Antes do 25 de abril e, mais ainda, antes de 1968, o país tinha um governo e uma oposição, aliás, várias. Um governo forte e um ror de oposições esforçadas, iracundas e encarniçadas. Comunistas, anarquistas, republicanos, monárquicos do sétimo dia, havia de tudo. Algumas, de tão evangélicas, dispostas mesmo ao martírio. Pois bem, depois do 25 de Abril, deixámos de ter governo digno desse título e ainda menos uma oposição vagamente merecedora dessa categoria. Nem governo, nem oposição: composição. Temos um regime de composição. Uma espécie de concurso de redacções... Porque, não só bem no fundo como, sobretudo, à superfície, tudo se resume a paleio, a palração, mais ou menos dactilografada e publicada nas folhas de couve a soldo do desgoverno geral, isto é, quer do desgoverno desgovernamental, quer do desgoverno desopositor; quer das metástases internas, quer dos tumores externos; quer dos exo-mandarins, quer dos endo-paquetes.
Em suma, um esquema de composição cujo corolário máximo e desenlace fatal (e, se calhar, actual) é entrar em decomposição. Não que, a bem da verdade e da ciência, isso constitua qualquer grande ameaça ou degradação do mesmo. Afinal, para quem nasceu podre, a putrefacção completa nem sequer atesta dum qualquer mau estado, mas apenas dum desenvolvimento natural. Não, senhores, nada de alarmes: não se trata dum estado terminal; é apenas a idade adulta. Da pseudo-democracia.
Cinquenta anos depois do 25 de Abril nota-se que é cada vez mais difícil camuflar que apenas andámos a voltar cinquenta anos para trás.
6 comentários:
> A lógica da coisa, ultrapassa-me.
John Lennon, "Imagine".
Sobre um balanço do 25/04, partilho este artigo com o Nosso Anfitrião e com os demais Confrades.
https://observador.pt/opiniao/um-outro-mfa-abril-entre-mito-frustracao-e-anuncio/
Destaco:
"E foi sob a ideia desta fundação que o regime instalado após o fim do Estado Novo forjou o sentido do 25 de Abril, vertendo-o na conhecida ficção que cunha o preâmbulo da Constituição de 1976: «A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista». Abril deixava então de ser apenas história. Tornava-se naquilo a que os antigos gregos chamavam uma archê, um início que é poder e governo, potência genésica e directriz de toda uma história futura. Dir-se-ia que é esta a natureza do 25 de Abril que hoje se celebra: não a história, mas um mito fundador, um arquétipo que determinou para Portugal uma nova história e tudo o que lhe sobreveio."
Miguel D
Falta-lhe o quase.
E está grosseiramente errado.
Não é uma archê, é precisamente o contrário: uma an-arquê.
Não determinou para Portugal: terminou com Portugal. Divorciou-se dele e do seu passado. Enxertando o Rectângulo europosto.
Não é um mito fundador: é uma mentira recorrente e reiterada. Um puro acto de propaganda neo-evangélica, de índole afundadora e apocalíptica. Com uma demonização e um puritanismo inerentes.
Sim, mas do contexto creio poder retirar que o autor acaba por concordar consigo, Draco. Citando Silva Cardoso, com quem o autor parece concordar:
"«Entretanto, rolaram cabeças, destruiu-se o sentimento pátrio, cometeram-se abusos inqualificáveis, a ordem e a disciplina foram totalmente abandalhadas, as Forças Armadas, que desde 1961 vinham cumprindo uma das missões mais brilhantes da história militar do nosso país, foram transformadas num bando de malfeitores, o medo instalou-se, as reservas voaram, a indústria parou perante o desespero dos empresários substituídos nas suas funções e humilhados por comissões de trabalhadores, os valores morais e éticos foram vilipendiados, publicou-se o Decreto-Lei 7/74, de 25 de Junho, pelo qual podiam ser demitidos ou aposentados compulsivamente os servidores do Estado que revelassem desrespeito pelos princípios consignados no programa do Movimento das Forças Armadas. Era o nascer da tão almejada democracia e liberdade, as grandes conquistas da Revolução dos Cravos. Era um autêntico manicómio em auto-gestão, como um conceituado comentador estrangeiro classificou a situação em Portugal»"
Miguel D
Na intenção poderá até ser que concorde ou de lá se aproxime. Mas de boas intenções...
