro-seita - de umas Testemunhas da Lógica, ou de uma "Igreja Universal" do Reino da Certeza, por exemplo -, tudo se transfigura. Crentes, beatos e sacerdotes não se distinguem. É tudo ao molho e fé no bolso. Movem-se todos num rebanho uniforme, mergulhados numa espécie de êxtase contemplativo da verdadeira Crença, robôs peregrinos e auto-depurados de quaisquer dúvidas, perfeitas máquinas de calcular destituídas de vontade e emoções. É o pensamento automático. O Vending-thinking, mais que o wishful-thinking. Um modelo vanguardista de chafariz: metem-se moedas e saem bicas mal-cheias ou sandes de Locke com presunto. Ou de apóstolos com fiambre.
Possuem a verdade. Mas não se contentam de possui-la, de emprenhá-la, de viver com ela em santo matrimónio e ter dela meninos. Precisam de ostentá-la, de dar com ela na cara de quem passa, de exibi-la em cinto-de-ligas e mini-saia. No fundo, sentem-se tanto maiores e mais soberbos quanto mais se confrontarem com a destituição e penúria alheias.
Mas ai de quem não goste do afago, ai de quem lhes diga que aquilo cheira a peixe podre e eles a varinas da ciência, bufarinheiros da objectividade, ciganos de esquina do silogismo!...
Heresia! Sacrilégio! Vilipêndio! Ó deusa, crime de lesa-Fé!...
Não, meus amigos, livrai-vos de criticar a superficialidade, a leviandade, a ignorância! Porque isso, com garantia ISO 9000, é irracionalidade, fujamos! E depois de vos darem com a Verdade inteira e absoluta nas trombas, pespegarem-vos com tamanha desfaçatez no focinho, vão por mim: não é pera doce.
Em resumo: há quem confunda razão com presunção. E presunção e água benta, cada qual toma a que quer.
Por muito que isto custe ao bispo Edir Macedo e aos seus pios emuladores na blogosfera.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Emburrecimento irresistível

Segundo «um estudo publicado na revista especializada Journal of Experimental Social Psychology», o «desempenho intelectual dos homens cai quando são expostos a fotografias de mulheres loiras».

Falo por mim. Quando sou exposto a mulheres louras, sobretudo nuas, é certo e seguro que o intelecto sai afectado. Não por "imitação inconsciente do estereótipo", como asneáticamente conclui a récua cientista, mas por via, como é lógico e natural, do défice imediato de oxigenação cerebral. Em suma, o que cai não é o desempenho intelectual: é o sangue. Desata a correr todo para a cabeça de baixo.
O que, diga-se em abono da verdade, não me acontece apenas com louras: com morenas e ruivas também.
Portanto, se emburreço, não é do pescoço para cima: é da cintura para baixo.

Xenocultura


Visto que um tipo com um coração humano está condenado a levar uma vida de cão, depreende-se que, uma vez equipado com o coração dum porco, veja as suas perspectivas existenciais melhorarem consideravelmente, bem como a sua qualidade de vida disparar para níveis e requintes próximos do semideus.
Um coração de porco, uma alma de macaco, um cérebro de galinha, uma língua dum papagaio, um sexo de ornitorrinco e uma coluna de molusco bivalve - eis a perfeita assemblagem, o Admirável Homem Novo!...
Só não percebo que se designe o transplante dum coração de porco para certos sujeitos como "xenotransplante". Em muitos casos, mais do que seria até recomendável, é de um genuíno "isotransplante" que se trata. Nalguns até podiam substituir aquela porcaria pelo intestino grosso do suíno que ninguém notava a diferença.
De facto, o que mais para aí abunda, ao contrário dos tempos antigos em que se fazia das tripas coração, é gentuça que faz do coração uma tripa. Transplantem-lhes a mioleira dum chimpanzé, mesmo em avançado estado de putrefacção, que há-de ser um grande progresso. Nisto de incrementos e enxertias da raça, nada como recorrer ao fontanário ainda não mestiçado da estirpe.

domingo, novembro 25, 2007

Underworld



O fascinante mundo do Tráfico de armas...

Uma entrevista muito educativa com o maior traficante mundial, Sarkis Soghanalian.

Só um pequenino naco para aguçar o apetite:
Aqueles massacrezinhos muito convenientes do Darfur, por exemplo, donde é que as pessoas acham que vêm as ferramentas de trabalho - do Pai Natal?...

