sábado, maio 30, 2009

Sem paliativos

Como alguns leitores acharam por bem fazer propaganda eleitoral nas caixas de comentários, julgo necessário deixar bem claro o seguinte:
Podem o leitores degenerar nos eleitores que bem entenderem. Se votam no Humberto, no Júlio, no Francisco ou na Maria Albertina, para mim, é-me igual. Cultivo, mais até que padeço, uma urnofobia inexpugnável. Direi até que a minha urnofobia suplanta em larga escala várias outras fobias extremamente impopulares que pratico e recomendo (até por isso mesmo), como a cinefobia, a homofobia, a popfobia (nojo pela música pimba internacional), a xenofobia, a americanofobia, a Agustino-Saramago-Antunofobia (uma fobia extremamente saudável, diga-se), etc, etc.
A minha urnofobia é de tal ordem que, assombrado, já cheguei até a interrogar-me sobre a sua nebulosa - e certamente problemática- genealogia. Após intensa pesquisa, alcancei uma quase certeza: deriva ela, a minha urnofobia avassaladora, da minha homofobia monumental. Nem mais nem menos. Eu explico. Só povos castrados e efeminados, além de imbecilizados e remetidos à escala molusca, votam. Um povo que assina de cruz, além de tudo isso, declara-se politicamente analfabeto e mais não faz que entregar-se tansamente à tutorização despótica de quadrilhas organizadas. Mas pior ainda que toda esta panóplia de infâmias e pusilanimidades é o próprio acto em si, individual, de depor o papelinho no caixote. Que uma mulher vote, acho perfeitamente normal e pacífico. É como usar saia, brincos, baton, bela cabeleira e voz coquete. Sim, isso e gemer durante a cópula, lavar pratos ou mudar fraldas. Numa mulher fica bem. Agora num homem, convenhamos, é mariquice das grandes. E não só fica mal como é repugnante. Direi mais: o sufrágio universal (que não há-de demorar muito a tornar-se obrigatório e compulsivo) é só mais um capítulo duma fobia particularmente vil, rastejante, venenosa e, esta sim, pouco recomendável: a androfobia. Ou seja, a aversão concertada e massificada à virilidade, à bravura, à coragem e, enfim, a todas aquelas virtudes que, apesar de tudo e de todas as paneleirices económicas que se conhecem e sempre minaram e parasitaram o empreendimento, ergueram a civilização.
Assim, dado que a depilação mental, a perfumadela ideológica e a manicure cívica não fazem muito o meu estilo, não só não voto, como nutro o mais profundo desprezo por quem o faz. Excepto as mulheres, naturalmente. Quer dizer, então, e em resumo, que me abstenho? Não, ó caros gastrópodes, quer dizer exactamente o contrário: quer dizer que tendo nascido dotado de testículos, não me abstenho nem me demito deles, ainda menos sob sórdidos porque contabilísticos pretextos. É certo que um dia me verei forçado a abdicar, mas, nesse trágico desenlace, tenciono descer de homem a cadáver sem escalas intermédias.
Para ser franco, pois, e em imperturbável coerência, declaro-me aqui -e de modo a varrer quaisquer dúvidas ou confusões nos espíritos - adepto firme e compenetrado do derrube violento de (des)governos e tiranias (sendo a pior de todas elas a da mediocridade). Pelo que aguardo, calma e serenamente, a minha oportunidade. Animam-me, junto com uma tenacidade tigrina, duas coisas: uma fé e uma esperança inquebrantáveis. Daquelas que só os emboscados conhecem, aguçam e experimentam. Como, de resto, genialmente explica mestre Jünger.
A política não devia ser um mero exercício de alívio. Em que é indistinto o alívio de quem se alivia na ranhura e o de quem se alivia nem lá indo. Dá-nos, isso, triste mas fidedigna conta do significado, tanto quanto do valor, de tal sufrágio.
Em síntese, e para finalizar duma vez por todas, não é por comodismo ou indiferença que não voto: é mesmo nojo. Tanto quanto da cabeça, é uma recusa das próprias vísceras. Não há paliativos para isto.


sexta-feira, maio 29, 2009

Zaragata de esquina

«O PS radicalizou os ataques ao PSD, com o cabeça de lista, Vital Moreira, a ligar «figuras gradas» sociais-democratas ao «escândalo» do Banco Português de Negócios (BPN) e o eurodeputado Capoulas Santos a advertir contra a «trupe» laranja.»

Quando as meretrizes de alto coturno denunciam e apontam ao passante as rameiras de baixa extracção. Ou vice-versa. O diabo - que as treina e explora - que as distinga!

quinta-feira, maio 28, 2009

Iconoclastia mesmo




Sobre o cinema, permitam-me que insista...

