quarta-feira, abril 27, 2016

Acromiomancia Ultramarina - II. Breve Flashback ao Fórum Descolhonização

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1* Mito: A Independência era um desejo pungente e palpitante dos Pretos (sim, porque os milhares de brancos e mestiços cujos avós já haviam nascido naquela terra não tinham direito ao privilégio da conterraneidade, no caso, africana; nesta encantadora perspectiva, os Estados Unidos e o Brasil, entre outros, ainda hoje estão à espera duma boa descolonização - sendo que em ambos casos, há que expelir de lá para fora não só os brancos e mestiços, mas também os pretos).

Mas vamos ao nosso caso.
Quais pretos? Os de Angola, os da Guiné,  os de Moçambique, os de São Tomé, etc, quais? São todos diferentes uns dos outros. E em Angola, quais deles? Sim, porque os pretos do sul nada têem que ver com os do norte, ou de oeste com os de nordeste? A mesma coisa em Moçambique ou na Guiné e até em Cabinda (que não é exactamente a mesma coisa que Angola). Ainda hoje o que os une é a língua, a fronteira (ambas herdadas dos portugueses), e a administração central  (em parte, também). Aliás, entre o fim das campanhas de pacificação (com a implantação territorial do "império") e o incício das campanhas contra-subversivas decorreu o tremendo intervalo de... 50 anos. Paiva Couceiro, que é um herói das campanhas africanas imperiais, não se cansa de deplorar um certo desleixo belicista africano dos primeiros tempos do Estado Novo. Henrique Galvão, outro bravo das Áfricas, é a pretexto maior da má administração destas, que passa de indefectível de Salazar a uma espécie assaz intrigante de "inimigo público nº1" do mesmo.  Mas de facto, leram bem: meio século. Grosso modo. Porque,  em bom rigor, menos ainda que isso: em 1934, os Felupes da Guiné (praticantes discretos de canibalismo) ainda se lançam ao ataque de Basseor; em 1941, no Sul de Angola, decorrem ainda acções contra os Cuvales  Estão a ver a consistência "nacional" daqueles territórios se entendidos per si. E, junto com a consistência, a antiguidade pungente do anelo independentista de todos aqueles "nacionais" oprimidos?...

Ponderemos  o levantamento da UPA, no norte de Angola, em 1961. Resultado: 5000 brancos massacrados e 30.000 bailundos. Os bacongos liambados  e zombificados pelos pastores evangelistas americanos no Zaire, que esquartejaram à catana toda aquela horrível gente, queriam libertar-se afinal de quê? De Portugal? Do Sul do país? Queriam a independência de Angola ou a independência do Uige? Queriam deixar Portugal ou reunir-se ao Congo?
De resto, porque é que quando a administração metropolitana saiu, todos aqueles africanos lop (onde de resto persistiram grande quantidade de mestiços e alguns brancos recauchutados), anelantes de pátria e progresso, desataram em guerras civis, depurações étnicas, purgas facciosas, carnificinas desatadas e lutas fratricidas? Era a implantação da independência ou duma qualquer ideologia externamente patrocinada? Porque é que regiões, como Angola, que constituiam, de longe e juntamente com a África do Sul, as mais desenvolvidas de África, regrediram a terra queimada, escombros e corrupção desenfreada, em menos de nada?

A resposta a esta última questão é pública, notória e reconhecida: porque as estruturas que geralmente conduzem à independência natural, racional e minimamente consequente das nações  - como os Estados Unidos, a Austrália, ou o Brasil, por exemplo - tinham desaparecido. Quer dizer, tinham retornado à Europa (e não foram apenas brancos). Então, em vez da independência constituir um progresso, o progresso fatal e lógico que a seu devido tempo ocorreria inevitavelmente, na verdade enformou um retrocesso. Um retrocesso e uma despromoção: passaram do colonialismo em extinção e reforma benignizada ao neocolonialismo, em erupção e ferocidade rompante.. Ou seja, quando, finalmente, estavam a colher benefícios mais que penados e justificados de décadas, senão séculos, de incivismo e desprezo, eis que os remetem, de chofre, ao tribalismo, à miséria e à depredação alternada e concertada de bandos armados (isto lembra-me qualquer coisa...).

O terrorismo e a subversão, internacionalmente edulcurados sob o eufemismo "luta pela libertação" foi conduzida na Guiné pelos Balantas, em Angola pelos Bacongos (UPA) e Kimbundos/calcinhas de Luanda (MPLA) e em Moçambique pelos Macondes. Na essência, tratou-se  portanto  duma acção tribal mascarada de nacional. Se pensarmos que as restantes tribos lutaram integradas no exército português, chega-se à plácida constatação que a "luta de libertação" era uma luta de uma minoria contra a maioria. Na verdade, o veículo da subversão, segundo a teoria comunista, no ultramar teve uma componente tribal, como na Metrópole teve um contexto classista/partidário. O resultado, infelizmente, foi idêntico em ambas as paragens: a imposição duma ideologia hostil, por parte duma minoria externamente patrocinada, à maioria da população e contra os interesses reais, concretos e futuros desta.  O fruto dessa manobra insidiosoa também foi o mesmo: a instauração de cleptocracias oportunistas e agremiações de saque geral de recursos. Em Portugal, sob a capa conveniente de "modernização" das infraestruturas (nunca se percebeu bem para quê); no ex-Ultramar dispensando-se de qualquer freio ou camuflagem.
Depois, da mesma forma que na metrópole Portugal é Lisboa e o resto é paisagem, no Ultramar Português, o Ultramar era Angola e o resto era um bocado como a paisagem. Claro que tinhamos que defendê-la,  à paisagem, ao centímetro, mas apenas por uma noção exacta das consequências do efeito dominó. Por causa do tal "precedente legal". Abrir mão dum dedo era perder a mão toda. Mas não era a paisagem o prioritário nem o essencial. A prova disto é que onde era preciso ganhar a guerra e colocar a coisa a funcionar a todo o vapor, nós ganhámo-la, limpinha, o maior exercício da arte de contra-guerrilha na história da Humanidade: Em Angola, precisamente. Facto. Ponto final parágrafo.

Depois, na hora fatídica, as outras províncias também sofreram por arrasto: como o que as potências sobrecobiçavam era a "independência de Angola" (e foi nesta que o "MFA"  jogou todas as suas venenosas cartadas), as outras também tiveram que ser independentizadas à pressão e de charola. E antes mesmo da própria Angola, por via das dúvidas e de modo a acabar com todas elas. Independente Angola, a 11 de Novembro de 1975, pode finalmente encerrar-se o PREC, na Metrópole, a 25 de Novembro de 1975. A extrema esquerda subsidiada pela embaixada Americana pode destroçar e aderir aos partidos do Poder; o Partido Comunista, a troco de imunidade militar, cooperou e pode ingressar no parlamento, o PPD pode finalmente abandonar o marxismo, o PS guardou alegremente o socialismo na gaveta, e todos, com a diluição europédica pelo meio, vivemos muito felizes e contentes até à bancarrota actual. A parede ao fundo do beco. Ou a luz do comboio ao fundo do túnel.
Que tal? Para abertura de hostilidades, não está mal, pois não?

Corolário:
O desejo de independência, em Angola, não estava nos pretos: estava nos brancos, mestiços e nalguns alfabetizados de ponta. Em cidades como Benguela era já ancestral. No que apenas manifestavam a mais recorrente das lógicas históricas: decerto que não foram os pele-vermelhas os grandes adeptos e promotores da Independência dos Estados Unidos; ou os indígenas brasileiros da Independência do Brasil, ou até os zulus da independência da África do Sul, pois não? Quanto mais desenvolvida se via a colónia, não era a gratidão que alastrava: era a arrogância. O "Vão-se embora" que a gente toma conta disto!"
Depois, a coisa deu para o torto. A grande maioria debandou. Os que ficaram, mais os mulatos e os tais alfabetizados, acrescidos agora duns quantos bolsistas nos paraísos de Leste, deram corpo ao sucedâneo desse húmus independentista embrionário: o MPLA.


PS: O problema é que os nossos colonos, na hora h, não tiveram a solidariedade dos seus congéneres mais antigos (na independência, bem entendido) do Novo Mundo. Bem pelo, contrário sofreram-lhes a insídia, a hostilidade e a  traição. Mas a moral da história já os antigos avisavam: quando se desprezam as raízes acaba-se folha seca, soprada por qualquer ventaniazita outunal. A mesma ventaniazita que assopra agora todos estes pindéricos de vão de escada mental, que não tendo onde cair  mortos nem o valor da ponta dum corno (moral, político, cultural, ou o que seja), passam a vida arrotar grandes postas de finança e tremendos pragmatismos apenas destrinçáveis ao microscópio.

Frases assassinas - VIII.

Excesso de mercadorias e finanças a crédito? Esse não é o problema, é a consequência. O fontanário da desgraça colectiva são os pensadores a crédito, as ideias de empréstimo, toda uma coorporação endogâmica de traficantes e bufarinheiros que nada produz e apenas revende lixo importado e reciclado, como se pérolas e diamentes ultra-preciosos se tratasse. A fast-food intestinal apenas produziu obesos físicos; a fast-food mental anafou até à obscenidade um estado paquidérmico e alimentou a bulimia orçamental de seitas devoristas vulgarmente denominadas como "partidos".

terça-feira, abril 26, 2016

Viva o 31 de Abril!



