Leitores angustiados escreveram-me epístolas lancinantes. A enormíssima preocupação que os dilacera e mergulha num stress inaudito resume-se ao seguinte: estará este blogue asselvajado, ferrabrás e iconoclasta em risco de se transformar em mais uma sala (ou salão) de chat?
De maneira nenhuma, meus amigos! Essa dúvida até me ofende. Só por cima do meu cadáver, ou nem por cima dele, porque mesmo falecido este invólucro atlético onde pontificam músculos de aço inoxidável e miolos turbilhonantes, e vice-versa, perdurará, ainda e sempre, o meu fantasma; e esse, podeis confiar, não o permitiria nunca. Armaria poltergeists de todo o tamanho, assombrações e tumultos de tal ordem, que até o furacão –aliás, furacona – Wilma (não sei se Flinstone) havia de parecer um redemoinhozito soprador de palhas. É como vos digo, boa gente: as caixas de comentários deste tugúrio, que são lendárias pela sua brancura, higiene e privacidade, e fazem público alarde disso, voltam já de seguida a esse recato tumular, vasto e silencioso, verdadeira nave de catedral, a que os ilustres e raros peregrinos deste apocalipse se habituaram e onde se recolhem, não raras vezes, em profunda e devota meditação. Ora, para que não restem dúvidas quanto a isso, estamos de volta às grandes questões da humanidade, àquelas causas beneméritas, inebriantes, por que vale a pena lutar, dirimir e perder o sono.
Desta vez, é mesmo aquela que - pela sua acção devastadora e esfoliante no bem mais precioso da pátria-, me atormenta especialmente não só a mim, mas, sobretudo, ao meu amigo e confrade neste blogue, Sua Abécula Lampiónica, o Caguinchas. Refiro-me à Alopecia púbica feminina.
Vou apenas sorver um gole de trotil para aclarar os fagotes e prossigo já de seguida, com a pertinácia e clarividência que me caracterizam...
Leitores, muito se tem verberado a mutilação genital ou excisão, mas, lamentavelmente –direi mais: criminosamente! -, esquece-se a mutilação (ou extermínio) capilar, variante suavizada mas igualmente hórrida de vulvo-escalpe; ou, dito eruditamente, alopecia púbica. É deplorável. Sobretudo porque enquanto aquela, a excisão, decorre entre populações longínquas, alienígenas, regidas por costumes arcaicos, pré-cognitivos, cafrealinos, esta, a alopecia púbica, processa-se e alastra como verdadeira praga mesmo debaixo do nosso naríz, escalvando sem dó nem piedade –e a um ritmo alucinante, Príapo nos valha-, as donzelas casadoiras da nossa própria sociedade. Não restem dúvidas: De todas as americanices que molestam o mundo, esta é talvez a pior.
E se no meu entender a situação é da maior gravidade, no entender do Caguinchas ela é calamitosa, senão mesmo um presságio óbvio de que o fim do mundo está próximo. Em aceitando os seus pressupostos – a saber: mulher que barbeia a cona não é fiável; se um cabeça rapada é neonazi, uma cona rapada é neoquê? -, corremos o risco de mergulhar em idêntico estado de aflição convulsa (isto se, avassalados de justa ira, assanhados e envespecidos, não corrermos de pronto às avenidas, em marchas de protesto e motins tonitruantes, cravejando de pedradas as montras e os polícias de serviço).
As desgraças, porém, possuem faculdades multiplicativas. Esta não foge à regra. Assim, como se já não bastasse a escanhoadela completa a que submetem o entrepernas, as fulanas, seduzidas e mentecaptizadas por propagandas cavilosas e modas malfazejas, ainda se dão aos trabalhos e requintes de enfeitá-lo com todo o sortido de ferragens, bijuterias, tatuagens e, quiçá, semáforos luminosos. Nunca os vi, mas já não me surpreende que existam. E se me vierem dizer que durante a época natalícia há flausinas que imitam as ruas da baixa, nem duvido. Pois é, antigamente - e chamavam-lhes desumanos, tenebrosos, medievais, ogres de barba azul por causa disso-, revestiam as donzelas com cintos de castidade fechados a cadeado; agora, se preciso for, são as próprias que desfilam com aloquetes dependurados do martirizado grelo e é o cúmulo da modernice. Bué da fixe. Se o progresso é isto, eu vou ali e já venho. O Caguinchas, esse, menos dado a estoicismos, solta impropérios e abalroa com a cabeça as inocentes paredes. Calma, Caguinchas, não sejas bota de elástico!...
Hão-de, não obstante, Vosselências, convir que o caso não é para menos. Agrava o caso singular do meu amigo a tragédia de já por duas vezes se ter esfolado em não sei que símbolos góticos, além de ter desenvolvido uma afta renitente na língua à conta dum apetrecho geralmente à venda nas lojas de ferragens, mas que a galdéria ostentava perigosamente num socalco inoportuno, plantado algures entre os grandes e os pequenos lábios da sua armadíssima coisa. Daí que ele pergunte, e com toda a razão, que raio de mundo é este? Eu, que também já senti na pele sensível dos testículos as sevícias intempestivas desses adereços de masmorra ou ganadaria, junto-me, dolorido, à interrogação – que cabrão de mundo é este?! Se alguém souber a resposta, é favor escrever para o email em anexo e partilhar connosco a solução de tão descomunal enigma.