Retirado do Dicionário Shelltox Concise do Dragão:

CINEFILIA s.., perversão sexual que se traduz numa variante compulsiva de voyeurismo geralmente colectivo ou, no mínimo, às parelhas;
CINEMA s.m., (na América) arte de assassinar bons livros e de vender maus; indústria sofisticada de fazer embasbacar as pessoas; estupefaciente autorizado; propaganda camuflada.

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E, como para grandes males grandes remédios, directamente do "Tratado da Besta" (e vai um capítulo inteiro para não dizerem, os irredutíveis desta espelunca, que eu não os estimo e só me devoto ao desleixo):

«Cinemática e Idologia

Se na antiguidade grega se estimava sobretudo o teatro (theatron) , na actualidade ama-se cegamente o cinema. De raiz teaomai -contemplar, considerar, contemplar com a inteligência-, o teatro era o lugar da contemplação do homem no cosmos, do homem defronte do divino, ancorado algures entre a Necessidade e o Destino. O Homem contemplava-se, contemplando as suas máscaras e fantasmas. Ria-se e chorava com eles. Homens e deuses riam e choravam juntos. Entre o terror e a piedade, a metáfora e a catástrofe, o rosto e a máscara, o fio da Vida subia ao palco e a cena trágico-cómica da existência humana reflectia-se e ecoava pelas profundezas do Cosmos, em forma de choros e gargalhadas. A alma humana purificava-se.

Para os mesmos gregos já existia a palavra cinema (kinema). Significava movimento, dança, pantomina, agitação. Como existia a palavra eidolon (eidvlon). De eidos –forma, figura, ideia, aspecto exterior-, significava fantasma, simulacro, imagem. Depois de uma passagem pelo latim, transformou-se no português ídolo. As palavras, de facto, viajaram sem se alterar muito. Os homens, esses, alteraram-se muito mais.

O Novo Mundo do Consumo deixou de ser uma tragédia: foi promovido a filme. Em vez de palavras estagnadas, cenas cósmicas estáticas, temos agora um corrupio de imagens, um carrossel flamejante de fantasias. O cinema não exorciza nem purifica pela catarse: celebra, incita, promove, instrui, institui, induz. Não reproduz ou representa a profundidade abissal da existência humana: Na Nova Vida-Filme importam menos as palavras e mais os cenários, as poses, os esgares, os ângulos e perspectivas; os camarotes do divino ocupam-nos agora as super-stars, os ídolos. Os paradigmas deixaram de habitar e presidir a partir do passado: passaram a estrelas guias no presente –líderes de imagem, de mercado, de opinião-, vedetas da frivolidade histriónica que urge macaquear. Na Vida-Filme tudo se sobrepõe esfuziantemente; cada momento varre o anterior, cada imagem vampiriza a precedente. Não há sequer tempo para reagir ou apontar, tão pouco reflectir ou conversar: o Gastador-consumidor é um espectador pasmado na cadeira, deslumbrado e estarrecido por cenas cada vez mais violentas, explosivas e espectaculares. Está completa e fisicamente preso, dependente, agarrado ao ecrã. Os seus instintos mais radicais –de matar e copular, principalmente-, propagam-se e infectam todas as coisas, agentes e protagonistas do filme. Tudo, agora, se metamorfiza em potencial assassino ou violador: as casas jorram sangue, os ramos das árvores tornam-se braços estranguladores, cometas despenham-se em genocídio sobre as cidades, os animais organizam-se e marcham ao morticínio humano, os automóveis resolvem rancores antigos, os electrodomésticos revoltam-se, as máquinas conspiram, anjos psicopatizam e viram serial-killers, amigos de infância compram machados afiados, pais extremosos planeiam chacinas, donas de casa anódinas preparam macabros banquetes, a possessão, a licantropia, o vampirismo, o infanticídio, o canibalismo alastram em avalanches multicolores e apoteóticas; o estupro, o lenocínio, o sado-masoquismo lavram de enxurrada. O único fito permanente e obsessivo que parece palpitar em todas as coisas, seres e imaginários –presentes ou futuros-, é o de exterminar, estropiar ou, no mínimo, copular analmente as pessoas após preliminares escabrosos. A culpa colectiva elevada à paranóia global?...