Ainda a propósito daquela cegada de ontem...

Não sei se já repararam, mas existem duas espécies de abrileiros: os abrileiros activos e os abrileiros passivos. Distinguem-se na forma como recordam a lua de mel conjunta de 74: uns com saudade lasciva; os outros com trauma dorido.(Parece que os passivos tinham organizados a festa, exclusiva a convidados da estranja selecta e do corpo diplomático fofinho. mas, um tanto ou quanto à canzana, ou chimpanzana melhor dizendo, os outros infiltraram-se no bacanal e toca de abusar, à bruta, dos comensais e dos florzinhas; em vez do woodstock saloio, saldou-se o piquenique selvagem por um semi-gulag das caldas.)
Distinguem-se igualmente pelos ruídos que emitem em  acto de vocalização: os activos palram sempre a mesma coisa: "25 de Abril sempre!, "fássismo nunca mais!", "a luta continua", "viva a liberdade" e outras estalactices que tais. Em contrapartida, os passivos, nunca parlam coisa com coisa - permanecem taralhoucos e delirantes desde as frustradas e escarafunchosas núpcias de 74. A mais recente estrabuleguice duma destas abetardas,  aconteceu em pleno palramento da republiqueta, por alma das comemorações da violentação conubiosa de 42 anos atrás. Rezou qualquer coisa como isto: « Quando as discordâncias em matéria financeira levam a acusações de que os partidos da oposição se bandearam com as instituições europeias e que são os novos traidores à pátria, o odor a salazarismo mais bafiento e o ridículo mais agudo abatem-se sobre quem faz tais afirmações, que são uma negação de uma democracia convivial, tolerante e inclusiva”..

Caso para concluir: Les beaux esprits toujours se rencontrent! 

Como vêem, num instante passaram de "direita" a "sociais-democratas". Nova pirueta no arame e até já grunhem como comunistas da velha guarda. O meu Luna-Park no Alentejo nunca foi tão urgente e necessário.


segunda-feira, abril 25, 2016

25 de Abril - Dia Nacinhal da Borreguice



No dia de hoje, para a ficção  e anualmente no calendário, comemora-se o maior festival de borreguice de que há memória desde a fundação do Reino. Um festival que, entretanto, tem passado a diário e ininterrupto. E com tal fervor, que até o calendário religioso não escapou incólume, vendo-se São Marcos  apeado pela nova padroeira (e ribeira) de milagres: Santa Debandada.

Quanto ao memorável retrato da calamidade é sucinto e pode resumir-se nas sábias palavras de António José Saraiva:

«Se alguém quisesse acusar os portugueses de cobardes, destituídos de dignidade ou de qualquer forma de brio, de inconscientes e de rufias, encontraria um bom argumento nos acontecimentos desencadeados pelo 25 de Abril.»
(...)

Com estes começos e fundamentos, falta ao regime que nasceu do 25 de Abril um mínimo de credibilidade moral. A cobardia, a traição, a irresponsabilidade, a confusão, foram as taras que presidiram ao seu parto e, com esses fundamentos, nada é possível edificar. O actual estado de coisas, em Portugal, nasceu podre nas suas raízes. Herdou todos os podres da anterior; mais a vergonha da deserção. E com este começo tudo foi possível depois, como num exército em debandada: vieram as passagens administrativas, sob capa de democratização do ensino; vieram «saneamentos» oportunistas e iníquos, a substituir o julgamento das responsabilidades; vieram os bandos militares, resultado da traição do comando, no campo das operações; vieram os contrabandistas e os falsificadores de moeda em lugares de confiança política ou administrativa; veio o compadrio quase declarado, nos partidos e no Governo; veio o controlo da Imprensa e da Radiotelevisão, pelo Governo e pelos partidos, depois de se ter declarado a abolição da censura; veio a impossibilidade de se distinguir o interesse geral dos interesses dos grupos de pressão, chamados partidos, a impossibilidade de esclarecer um critério que joeirasse os patriotas e os oportunistas, a verdade e a mentira; veio o considerar-se o endividamento como um meio honesto de viver. Os cravos do 25 de Abril, que muitos, candidamente, tomaram por símbolo de uma primavera, fanaram-se sobre um monte de esterco.»

Nunca é demais relembrá-las. E permanecem duma actualidade sempre viçosa. O 25 de Abril estabeleceu uma estagnação e uma putrefacção que nunca pioram porque tal não é possível, nem nunca melhoram porque. até enquanto estrume, a situação é estéril. A democracia com que pretendem rechear a cobertura do acontecimento é apenas uma maquilhagem para o verdadeiro pastel a concurso: o da Inércia. Não governam nem saem de cima. 

domingo, abril 24, 2016

Acromiomancia Ultramarina - 1. Raízes dum Mal Antigo





«Da raivosa polémica acerca da confusão reinante durante o combate de Naulila, dos erros tácticos de Roçadas, da insuficiência do comando e da falta de preparação dos soldados metropolitanos reteremos apenas um facto bem tangível. A 18 de Dezembro de 1914, pela primeira vez depois da sua derrota em Cabinda perante a esquadra francesa, em 1794, o exército português deparou com tropas regulares europeias [alemães] em Angola e desmoronou-se, Naulila é uma página negra na catastrófica história da intervenção portuguesa na Grande guerra, Num único dia, Roçadas teve 69 mortos (3 oficiais, 66 soldados, dos quais 54 brancos), 76 feridos (5 oficiais e 71 soldados, dos quais 61 brancos) e 37 prisioneiros (3 oficiais, dois dos quais feridos e 34 soldaos brancos). É um balanço mais pesado que o da guerra luso-cuamata de 1907.

Esse balanço, porém, é insignificante em comparação com as consequências da ordem para abandonar o Ovambo, dada por Roçadas. Os Portugueses, bons na ofensiva e excelentes nos cercos, são execráveis nas retiradas, as quais, na sua história, são com demasiada frequência sinónimo de debandadas.»
- René Pélissier, in "História das Campanhas de Angola, Vol II" (trad port. da Estampa)

Por muito que nos custe, a nós, portugueses orgulhosos dessa condição, a definição acima realçada a negritado traduz uma realidade amarga e recorrente na nossa saga colectiva. É como se fossemos um povo absurdamente bipolar, apenas capaz ou do mais inusitado heróismo ou da mais vergonhosa poltranice. Ou tudo ou nada; ou o impossível ou que se lixe! A definição lapidar, registe-se, toma-a,  Pélissier, de Charles Boxer, um outro historiador, e aparecerá de novo na obra referência sobre as campanhas ultramarinas de 1961-1974, de John P. Cann. E ressurge neste último com imensa propriedade, a propósito do colapso na Índia Portuguesa, como poderá servir de epitáfio à nossa aventura Ultramarina, encimando esse pórtico final da infâmia conhecido por Descolonização. Que não foi mais, na verdade, que uma colossal e repugnante debandada. E não apenas do exército.

Está na hora de irmos à raiz do problema: porque debandamos?  Debandámos em Alcácer-Quibir. E desde então parece que essa debandada nos assombra. Nos revisita a cada século. De tal modo que é como se uma pulsão abissal nos obcecasse e  empurrasse para um requinte sórdido de auto-degradação. Porque, quase sempre, a nossa debandada não encontra motivo sequer em razões de derrota ou desgraça iminente. Mais lembra um acto de volúpia pueril que uma reacção de pavor adulto. Seremos nós, um dos povos mais velhos da Europa, também aqulele que, lá no fundo, se recusa a envelhecer, cultivando em si uma infância incurável e incorrigível, que, ciclica e fatalmente, retorna sempre que a vida (ou algo/alguém nela) nos obriga e assumir uma maturidade aborrecida? Ou melhor, vagaremos nós através das eras e dos séculos, cativos e cristalizados, numa perpétua adolescência, entalados entre a infância e o estado adulto, tripulantes das emoções típicas dessa fronteira: ou o entusiasmo desbordante, ou a depressão entediada?...

Este vai ser um mergulho na minha própria alma tanto quanto na alma do povo ao qual inteiramente pertenço. Eu, que aqui, em público, uma vez perguntado pela profissão, o declarei abertamente: Desempregado do Império. E é exactamente isso que, enquanto português, eu me sinto. Eu e, se tanto, meia dúzia de Moicanos como eu.


Relembrando, aqui, em 20 de Setembro de 2006:
«Breve curriculum Blogae»


sexta-feira, abril 22, 2016

Uma Nação Viva




«One of the least commented sectors of the Russian economy—especially by superficial western economists who imagine Russia is merely an oil and gas export-dependent country much like Saudi Arabia or Qatar—is the significant transformation underway in Russian agriculture. Today, less than a year and a half into the decision to ban exports of major EU agriculture imports as a retaliation to the silly EU sanctions on Russia, Russia’s domestic farm production is undergoing a remarkable rebirth, or, in some cases, birth. In dollar terms, Russian exports of agriculture products exceed in value that of weapons, and equal a third of gas export profits. »http://journal-neo.org/2016/04/21/now-russia-makes-an-organic-revolution/


É muito sintomático que o maior país do mundo esteja, gradualmente, a reanimar a maior Nação do mundo. Nação, entenda-se enquanto aquilo que mais ofende e perturba os internacionalistas e artificialeiros de plantão: um conceito orgânico. Quer dizer, algo de vivo. Vivo,  como definiu, há milénios, Aristóteles: algo que detém em si o seu princípio motor, que tem a capacidade de se mover a si próprio - em contraponto ao artificial: aquilo que é movido por algo exterior a si. É assim que a Rússia se contrapõe cada vez mais a uma Europa cada vez mais artificial.