Método e berço

Chama-se a isto Fé. Fé nas conclusões. O Glutão é panteísta.
Ora bem, eu já aqui expliquei, mas não me importo de voltar a explicar. Explico quantas vezes forem precisas.
As "áreas do conhecimento" do estilo da pedo-psiquiatria, ou da geronto-psiquiatria, ou da embrio-psiquiatria, ou da psiquiatria em geral, não são de todo eficazes para estabelecer conclusões sobre o que quer que seja e ainda menos sobre sofrimentos mentais indescritíveis e irrecuperáveis. Nem por sombras. São excelentes, isso sim, para estabelecer, desenvolver, transmitir e burilar toda uma panóplia tortuosa de sofrimentos mentais. É precisamente disso que vivem. De, sobretudo, não descrevê-los e de cuidar para que se tornem irrecuperáveis. Pedir-lhes conclusões (isto é, diagnósticos lúcidos) seria o mesmo que exigir ressurreições aos cangalheiros ou virgindade a uma prostituta.
O próprio pedo-psiquiatra, enquanto indivíduo, resume-se a uma máquina ambulante de contágio desses "sofrimentos mentais indescritíveis e irrecuperáveis". Dito freudianamente, raramente excede o projeccionista compulsivo. Espelha-se na vítima. É assim que se inocula.
Aliás, há um aforismo de Lichtenberg muito a propósito de tudo isto. Dizia ele: "um livro é como um espelho: se um macaco nele se mira não é, evidentemente, a imagem dum apóstolo a que aparece."
Ora, a vida é como um livro. E as pessoas também.
E para os que me disserem que o pedo-psiquiatra não deita as criancinhas na célebre Cama de Procusto, eu concordarei: pois não, deita-as, primeiro, na incubadoura e, depois, no berço.

sábado, novembro 24, 2007

Ultra-negacionismo

Governo alemão adere ao negacionismo: «Finance Minister Peer Steinbrück said in Jerusalem Thursday that Germany had no plans to renegotiate a Holocaust reparations deal signed with Israel in 1952.»
E é o tipo mais hediondo de negacionismo: pior que negar o Holocausto, os alemães negam-se a pagar mais indemnizações pelo Holocausto. Convenhamos, bem mais grave que ir-lhes à "memória" é ir-lhes ao bolso. Doi sempre mais quando é no coração.

sexta-feira, novembro 23, 2007

O Auto dos Nepotes

À boleia da Grande Loja, e do caro José, transcrevo uma notícia que devia merecer honras de monumento:

«O ministério da Educação contratou duas vezes o mesmo advogado para fazer o mesmo trabalho.

As considerações, melhor que eu, fá-las o José, com a mestria e o bom português do costume, lá no estaminé Limiano.
Aqui, nesta nefanda espelunca, limitar-me-ei a reproduzir o diálogo imaginário entre as figurinhas (deste presépio à beira-mal desplantado)...


Burrocrata ministerial - Então, já acabou o manualzinho?...
João Pedroso (em tom choroso) - Não, tive uma enxaqueca.
Burrocrata - Tadinho, pobre senhor! tem toda a razão, a culpa é nossa! Era trabalho a mais!...
João Pedroso - Pois era, sofri muito. E o stress? Nem imagina. Até ando a ansiolíticos!..
Burrocrata - Nem sei o que nos deu. Dar-lhe um tarefa destas. Nem um Hércules conseguiria num prazo tão curto.
João Pedroso - Senti-me um Sísifo. Cheguei a ter febre e arrepios.
Burrocrata - Um verdadeiro Cristo, é o que se deve ter sentido. Mas se prometer não nos processar por sevícias e tratamento desumano, vamos ressarci-lo desse horror por que passou.
João Pedroso - Ai vão? Não vejo como. Sou capaz de ter contraído um trauma para o resto da vida.
Burrocrata - Então, deste mal entendido não se fala mais. É uma vergonha para nós, que agradecemos não comente e tente esquecer. Vai receber o pagamento integral, é ponto assente...
João Pedroso - Nem dá para reembolsar o psicanalista, quanto mais a farmácia... 1500 euros por mês não é honorário, é caridade.
Burrocrata - Tranquilize-se. Faremos um novo contrato. 20.000 euros/mês, o que lhe parece?
João Pedroso - Para fazer o mesmo?
Burrocrata - Exactamente, para não fazer manual nenhum!
João Pedroso - Rigorosamente nenhum?
Burrocrata - Acha que consegue?
João Pedroso - Depende do prazo... Agora vou ter que tirar umas férias - o médico receitou-me um período de repouso e outro de convalescença. E repare, fazer manual nenhum já é difícil, agora fazer rigorosamente nenhum implica o recurso a esquipamentos e técnicas da mais alta precisão.
Burrocrata - Tem toda a razão. Sei disso. Como pensa que cheguei a este cargo? Nada de corridas. O prazo é elástico: comece quando quiser. Desde que, claro está, nunca acabe.
João Pedroso - O melhor então será mesmo nem iniciar. Assim nunca corro o risco de, por qualquer descuido inopinado, terminá-lo.
Burrocrata - Nunca lhe pediria tanto. Mas congratulo-me com o seu espírito de sacrifício. Teremos que pensar num bónus.
João Pedroso - E as ajudas de custo?
Burrocrata - A 100%, obviamente. Bem como subsídio de isenção de horário.
João Pedroso - Pois, nem me lembrava desse, veja só como tenho a cabeça exusta!... Vou fazer rigorosamente nenhum dia e noite.
Burrocrata - Ah, meu pobre doutor: nem imagina como me custa submetê-lo a uma lufa-ufa destas!...