domingo, abril 25, 2010

República dos Pinóquios





Em matéria de mentira, senhores
somos um povo culto, avançado...
Os outros dedicam-lhe um dia, o primeiro;
nós, para melhor diluir o feriado,
consagramos-lhe o mês inteiro.

Abril da treta, da tanga, do arroto
a criar pança, papada e cu fofo;
Não cheira a rosas, cheira a esgoto
não cheira a cravos, cheira a mofo.

Porque a verdade, senhores
analfabetos doutores,
é que faz hoje não sei quantos anos
que tombaram senis modernos
sob um surto de jovens bolores.

E quanto às portas que Abril abriu
mais as auto-estradas, rotundas e bermas,
melhor fora que nunca tivesse aberto as pernas
a grande e republicana puta que os pariu!

quinta-feira, abril 22, 2010

De bradar!

Bem, a ser ofensivo - injurioso, até! -, o tal enunciado do exame, só se for mesmo para os animais vertebrados e para os defensores (quiçá fanatizados, como é o meu caso) da poligamia. De facto, colocar-nos ao mesmo nível do casamento entre invertebrados, vulgo gayos, parece-me digno de escândalo e celestial brado. Parece-me, não: tenho a certeza!...
Entre um homem ( ou mesmo entre um cão ou um cavalo) e uma anémona gelatinosa ainda vai uma certa diferença. Mesmo nos dias de hoje, que diabo!...

segunda-feira, abril 19, 2010

Os do costume

O meu primo da Islândia só é responsável por enviar cinzas e labaredas para a atmosfera. Pelo envio de alarmismos seguranceiros, interdições histéricas e aero-preservativos, os responsáveis são outros. Os do costume.
Adivinhem quem vai lucrar com o vulcão...

domingo, abril 18, 2010

Álbum de Família



O meu primo da Islândia.


sexta-feira, abril 16, 2010

Con-gestões

"Gestores são dos que «mais impostos pagam em Portugal»"...

Pois, mais que eles só mesmo os tipos que ganham o Euromilhões.

quinta-feira, abril 15, 2010

Filão mignon

Lapso tremendo, no postal anterior, do qual desde já me penitencio... Esqueci-me dos alcoólicos católicos, essa torre de menagem. Devem estar mesmo por aí a estoirar. Proclamando, em altos - se bem que fanhosos - brados, a bebedeira imarcescível e infernal como vacina milagrosa contra toda e qualquer tentação pedófila.

A substância do substantivo

Evadidos do armário de sacristia onde criavam bolores e outros fungos, galvanizados pela hóstia-supositório e vários outros elixires e óleos modernaços, os homossexuais católicos saem em defesa da classe (sim, porque essencial é o olho do cu, a alma é mero acessório) e barafustam contra o Cardeal homofóbico e, de caminho, contra o hediondo celibato dos padres.
Já todos percebemos que o ideal, para toda esta gente culta, sensível, sofisticada e fascinante, era os padres poderem casar uns com os outros. Assim, devidamente acasalados, protegidos das más línguas porque ultra-lambuzados pelas boas, podiam adoptar as criancinhas que muito bem entendessem e ninguém tinha nada a ver com isso.
Em todo o caso, agora que os homossexuais católicos (uma delícia este casalinho substantivo/adjectivo, não me canso de admirar!) se manifestaram, o Papa e a hierarquia eclesiástica estão já todos, além de deslumbrados, reunidos certamente de emergência. Se a paciência é uma virtude, preparam-se para tomar de assalto a santidade. Depois dos homossexuais católicos, só já lhes falta escutar - calculo em que excruciante angústia e não menos gulosa ansiedade! - os carecas católicos, os proxenetas católicos, as putas católicas, os bestialistas católicos, os sado-masoquistas católicos, os satanistas católicos, os ateístas católicos, os calvinistas católicos, os darwinistas católicos, os comunistas católicos, os muçulmanos católicos e toda essa súbita catolicidade aos molhos, às dúzias e aos saltos, que, afinal de contas, palpita, recheia e avassala o mundo.


terça-feira, abril 13, 2010

Não trabalharão!