Já agora, a título de curiosidade, os latinos traduziram por "anima" esse princípio activo que os gregos plantavam no âmago da Fusis. Um ser vivo é, assim, um ser animado. Dotado de ânimo, traduzindo em português. Transpondo: uma Rússia cada vez mais animada e uma Europa cada vez mais desanimada. E isso não se mede nem comprova no ruído da propaganda, mas no rosto e na alma das pessoas. Uma Europa, em suma, cada vez mais inerte. E menos orgânica. 

quinta-feira, abril 21, 2016

Zombieland - 3. Zombie cult places


Aposto que não sabiam disto: situa-se em Detroit o maior Templo Maçónico do Mundo. E não se pode dizer que não tenha a sua monumentalidade... (os escombros que, entretanto, têm vindo a vicejar em mais de dois terços dessa antiga metrópole industrial devem constituir a resposta às preces por parte da "divindade".)


Tudo indica que é de lá que provém o conceito "multiusos"...
Sala de culto:

Sala de Espectáculos:
Sala de Refeições:

Lounge de casamentos:
Salão de Bailes:
Torre de Rituais:


O templo foi inaugurado em 1926. Actualmente estava falido e ia ser colocado em hasta para pagamento de dívidas. Parece que foi salvo por um guitarrista rock chamado Jack White. Conhecem? Um bocado enjoativo, após meia dúzia de audições.
Seja como for, a verdade é que a beatice zombie requer grandes espaços.

quarta-feira, abril 20, 2016

Zombieland -2. Insight view



Palavras para quê?...

segunda-feira, abril 18, 2016

O Flagelo dos Partidos

«Nos nossos dias, chegámos ao ponto de já não nos podermos representar a vida política sem partidos, tal como a vida privada sem família.
Um mês antes do golpe de Estado de Outubro, Trotski exclama: "Que é um partido? Um grupo de pessoas que tenta obter o poder para ter a possibilidade de realizar o seu programa. Um partido que não deseja o poder é indigno desse nome."
Decerto que o partido bolchevique é único no mundo. Todavia o fenómeno dos partidos é antigo e desde longa data compreendido, ao ponto de já Tito Lívio escrever: "A luta entre partidos é, e será sempre, um infortúnio muito maior que a guerra, a fome, a peste ou qualquer outro flagelo divino".
"Partido" significa parte. Dividir-se em partidos é dividir-se em partes. A quem se opõe um partido - parte do povo?  Evidentemente, ao resto do povo que o não seguiu. Cada partido desenvolve esforços acima de tudo para si próprio, para os seus membros e não para a nação no seu conjunto. O interesse nacional é superado pelos fins partidaristas, sobretudo o que é necessário ao partido para ser reeleito na próxima vez. Se alguma medida útil ao Estado e ao povo tem por origem um partido que nos é hostil, resulta admissível não lhe concedermos o apoio. Os interesses dos partidos, a sua própria existência, de resto, não coincidem em nada com os vícios e até a derrocada do regime parlamentar proveniente precisamente dos partidos, que negam a existência da nação e até o conceito de pátria. A luta dos partidos substitui a busca da verdade - é uma batalha pelo prestígio do partido e conquistas de fatias do poder executivo. Os grupos dirigentes dos partidos políticos transformam-se inevitavelmente numa oligarquia. E a quem prestam eles contas senão aos seus próprios comités, instância que não está prevista em qualquer constituição?
A competição entre os partidos desnatura a vontade popular. O próprio princípio da pertença a um partido abafa a personalidade e o seu papael - todo o partido é simplificação e engrandecimento da pessoa. O homem tem concepções e o partido... uma ideologia.
Que podemos agora desejar à futura União da Rússia?
Nenhuma decisão radical respeitante aos destinos do Estado é da competência dos partidos, pelo que não lhes pode ser confiada. Se deixarmos que actuem livremente, será o fim das nossas províncias, a aniquilação total dos campos. Não concedamos aos "políticos profissionais" a possibilidade de substituírem a voz do país pelas suas pessoas. para tudo o que carece de conhecimentos profissionais, há o aparelho dos funcionários do Estado.
Qualquer partido, tal como qualquer associação ou união, existe livremente, nem mais nem menos, exprime e defende qualquer opinião, mas deve ser pública, registada no seu programa. (Em contrapartida, toda a união secreta será perseguida como criminosa, uma conspiração contra a sociedade). Mas não é tolerável a interferência dos partidos nos processos de produção, administração ou instrução - tudo isto está fora da política.
Em todas as eleições respeitantes ao Estado, os partidos, concorrentemente com quaisquer grupos independentes, têm o direito de propor candidatos, fazer propaganda a seu favor, mas sem constituiição de listas de partido - elegem-se indivíduos e não partidos. Contudo, um candidato eleito deve, ao longo de toda a duração do seu mandato, abandonar o partido a que pertence e agir apenas sob a sua própria responsabilidade perante toda a massa dos eleitores. O poder é uma coisa sagrada, consiste em servir e não deve ser objecto da concorrência dos partidos.
Consequência: em todos os graus do governo do estado, da base ao topo, é proibido formar grupos de membros de um mesmo partido. E a noção de "partido dirigente" cessa de existir por si.»
- Alexander Soljenitsyne,  in "Como reoordenar a nossa Rússia"

Soljenitsyne sabia bem o que significava "partido". A lógica dos partidos é uma lógica de divisão e é utilizada como espécie de "cavalo de Tróia" por parte de quem pretende enfraquecer para melhor reinar (por telecomando à distância"). Em Portugal, o regime partidocrata é simultaneamente um esquema partidofágico e uma zaragata civil de baixa intensidade (baixíssima, aliás, intensidade e o resto) em permanência. Por outro lado, e o mais nefasto da insídia partidária, é que o grupelho (tanto mais mafioso quanto maior alcance da coisa pública aufira) não experimenta quaisquer escrúpulos em  aceitar patrocínio ou aliança externa contra os seus adversários internos (em bom rigor, toda a restante população que não representa). E isto é  tão verdade para os partidos que no passado professavam a obediência soviética, como para aqueles que, no passado e ainda hoje, buscam outros tipos de cobertura noutros internacionalismos mais ou menos globalizantes. É certo que nenhum país vive isolado, mas mais certo ainda é que ninguém sobrevive na eterna dependência e a servir de capacho ou guardanapo às potências (e respectivos comissáurios domésticos).

De resto, com o 25 de Abril de 1974, houve a implantação dum paradigma político que tem vigorado até à presente data: o Partido Comunista tornou-se o modelo de todos os outros. Que significa isto? Que o Estado é o partido, a nação é a ideologia e a realidade é a propaganda. Essa receita tem variado apenas na maquilhagem e ruído da propaganda com que se promove, impinge e justifica. Nas outras duas componentes, da redução do Estado ao partido e da nação à ideologia (ou seja, da nação à dinâmica monolítica de um qualquer grémio internacional), não apenas tem havido um decalque, como esse decalque, com o correr do tempo, se torna cada vez mais descarado, frenético e opressivo.
Algumas características disso são a metástases do aparelho partidário ao aparelho do estado; a sujeição das políticas públicas de educação às taras ideológicas; a ingerência na economia segundo a conveniência da economia partidária; a submissão absoluta da política externa ao patrono internacional; a promiscuidade dos poderes, tendo como vértice  - da pirâmide de vasos comunicantes - o chefe partidártio; a auto-ilibação permanente de qualquer tipo de mal ou culpa, através da transferência de responsabilidade total para o passado ou adversários internos do presente; a demonização do passado em prol da redenção garantida no futuro, por obra e graça dos sacrifícios, trabalhos hercúleos e esforços abnegados do presente; etc.
A zaragata partidária, assim, não constitui sequer um sistema político, mas apenas um flagelo artificial. Ou dito ainda com mais propriedade, uma forma continuada de castração política... Num país impotente gerido por eunucos, em comissão externa. Sim, porque neste  neocomunismo global, há um partido único trans-nacional, que mantém sob estreito controlo uma rede de pseudo-governos de pseudo-nações satélites devidamente tripulados pelos seus comissários políticos.  Estes neocomunistas odeiam tanto os paleocomunistas como os neoconservadores abominam os paleoconservadores. Estratégias de cucos, enfim.




domingo, abril 17, 2016

Funkies Town, ou as raízes do cancro Soros





Ultimamente, tem-se alardeado um aumento de anti-semitismo na Húngria. Sabemos como esta nação tem vindo a desalinhar com o eurocídio instalado (ou, no mínimo, auto-flagelação europeia organizada). Naturalmente, faz parte do kit lobisomen de arremesso:  fascista leva sempre anti-semita de bónus. Qualquer governo nacional que trate da defesa dos interesses dos seus governados acima dos interesses da seita global, ou seja, qualquer governo que governe recebe logo, por tabela, uma série de ápodos e, se teimar em não arrepiar caminho, apanha com uma revolução colorida ou bombardeamento a preto e branco por causa das tosses.
Entretanto, a explicação destes acessos crónicos de anti-semitismo, por parte das agências hagiográficas de plantão,  concentra-se na má índole ancestral dos goyim e duma espécie de pulsão maléfica e odienta destas vis pessoas contra a mais santarrona, desvalida e perseguida das raças (religiões, taras, grupos excursionistas, ou o que diabo seja). Se atentarmos no intercâmbio afectivo entre os actuais israelitas e os seus vizinhos (internos e externos), vemo-nos, no mínimo, compelidos a um volumoso cepticismo quanto à santidade atávica dos auto-eleitos.
Todavia, tanto quanto o presente, também o passado está cheio destes "intercâmbios", infelizmente, tão comuns e corriqueiros entre povos e pessoas, mas, ainda mais, entre os tais auto-eleitos e quem quer que tenha o azar de suportar a sua santidade.
Para a Húngria actual, voltando ao assunto, a imprensa israelita encontra explicação para o "anti-semitismo" galopante no aumento de imigrantes muçulmanos. Quão conveniente! E ainda por cima num país que leva o seu anti-semitismo à integridade que o próprio termo atesta e merece: não distingue semitas, sejam eles muçulmaníacos ou judofrénicos. De resto, é bem conhecido (e vituperada) a posição do governo húngaro quanto às excursões organizadas pelo canibal Soros e amigos. E não é exactamente de portas abertas, ou sequer entreabertas.