Se o cosmos antigo era um palco da Necessidade (anake), a Nova Aldeia Global –de bimbos e saloios globais-, quer-se ecrã da possibilidade (dunamis). Ultra-dinâmico, o filme, por exemplo, instaura a possibilidade, dinamiza. Daí à realidade é um passo. Mais exactamente: a possibilidade –a dinâmica-, é já o hall de entrada da realidade. Depois, trata-se mais uma vez de mera inversão ou perversão dos processos antigos: faz-se da possibilidade uma necessidade. A diferença é que a necessidade contemporânea –ao contrário da antiga que era cósmica e emanescente-, é mundana, particular, egonóica, ou mero adorno de elites. E é também transcendente: não se compreende nem justifica – assiste-se. Veja-se a figura popular e emblemática do serial-killer, atracção de multidões e êxito garantido de bilheteiras: vê-se compelido por uma necessidade intrínseca e transcendente de chacinar engenhosamente pessoas. Secretamente, no seu íntimo, o espectador mastiga, compreende e absolve. Instala-se até uma certa empatia nostálgica. ( Por um momento, mentalmente, divaga-se: regressa-se ao tempo em que os animais já não falavam, mas ainda nos podíamos comer e chacinar carnalmente uns aos outros, sem subterfúgios).

O cinema, liturgia refinada da mudança, altar sumptuoso da metabolia, ditadura perpétua da agitação, debita, insinuante e cavilosamente, que tudo muda, tudo corre, tudo se transforma; nada permanece – a não ser aquilo que move o próprio cinema: as taras, fobias e traumas do saloio global; e os lucros da indústria. Ora, como já foi dito anteriormente, perfectófobo e edenoclasta, o Novo Homem Gastador-consumidor, bimbo da aldeia-inferno global, suporta cada vez menos palcos idílicos ou finais felizes. Apressa-se, desde cedo, em explicar às crianças que não existe pai natal, nem fadas, nem cegonha transportadora, nem menino Jesus, nem nada para além do salário do papá e/ou mamã, da vida selva/competição muito difícil, heróica e exigente, da economia de mercado, e dos espermatozóides à conquista dos ovários na epopeia da foda-queca. Para ele o mundo em si, na sua complexidade externa e hostil, é uma coisa suja, ameaçadora, cabalística. Donde nada de bom pode advir ou ser esperada. Só o trabalho salva: seja na forma palerma, naif, de assalariamento, seja no esquema fast, espertalhão, de nepote, familiar ou mafia, seja no parasitismo big de pseudo-administrações ou governos, a soldo da Indústria. O trabalho representa, assim, a esterilização do mundo, uma espécie de abstergência global ritualizada e neurótica-obsessiva. Ao contrário do espectador antigo defronte da tragédia, o consumidor-gastador não está minimamente preocupado com uma qualquer purificação interna; obceca-se outrossim com a lavagem e higiene externas –da sua pele, dos seus dentes, do seu cabelo, das suas unhas, enfim: da sua imagem, do seu aspecto, daquilo que se vê, como também do seu automóvel, da sua casa, da sua rua e cidade. Persegue e almeja um mundo limpo, desinfectado, asséptico. Mas limpeza não no sentido profundo, da sua sanidade ou do mundo -que os gregos chamariam higiénico-, mas numa acepção superficial, lavatórica, derivação do klysmos helénico: um Homo-clismo, simultaneamente heteroclismo e autoclismo. Porque ele próprio se vai esterilizando enquanto função reprodutora: de cobridor/reprodutor degenerou em operário do amor, quer dizer, muitos preliminares e penetração reduzida e minimalista.

Entretanto, a esterilização significa o resultado da confrontação profundo/superficial. A profundidade é associada da sujidade, do esponjoso, da negrura carbónica, da vala, caverna ou subterrâneo infectos; a superfície é normalmente aliada à limpeza, ao brilho, à claridade.

O Homem Novo, cinemático, é cada vez mais superficial, bem como o seu mundo, isto é, a sua mundovisão. Mesmo a sua função amorosa reflecte isso mesmo: é cada vez mais um lambedor-dedilhador de superfícies, e menos um explorador de profundidades; cada vez mais um beija-flor e menos um falcão; se antes cobria, fornicava, agora faz amor; se antes salivava por uma boa foda, agora contenta-se com uma rápida queca; se antes rosnava, agora geme; se antes agarrava brutalmente, agora toca com ternura e carinho; se antes penetrava erecto, agora percorre e rasteja flácido; se antes enfrentava com paixão o oposto, agora masturba-se mecanicamente com o igual; se antes comia, devorava, agora petisca, debica.