O facto é que exprime-se mal. Falar em fundação, mito e arquétipo para aquela bandalheira geral não é exactamente ser rigoroso. Numa imagem, é como tentar maquilhar de batom a porca.
Se era para ser assim, os navios da OTAN que se encontravam ao largo da costa a dar cobertura aos militares traidores à Pátria e vassalos dessa organização, que executavam o golpe de Estado, deveriam ter sido bombardeados e o golpe neutralizado.
É preciso que as pessoas entendam que o Estado Novo e a Constituição de 1933 foi devidamente legitimado e sufragada pelos Portugueses, ao contrário do regime liberal/maçónico imposto pelo golpe de Estado da OTAN em 25 de Abril de 1974 e a Constituição de 1976 que nunca foi votada.
Em 25 de Abril de 1974 não houve nenhuma revolução, não havia revolta ou descontentamento com o Estado Novo, mas sim uma operação militar comandada pelo regime da Inglaterra a partir de Washington com a «Agência Central de Inteligência» e a OTAN intervindo directamente.
Como dizia Henry Kissinger, «...Ser inimigo dos EUA é perigoso, mas ser amigo é fatal...».
No artigo temos esta passagem: «...É esta celebração arquetípica que é cantada no poema de Sofia de Mello Breyner...»
Mas afinal e para que se conste, quem era a dr.ª Sofia Tavares ou os Tavares? Eram e são isto:
«...E a Sophia de Mello Breyner Andersen de Sousa Tavares (o seu a seu dono) ela tem estes nomes todos. Tareco não usa (oh, diabo!) porque é só do marido. Sousa Tavares falta. Sousa Tavares rola, rola, rola, rola... Sousa Tavares nunca está onde está a oposição!
No verão quente de 75, onde estava o Tareco? Em Madrid, a beber copos, fazendo várias "revoluções" na capital espanhola... Alguém o viu em manifestações contra o Gonçalvismo? Quando o camarada Vasco estava no Poder, alguém viu o Tareco do Norte, onde o "possível" explodir da guerra civil estava latente em cada esquina?
Mas onde estava o Tareco, logo após a invasão da Índia em 1961? Na rua, à frente duma manifestação, chorando a perda de Goa, Damão e Diu. A manifestação era a favor das teses do governo: manter as colónias. Sousa Tavares está sempre onde está o governo...» - Vera Lagoa
Depois vemos referência ou uso de expressões como estas: «...esquerda radical...», «...esquerda...», «...comunistas...», «...socialistas...».
Só é pena não dizer quem é que a partir dos Anos de 1950 passou a controlar - e ainda controla nos dias de hoje - os partidos/movimentos políticos de "centro-esquerda", "esquerda", e "extrema-esquerda".
Escreve também o seguinte: «...Quanto às cinquenta almas fundadoras do Partido Socialista em 1973, que seriam as grandes beneficiárias da Revolução «sem o imaginarem e sem terem para isso contribuído»[7], eram norteadas sobretudo pela procura de financiamento e de contactos europeus...».
O Partido Socialista era na época - e ainda é - a antena da «CIA» em Portugal.
Faz também uma oportuna referência a Jean-Paul Sartre, filósofo Francês, que expôs a fraude do «Maio de 68» colocando-se inclusive de parte, devido ao facto de se tratar de uma "Revolução Colorida" da Agência Central de Inteligência («CIA») com o objectivo de derrubar a República e o General Charles de Gaulle.
O resto do artigo faz um apelo interessante à reflexão.
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