A verdade, porém, é bem mais prosaica. Os húngaros detestam judeus pela mesma razão que eu, por exemplo, abomino o canibal Soros (que é judeu nascido na húngria). Direi mais, se o antropófago Soros servisse de bitola absoluta para a qualidade dos judeus húngaros, então admirar-me-ia até como é que, mais que detestá-los, os húngaros ainda não romperam em pogroms.
Qual seja o motivo antigo, repetido e recorrente, para essa má relação, o texto seguinte serve de pequena amostra.
E demonstra, à saciedade, duas coisas: que os judeus não são a epítome da santidade; que os judeus nem sequer são todos iguais (e nunca é demais acautelar contra estas generalizações por atacado, preâmbulo para extermínopédias tipicamente semitas).


«Hungary got more than just a “slight dictatorship”.
 Stalin gave the job of colonising Hungary to one of the twentieth century’s most evil despots, Matthias Rákosi, the shrewd, vengeful and poisonous boss of the Hungarian exiles in Moscow. Born “Matthias Roth” on March 9th, 1892, the son of a Jewish grocer, he had studied banking in Budapest, and had visited Hamburg and London on a scholarship. Captured by the Russians in the First World War and interned in Siberia, he had become a Communist and actually met Vladimir Lenin in Petrograd in 1918. Lenin sent him to Moscow, where he became an expert on the organisation of underground cells, and then fed him back to Hungary in 1919, where a weasel-faced Béla Kun was just setting up a Communist regime. The country would not easily forget the 133 days of Kun’s “Soviet republic”. Organised murder gangs, of which a later Reinhard Heydrich or Adolf Eichmann would have been proud, prowled the country on the orders of Otto Korvin and Tibor Szamuely, liquidating “counter-revolutionaries” without trial. In the same year Kun and his followers fled to Moscow, where they split into several rival factions. Rákosi, who had been one of Kun’s officials, opted for Austria; he outlived his welcome there in 1920 and returned to Moscow. The new regime, led by Admiral Horthy, liquidated the rest of the Communist leaders in what came to be known as the White Terror. Since Kun and all his cronies had been Jews, the pogrom had unmistakably anti-Semitic overtones
(...)
Spice was added to the poison by the perception that Rákosi’s leading henchmen returning from Moscow were Jews. There was Ernest GerŒ, the slim, vulpine, black-haired organising genius, aloof and friendless, an intense bundle of nervous energy. Born “Ernst Singer”, he had served Béla Kun’s regime and gained notoriety in the Spanish Civil War. It was he who recruited Ramón Mercader, the man who would assassinate Trotsky in 1940. Then there was the ex-printer’s apprentice Michael Wolf, who became Michael Farkas, Rákosi’s sinister minister of defence after September 9th, 1948. He too soldiered in the Spanish Civil War, spent ten years organising a Communist youth movement in Czechoslovakia, became a full NKVD officer in Moscow and never completely shed his sing-song Slovak-Jewish accent. The fourth man in this quartet, the journalist Joseph Révai, became dictator Rákosi’s “Dr. Goebbels” – his propaganda minister. The regime’s high Jewish profile caused deep popular resentment, as Jay Schulman, an American sociologist who investigated the phenomenon, emphasised: “The Communist leaders were perceived as Jews by almost 100 per cent of the people we have seen.”
 There was ample proof in their interviews. One well-educated engineer remarked in injured tones that the Jews had brought Communism to Hungary and were the people who were the least injured by it. Jews seemed to him to have landed all the plush jobs. Nearly all the Party’s funkcionáriusok, the “funkies”, were Jewish. More important, the senior officers in the hated security police were Jews. He said, “We had no Jewish question before in our town. But after the war we saw them destroy the Hungarian parties.
 That was the beginning of the rising antagonism against them.”
 Another man, an assistant professor of economics at the Polytechnic University in Budapest, stated that since the Jews dominated the committee responsible for assigning professors, “Jews always got these positions”.
 Paradoxically, the anti-Semitism generated by the Communist activities was so pervasive that many Jews were themselves infected by it. The “big Jews” in the Party leadership trampled on so many small Jewish businessmen and manufacturers – these Jews were robbed, expropriated and humiliated – that they forgot their own Jewishness and joined the general outcry.» 
- David Irving, "Uprising! One Nation's Nightmare: Hungary 1956"

PS: A obra citada é de 1986. Irving só foi diabolizado e entrou para o Índex, por blasfémia e heresia, depois de 1989.

PSS: De qualquer modo, para aqueles objectores de Irving que larguem aos anátemas, nada como uma fonte sionista, acerca dos supervisores e fontes de inspiração do Rakosi:

sábado, abril 16, 2016

De Parvus a Soros





Youri Slezkine é um autor russo, de etnia judaica, que escreveu uma das obras, quanto a mim, mais brilhantes sobre o impacto dos judeus na cultura moderna. Sobremaneira, nas regiões onde esse impacto foi mais importante : a Rússia, primeiro; os Estados Unidos, depois. É dessa obra - The Jewish Century - que retiro o trecho que segue...

«But the Jews were not just the most revolutionary (along with the Latvians) national groups in the Russian Empire. They were also the best at being revolutionaries. As Leonard Shapiro put it, "It was the Jews, with their long experience of exploiting conditions on Russia's western frontier witch ajoined the pale for smuggling planned escapes and illegal crossings, and generally kept the wheels of the whole organization running.
As early as the mid 1870s, according to the people's Will operative Vladimir Yokhelson.
    "Vilna became the main conduit for Petersburg's anda Moscow's contacts with olther countries. To transport books shiped through Vilna, Zundelevich would go to Koenigsberg, where he would meet with the medical student Finkelstein, who was the representative of the revolucionary presses from Switzerland and London. Finkelstein used to study at our rabbinical seminary but had emigrated to germany en 1872, when an illegal library was found in the seminary's boarding school... Our border connections were used to transport not only books, bul also people."

The Jewish revolutionary and educational networks - of people, books, money, and information - were similar to the traditional commercial ones. Sometimes they overlapped - as when students who were also revolutionaries crossed borders and stayed at the houses of their businessmen uncles; when the American soap (Naphtha) millionaire, Joseph Fels, underwrote the Fifth Congress of the RSDLP; or when Alexander Helphand  (Parvus), himself both a revolutionary and a millionaire, arranjed Lenin's returns to Russia in 1917.»

O canibal Soros, chamo desde já a atenção, é um sucedâneo deste Parvus. E atesta dum modus-operand que já leva séculos.
Apenas mais uma pequena nota estatística, na mesma obra de Slezkine:

«At the First All-Russian Congress of Soviets in June 1917, at least 31% of Bolshevik delegates (and 37% of Unified Social Democrats) were Jews. At the Bolshevik Central Committee meeting of October 23, 1917, whitch voted to launch an armed insurrection, 5 out of the 12 members present were Jews. Three out of seven Politbureau members charged with leading the October uprising were Jews(Trotsky, Zinoviev, and Grigory Sokolnikov. The All-Russian central Executive Committee (VtsIK) elected at the Second Congress of Soviets /whitch ratified the Bolsheviks takeover, passed the decrees on land and peace,and formed the Council of people's Commissars with Lenin as chairman) included 62 Bolsheviks (out of 101 members). Among them were 23 jews, 20 Russians, 5 Ukrainians, 5 Poles, 4 balts, 3 Georgians and 2 Armenians.»

Esta preponderância incicial dos judeus aumentará gradualmente nos anos seguintes e alastrará, a níveis ainda mais opressivos,  em organizações como a Cheka e a GPU  «In 1918, 65.5% of all jewish Cheka employees were "responsible oficials".»