Por ser coifómano –maníaco das superfícies, pouco lhe importa o resultado posterior, o escoamento das sujidades e impurezas. Já a mundatio latina significava “purificação”, como munditia traduzia “limpeza”, “elegância”, “adorno”, “enfeite”. A mundaneidade do Homem Novo é também mundícia: Mundo é o contrário de imundo. Só que, limitando-se à limpeza superficial, para enfeite e adorno, abominadora da profundidade, a escatologia não lhe interessa, ou seja, pouco lhe importa a finalidade e término da sua mundícia. A limite, acaba por lavar à superfície e emporcalhar no fundo. Por isso, o resultado dum mundo cada vez mais reluzente e enfeitado é um cosmos feito escouço e vala de excrementos. O Homo-clismo despeja para o mar, infecta solos, mares e rios: a grande cidade é, ininterruptamente, um grande complexo fabril de porcaria. A Mundícia é, no fundo, Polução. E o Pôr-loção é, no skatos como no skotos –no extremo/excreto como no esgoto, Poluição. Na admirável Idade do Lixo, o Homo-Clismo debruça-se e reflecte-se no abismo de ser, simultaneamente, boca e ânus, pele e excremento, latria e latrinário. Na verdade, o Homo-Clismo representa um Cataclismo – do grego kataclysmos ( kataklysmos), inundação. Uma ablução catastrófica, uma diluição –uma dis-loção, uma des-lavagem, enfim: um Dilúvio.

Talvez para não pensar muito nisso, dedica-se ao ludambulismo. Amante da volubilidade, da facilidade e do trânsito, apenas a imagem o cativa, o impressiona, o arrasta. Só o eidos, o ídolo, o seduz. Começando ou acabando pela sua própria imagem, objecto primeiro e último de idolatria fantasmática. A sua imagem amálgama e decalque, rebusque permanente de miragens idolofanas. A sua figura molde ávido dos padrões em permanente turbilhão no bazar cinemático –do cinema à televisão, da Net às revistas pink, passando pela publicidade e os videoclips. Por toda a parte, a cópia, a imitação, a momice e o mimetismo, para todos os sexos, estilos, taras e idades, a qualquer hora, via satélite e com cachet gratificante; um circo de monstros, narcisos amorfos, sem cara própria, que projectam ventas alheias para se deleitarem no espelho distorcido da vida-simulacro.

Na Aldeia Global tudo o que não for idolatrável não presta. Não merece a mínima atenção. Só às voltas no carrocel da imagem é que o Gastador-consumidor considera. De olhos caleidoscópicos e ouvidos estereofónicos, filtra alucinadamente a realidade. Nunca em si, mas sempre em transe, esquadrinha os arredores, sempre sequioso, anelante, maníaco de novas fantasias, aberrações, shows e quimeras. A palavra, como a música, tem que jorrar em fogo de artifício, ou em sugestões subtis, relances sedutores, flirts industriais. Caso contrário, não existe, não acontece, não resulta. A imaginação está no trono. O delírio é global. A política reedita, em papel de bíblia, a propaganda histriónica. A própria igreja, cansada de carantonhas e caturrices, samba e dança ao ritmo de pandeiros.

Cinema, para os gregos antigos, também queria dizer “pantomina”, “agitação”. Nada mais profético. A Aldeia Global é mais pantomina que movimento, mais agitação que mudança. A Vida-filme rabia às voltas tontas num imenso carnaval diário, numa feira popular de farturas e algodão doce, entoando estridências pueris e goivos histéricos, à solta por montanhas russas, rodas gigantes e patuscadas nas barracas. Terreiro do grotesco, coreto da chocarrice simiesca, pátio de bufonaria lasciva, a Aldeia Global desinsofre-se em correrias e apanhadas, em jogos da macaca e cabras cegas, em abracadabras e mil e uma noites. Desorbitados, os foliões do consumo agarrados às saias da imagem, em rodopios psicadélicos, ora viajam supersónicos, ora cruzam langorosos mediterrâneos; ora desembarcam nas Caraíbas, ora embarcam para o Ceilão; ora peregrinam as índias, ora prospectam bordéis em Banguecoque. De roldão, em marabunta, às manadas. Com as kodacs e camcorders em riste, em punho, prontas a disparar. Do Kénia ao Japão, da Patagónia à Austrália, caça-se a imagem. E mata-se a paisagem. Porque, acima duma qualquer motivação ponderada ou razão aceitável, impulsiona-os uma febre desnorteante, fustiga-os, dilacera-os, subjuga-os, sem piedade nem interrupção, o látego desvairador da toleima e da toinice. São como Prometeus recauchutados, modernos que , em vez de agrilhoados, se agitam doravante em correrias desabridas, sem sul nem norte, sem rei nem rocha, perpetuamente atormentados pelo aguilhão dilacerante da águia do marketing e da publicidade, mandatada pela indústria divina. Não só a águia dá bicadas, como eles se pontapeiam, mordem e acotovelam entre si, numa competição para ver quem corre mais, mais longe, mais depressa e quem chega primeiro, a todos os lados e a lado nenhum. São também Tântalos e Sísifos, mas desenfreados.