«Ministra garante que desempregados não vão trabalhar de graça».

E podemos bem crer que não. Nem de graça, nem pagos, nem de maneira nenhuma. Desempregado, neste país, para subir, de profissional só a vitalício.

PS: Ou a emigrante, claro. Mas isso já não é "neste país", pois não?...

domingo, abril 11, 2010

Ossos do ofídio

A pedofilia é uma coisa simplesmente abjecta, excepto, dizem os cidadãos modernos, evoluídos , sensíveis e fascinantes, quando praticada por artistas, passando a chamar-se pederastia e sendo, então, uma coisa bestialmente catita e chique. Ou, ainda, quando reivindicada por barbies gays em ânsias casamenteiras, passando então a catalogar-se sob o epíteto de "adopção de crianças" e transformando-se, instantaneamente, em algo não apenas pungente como também sublime, santo e ultra-prioritário para a civilização.
Eu, todavia, que sou um tipo completamente anacrónico, reaccionário e obscurantista, considero a pedofilia algo de asqueroso, seja ela praticada por padres, poetas, filósofos, políticos ou onanistas colectivos particularmente exibicionistas e ruidosos. Em resumo: seja por quem for! E seja em que dia, mês ou ano for, desde a Antiguidade clássica ao Admirável Amanhã Novo. E não apenas física como mentalmente. E daqui não arredo pé!
Ora, parece que ultimamente se quer fazer crer que a pedofilia é um fenómeno essencialmente católico (além de muçulmano, como já todos estamos fartos de saber). Está-se mesmo a ver donde jorra a lama.
Todavia, se eu fosse católico, até era capaz de concordar. Responderia talvez qualquer coisa como:
"Sim, é capaz de ser uma coisa tipicamente católica, ó alminhas fofas e delicadas. E por três razões muito óbvias, simples e concomitantes: em primeiro lugar, porque decorre entre duas pessoas, um adulto e uma criança; em segundo, porque é aberrante; e em terceiro, porque, inerentemente, é traumatizante para a vítima.
Assim, facilmente se deduz que nem os protestantes, nem, tão pouco, os judeus correm quaisquer riscos de incorrerem na pedofilia. No primeiro caso, porque não decorre entre pessoas mas entre pastores e o respectivo gado, donde, a acontecer algo de equivalente, configurará simplesmente o bestialismo. Ninguém decerto perderá tempo a chamar pedófilo a um bimbo que, mal cevado na ovelhinha de estimação, adentre na bizarria de molestar o borrego incauto. Na mais extravagante das hipóteses, clamarão incesto; mas pedofilia, nunca. No segundo caso, porque a idade de maioridade entre os eleitos, como o Bar-mitzvah (não sei se é assim que se escreve, se não for, corrijam) atesta, é de 12 anos nas meninas e 13 nos rapazes. Pelo que, na maior parte dos casos, evita-se, com solércia e desembaraço característico, toda uma série de contrariedades e entraves tipicamente católicos. Sob o frondoso beneplácito da lei, a coisa mais depressa singrará nos mares dos comércio do que nos pântanos da perversão. Por fim, eis-nos perante o corolário sincronizado de ambas as tribos: visto não constituir aberração em qualquer dos casos, mas apenas capricho ou negócio; não é traumatizante porque não há vítima ou abuso, mas simplesmente piquenique aleivoso ou transacção carnal; sendo até, pelo contrário, deveras gratificante para o infantil protestante e, quase de certeza, bastante mais lucrativo para o seu modelo ancestral. Em suma, o que um católico, na sua mente tacanha e obsoleta, encara como desastre na vida às garras duma compulsão digna duma hiena, o protestante e o judeu, numa (respectivamente) inata e profissional harmonia entre a vaselina e a ganância, atestam e glorificam como vantajosa retro-propulsão. E mesmo quando, por via da rudeza boçal do pastor ou da brusquidão volumetuosa do talmudo, a lubrificância não decorre às mil maravilhas, encaram a prova com bonomia e espírito empresarial. São ossos... Ossos do ofídio."