Durante a guerra civil que decorreu após a Revolução de Outubro, especialmente na Ucrânia, as forças contra-revolucionárias praticaram metodicamente pogroms. Hoje em dia assaca-se essas acções a puro anti-semitismo atávico, mas a verdade é que se tratou, sobretudo, de anti-bolchevismo prático: de retaliação e combate contra o principal grupo e agente revolucionário da golpada em curso. As atrocidades decorrentes dessas acções existiram, mas empalidecem imensamente se comparadas com as atrocidades cometidas pelos revolucionários, não só durante a guerra civil, mas, sobremaneira, durante a consolidação posterior do manicómio. O mito da eterna vítima é a maior vigarice do século XX. E constitui, em si, o cerne da maior e única teoria da conspiração digna desse uber labéu.

sexta-feira, abril 15, 2016

Questiúnculas do carvalho

Confesso que a estupidez, nestes dias que escorrem, ganhou já contornos de espécie de mandamento único descivilizacional. Temos que nos converter em chimpanzés com a maior urgência. Não obstante, mesmo pesado e ponderado tudo isso, ainda eclodem, pelos vistos rotineiramente, parvoíces que deixam o mais calejado dos pessimistas de queixo prostrado. A mais recente comichão do BE (Borderlines Esquisitos) acerca do Cartão do Cidadão, em nome do não sei quê de género, é digno de internamento e tratamento compulsivo numa ala especializada do Júlio de Matos. A proposta dos Borderline Esquisitos propõe, se bem escutei, a substituição do título "cartão de cidadão" (atentador da dignidade genérica das cidadoas, ciodadonas e cidadinhas) pelo de "cartão de cidadania".
Para orçarmos do nível mental da gentinha com que estamos a lidar, atente-se no seguinte:
a) então o cidadão atenta e o cartão não? As cidadonas continuam agrilhoadas ao cartão? Porque não "carta"? 

b) Peguemos no simples dicionário da Língua portuguesa. Não precisa de ser o Houaiss.  "Cidadania - (substantivo feminino) qualidade de cidadão; vínculo político-jurídico (...) "
Portanto, em vez de cartão de cidadão, reclamam um "cartão de qualidade de cidadão", ou "cartão de vínculo (...)" ...  Bonito. E isso não ofende a dignidade de género? Não terá que se corrigir o dicionário, alterando o "cidadão" para "pessoa portadora de cidadania", ou sei lá o quê?...

c)E os tipos  que ainda envergam testículos, como eu, por exemplo, porque é que temos que abdicar da nossa "dignidade de género" e passar a andar com a saia da "cidadania" (esse substantivo feminino)? 

d) E os travestis, transexuais, bissexuais e demais confusões, inversões ou hibridações genéricas, como é que o cartão respeita isso (sendo unilateralmente de cidadão ou cidadania)? Não terá que se criar um@ carta-tão de cidada-dão que, em simultaneo, abranja todo este rilhafoles genérico, específico e transpecial?...

Como qualquer pessoa com os alqueires bem medidos já percebeu, saloiadas estapafúrdias do jaez destas "propostas cívicas" só têm uma resposta condigna e necessária: "Ora ide barda merda, esquisitinhos!


PS: Se querem uma alternativa que respeite toda a genérica maluqueira, e uma iniciativa condigna para gastar os abundantes  meios financeiros da nacinha, só vejo uma hipótese: "Cartão de Cidadanar".
Cidadanem-se, que diabo!...

Etiologia do terrorismo



"Etiology of Terrorism", um artigo nada desinteressante. Um pequeno trecho assaz motivador:

«Russia has to find within itself its own resources – it has them – to restructure itself using its own values, turn its back on all materialistic, Marxist, and liberal ideas, and put the omnipotence of money in the right place. Maybe it's time to close the window opened by Peter the Great? Russia is not too late.»

Estamos assim.... O antigo "mundo livre" é agora o "mundo escravo" (da dívida, do medo sobretudo, e de
quem lá tece); e o antigo "mundo escravo" é agora a esperança da humanidade menos resignada à condição de ganadaria global. Mas há, de facto, um testemunho -que passou de Dostoievski para Soljenitsyne - que continua vivo.

quinta-feira, abril 14, 2016

Dos Não-Contribuintes-nem-Estado




Olhem-me só para a poesia disto:

«The 50 biggest US companies have more than a trillion dollars hidden offshore according to a new report published by Oxfam today. This is more than the entire GDP of countries such as Spain, Mexico or Australia.»

Detalhes ainda mais crocantes:

«Oxfam found that from 2008 – 2014, the top 50 US corporations, cumulatively: 
- Paid $1 trillion in taxes globally, $412 billion of which was paid to the US federal government;30
 - Received $11.2 trillion in support in the form of loans, loan guarantees and bailout assistance from the federal government;31 
- Made $4 trillion in profits; 
- Reported an average overall effective tax rate of 26.5%, 8.5% lower than the statutory rate of 35%;32 
- Received $337 billion in tax “breaks”;33 
- Currently hold $1.4 trillion in offshore cash reserves; 
- Disclosed 1608 subsidiaries in offshore tax havens;34and 
- Spent $2.6 billion on lobby expenditures.These 50 companies collectively earned $4 trillion in profits from 2008 - 2014, and receivedapproximately $27 in federal government loans, loan guarantees and bailouts for every $1they paid in federal taxes during that period (figure 2). »


Portanto, também já temos uma fotografia interna do País dos Anjos (ou Angelcountry). Mas nada disto reflecte qualquer indício de corrupção ou fuga aos impostos. Bem pelo contrário, é prova inequívoca duma saúde moral, política e económica que faz a inveja deste mundo e daquela parte mais quente do Outro.. Todas estas entidades, empórios e associações altamente virtuosas (porque devotas fervorosas do lucro e da ganância  , virtudes cardinais da ética actual) não fogem, em modo ou tempo algum, aos impostos porque isso lhes seria de todo impossível e deveras contraproducente. E não se lhes furtam porque, precisamente, os absorvem em sobrepujantes golfadas.  Autênticamente perseguidos pelos impostos dos contribuintes, enfrentam-nos com pundonor e coragem, represando-os com enorme sentido de dever público e impedindo assim que, por força da enxurrada desabrida, causem danos irreparáveis e maus hábitos entre as população desprevenidas e impreparadas para uma tão calamitosa eventualidade.
Senão, reparem bem na perfeição imaculada da lógica: o Estado é péssimo a gerir o dinheiro dos contribuintes; os contribuintes são uma desgraça a gerir (controlar, escrutinar, ou o que seja) o seu próprio dinheiro e ainda mais os negócios do Estado. Resta , portanto, quem, nesta hecatombe generalizada? Pois, evidentemente: os não-contribuintes-nem-Estado. São óptimos a transformar os prejuízos, desvarios, delapidações e esbanjamentos de ambos - do Estado e dos contribuintes -, em lucros e riquezas fabulosas. Poderá haver sistema mais perfeito? Não, certamente, neste mundo.
Ao Estado pede-se que cobre; aos contribuintes exige-se que paguem. Aos não-contribuintes-nem-Estado não se pode reclamar mais do que a grande obra solidária (e sumptuosa) que já realizam.



Exegéses de conveniência




Entretanto, sucedem-se os relatos inquietantes...

Da própria frente de combate contra o ISIS, o lider duma brigada cristã - a Brigada Babilónia (devem ser anti-semitas) -,  tece comentários ignorantes acerca do sinistro agrupamento "milenarista" (conforme aqui foi revelado, neo-apocalipticamente, não há muitos dias por uma ex-fã, agora convertida ao bacorismo suicida). Oiçamos o bravo combatente (e notem que a reportagem é da BBC)::

«"So, a Christian militia," I remark.

E, de bónus, na entrevista, ainda levamos com um comentário impagável, quando o jornalista inglês pergunta ao miliciano se acha coisa própria de cristão combater o ISIS. O outro olha para ele com (calculo) um misto de cepticismo e repugnância, inquirindo de chofre   se ele é cristão. Responde o britânico que pertence à Igreja de Inglaterra. "É protestante", diz um dos outros, isso explica tudo". E, por causa das cócegas, exibem-lhe uma passagem de Lucas onde Jesus recomenda a aquisição de espadas. O grunho britânico resmoneia entredentes que "comprar a espada não terá sido em sentido literal", mas em contrapartida "dar a outra face" já deve ser lido nesse mesmo literal sentido. Portanto, é como convém ao freguês. Em prol do cristanicídio não faz falta a exegése; mas se o cristão se defende, cuidado com a leitura abusiva. Isto oriundo de protestantes que cada qual lê consoante lhe apetece e interpreta conforme a alucinação do momento, só não dá vontade de rir porque uma gana de lhes largar aos pontapés no assento da inteligência se sobrepõe. A falta que S.Bernardo cá faz!...

Todavia, para o que interessa, não só ainda não foram informados das leituras apocalípticas dos tais ISIS, bem como o seu plano alucinado de se sentarem ao lado de Cristo, durante o reinado do milénio, como os confundem com o grande derrotado desse evento, o meu primo mutante e ultra perverso, que eles nomeiam pelo seu título mais plebeu: o diabo. Por conseguinte, tal qual eu também estultamente imaginava, os tais trastes são milenaristas às avessas: querem reinar no ante-final dos tempos, mas não é com Cristo: é com a serpente satânica (e ovelha ronhosa da família, mil raios o partam!).