Se bem que descendente de eidos, mãe da idolatria, existe, por último, uma palavra que não suportam: Idílio. Cheira a contemplações e monotonias, tresanda a paraíso e utopia. Nem o mais persuasivo conseguiria impingir idílios, quando o que agrada sobremaneira às massas é o Turismo dos infernos. E aí, de facto, ao não suportar idílios, o Homem Novo, num capítulo pelo menos, cumpre ainda as regras da poética, segundo Aristóteles: reclama verosimilhança. No filme, como na vida, posto diante do palco idílico, adormece, desinteressa-se, migra ou emigra. Não se reconhece nem descobre . Não descortina qualquer protótipo, arquétipo ou modelo. Entedia-se, resfolega, não se contenta nem o tamanho de dose mínima. Enfurece-se com o dinheiro e tempo malbaratados. A vida feliz não tem mortes violentas, nem tiros, nem explosões, assassínios, epidemias ou armagedões, resumindo: nenhuma diversão, péssimas performances, zero entretenimento. Tal qual o final feliz, que é uma lástima: sendo final, termina; não pressupõe nem apregoa sórdida continuação, novos episódios, reforçadas doses massiças. É que além de Ruminante-de-si, o Homem Novo, gastador-consumista, é um mascador de realidade: Cada filme é só um episódio, uma chewing-gum antes da próxima. Mas tem que segregar um sabor intenso enquanto dura. Por isso, crime, competição desenfreada, traição ignominiosa, correrias loucas, perseguições, assassínios, violações, catástrofes, etc, são fundamentais no argumento. É isso que o espectador consome, inspira, regurgita. É com isso que se alimenta interiormente e refastela o espírito. Não, não reflecte: absorve. O Homem-Novo, a que passaremos a chamar daqui em diante Homo-Spongius – Homem-Esponja.

Uma esponja à semelhança do universo em permanente contracção/expansão. O único problema é que como só absorve porcaria, quando se espreme só sai m...»


Mais claro que isto é difícil.





PS: Devia vir acompanhado dos termos gregos, como no original, mas eu não sei imprimir o grego (a máquina converteu automaticamente numas parvoíces quaisquer que nem me dou ao trabalho de corrigir) nesta porcaria internética.


PSS: E agora, como já devem ter percebido, das duas uma: ou encerro de vez esta merda; ou... enfim, descalço as luvas.

quarta-feira, maio 27, 2009

Silvicultura

Que Dias Loureiro estivesse no Conselho de Estado nunca me espantou nem me causou qualquer espécie. O que sinceramente me assombrou foi que Oliveira e Costa também lá não estivesse. No Conselho de Estado, no Governo, no Palramento ou em qualquer desses valhacoutos da república. E o que mais me deixa estupefacto é que, além de não estar onde lhe compete, para cúmulo, esteja na prisão.
Chega a ser um enigma. Uma perfeita charada. Bem, a não ser que eles agora tenham façam a coisa por turnos: desce o Loureiro aos calabouços; sobe o Oliveira ao Conselho de Estado.

Diz-me com quem andas...



Escuto por aí reclamações indignadas e, quanto a mim, perfeitamente bacocas e manhosas contra a presença de Dias Loureiro no Conselho de Estado. Assiste-se mesmo, com todo este circo e arredores, a um velho resquício de país a naufragar num mar de corrupção e cuspo. Com o segundo, pasme-se, a conseguir ser ainda mais saloio que a primeira. Senão, repare-se: os mesmos que proclamam "ah, isto é uma completa bandalheira" (e, não há dúvida que é), "ah, isto é uma cleptarquia cada vez mais estanhada!" (e entra pelos olhos adentro que assim anda de facto), "ah, isto é uma república a saque!" (só não vê quem não quer), depois arrepiam-se todos e arvoram ares de choque e escândalo quando descobrem as instituições tripuladas por bandalhos, rapa-tachos e pilha-empresas. Ora, convenhamos, isto é o mesmo que um gajo insurgir-se contra um deserto quando lá avista camelos, ou contra um charco porque lá vislumbra rãs. Estes frenéticos da saliva, mais ainda que os do gamanço, não deviam tentar fazer de nós parvos. Inversões tão trapalhonas das coisas ficam mal. O que se tem revelado, em quase catadupa e a cada dia que passa, não é a razão que deveria levar Dias Loureiro a demitir-se urgentemente do Conselho de Estado. É precisamente o contrário: é o motivo porque ele lá está, com toda a justiça e merecimento, e deve continuar por muitos e bons anos.
Ou cabe na cabeça de alguém que uma bandalheira deva ser dirigida, pilotada ou administrada por gente proba e séria?

terça-feira, maio 26, 2009

Monty Python - The Mouse (or movies) Problem

Cinefobia

«O cinema já é hoje a melhor imprensa universal que existiu. O cinema é jornal, ciência e folhetim. O teatro é Arte. E a arte é mais do que apenas o conhecimento da natureza, é também a imaginação humana, a imaginação dos humanos, os donos da Terra, como Prometeu, genial personagem de teatro, a criação mais heróica e a mais heróica posição do humano neste mundo!»