Com efeito, como se já não fosse suficientemente desolador o quadro duma vagina escalvada, - o que, assim de repente, pode degenerar em erros grosseiros de paralaxe e angústias subsequentes do estilo "mas estou a entrar pela porta da rua ou da garagem ?"-, a macabra paisagem é ainda piorada e complicada por um conjunto de ratoeiras arrepiantes claramente predispostas ao estropiamento e escoriação do piston em trânsito. É caso para perguntar: se as gajas teimam em armadilhar a cona, não recomenda a prudência que nós, machos viris, tratemos de couraçar o caralho?... Por outro lado, se a ideia era assustarem-nos, congratulem-se, ó megeras: estais a consegui-lo. A perspectiva de lacerar, agrafar ou lapidar o garboso membro (de encontro a sabe Deus que joalharias ou retrosarias de emboscada ao paraíso) não constitui especial idílio para qualquer garanhão em seu perfeito juízo, ainda que faminto de dois dias. Mal por mal, antes o querubim, ou serafim, ou joaquim armado com a espada ardente, de porteiro ao Eden e às cóleras de Jeová! Vê-se à distância e um gajo não perde tempo nem gasta devaneios.
Dantes, meus amigos, era a gonorreia, vulgo escantamento. Escorria-se pus e ia-se à zaragatoa. Depois apareceu a Sida, esse flagelo. Agora, para cúmulo, além dessas duas, é também o tétano. Progressos, se existem, só se for nos riscos que um cavaleiro corre: Outrora, os pregos ferrugentos armavam-nos ciladas aos pés e respectivas solas; doravante, ascenderam na vida, treparam pelas pernas acima e já nos ameaçam a cabeça da pichota. Se isto é que é progresso, mais valia voltarmos para as árvores!...
Por este andar, não me restam muitas dúvidas: em vez da camisa-de-vénus, temos que passar a usar uma armadura medieval no nosso próprio aríete. Quer dizer, em vez de camisa, o melhor mesmo é vestirmos samarra – samarra-de-marte, por assim dizer, já que a tarefa amorosa, em cada dia que passa, se aproxima mais do exercício mavórtico. Não tarda, um tipo para ir para a cama com uma gaja tem que equipar-se e aparelhar-se feito sapador da Grande Guerra, pronto a abrir caminho por entre o arame farpado. É justo: Quem com ferro fode, com ferro tem que ser fodido. Com portões, fossos e levadiças tais não se brinca.
Entretanto, eu –e o Caguinchas, a meu conselho-, já tomámos medidas preventivas: vamos passar a andar sempre munidos do detector de metais e de perucas-pintelheira. Como é que o esquema funciona? É simples: primeiro, com a maior descrição, sondamos a gaja com o detector. Se apitar, nada feito, está minada; se não apitar, avançamos para a segunda fase. Uma vez nesta, à medida que a boazona se despe, procedemos à sondagem manual do entrepernas, logo seguida de confirmação por reconhecimento visual. Caso se constate, sem sombra de pintelho, que padece de alopecia púbica, usamos da fórmula Caguinchiana (nestas coisas sempre um ás) e ordenamos-lhe, em tom imperioso: "Ouve, querida, quando acabares de despir a roupa, fazes favor, pega lá o adereço e vai vestir a cona!" Sim, porque a gaja quer-se pelada, mas a cona da gaja não. E dispensem-se de me vir dizer que é uma violência fassista, porque com tanta mama, lábio e rabo postiço que por aí anda, um chinó púbico não escandaliza nem diminui ninguém.
Posto isto, partindo do princípio que não estou a falar para as paredes e vós não sois apenas uns cabrões duns tijolos ou calhaus incrustados em argamassa, penso que está dito o suficiente para vos despertar dessa alienação e lobotomia em que, geral e alegremente, flanais. Políticas, futebóis, paneleiragens, economices, religiões, enfim, todas essas telenovelas com que vos injectam, só servem para vos distrair do que realmente interessa, daquilo que faz mover e perpetuar o mundo. Largai a droga! A pandemia já está entre nós!
Escutai, ó alienados:
Chega de discutir pintelhices. Defendamos a pintelheira nacional!
A Liga para a Defesa e Conservação da Pintelheira Nacional (LDCPN) está em marcha.
Donativos e mensagens de solidariedade ou adesão através do email em anexo (em cima, lado direito).
Também já à venda o kit Draguinchas "Foder em Segurança" (composto de samarra-de-Marte em cota metálica de titânio com escamas autolubrificadas, detector de metais Garrett e chinó púbico em várias cores, espessuras e penteados – loiro, moreno, ruivo, carapinha, frondoso, arrelvado, matagal, floresta virgem, etc).
Lembre-se: Se conduzir, não beba; e se foder, não arrisque! O álcool mata. A droga também. Mas a cona calva e armadilhada, essa, valha-nos Deus, estropia.
Dragão & Caguinchas
PS: Quem tiver quaisquer dúvidas acerca da superioridade e excelência da nossa causa, é favor atentar na mostra cabal e sublime que passamos a expor. Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Depende da imagem. Esta julgamos que vale mesmo mais que dez mil...