Por outro lado, sobrevêm também notícias preocupantes (de emissores altamente credíveis, nada de fantasistas conspirativos) que relatam um carregamento naval remetido dos Estados Unidos para a nebulosa da Síria (Al-Caeda e o diabo, passe a redundância). Além daquelas bugigangas típicas dos matadouros itinerantes a bem do Mercado, seguem várias toneladas de literatura subversiva e obsidiante. Que, segundo fonte mais que segura, inexpugnável!, é a mesma que, em várias urbes da Europa, tem circulado entre os círculos fundamentalistas e abastecedores de mercenár..., digo, fanáticos islamilenóicos do ISIS. Curiosamente, não se trata de quaisquer traduções ou adaptações do "The Porsuit of The Millennium", de Norman Cohn, mas outrossim, de algo bem mais ominoso e transtornante. Mas como uma imagem vale mais que mil palavras  (e hoje em dia, até com desenho dificilmente compreendem),  segue, em primeira mão, para o mundo e arredores, uma amostra do paradigma inspirador e mentalizador das hostes malignas. É só conferir a personagem adiante com as personagens em epígrafe. Estamos ao nível da BD e da play-station? Cada vez mais. Basta atentar no nível das geo-elites e respectivos insectos coadjuvantes.




PS: Por conseguinte, agora já podemos garantir de ciência segura: vão reinar no ante-fim dos tempos... com o Mancha-negra.

quarta-feira, abril 13, 2016

A arte da palavra





Há neologismos impagáveis. Killary Clinton é um deles.


PS: Sem sombra de dúvida, uma psicopata funcional.

terça-feira, abril 12, 2016

Corruptus Dei parte 2

Sobre esta epifania dos Panama Papers, existe já uma série de explicações. Passo a enumerar sucintamente:

1. Trata-se dum acto deliberado da Corruptus Dei (com os cumprimentos da CIA), de modo a) desacreditar os safe havens fora dos States e canalizar as galinhas dos ovos de ouro para os novos safe havens nos Estados Unidos (onde estarão ao abrigo destas maçadas); b) a utilizar selectivamente a informação em direcção a alvos geopolíticos do Impérios da Gambosinagem

2. Não se trata duma confecção da Corruptus Dei, mas de outrém:
a) Ou alguém que genuinamente pretenderia colocar em cheque o bem-estar dos 1% (porém, na medida em que a difusão depende dos órgãos de difusão controlados pelos 1%, o filtro está e vai funcionar de modo a não deixar passar o que não interessa e apenas aquilo que convém aos mesmos. (No fim do dia, o resultado prático é quase o mesmo que em 1.)

b) Ou foi uma operação russa sob directiva do próprio Putin. Um Think tank americano, o Brookings, inclina-se nesta direcção. Ao mesmo tempo reconhece que os Papers em nada sujam Putin e daí a dedução. Do lado da propaganda russa, contrapõe-se: «The problem with this brilliant theory is that the organization that received the data dump is a "Washington DC based Ford, Soros funded soft-power tax-dodger" which attempted, in every desperate way imaginable, to drag Putin into the scandal.»

E efectivamente, do que se sabe do  ICIJ (difere do ISIS em duas letras, portanto nada de confusões), os tais fieis depositários da fuga de informação, é que é subsidiado por algumas entidades beneméritas, a saber:
«Democracy Fund, the Carnegie Foundation, the Ford Foundation, the MacArthur Foundation, the Open Society Foundations of George Soros, the Rockefeller Brothers Fund, the Rockefeller Family Fund and many others of the same pedigree»-.


Conclusão: é absolutamente irrelevante quem tratou da fuga. Dado que o fluxo posterior da hemorragia é completamente controlado pelos mesmos de sempre, até o Putin, para deitar coisas ao rio, fica sujeito a quem controla a barragem. Além do mais, já não há nada sobre os 1% que constitua qualquer novidade ou surpresa. Já se sabe praticamente tudo. E depois? Em que é que isso afecta o negócio?
Mas não deixa de ter imensa piada a hipocrisia solene em que tudo isto decorre: toda gente a colocar um ar de grande surpresa e indignação cívica quando irrompe a notícia daquilo que toda a gente sabe e está mais que cansada de saber. Se calhar, fazem de conta que não sabiam para poderem arvorar um ar grave de virgens ofendidas e escandalizadas. Até porque agora, durante uns tempos, já podem murmurar sem que os acusem de invejosos.


PS: De qualquer modo, trata-se bem mais duma operação de entretenimento do que de informação.

Das desafeições e tele-afeições

Parece que o Faz-de-primeiro-Ministro andou pela Grécia a promover Portugal como destino turístico para os refugiados. Escusava de manifestar tão impaciente carência de desgraçados: não tarda nada tem aí uma vaga deles oriundos de Angola. Aliás,  a ressaca da maré já começou. Ah, pois, como são portugueses não possuem habilitações para o package tour. E, ainda por cima, já falam português. Que nojo!...

Costuma dividir-se a categroria de psicopata em duas classes: o psicopata funcional (que passa por um tipo normal e , por conseguinte, não dá nas vistas); e o psicopata disfuncional (o fulano histriónico, quie faz questão de se exibir enquanto serial-killer ou chacinador espectacular, nos casos mais extremos, ou mero filho da puta recorrente, entre os vulgares cidadãos).
Sinto-me na firme convicção de sugerir um terceira classe, típica e até pitoresca entre nós, aqui entalados entre o Atlântico e Espanha:  o transpsicopata, ou psicopata exofrénico. Enquanto os outros se caracterizam por uma completa ausência afectiva em relação a qualquer humano, este refina-se  nessa desafeição compenetrada em relação apenas aos humanos que partilham da sua nacionalidade. Mas se, por um lado, pode parecer menos maligna esta estirpe da tara, por outro, torna-se especialmente malfazeja, na medida em que tende a existir não isoladamente, mas congregando-se em bandos de emocionais turísticos, sobretudo na forma de seita, partido ou associação de tele-amizade.
Objectarão alguns peritos que o psicopatia exofrénica é só um caso mais dissimulado e infestante da psicopatia funcional. Aceito a hipótese como plausível.

sábado, abril 09, 2016

A lógica do massacre





Vou falar com franqueza (mais ainda do que o usual): sou um adepto fervoroso da reinstituição do duelo. Utopia, gritarão alguns. Como é que se reinstituía uma fórmula social especificamente masculina num tempo e espaço onde a masculinidade está em fase final de proscrição? Bem, há quem acredite nas leis, leisinhas e leisetas para internar a natureza, eu acredito que a Natureza acaba por ter sempre a última palavra. E como não está limitada por relógios, prazos e juros... Portanto, tenho fé.
Entretanto, relembro o duelo entre Ramalho Ortigão e Antero de Quental, acontecido por via duma disputa em jornal. Alguém ofendeu, alguém se sentiu injuriado, ainda por cima em público, ora tome  lá as minhas testemunhas e compareça em tal sítio, se é homem e tem honra, e coloque a pessoa física onde colocou a pena (tremela, ou o que seja). Com que prazer e alacridade eu próprio responderia a esse tipo de convite, de modo a brindar  (a soco, cutilada, tiro, ou o que fosse) aquilo que apenas afloro com a ponta do adjectivo.  Poderia também ser ferido ou até morrer? Sem dúvida. E a beleza reside sempre nessa justiça das coisas. Afinal,  estamos a falar da última manifestação do modo homérico (e heróico) da guerra: o duelo. Entre dois homens, armados com as mesmas armas e nas mesmas condições. O que conta ali é o andros - a virilidade, a bravura , a coragem do indivíduo, de cara e peito descobertos, e corpo às balas, lâminas, ou o que seja, e não a vantagem em equipamento ou prótese amplificadora e batoteira. Antes da massificação e da cobardia instituída, a começar nos estados e  a acabar nos rebanhos, onde cada qual, na medida do seu alcance, escudo ou panóplia tecnológia, se entretém a massacrar o próximo. Exactamente: o duelo é o oposto do massacre. Como a coragem é o inverso absoluto da extrema e máxima cobardia. O próprio termo "massacre" denuncia a sua genética e o seu domínio: a idade da massificação, dos meios tanto quanto dos homens, que, destituídos de princípios e fins, passam também a integrar-se na mera masturbação compulsiva daqueles. A vitória dos cobardes coincide com essa vil posse e sórdido uso de  uma superioridade esmagadora de armas (a limite, todo o meio serve para esse fim bélico e massacrante). E assim desembarcamos nessa era em que o triunfo coincide com a banal ostentação não de coragem ou qualquer virtude homérica, mas da pusilanimidade, do oportunismo, da velhacaria, da perfídia, da traição, da vigarice, da baixeza, da abjecção e de todos essas destilações do alambique mixordeiro da impiedade hodierna . Com o aparato legal, não querem, em bom rigor, obstar aos flagelos e aberrações da natureza. Bem pelo contrário, querem substitui-los, usurpá-los e administrá-lo a seu bel-prazer. Do Estado-deus à superpotestade global, o que se trata, doravante, é de distribuir catástrofes sob um arbítrio e capricho absolutos e supra-éticos.

Posto o fundamental, vamos aos feijões.