- Almada Negreiros, "O Cinema é uma coisa e o teatro é outra"

Sobre cinema, confesso, o meu pensamento não vai muito além duma frase com três palavrinhas apenas: Puta que pariu!
E eis que se me esgota quase todo o assunto.

Há, de resto, uma definição assassina do Frank Zappa acerca da imprensa pop - "tipos que não sabem escrever, a escreverem sobre tipos que não sabem tocar, para tipos que não sabem ler" - que (não direi que não sei bem porquê porque sei perfeitamente) me lembra muito o cinema e as suas hostes de zombis claustrofílicos. Os Python tinham até aquele sketch genial acerca de gajos que se reuniam em catacumbas transformados em ratos, para darem guinchinhos e comerem queijo, e ninguém me tira da cabeça que era uma metáfora ao cinema.
Do que dependesse de mim, vou mais longe e sou sincero: todo aquele que fosse apanhado numa sala de cinema seria de pronto, e após espancamento sumário, conduzido a um campo de concentração no Alentejo. Era a verem filmes e a lerem jornais. Tudo de charola! A ver se isto não clareava em três tempos.

PS: Aliás, isto deve ser a única coisa em que eu e aquele labrego do Timshel estamos de acordo.

PSS: Ao nível do cinefilia só vislumbro mesmo uma coisa: a pedofilia. É mesmo um facto histórico: todos os grandes pedófilos começam por ser grandes cinéfilos e vice-versa. Em resumo: nojento!

PSSS: Escusas de refilar, Zazie. Sabes perfeitamente que estou a transbordar de razão.

Autofagia complexa

Por falar em narigudos... O mais recente Madoff chama-se Ruderman.

E se Madoff, magistralmente, se especializou na sua própria tribo, este Ruderman foi mais longe: dedicou-se com entusiasmo tigrez à sua própria família e amigos.
É claro que Ruderman e Madoff têm toda uma penca em comum, mas isso não é o mais fascinante. Fascinante, mesmo, é o fenómeno sombrio que isso representa - o drama do parasita e entrar na fase terminal: a da autofagia. Ou melhor, a da confusão: de tanto viver mergulhado nas tripas do hospedeiro, acabou por alucinar-se nelas e, narciso ensimesmado num mar de trampa, ei-lo que, fazendo das fezes alheias as suas próprias, largou a criar vermes.
Justiça poética? Sem dúvida. O psico-judaísmo, mai-lo seu sórdido cortejo de monomanias, sempre desempenhou, com ridícula e grotesca pompa, a função de bicha solitária da civilização. Pois dir-se-ia que agora a ténia desenvolveu oxiúros. Está com lombrigas, a Bicha!...

PS:Enquanto patologia mental das mais excitadas, o sionismo não representa apenas um narcisismo de esgoto: o reflexo devolvido pelo espelho imundo não o satisfaz, a contemplação da própria imagem não o contenta. De facto, não lhe basta apenas remirar-se apaixonadamente: tem também (e em sincronia) que, loucamente, entredevorar-se. É por isso que, no seu particular caso, a autofagia coincide, em absoluto, com a coprofagia.

PSS: Não sei se, a limite, isto não gerará qualquer coisa de mirabolante e escatológico como o "Ocidente redimido pela sua própria Ténia".

PSSS: Ninguém se aflija com o termo "coprofagia" (que significa ingestão de excrementos), pois, no vertente caso, e na medida em que versa a "ingestão dos seus próprios excrementos", constitui, sem sombra de dúvida, coprofagia kosher. Ou seja, processa-se com toda a higiene e sob cuidados de pureza inexcedíveis.

segunda-feira, maio 25, 2009

Intifada Kosher



«World Agenda: Israel's war effort gains religious imperative»

Então, nada de galhofas: é o direito deles à Intifada. Afinal, aquilo é tudo a mesma gente. Como diz o outro, um judeu é um árabe que sofre, cumulativamente, de amnésia e de paranóia, vulgo mania das grandezas.