Breviário Teológico - IV

Não é só o porco que Iahvé interdita à lambança dos hebreus. Também o coelho, a lebre e o faisão lhes ficam rigorosamente proibidos. Em compensação, podem refastelar-se à vontade com gafanhotos de toda a espécie, saltões, grilos e vários outros invertebrados substanciais e crocantes. Nunca agradeceremos o bastante aos judeus por nos terem livrado da eleição e do favoritismo duma divindade destas!

sábado, abril 10, 2010

Breviário Teológico - III

O que Iahvé - depois de falar às trevas e a uma série de fenómenos atmosféricos e geológicos decorrentes - disse a Adão foi uma coisa. O que a serpente disse a Eva e esta, depois, transmitiu a Adão parece que foi outra totalmente diferente, senão mesmo oposta. Extrapolar daqui que o pecado original foi, essencialmente, um pecado de gula parece-me um erro grosseiro. Não foi de gula, foi de tagarelice. Tivessem todos calado a puta da matraca e nada disto acontecia.
Agora que o único virtuoso do incidente - o único que, tirando chamar nomes aos animais, não abriu o bico nem, comprovadamente, meteu prego nem estopa em todo aquele proto-palramento inaugural - , resulte como principal castigado, afigura-se-me duma clamorosa injustiça.

Breviário Teológico - II

A prova de que o enredo do pecado original é uma coisa tipicamente hebraica pertence mais ao domínio da culinária do que propriamente da teologia. Aquilo, para um chinês, por exemplo, seria inconcebível. Entre a cobra e a maçã, o Adão chinês nem hesitava: comia a cobra.

sexta-feira, abril 09, 2010

Breviário Teológico - I

Sempre que penso naquele episódio bíblico inaugural, do Adão e Eva às dentadas à maçã, ocorrem-me ideias sombrias e chegam a revoltar-se-me os fígados. Como é que há ainda alguém, com os alqueires bem medidos, que ouse e teime fundamentar-se em tal alicerce para vir falar de portentos metafísicos como "omnisciência divina", "omniprevidência divina" e outros que tais?...É mesmo só falar à boca cheia sem nada dentro da boca!...
Pois se o tal Iahvé tivesse alguma dessas qualidades (eu já nem pedia tanto, contentava-me apenas com um pouco de bom senso e noções básicas de planeamento), em vez de delegar as insignes funções de Árvore do Conhecimento na estúpida da macieira, encarregava disso o coqueiro...
Sempre queria ver se a cabra da Eva e o alarve do Adão também mordiam aquilo!...
E os amargos de boca que não nos tinha poupado a nós!...

sexta-feira, abril 02, 2010

Do Calvário, da Vida e dos Homens


Cada vez me convenço mais que a Vida de Cristo constitui o paradigma profético da nossa própria vida, de homens...
Num dia, fazemos milagres, caminhamos sobre as águas, convidam-nos para almoços e jantares, acorrem basbaques de todos os lados para nos verem e mararavilhar-se. No outro, tudo se altera e distorce: como num caleidoscópio infernal, damos connosco de madeiro às costas, arquejando ao fundo duma encosta íngreme, ninguém nos conhece, todos nos cospem, e flagelam-nos por ali acima, até ao cume sangrento onde, por vil embirração, cismam de nos crucificar.
Meio estarrecidos, perplexos, perscrutamos o chão que parece agora fugir-nos e conspirar contra nós. Afinal, o mel foi só para afinar o paladar para o sabor do fel?!...
Meio atordoados, interrogamos, com desespero, o céu: "Vou ter que beber este cálice?..."
E o céu, dum azul imenso, misterioso, profundo, responde:
-"Vais!..."
E é nesta altura, para lá do terror e da esperança, que o homem, se tem um dragão dentro dele, contém as lágrimas, esquece as feridas, fita com desprezo a maralha e clama:
"Então brindemos: À Nossa!..."
À nossa: à indiferença do Céu e à dor na Terra.


Se eu tivesse que eleger o melhor postal dos mais de seis anos deste batel, sem hesitação escolheria este.