Ora bem, ainda recentemente, o pagode entreteve-se com mais uma daquelas questão de transcendente importância para a vida da nacinha,: o caso dum faz-de-ministro que, mais que ameaçar, considerou dignos de  "Um par de bofetadas" um par de faz-de-croniqueiros de lugar de hortaliças. Estes, pelas contas do outro, ter-lhe-iam andado à canelada persistente ao exercício. A qualidade dos faz-de-croniqueiro não vem agora ao caso. Um faz-de-conta muito melhor que o outro, mas isso para a nossa questão ´irrelevante. O certo é que o "par de bofetadas" serviu para uma grande  onda de escândalo e indignação, especialmente entre os da seita dos faz-de-oposição à seita do faz-de-ministro. E o caso não é para menos: um tipo que insinua um par de bofetadas, a seguir dispara necessariamente numa espiral de violência que terminará em qualquer coisa como pôr bombas e despoletar o apocalipse. Quem pode jurar, nestes tempos perigosos, que alguém não está já sob o efeito pervasivo e mirabolante de textos escabrosos, designadamente, milenaristas!...
Bem, não sei o que é oferecer bofetadas a alguém, nunca ofereci, e também não sei o que é dar bofetadas, também nunca dei. Nem seria capaz de dar.  Sobretudo, porque não me parece procedimento lá muito masculino. Junto pois a objecção ética à impreparação técnica. Bofetada, é coisa, ao que sei, que as pessoas portadoras de sexo feminino ensaiam nos portadores de sexo masculino em estado de juvenilidade vitalícia (nestes dias, vai dos 8 aos 80). Pior que bofetadas, há ainda, muito comum, o oferecer um estalo, que é a tradução quéque do par de bofetadas. Os tios e betinhos, ao que me dizem fontes familiares, só dão um beijinho em vez de dois, durante o protocolo de saudação, pelo que, presumo, reduzem igualmente o par de bofetadas à unidade do estalo.
Se me permitem o parêntesis, acrescentarei que, dum modo geral, noutras matérias mas ainda mais nestas, um homem, digno dessa condição, não deve primar nem pela tibieza nem pela mesquinhez. Se dá ou apenas oferece, certo é que deve ser sempre generoso e apresentar algo digno de reconhecimento e memória futura. Por exemplo, para o efeito em questão, um muro nas trombas, ou, como diria o Engenheiro Ildefonso Caguinchas, um pontapé pela alcatra acima e uma cadeira pelos cornos abaixo em nada desmereceriam dum Ajax (o grande). Não vou ao ponto de exigir requintes de pontapés voadores ou circulares aos queixos (um lateral ao plexo também tem a sua majestade nobilíssima), porque nem todos curam do kung-fu como recomenda o Tao (do pequeno Dragão, no meu caso), mas, que diabo, o mínimo duns safanões enérgicos, ou uma cabeçada bem dada (puxa-se o crânio, em todo seu sólido conjunto atrás, firma-se bem uma das pernas em modo mais recuado e arremete-se de seguida, em bloco e com todo o peso do arcaboiço, assestando com a placa óssea logo acima da testa - ali onde principia o couro cabeludo - nas ventas adversárias, onde a zona do penca garante os melhores e mais promissores frutos), seriam o mínimo exigível para quaisquer olimpíadas da decência. 
Em todo o caso, estas coisas não pertencem, disso estou seguro, ao domínio da oferta: dão-se ou não se dão. Caso contrário, cai-se naquela encenação patética do "segurem-me, senão desgraço-me". Que era o que o faz-de-ministro estava. no fundo, a clamar: "que o segurassem". Em vez disso, dessa entreajuda para obviar à pega, rompeu o Carmo, a Trindade e a rua da Betesga, horror, anátema e mais não sei quê, que não era coisa digna de ministro, que um ministro fizesse. Mas também não era o caso, que diabo. Nem era um ministro a fazer, nem há o perigo, desde há anos a esta parte ou nos tempos mais próximos, que um ministro o faça. Mais, portanto, do que a acusar o faz-de-ministro de algo que ele fez, estavam a acusá-lo de algo que ele não é. O que me parece, de todo, claramente injusto e destrambelhado.
Nesta faz-de-republiqueta, qualquer elemento do faz-de-governo só o que faz na generalidade, e com cada vez mais raras excepções, é   coisas dignas de ministros e ainda mais de governos. E não se nota que sobrevenham grandes críticas a um tal estado de calamidade pública. Até porque os faz-de-críticos também só o que sabem fazer é coisas indignas de críticos (e o mais que resumem é, em vez de genuíno desgosto da acção, apenas vã inveja e cobiça do lugar para idêntico faz-de-conta). E quem diz os faz-de-críticos, diz os faz-de-justica, faz-de-informação, os faz-de-militares, os faz-de-elites e , por aí fora, até, a limite, aos faz-de-povo (súmula mais ou menos redundante de todos os anteriores em forma de  sufrágio esquisito).
Portanto, o tal par de bofetadas não foi objecto de consternação geral por ser um "acto indigno dum ministro". Bem pelo contrário, foi por ser um deslize indigno dum faz-de-ministro. Passo a explicar, detalhada e sucintamente: qualquer faz-de-ministro sabe (ou deve saber) que para esse efeito (de esbofetear, puxar orelhas, etc, a terceiros, avulsos e, sobretudo, a faz-de-croniqueiros) existem assessores, polícias, tribunais e as administrações dos faz-de-croniqueiros. É certo que nalguns casos outros governos mais altos se levantam e os faz-de-croniqueiros estão sob o manto protector (e o fio transmissor) de outras potências soberanas. Bem, nesse caso manda o guião que o faz-de-ministro se resigne, solte, se tanto, uns suspiros e tire desforra no povo genuíno, que faz de  saco de pancada regimental. Através de decretos no faz-de-Diário da república, o faz-de-ministro pode espancar à vontade. Quer dizer, pode massacrar   sem problema nem risco de sururus ou maçadas. É para isso que ele lá está. O que tornou o deslize deste faz-de-ministro superlativamente grave foi não apenas ter atentado contra os preceitos deontológicos da classe, mas, cúmulo dos cúmulos, ter sido lavrado no verdadeiro Diário desta República:  o Facebook.


quinta-feira, abril 07, 2016

Consultório Oracular - O Fado da Emburkada




No  depoetério anexo ao postal "Núpcias no Inferno", fui, pela enésima vez, brindado com mais um chorrilho de inaninades roncantes. Do despejo só não digo que é um zurro completo porque, apesar de tudo, nele ressaltam duas invectivas que tomo como cumprimentos: quando me chama ignorante e quando me manda estudar. Chamar-me ignorante é, tout court, chamar-me humano; mandar-me estudar, embora desnecessário e redundante, é desejar-me algo que eu faço (e tenho feito ao longo da vida), com o maior dos deleites (superior a isso só mesmo cobrir senhoras ou tocar guitarra; de igual comprazimento apenas dar tiros ou andar à porrada). Acresce que, por via duma retorcida tendência para certos livros plenos de temas abstrusos tive o infuortúnio (mais que o privilégio) de tomar boa nota do paradoxo da sabedoria, a saber, que quanto mais sabemos, mais descobrimos a proporção cósmica da nossa ignorância.  De tal modo que eu, que na minha juventude sabia praticamente tudo (e o que não sabia era porque nem valia a pena saber), agora, perpassados livros e anos, estou cada vez mais ciente de que não sei praticamente nada. E piora a cada dia que passa. Com a agravante de teimar na frequência de ignorantes ainda maiores que eu. Ignorâncias,  por assim dizer, monumentais, perante as quais irrompo feito um perfeito sabichão. E das quais, a grande custo, saio, ocasionalmente, um bocadinho mais ignorante. Faço tenção mesmo (com alguma megalomania, reconheço), que uma vez diante do Juiz final, tenha a declarar o seguinte: sendo certo que não ignoro completa e absolutamente, tenho a dizer, sob penhor da minha alma, que ignoro profundamente uma quantidade apreciável de coisas. Nada disto tem que ver com a obra daquele sábio Nicolau (de Cusa), porque os sábios, como esse , pouca ignorância têm para transmitir. Se um tipo perde muito tempo com sábios, regride à adolescência e é uma chatice. Corre  mesmo o sério risco de ficar viciado na regressão e, em menos de nada, dá consigo em forma de girino fora da bolsa seminal em odisseia de nhanha palrante pelo mundo. Palrante e, cúmulo do horror, sentenciosa. 
Como parece ser, tornando agora à vaca  frígida, o caso da depoente (eu digo "da" porque hoje em dia é quase tudo gajas, com aparência de homem ou mulher por fora, mas gaja por dentro).
Relembremos a sentença inaugural com que proclama ao mundo todo um estado prenhe duma incomensurável sabichice:

«Confundir milenarismo com despotismo iluminado (baseado na glorificação da ciência) é grande calinada.»



Isto é dito de de trás dum arbustro e com a voz disfarçada por uma burka. Não vou dizer que é um Ihavé da loja dos trezentos, mas é, no minimo, uma iahvú ou iahvi emburkada. Quer dizer, que andou a emburkar. Nada no postal autoriza uma sentença desaustinada destas. Mas a sabichice sobreabundante, é universalmente consabido, tem destes efeitos indesejáveis: promove a incontinência. De tão cheio, o vaso transborda e salpica. No caso, devidamente escoltado por gafanhotos. Abreviando: detrás da moita ardente, e embaraçada na burka, a poedeira pôs um ovo e esse ovo de columbina é o seguinte, prestem atenção: o Exército Islamico é uma manifestação do milenarismo islamico. E eu, este vosso criado, sou uma manifestação de ignorância porque não sei isso. E é verdade: eu inão sei, o exército islamico não sabe, os americanos não sabem, os turcos não sabem, os sauditas não sabem, os iranianos e os sírios também não sabem, em bom rigor, quase ninguém sabe, porque isso só foi revelado aqui no depoetério do Dragoscópio, às 8.57 da tarde, no dia 03 de Abril de 2016. 