PS: Que saudades do Godofredo de Bulhão!... Atente-se só na deliciosa descrição de Fulquério de Chartres, aquando dos gloriosos acontecimentos de 1099:
«Forthwith, they joyfully rushed into the city to pursue and kill the nefarious enemies, as their comrades were already doing. Some Saracens, Arabs, and Ethiopians took refuge in the tower of David, others fled to the temples of the Lord and of Solomon. A great fight took place in the court and porch of the temples, where they were unable to escape from our gladiators. Many fled to the roof of the temple of Solomon, and were shot with arrows, so that they fell to the ground dead. In this temple almost ten thousand were killed. Indeed, if you had been there you would have seen our feet colored to our ankles with the blood of the slain. But what more shall I relate? None of them were left alive; neither women nor children were spared. »

Notem como ele descreve os judeus: arabs. Já que Saracens ou Ethiopians é que eles certamente não seriam (tudo menos pretos, bradaria a ciganada!). Em boa verdade, os antigos é que ainda mantinham alguma genuína lucidez e sabiam lidar convenientemente com a coisa.

Rarefacção do espírito

«Tudo ali é quebrado, anónimo e impertencente. Vi ali grandes movimentos de ternura, que me pareceram revelar o fundo de pobres almas tristes; descobri que esses movimentos não duravam mais que a hora em que eram palavras, e que tinham raiz - quantas vezes o notei com a sagacidade dos silenciosos - na analogia de qualquer coisa com o piedoso, perdida com a rapidez da novidade da notação, e, outras vezes, no vinho do jantar do enternecido. Havia sempre uma relaxação sistematizada, entre o humanitarismo e a aguardente de bagaço, e foram muitos os grandes gestos que sofreram do copo supérfluo ou do pleonasmo da sede.
Essas criaturas tinham todas vendido a alma a um diabo de plebe infernal, avarento de sordidezas e de relaxamentos. Viviam a intoxicação da vaidade e do ócio, e morriam molemente, entre coxins de palavras, num amarfanhamento de lacraus do cuspo.
O mais extraordinário de toda essa gente era a nenhuma importância, em nenhum sentido, de toda ela. Uns eram redactores dos principais jornais, e conseguiam não existir; outros tinham lugares públicos em vista no anuário e conseguiam não figurar em nada da vida; outros eram poetas até consagrados, mas uma mesma poeira de cinza lhes tornava lívidas as faces parvuas, e tudo era um tumulto de embalsamados hirtos, postos com a mão nas costas em posturas de vidas.
Guardo do pouco tempo que me estagnei nesse exílio de esperteza mental uma recordação de bons momentos de graça franca, de muitos momentos monótonos e tristes, de alguns perfis recortados no nada, de alguns gestos dados a serventes do acaso, e, em resumo, um tédio de náusea física e a memória de algumas anedotas com espírito.»

- Fernando Pessoa (a armar ao Bernardo Soares)

Deviam emoldurar no tecto deste jardim à beira-mar estagnado:
«Havia sempre uma relaxação sistematizada, entre o humanitarismo e a aguardente de bagaço e foram muitos os grandes gestos que sofreram do copo supérfluo ou do pleonasmo da sede.
Essas criaturas tinham todas vendido a alma a um diabo de plebe infernal, avarento de sordidezas e de relaxamentos. Viviam a intoxicação da vaidade e do ócio, e morriam molemente, entre coxins de palavras, num amarfanhamento de lacraus do cuspo.»




quinta-feira, maio 21, 2009

Casos de política e de polícia

O Primeiro da Nacinha andou todo um santo dia destes a proclamar aos radio-jornais, e, daí, desse trampolim radiofónico, aos quatro-ventos. às brisas e a quem o quisesse ouvir, que os gabirus do BPN e BPP, mai-las suas vigarices e engenhoquices de finança, eram um caso de polícia. E que eram um caso dessa áspera natureza por duas razões principais que não se cansou de alarir com toda a pompa e circunstância: porque tinham abusado da boa fé das pessoas; e porque tinham prejudicado gravosamente a economia nacional.
Ora, como passarei a explicar, a bota não bate com a perdigota. Contradiz-se grosseiramente, a criatura.
É que se são um caso de polícia, os tais, certamente não será por abusar, delapidar ou por qualquer outra forma, meio ou veículo malbaratar a boa fé das pessoas, nem, tão pouco, por causar prejuízo reincidente e contumaz à economia nacional. Toda a gente sabe que abusar da boa fé das pessoas e danar não apenas a economia nacional, mas, sobretudo, o futuro dos vindouros, neste pseudo-Portugal da tanga, não é crime: é regime.
E se meia dúzia de trampolineiros finançórios e enfezados Madoffes, por tripudiarem com a boa fé duma ínfima parte da população, são caso de polícia, então, uma chusma de pulhas obstinados (vulgo políticos da nacinha) que não fazem outra coisa senão trair a boa fé da generalidade da população e dar, paulatina e compenetradamente, com a economia de pantanas (baixeza em que ano após ano, têm alcançado patamares sempre mais elevados), seriam um caso de quê? De política, pois.
E se a política, que é bem mais descarada e danosa, não é caso de polícia, porque diabo, raio ou carga de água havia a finança de sê-lo?
Portanto, se os políticos querem mandar os cães atrás dos financeiros, decerto não será por estes os terem, vaga e timidamente, plagiado. Quando muito será por não terem pago, com devida percentagem, os direitos de autor.

