A Idade do Indiferenciado

 

«Para o Papa Francisco, “o pior perigo é a ideologia de género, que anula as diferenças” entre homens e mulheres».

Sua santidade acordou agora dum sono anti-dogmático profundo?

A ideologia feminista, a Kultur kritick (ou culturismo freudo-marxista, vulgo judiaria de Frankfurt), o arraial LGTBI (que entretanto já ameaça o abecedário completo e vários algoritmos desprevenidos), a pedagogia ciber-lobotomista, enfim, todo o (des)pensamento protestante, desde que o frade labrego alemão vandalizou a porta da igreja com panfletos  higiénicos, não tem porfiado outra coisa senão a redução das pessoas à massa de padeiro - homens, mulheres, crianças, fetos, tudo. Varrer a diferença entre homem e mulher, entre criança e adulto, entre feto e espermatozóide, entre masculino e feminino, entre humano e animal, entre homem e máquina, entre natural e artificial, entre religião e ciência, entre verdade e mentira, etc, eis a grande tarefa da anti-civilização! No fundo, nem sequer é um retorno à idade da Pedra: é mesmo um regresso em força ao caos. Só que um caos que se manifesta agora, mais que na forma,  no espírito. Porque, nas aparências, meu Deus, é toda um dilúvio permanente de novos produtos, maquinetas e pinchavelhos - uma autêntica feira imarcescível! Nas cores do cabelo, nos trapos de vestir e sinalizar, nos automóveis, nos telemóveis e imóveis, enfim, em todas as coisas que a moda dita, que variedade, que cornucópia, que luxo feérico, que puguesso inaudito a cada minuto! Mas nas essências, dos sentimentos às ideias, dos princípios aos valores, da mera lógica ao simples entendimento, que diabo, é a terraplenagem, o massacre permanente numa espécie de moinho da descerebração ao domicílio, da desossificação à distância! É todo matadouro-vazadouro do espírito a céu aberto, onde uma chusma de serventes e magarefes se afadigam no processamento das carnes: psicólogos, psiquiatras, sociólogos, especialistas, peritos do pentelho, tele-tudólogos, ninharólogos, em suma, pastores de seita e curandeiros de tribo urbana nos seus mais recentes avatares. 

Desembarcamos, assim, com grande algazarra festiva e parada rilhafolesca, na idade do indiferenciado! Onde em nome da livre escolha se consoma e consagra a amálgama e a charcutarização geral dos produtos a concurso e competição; sejam a fé, as políticas, as estratégias, as ideias, as mundovisões, as informações, as leis, as pedagogias, as mitologias, as artes, as ciências, etc, etc. E em que, para memória futura, uma qualquer cerimónia eleitoral, da campanha à urna de voto, não se distingue da feira de enchidos do Continente. Como, de resto, a que decorre actualmente no retângulo manifesta à exuberância.

PS: Voltando ao papa Chico, ocorre-me uma última nota: agora chamam-lhe ecumenismo; antigamente chamavam-lhe pacto com o demónio. Na ausência de Deus, rege-se tudo pela medida do diabo. Quando a própria "Igreja" se esquece da sua Eternidade e passa a andar a reboque do presente...