Do que se sabe (ou melhor, se sabia), oficialmente (e fora as teorias da conspiração) do tal Exército Islamico - até porque ele o proclama aos quatro ventos e exibe com alacridade e atrocidade imarcescíveis -, era que o distinto grupo de cavalheiros e meninas se tratava dum empreendimento sunita, constituido por sunitas especialmente rigorosos, exterminador implacável de xiitas, cristãos e, em suma, tudo o que cheirasse a heresia, infidelidade ou blasfémia (fora os judeus, mas esses é só para se roerem de inveja do protagonismo momentâneo destas vítimas fresquinhas). Todavia, tudo isto era falso: imaginação dos jornais, das agências de informação e alucinação colectiva dos milhares de refugiados que, a duras provas, lá conseguiram escapar ao matadouro. Porque, sabemos agora,, o Exército Islamico tal qual se tem manifestado na realidade não existe. E não existe enquanto não souber e tomar conhecimento que, afinal, por conveniência da iahvu (ou iahvi) é um combinado esquizofrénico de milenarismo cristão com madhismo xiita. Mais grave ainda: não existe enquanto não se compenetrar de uma coisa que também não existe: milenarismo islamico. Bem, mas temos que dar desconto do abuso dos termos à conta dos excessos naturais do magma sapiente ao passar da caldeira à chaminé. O aperto súbito perante a imensa pressão sabonífera, por alturas da erupção, acarreta, não raramente, a soltura de gases e projecções extrombólicas. Queria referir escatologia, a sumidade luminosa. O exército Islamico é, pois, uma manifestação escatológica. Portanto, não precisa de ser cristão: basta que seja apenas xiita.
Os bons dogmas não se discutem. E este parece-me dos excelentes. A iahvu (ou iahvi), todavia, não deveria perder tempo a tentar converter um escatofóbico encartado como eu. Recomendo-lhe vivamente que, uma vez descoberta a verdade, proceda agora ao passo seguinte da religião: que vá pregá-la ao rebanho do ISIS. Seguramente, estão anelosos de conhecê-la e de tratá-la em conformidade. Porém, nada disto invalida, (nem por sombras!) a minha plena concordância com a verdade descoberta e revelada: o ISIS é um caso evidente de escatologia. E a iahvu (ou iahvi) também. Mas escatologia no sentido menos arrebitado do termo, ou seja, "estudo dos excrementos". Pois é, a língua grega tem destas coisas: eschatos tanto significa o que "está na extremidade suprema e última, como o que está na mais baixa". 

Entretanto, como consultório oracular, temos deveres para com quem nos consulta. Uma questão urge responder já de seguida, a saber, como raio entrou a iahvu (ou iahvi) na posse desta tonitruante verdade? O próprio sábio Descartes elucubra acerca deste hirsuto problema. Segundo ele, "como é que o profeta (aquele que pensa) pode certificar-se que se trata de deus e não dum génio maligo a desinformá-lo"? Isto é, como é que o "Cogito, ergo sum", traduzindo "eu penso, logo eu existo" (cuja aplicação prática redundará no "eu sou um demiurgo e se penso isto é porque isto existe e é necessariamente assim") pode ser indubitávelmente certo? A idade moderna e os tempos seguintes certificá-lo-ão de sumptuosas maneiras e, em síntese, pode ser descrito como o Ego-Deus - ou Ego-sol, para os menos dados à metafísica); mas no caso peculiar da iahvu (ou iahvi), por via do avanço tecnológico nas sabionetes, há já toda uma sofisticação gnoseológica que importa não subestimar. A cognição destes canivetes suissos da erudição em regime ambulatório processa-se de formas não raramente assombrosas. Sobretudo a grande velocidade. O segredo, ao que revelam os especialistas, reside em passar o mais superficialmente possível pelo maior número de assuntos, comentários, ruídos, rumores, notícias, etc , panta-absorvendo tudo isso, numa espécie da fralda mental XXXXXL (um upgrade para incontinentes plurinários da tábua rasa de Looke), e segregando, após um metabolismo sumário de fast-jiboiação com gravidez histérica, sentenças e dogmas irrefutáveis. No que oscilam entre o aforismo acrodouto e o chorrilho desatado, conforme os humores da vesícula anoética.
Por conseguinte, a iahvu (ou iahvi) ingurgitou a porcaria numa esquina ou roulote online qualquer, de pé e a correr, e emitiu em conformidade. A escatofagia precedeu e anteparou a escatografia. Eis explicada a génese do prodígio.
Exposta a verdade, ressaltava todavia um certo aroma. Cumpria agora à turbopitonisa sair à cata de provas para a mesma. Urgia cobrir a coisa de linque-linques e notas de rodapum. Esquece-se que os apocalipses são mesmo assim: a revelação dos profetas. E a iahvu (ou iahvi), devidamente estimulada, vai-se revelando. Às tantas já proclama, desnorteada:
«A ignorância é que é muito atrevida. Devia estudar em vez de cuspir para o ar ou inventar comparações descabidas entre destruições de monumentos pelos jacobinos (esqueceu-se das comunistas) com destruições que têm finalidades de ortodoxia religiosa e escatologia milenarista.»

Como é que se tem por finalidade uma coisa e o seu contrário? Insiste, a depoedeira no unicórnio da "escatologia milenarista" referindo-se a muçulmanos, agravado agora com a concordância entre duas coisas que sempre se antagonizaram por natureza ao longo da história: as ortodoxias religiosas (geralmente cooperantes de poderes constituidos) e os "milenarismos" escatológicos (há algum milenarismo que não se integre na escatologia?; só esta expressão é todo um programa de sapiência na brasa), veículos de palpitações revolucionárias. Ora, é exactamente por telecomando e alimentação da "ortodoxia religiosa" (os sunitas da Turquia e Arábia) que o Exército Islamico, uma empresa sunita, se entrega à chacina de quantos heterodoxos, vulgo xiitas, deite a unha. Extirpando, de caminho, grandes espaços anteriormente infestados deles. Na medida em que visa enfraquecer e combater a influência iraniana, este empreendimento decorreu e decorre sob o beneplácito, e até um certo apoio ou vista grossa, de americanos e israelitas, passe a redundância. Aliás, é baseada precisamente na escatologia dos xiitas, que a propaganda anglo/israelita tem procurado estabelecer/forjar uma propensão genética e atávica daquela gente, sobretudo os que acreditam no Imã Oculto (em rigor, a maioria) para o terrorismo e para o perigo da obsessão apocalíptica (querem bombas atómicas para convocar, a toque de caixa, o Madhi). Aliás, como foco especial para esse enquadramento, e paradigma vivo dessa herança maligna (que remonta, entre outros, aos Assassinos do Velho da Montanha) surge, sobremaneira, o Hezzbolah (que é colocado invariavelmente, como padrão terrorista, lado a lado com o ISIS). As destruições do ISIS inserem-se num plano de limpeza etno-cultural que nada têm de escatológico, mas tudo têm de geopolítico. E isso é público e notório, estando mais que escancarado e comprovado. Atribuir-lhe a identidade daquilo que combate e procura exterminar, só tem duas explicações: estupidez voluntária (vulgo propaganda acéfala); ou estupidez involuntária, vulgo toinice. Como não há regra sem excepção, quero acreditar que a iahvu (ou iahvi) protagoniza-a miraculosamente, à excepção, na plenitude da sua incomensurável sabichice, sempre a derramar-se e sempre a refazer-se. Uma verdadeira sempre-em-pé (e respectivo chinelo) da sagácia! Até porque não duvido, ninguém duvida, da constelação de bibliotecas que bochecha e asperge de seguida, em repucho, sobre a patuleia ignara várias vezes ao dia e onde quer que calhe. Para quem pilota o goog..., digo, o firmamento, e coça o universo no fundo do umbigo, cristãos, xiitas, sunitas, esquimós, kimbundos, aztecas, que é isso? Minudências... Bagatelas...Pentelhices! Há lá distinção, diferença digna de nota entre ninharias!... Concordo em absoluto. E reforço: milénios, decénios, semanas santas, dias feriados, madhis, messias, Platão, Aristóteles, Mancha negra, professor Pardal, Santa Teresa (guilherme, porque não?) , são frescuras, picuinhices de gente mesquinha e invejosa!... Ainda assim, e por tudo isto, causa-me algum desconforto e um certo sentimento de culpa presenciar, com tal proximidade, um tão aparatoso fenómeno destes. É que, não só não amplio em nada a minha ignorância, como até experimento o indesejável sentimento de que, afinal, ora bolas!, sempre sei qualquer coisa. De bom grado, dispenso, pois, ulteriores espectáculos metereológicos de tão contraproducente efeito. Recaídas dispenso.

Para encerramento da consulta, não posso retribuir a amabilidade de mandar estudar quem, tão ufana e impermeavelmente, já sabe tudo, mas mesmo tudo tem sempre uma ínfima coisinha que falta. No seu caso, permita-me que lha aponte... Uma frioleira de nada, enfim, mas que às vezes dá jeito: saber ler.