PS: Todavia, no cume de toda esta vil e apagada tristeza, ressalta um pormenor catita que a todos, vigaristas da política e vigaristas da finança, redime: o não ser possível trair algo que não existe, ou seja, a "boa" fé das pessoas. Fé em manipulações de dinheiro ou em manipulações de opinião será tudo menos boa. E quem se devota a tais e tão sórdidas crenças bem merece os jóqueis d'alminha que tem.

quinta-feira, maio 14, 2009

sexta-feira, maio 08, 2009

Voodu Lounge

Primeiro, começa-se por ler isto:
«ON APRIL 29, THE HOUSE OF REPRESENTATIVES passed the Local Law Enforcement Hate Crimes Prevention Act of 2009 (H.R. 1913) by a vote of 249 to 175. It is expected to be taken up in the Senate any day now.


Depois, dá-se uma saltada à Jewish Week e fica-se logo devidamente esclarecido:
«You have to give this to major Jewish groups like the Anti-Defamation League: they’re persistent. A bunch of them have been lobbying for a major new hate crimes bill for more than a decade, and even though it has passed numerous votes in both Houses of Congress the measure never quite makes it into law.
This time around things could be different for the Local Law Enforcement Hate Crimes Prevention Act, which will come up in the House Wednesday or Thursday. The biggest reasons: a stronger Democratic majority and a president who is supporting the measure instead of promising to veto it.»

Comentários para quê? São os artistas do costume e não usam pasta medicinal Couto. Hálito de hiena é hálito de hiena. Em tandem com o necro-proxenetismo, eis, portanto, o não menos rastejante e peçonhento victim-voodu. Que é como quem diz, de escama dada com a chulice dos defuntos, lá repta a victimização por telecomando. Todas as vítimas são igualmente vítimas, mas há umas mais vítimas que outras.

quinta-feira, maio 07, 2009

Bloganálise

A imbecilidade pode até ser digna. Desde que não seja frenética.

Abaixo o circo!

«Petição força Parlamento a discutir proibição dos animais nos circos»

Bem mais gravosa que a utilização de animais em circos, dito genericamente, é a utilização de animais em certos circos mais específicos, como Parlamentos, Executivos, Academias ou agremiações culturais. É que a utilização de animais em circos genéricos, no pior dos casos, constitui crueldade para com os animais, enquanto a sua utilização nos circos específicos , invariavelmente, constitui crueldade para com o próprio público.
Por conseguinte, se é para acabar com a crueldade em todos -repito: todos, genéricos e específicos! - os circos, então está bem. Podem contar com o meu incondicional apoio. Agora se é só mais uma hipocrisia peregrina, mais uma demanda folclórica de quem se preocupa apenas com a crueldade para com as outras espécies e se está nas tintas para as atrocidades contra a sua própria espécie, então, nesse vil caso, é simples: vão barda merda!
Mas vão mesmo. Nem hesitem.

segunda-feira, maio 04, 2009

Esquizofrenia global

Uma parasita global, digo secretária fulana não sei das quantas da OMS, salvo erro, veio agora deslumbrar a plateia tremebunda com o seguinte e solene depoi(a)mento: "há sinais de que a pandemia está em regressão..."
Ora, digam lá que o impossível não acontece!... Uma coisa que nunca existiu, ou não chegou a existir, afinal, está em regressão. Retrocede. Recua. Retira pusilanimemente. Depois de prometer hecatombes, genocídios, mete o rabo entre pernas e a boca entre o rabo. Mais uns dias e entra em debandada. Espavore-se. Pior: evapora-se.
Sendo certo que nunca devemos subestimar a estupidez de quem nos pseudo-dirige, é não menos certo que ela já é tanta, já leveda em tais píncaros, que são eles que, assaz grosseiramente, reincidem a sobrestimar a nossa. Pode ser que um dia destes ainda levem com a culatra na tromba.